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2. A Educação para a Sexualidade

2.3 A Educação para a Sexualidade na Família

A família, como comunidade base da sociedade, deve ser a primeira responsável pela educação das crianças, adolescentes e jovens. Este deve ser um espaço “privilegiado onde, de forma vivencial e com o esforço de todos os seus membros, se estabelecem relações interpessoais, cada um se descobre a si próprio, se desenvolvem e assumem valores como “a generosidade, a disponibilidade para partilhar, a compreensão, a tolerância, […] o respeito pela vida e pela dignidade de cada elemento que integra a comunidade familiar, a intimidade construída na ternura e na doação” (CEP, 2005).

É, pois, consensual que os pais têm, ou devem ter, um papel activo no que concerne, também, à educação sexual dos seus filhos. Para Vaz et al (1996), os pais são considerados os “modelos mais importantes” porque assumem, simultaneamente, as “figuras de apelo e de identificação”. Para estes autores, os pais são indispensáveis para que a criança adquira a identidade sexual e o papel de género: “é com os pais que a criança primeiramente se familiariza com as características do homem e mulher e o modo de ser do género masculino e feminino.” Para Kelly, (1981) e Sanchez e Fuertes, (1989) referidos por Vaz et al (1996), os pais são a “fonte de influência mais precoce e prevalecente no desenvolvimento do ser sexuado.” Esta influência é um factor decisivo para a construção da personalidade e da sexualidade dos filhos, refere Cortesão et al (1998). Na opinião destes autores, esta influência pode ser positiva ou negativa. Se a criança assiste a manifestações de carinho entre os pais, se há um clima de inter-ajuda e compreensão, se os pais lhe dão atenção, estão disponíveis assistimos a uma influência positiva para o desenvolvimento psicoafectivo da criança. Se, pelo contrário, os pais não têm a devida atenção, são violentos e agressivos, quer no diálogo até nos castigos corporais, a criança vai ter uma influência negativa no seu crescimento.

Assim sendo, o exercício paternal tem que ser visto como um “direito-dever” e tem que estar em primeiro lugar relativamente a outras instituições de carácter educativo/formativo, como a escola ou a igreja. Esta é uma responsabilidade que é “inalienável e insubstituível” envolvendo todo o período da vida dos filhos desde o seu nascimento até à vida adulta (CEP, 2005).

Actualmente, o tempo de vivência familiar acaba por ser restrito pelo facto dos pais estarem, normalmente, envolvidos pelos afazeres profissionais, situação que não acontecia nas gerações passadas, acabando por ser muito restrito o tempo que dispõe para os filhos. Por tal facto e maioria de razão, a família não pode ceder à tentação de

transferir o seu dever de educar para a responsabilidade de outras instituições ou comunidades. É, portanto, o ambiente familiar, animado pelo amor, o espaço e atmosfera educativa por excelência. “As outras instituições nunca podem substituir os pais, mas devem ajudá-los no cumprimento da sua missão educativa” (CEP, 2002).

Importa, pois, referir que, infelizmente, muitos dos pais acabam por se demitir das suas funções de educadores, ou se o fazem, fazem-no de forma insuficiente ou deturpada (Galvão, 2000). Na opinião de Bastos (2003), os pais estão sempre a exercer a sua influência nos filhos, isto é, “estão sempre a formar ou a deformar os filhos através das suas condutas, da forma como expressam os seus próprios valores sexuais, dos comportamentos, das suas atitudes, das suas palavras.”

A tarefa da educação dos filhos no que concerne, sobretudo, às questões da sexualidade deve exigir dos pais uma preparação adequada e continuada, “de modo a capacitá-los para o diálogo, em clima de simplicidade e abertura à comunicação, que permita esclarecimento e orientação dos filhos. Mas, acima de tudo, espera-se dos pais o testemunho dos valores da sexualidade, o que implica o esforço permanente por a viverem com equilíbrio e sentido” (CEP, 2005).

Para Braconnier e Marcelli (2000), é importante que os pais mantenham um diálogo com os filhos, “mesmo conhecendo os limites e o carácter frequentemente insatisfatório desse diálogo.” Na opinião destes autores, a ausência ou a fuga ao diálogo, por parte dos pais, são vistas pelos adolescentes como um sinal de indiferença ou até mesmo de abandono.

