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A AGRICULTURA FAMILIAR EM SERGIPE: ESPAÇO, PROCESSO E ESCALA

CAPÍTULO I ESPAÇO GEOGRÁFICO, DESENVOLVIMENTO E AGRICULTURA FAMILIAR

1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, DESENVOLVIMENTO E AGRICULTURA FAMILIAR

2.3 A AGRICULTURA FAMILIAR EM SERGIPE: ESPAÇO, PROCESSO E ESCALA

Em Sergipe, o meio técnico, científico-informacional e suas correlações espaciais vêm sendo sentidas no campo, ao estimular a produção agrícola demandados pelo mercado, a qual determina importante peso econômico aos municípios. Essa atividade é geradora de matérias- primas e rendas que repercutem na indústria e nas vidas citadinas. Tal processo reflete a conjuntura de globalização na agricultura, a intensificação do processo de urbanização e o crescimento das cidades médias, que fundamentam a “[...] a base material para a inserção na produção e no consumo globalizado” (ELIAS, 2003, p.41).

Por essa conjuntura, verifica-se que a produção do espaço realiza-se mediante ação social ao corresponder suas demandas, ditando o processo (o tempo e as mudanças), a forma, a função e a estrutura. Sendo assim, a organização do espaço depende da correlação desses quatro elementos que se integram para criar e moldar o espaço no decorrer do tempo histórico. A integração da forma, enquanto aspecto visível; da estrutura, que se refere à inter- relação das partes de um todo; da função, que a atividade manifesta pela forma; e do processo, que é o desenvolver da ação, sinônimo do tempo e indicação da mudança, possibilita compreender as marcas sociais sobre a natureza e a totalidade em seu movimento, a partir da formação socioeconômica (SANTOS, 2008).

Deste modo, o inter-relacionamento do urbano e do meio rural tem sido uma constante na história de desenvolvimento econômico de vários municípios sergipanos, pois desde sua constituição a atividade agrícola tem sido a principal fonte de renda. A agricultura oferece condições para que as cidades se estabeleçam e cresçam em torno da compra de insumos e da comercialização dos produtos agrícolas.

Essa constante faz-se sentir principalmente com a instalação da FAFEN no Povoado Pedra Branca, Município de Laranjeiras, e da Companhia Vale, em Rosário do Catete.

Instalações que foram condicionadas pela oferta de matéria-prima, mas que assumiu uma posição estratégica no estado de Sergipe, contribuindo para a definição de forma e de função produtiva na agropecuária sergipana, devido à facilidade de fluxo de fertilizantes nitrogenados pelo estado, e também para exportação. A primeira possui capacidade para produção de 900 mil t/ano de amônia; 1,1 milhão de t/ano de ureia; 36.000 t/ano de ácido nítrico e 150.000 t/ano de CO2 (PETROBRAS, 2014). A segunda produz sais de Potássio, com a extração de silvinita. Tais empresas colaboram para a consolidação do Polo de Fertilizantes de Sergipe, sendo responsáveis pela produção de componentes que perfazem o composto de Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK) e contribuem para que empresas misturadoras, como Heringer, Fertinor e Adubos Sudoeste, instalassem-se em Sergipe e disponibilizassem insumos químicos processados no mercado nacional, principalmente no Nordeste e Centro-Oeste.

Deste modo, Sergipe apresenta forte potencialidade produtiva, principalmente no que se refere à produção de cana-de-açúcar e milho, haja vista serem essas duas culturas as que mais demandam insumos nitrogenados. A estrutura existente no estado, através da extração desses insumos, possibilita a agregação de função produtiva, principalmente na cultura que ganha destaque nos últimos anos - o milho -, determinando o processo de produção agropecuária e garantindo, por fim, a forma produtiva, isto é, o resultado positivo em termos de volume e de valores gerados pela produção que repercutem juntamente a outras atividades, como a pecuária, por exemplo. Sendo assim, a relação campo-cidade confirma-se em Sergipe, seja produzindo ou importando insumos, seja definindo uma expressiva circulação de mercadorias e de rendas, consequência das “[...] novas possibilidades de instantaneidade e simultaneidade da informação e do capital financeiro, o aumento da demanda de trabalho intelectual etc. [...]”. (ELIAS, 2003, p.53)

As propriedades familiares são, assim, resultantes da ocupação de terras abandonadas pela monocultura, que passaram por subdivisões. Em Sergipe, essa realidade não é diferente, o retalhamento da grande propriedade, pecuarista principalmente, contribuiu para o aparecimento de grande número de pequenas propriedades, que se integram ao mercado urbano, ao fornecer produtos demandados local e regionalmente. Para analisar essa realidade agrária, foram utilizados dados do IBGE (2006) sobre a evolução populacional, a distribuição dos estabelecimentos familiares, a organização dos meios produtivos, do uso da terra, das relações de trabalho, do grau de especialização e a tecnificação, além da importância da questão ambiental.

