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3.3 DISPOSIÇÕES SOBRE AS AGÊNCIAS REGULADORAS EM ESPECÍFICO

3.3.3 A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL

A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL foi a primeira agência a ser instituída no âmbito federal, por meio da Lei nº 9.427/1996, regulamentada pelo Decreto nº 2.235/1997, diante da necessidade de reestruturação do setor elétrico. O seu regimento interno foi aprovado pela Portaria MME nº 349/1997. Contrariamente à ANATEL e ANP, não houve previsão constitucional prévia para a criação da ANEEL, mesmo tendo sido a primeira a tomar forma.

Possui competência para promover a regulação do setor elétrico, fiscalizando e regulando a geração, transmissão, distribuição e comercialização da energia elétrica no Brasil, conforme dispõe o art. 2º da sua lei de criação. Por envolver investimentos pesados que geram retorno a longo prazo, mas imprescindíveis para o desenvolvimento econômico do país, se exige um planejamento cuidadoso para o setor, se incluindo assuntos de preservação do meio ambiente e gestão dos recursos hídricos dentro do planejamento.

Contudo, não cabe à ANEEL a realização de tal ação, possuindo a função de implementação das políticas públicas para o setor energético, determinadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo Ministro de Minas e Energia. Fora a atribuição de regulação sobre a geração, transmissão e distribuição da energia elétrica, detém a agência o papel de estabelecer metas para alcançar a universalização do uso da energia elétrica, que devem ser cumpridas pelos permissionários e concessionários que realizam a distribuição. Assim, se observa que a ANEEL possui o exercício de algumas funções inerentes ao Poder Concedente dos serviços públicos de energia elétrica e sobre o uso dos seus potenciais, através de delegação expressa do Ministério de Minas e Energia, com base em suas diretrizes, outorgando concessões e permissões de serviços de energia elétrica146, como está previsto no art. 3º- A, da Lei nº 9.427/1996, com alteração dada pela Lei nº 10.848/04.

A Lei nº 9.427/1996 não deixa explícita a garantia da independência da agência quanto aos outros órgãos da administração pública. O que se vê é expressa referência a assinatura de contrato de gestão da diretoria da ANEEL com o Poder Executivo. Vale salientar que este contrato é um instrumento de controle da atuação administrativa da autarquia e avaliação do seu desempenho. Assim, se percebe diante deste dispositivo a diminuição da autonomia gerencial da agência.

Somado a este fato, há ainda que não cabe a ANEEL a elaboração do seu próprio regimento interno, sendo atribuição do Ministério de Minas e Energia, como determina o art.

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4º do Decreto nº 2.335/1997 que instituiu a agência. Poderá a diretoria alterar dispositivos que estejam relacionados a gestão administrativa da ANEEL e com as Superintendências de processos organizacionais, além das possibilidades de editar o regulamento que a Lei geral das Agências abarca147. Aqui se dá a esta agência reguladora um pouco de autonomia administrativa, mas não tão expressiva, por ser também bem controlada pelos órgãos que está vinculada.

Dessa maneira, se depreende que a ANEEL é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, e por meio deste órgão, obedece os planos e diretrizes traçados para a condução dos procedimentos licitatórios do setor. Importante destacar que houve uma alteração sobre a temática trazida pela Lei nº 10.848/04, a qual instituiu um novo marco regulatório para o setor elétrico do país.

Das modificações trazidas, é nítida a redução considerável sobre a autonomia e independência da agência, estando sua atuação vinculada em vários aspectos às decisões advindas do Ministério de Minas e Energia, tornando em alguns aspectos a ANEEL um órgão de execução das decisões do Poder Concedente, o que muda completamente o caráter conferido inicialmente à agência reguladora em questão.148

Submete-se ainda as políticas definidas pelo CNPE, exercendo um papel de planejador do setor, devendo convergir com as políticas do setor de petróleo e gás natural. Isto porque, tais matrizes também geram energia, mas de forma minoritária no caso brasileiro, respondendo por parte da geração de energia. Além disso, deve tomar decisões de forma estratégica para buscar fontes alternativas de energia. Ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE, é dada a missão de acompanhar e avaliar de forma permanente a continuidade e segurança no suprimento da energia elétrica em todo país.

Por outro lado, é necessário observar que os recursos hídricos constituem a base da matriz energética brasileira, por meio das hidrelétricas. Mas tais recursos não são apenas fonte de geração de energia, o que torna necessária a articulação da ANEEL com outros setores que envolvam a gestão dos recursos hídricos, como a Agência Nacional de Águas – ANA. Deverá coordenar as ações com a ANA, como determina a legislação dessa última agência, no art. 7º

147 MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; FERNANDES, Luís Justiniano de Arantes. As Agências Reguladoras no direito positivo brasileiro. In: CARDOZO, José Eduardo Martins; QUEIROZ, João Eduardo Lopes; SANTOS, Márcia Walquíria Batista dos (Org.). Curso de Direito Administrativo Econômico. São Paulo: Malheiros, 2006, vol. III, p. 333.

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da sua lei criadora (Lei nº 9.984/00). Há ainda, como forma de articulação com outras agências, o compartilhamento de infraestrutura com a ANATEL e ANP, como visto anteriormente.

Sobre seus dirigentes, compõe a estrutura da agência cinco diretores, sendo um deles o diretor-geral. Possuem as mesmas garantias de impossibilidade de exoneração imotivada dadas pela Lei geral das Agências, bem como sobre a forma e competência para a perda de mandato, se acrescentando como causa para a perda o descumprimento do contrato de gestão. A regra que envolve a questão da quarentena é semelhante a utilizada pela ANP.

O quadro de pessoal foi fixado inicialmente pela sua lei de criação, sendo alterada posteriormente pela Lei nº 10.871/04, que tratou de forma mais específica sobre o tema. Quanto as suas fontes de financiamento, possui como receita básica própria do setor regulado as taxas de fiscalização sobre os serviços de energia elétrica. Na hipótese de delegação de funções a agências estaduais que fiscalizem o setor, se deve partilhar os valores com tais agências.

Além das funções da ANEEL elencadas no art. 2º da Lei nº 9.427/1996, o art. 3º da mesma lei prevê um rol extenso de atribuições à agência. No tocante ao seu processo decisório, assim como todas as agências, observará os princípios gerais da administração pública, contidos no art. 37 da Constituição Federal. Fora a exigência de publicidade trazida por este dispositivo, a agência reguladora em questão exige a realização de audiência pública antes de processo decisório que possa afetar direitos dos agentes econômicos do setor ou consumidores, sendo este projeto de lei ou processo por via administrativa quando possível, como determina sua lei criadora, art. 4º, §3º.

A realização prévia de audiência pública objetiva dar maior transparência a atuação da ANEEL, como também recolher informações e subsídios necessários para tomar a decisão, possibilitando aos interessados encaminhar suas sugestões e opiniões, podendo também identificar de forma ampla todos os aspectos que sejam relevantes para a matéria em debate. Também há previsão de audiência quando a ANEEL for discutir teor de anteprojeto de lei.

As reuniões da diretoria da agência poderão ser públicas, quando envolverem pendências entre os agentes econômicos ou entre estes e os consumidores, bem como ao tratar do julgamento das infrações aos regulamentos e à lei. Há a previsão ainda de um ouvidor na agência, sendo um dos diretores, como determina sua legislação, art. 4º, §1º. De forma contrária a atuação dos ouvidores das outras agências reguladoras, na ANEEL terá a função de zelar pela qualidade do serviço público de energia elétrica, como também receber, apurar e solucionar as reclamações dos usuários.