É mais que evidente que, apesar de difícil, o diálogo entre pais e filhos tem que existir. No entanto, este diálogo, sobretudo com os adolescentes, apresenta dois tipos de problemas para os pais. “Primeiro, o da autoridade parental que se exerceu na infância e que continua a exercer-se na adolescência, mas com arranjos que serão alvo de incessantes compromissos. Em seguida, o da “crise parental”, isto é, o conjunto de manifestações emocionais, afectivas e relacionais que a presença, os pensamentos e a actuação dos adolescentes suscitam num ou noutro progenitor” (Braconnier e Marcelli 2000).

Estudos realizados confirmam que os pais exercem alguma influência sobre as atitudes dos filhos face à sua sexualidade “apesar de constituírem uma fonte mínima de informação sobre sexualidade” (Vaz, 1996). O mesmo autor refere que a comunicação entre pais e filhos não é feita de “forma explícita e aberta”, mas surge pontualmente a partir de uma questão ou interpelação que é feita, quase sempre, entre mãe e filho(a).

Para Almeida, (1996) a sexualidade do adolescente “está particularmente sujeita ao controle parental, devido não só à vigilância social que desde há muito sobre ela se

exerce como também à resistência dos pais em aceitar a intimidade e autonomia psicológica dos filhos”. Esta resistência tem a ver, na opinião deste autor, com a dificuldade que os pais têm em aceitar a autonomia dos filhos. O autor justifica esta resistência com os “factores relacionados com as revisões de vida próprias desta etapa do seu próprio ciclo vital. Nestas revisões inclui-se a da sua própria sexualidade, nomeadamente enquanto adolescentes, o que terá repercussões a nível da estimulação ou repreensão do comportamento dos seus filhos.”

Apesar destas interacções, nem sempre pacíficas, entre pais e filhos, os estudos referem que os adolescentes continuam a preferir os pais como fonte de informação preferencial (Vaz, 1996). Este facto vem, de forma relevante, reforçar a necessidade de uma comunicação mais aberta e constante sobre a sexualidade no seio familiar. “Os pais deveriam recordar a sua própria adolescência, de forma a poderem ir ao encontro dos filhos, de coração para coração” (Bastos, 2003).

Mais pertinente se torna esta comunicação, quando sabemos que a principal fonte de informação dos adolescentes, nesta matéria, continua a ser o grupo de pares. O inquérito que realizamos neste trabalho veio confirmar isto mesmo. Para Vaz, (1996) apesar desta influência ser benéfica, na medida em que a aprendizagem é feita numa “relação horizontal e recíproca”, ela acarreta em si vários aspectos negativos. As informações que circulam entre os grupos de pares são, quase sempre, imprecisas, acompanhadas de risos e anedotas associados. Contudo é a pressão que o grupo exerce sobre o adolescente que o leva a fazer a sua primeira experiência sexual, muitas vezes sem a devida preparação e desrespeitando o seu ritmo pessoal de crescimento.

“É precisamente, neste quadro de referências que se compreendem os comportamentos de risco ao nível da sexualidade dos jovens, por exemplo, o aumento de certas doenças sexualmente transmissíveis. Parece-nos, assim, que na base da dificuldade de previsão e adopção de medidas preventivas na adolescência, para além do valor que o jovem dá à espontaneidade do comportamento, estará essencialmente o facto de a educação não promover a consciencialização de si como ser sexuado” (Vaz, 1996).

Ficou claro que a família é, por natureza, a primeira instância de educação e formação dos adolescentes. Contudo, e pelo facto do tempo efectivo de vivência familiar ser cada vez mais restrito, a escola deve ter, em si, responsabilidades acrescidas na ajuda e apoio a esta educação/formação. A escola deve ser a “parceira” ideal nesta aliança.

A família, sem querer ceder à tentação de transferir as suas responsabilidades para a escola, deve fazer esta aproximação, para que juntos (família e escola) possam proporcionar um crescimento saudável a todos os níveis do adolescente. “É sabido que a cooperação da família com a escola potencia a aprendizagem dos alunos e promove um desenvolvimento mais adequado” (CEP, 2005). Faremos esta reflexão no ponto seguinte.