No estado de Sergipe, a evolução populacional, entre 1970-2010, demonstra crescimento relativo total (129,60%), urbano (266%) e rural (12,84%) da população (Tabela

06). Pelos dados, evidencia-se que o crescimento rural é bem menos intenso que o urbano. Tal aspecto justifica a tese de haver um “esvaziamento” do campo em relação à população total, haja vista, no ano de 2010, apenas 26,5% da população está localizada no espaço rural, contra 73,5% situada no espaço urbano. Essa concentração no urbano explica-se pela percepção do agricultor frente à falta de perspectiva no meio rural (crédito e estímulos produtivos), mas também pela questão “medo”, justificada pela falta de segurança. Logo, muitos agricultores sergipanos mantêm sua propriedade e profissão, mas preferem garantir seu descanso noturno nas cidades. Tabela 06 – Sergipe Crescimento populacional 1970-2010 ANOS Sergipe Pop Total

Pop. Urbana Pop. Rural

Nº Absolutos Representação % Nº Absolutos Representação % 1970 900.679 415.360 46,1 485.319 53,9 1980 1.140.380 617.796 54,2 522.325 45,8 1991 1.491.867 1.001.940 67 489.927 33 2000 1.781.714 1.271.465 71,36 510.249 28,64 2010 2.068.017 1.520.366 73,5 547.651 26,5 Crescimento Relativo (1970- 2007) 129,60% 266% 12,84%

Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Organização: Carvalho, 2013.

Em termos de dados econômicos, buscamos analisar inicialmente os dados do Produto Interno Bruto (PIB), que apresenta a soma de bens e serviços produzidos ao longo de um ano no território. O PIB sergipano, entre 2000 e 2010, crescera em 265,95%, passando de R$6.539.803 mil reais, no ano 2000, a R$23.932.155mil, em 2010 (Figura 12). Tal crescimento também é observado para a agricultura em 268,20%. Todavia, o crescimento do setor de serviços e de impostos19 estiveram abaixo da média sergipana, tendo crescido respectivamente 246,61% e 261%. Apesar da baixa, os respectivos crescimentos demonstram: a expressividade de tributos no estado e, também, que, apesar de menor, o segmento de terciário está acima da média de crescimento nacional (215,69%). O crescimento do PIB sergipano teve maior destaque no segmento industrial, com crescimento de 323,22%, estando

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O IBGE tem trabalhado o segmento de impostos, apesar de constituir um segmento do setor de serviços, em separado, devido à importância dos recursos advindos da administração, saúde, educação públicas e seguridade social, nas economias municipais.

muito acima da média nacional (219,72%), e podendo ser justificada pela consolidação de segmentos mineradores, petrolíferos e indústrias alimentícias, principalmente, além da introdução de filiais de empresas nacionais, como a Estrela, Azaleia, etc.

Figura 12- Sergipe

Produto Interno Bruto 2000, 2006, 2010

Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios, 2000, 2006 e 2010. Organização: Carvalho, 2013.

Contudo, apesar da expansão na escala de dez anos, observa-se no ano de 2010, que o segmento do produto interno bruto de maior representatividade foi o de serviços (60%), seguidos do industrial (25%), impostos (11%) e, por fim, o segmento agropecuário com 4% (IBGE, 2010). Esses demonstram que apesar de pequena a representatividade do setor primário da economia, esse persiste sendo trabalhado e considerando o contexto macroeconômico, é o Pronaf um segmento muito importante para sua promoção.

Além do PIB, é importante destacar que 84% do pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários, no ano de 2006, em Sergipe, estavam em estabelecimentos da agricultura familiar (225.950 pessoas), sendo responsável por R$723 milhões de reais em valor bruto de produção, que significa 68% do total da agropecuária estadual. Todavia, foi possível verificar que, em termos totais, o número de pessoas ocupadas na agropecuária sergipana decaiu em 14,19%, isto é, de 313.271 pessoas, no ano de 1995/1996, para 268.799pessoas, no ano de 2006, fato explicado pela ampliação da modernização de alguns setores agrícolas e que, por

consequência, contribui para o desemprego rural; pela agregação de novas possibilidades que têm se aberto no campo, como os empregos não agrícolas; e, mesmo, pelo desenvolvimento de atividades complementares em termos de renda nas unidades produtivas (Tabela 08).

O estado de Sergipe conta atualmente com 100.606 estabelecimentos rurais, com uma área de 1.480.414 hectares. Esses dados quando comparados aos de 1995/96 demonstram que os números de estabelecimentos variaram positivamente em 0,83%, haja vista o surgimento de 832 novos estabelecimentos, enquanto a área decresceu em 13,06%, tendo, também, decrescido a área média por estabelecimento em -13,77%. Os referidos números são justificados pela subdivisão de propriedades e, também, pela incorporação de área a já grandes estabelecimentos (Tabela 07).

Tabela 07- Sergipe

Número de estabelecimentos agrícolas, área e pessoal ocupado 1996-2006

Sergipe 1996 2006 Variação Absoluta Variação Relativa

Número de Estabelecimentos 99.774 100.606 832 0,83%

Área (há) 1.702.628 1.480.414 -222.214 -13,06%

Área por estabelecimento 17,06 14,71 -2,35 -13,77%

Pessoal Ocupado 313.271 268.799 -44.472 -14.19%

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1996 e 2006. Organização: Carvalho, 2013.

Nesse contexto, a agricultura familiar sergipana mostra-se presente em 90.330 estabelecimentos (IBGE, 2006). A mesma representa uma área de 711.488 hectares, com uma área média de 7,87hectares/estabelecimento20, representando 48% do total estadual. Essa agricultura familiar está concentrada no município de Lagarto, com 7.059 estabelecimentos, os quais representam aproximadamente 8% do total sergipano. De modo geral, o centro-sul do estado possui, em termos numéricos, maior número de estabelecimentos da agricultura familiar, deslindado pelo processo de agregação de área às pequenas propriedades, principalmente no início do século XX, com o processo de minifundização e, posteriormente, com a subdivisão das propriedades pelos membros da família, mediante herança (DINIZ, 1991) (Figura 13).

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A área média dos estabelecimentos da agricultura familiar sergipana é quase três vezes menor que a área média dos estabelecimentos familiares definidos no Brasil, fato proporcional ao tamanho-área do estado.

Estabelecimentos da agricultura familiar 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006 e Atlas SEPLANTEC, 2004. Organização: Carvalho, 2014.

Em termos de área por estabelecimento da agricultura familiar observa-se forte concentração, em números menores que a média sergipana (7,87 hectares/estabelecimento), na porção central e litoral, no sentido centro-sul, o que atesta a subdivisão dos estabelecimentos da agricultura familiar, ao tempo que se observa forte concentração de área por estabelecimento em toda porção noroeste do estado, sendo Canindé do São Francisco o que apresenta maior concentração, com 25,88 hectares por estabelecimento, seguidos dos municípios de Gararu, São Francisco, Monte Alegre de Sergipe e Poço Redondo, com valores variando entre 19,27 e 17,27 hectares por estabelecimento (Figura 14).

A agricultura familiar está localizada, principalmente no centro-sul do estado, em estabelecimentos que variam, sobretudo, de 80 a 240 hectares, excluindo Tobias Barreto, cujos estabelecimentos familiares podem chegar até 280 hectares. Tal constante tende a crescer entre famílias que desejam permanecer na terra, em função de divisão da propriedade voltada à agropecuária, ao tempo que tem crescido a concentração de terra nas mãos de alguns poucos agricultores familiares que, inclusive, passam a possuir área acima de 250 hectares. Esse número decorre da variação em termos de tamanho (hectares) do módulo fiscal por município sergipano. Municípios localizados no sertão sergipano apresentam módulo fiscal de 70 hectares, sabendo-se que, para ser considerado agricultor familiar, o estabelecimento não deve exceder, a qualquer título, área superior a 4 (quatro) módulos fiscais. Sendo assim, consideram-se estabelecimento de agricultura familiar porções de área quatro vezes o tamanho do módulo fiscal. Em Sergipe, os estabelecimentos familiares podem alcançar mais de 250 hectares (Figura 15).

Evidencia-se, assim, forte concentração de terra, mesmo na agricultura familiar, no interland do estado, principalmente na porção sertaneja, sendo esse fato uma constante histórica que se manteve até os dias atuais, aliada principalmente à manutenção das atividades pecuaristas no estado. Em relação aos estabelecimentos com menos de 10 hectares, observa-se maior persistência na porção litorânea, “sobrevivendo” juntamente à grande propriedade canavieira e a algumas poucas propriedades frutícolas, no sentido de produção do coco da baía, ou ainda, à instalação de chácaras de fins de semana (vilegiatura). A isso alia-se o fato da existência de estabelecimentos não familiares variando entre 20 e 140 hectares, em áreas urbanas principalmente da região metropolitana de Aracaju.

Área por estabelecimentos da agricultura familiar 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006 e Atlas SEPLANTEC, 2004. Organização: Carvalho, 2014.

Equivalência do módulo fiscal para por estabelecimentos para a agricultura familiar 2001

Fonte: Sistema Nacional de Cadastro Rural - Indices Basicos de 2001 e Atlas SEPLANTEC, 2004. Organização: Carvalho, 2014.