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PRESSUPOSTOS DO INSTITUCIONALISMO NO BRASIL

A QUESTÃO DO INSTITUCIONALISMO NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PRONAF

3.2 PRESSUPOSTOS DO INSTITUCIONALISMO NO BRASIL

No Brasil, a questão institucional recebe a contribuição de Bastos (2006a), Favareto (2006) e Belink et. al. (2007), principalmente. O primeiro demonstra inexistir um modo único de conceituar as instituições. Logo, por sua análise, as instituições perfazem um conjunto de sistemas de conhecimento, crenças e regras estabelecidas para manter certa organização

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social, caracterizando-se pela durabilidade e capacidade de influenciar. Nesse contexto, o “âmbito institucional” refere-se à dimensão institucional de uma dada sociedade que trabalha no sentido de promover mudanças desejáveis ou não. Sendo assim, “[...] as instituições determinariam as oportunidades e vocações [...]” (BASTOS, 2006a, p.107) sociais no sentido de promover desenvolvimento “[...] e a clareza das regras se garantem como estímulo para o surgimento de um ambiente de confiança e que desestimule a fuga”. (Op. Cit)

Além disso, no momento atual (décadas de 1990 e 2000), o institucionalismo voltou num contexto de mudanças sociais, perpassando visões disciplinares das ciências sociais (Ciência Política, Sociologia e Economia) que refletem sobre a ação do Estado, o qual, com autonomia relativa, pressupõe sua inserção na sociedade, a fim de promover ingerências influenciadas pelo contexto histórico que induzem marcos regulatórios e ajustes tanto na cooperação, quanto na luta contra o isolamento social. O Estado, nesse sentido, é uma unidade autônoma, que impõe regras, intervém com ações no sentido de reprodução do capital e, por vezes, indiferente às pressões sociais e de grupos de interesse. Tal autonomia é transitória e depende das mudanças estabelecidas entre governo e sociedade. O Estado seria assim: “[...] o Estado-sujeito, acima da sociedade, exercendo apenas sua condição hobbesiana para impor regras e determinar seus destinos [...]”. (Op. Cit, p.115)

Dessa forma, o Estado coloca-se como fundamental na garantia do cumprimento das regras. Todavia, a discussão desse organismo aparece sempre de modo superficial nas teorias institucionais, em função da perda de ação representativa sobre o comportamento social e por ser o Estado um ponto de pauta das Ciências Sociais, isto é, a expressão de “externalidades” que o modelo econômico não utiliza. Mas, ainda assim, o Estado é avaliado como uma entidade que “[...] recebe influência da sociedade na medida em que a sociedade organiza e molda a política, e esta determina a correlação de forças que age sobre as atuações do Estado” (BASTOS, 2006b, p.03). Nesse caso, conclui-se que as instituições são analisadas como impulsoras de realização das vocações e de oportunidades sociais, que reflete a ação do Estado em resposta às demandas sociais sobre o espaço.

Sendo assim, de acordo com a concepção institucionalista atual, Bastos (2006) enfoca as vocações econômicas, em que as instituições são dirigidas para a construção de arranjos que diminuam custos e influenciem o comportamento social subsequente, de modo a impulsionar aptidões e capacidades, considerando hábitos e costumes do local. Deste modo, prega-se um arranjo institucional

[...] moldado à luz dos marcos legais impostos à sociedade e das reações dos indivíduos e grupos sociais a essas intervenções, no contexto de seus interesses, de suas normas e convenções, de sua cultura, dos limites a que estão submetidos e das mediações que são feitas pelos arranjos que lhes dão suporte. (BASTOS, 2006a, p.94)

Por essa assertiva, as instituições contribuem para alterar comportamentos dos indivíduos e da sociedade. Assim, a liberdade de escolha individual é propulsora de desenvolvimento, porque, ao se garantir autonomia social, com mediação do Estado e de suas instituições, equilibram-se os conflitos e promovem-se políticas públicas voltadas as demandas sociais.

Nessa mesma linha, Favareto (2006), ao refletir sobre literaturas de Douglas North e Max Weber, indica que as instituições mantêm uma interação entre as ações dos indivíduos e dos organismos sociais, representado pelo Estado, na promoção da mudança ou na manutenção do espaço, a partir do processo de aprendizagem. Para o autor, o institucionalismo parece ser a premissa mais aceitável para dialogar com outras teorias, uma vez que os “[...] conflitos geram instituições, que formam sistemas de incentivos que dão origem a inovações, que por sua vez ensejam novos conflitos e assim sucessivamente” (Op. Cit, p.53).

Enquanto Belik et. al. (2007) explicita o institucionalismo, de modo mais amplo, como um campo metodológico plural, por não haver uma teoria unificada, mas incluindo sem distinção quatro dimensões, a saber: 1- formais, definidas pelo Estado e pelas religiões; e informais, definidas pelas normas, tradições e costumes; 2 - ambiente institucional, no qual são consideradas as regras que medeiam as relações entre os agentes (mudanças na legislação, no sistema judiciário, na burocracia governamental e nas instituições que definem os direitos de propriedade); 3 - governança (economia dos custos de transação), pela qual os indivíduos interagem entre si e respondem às estruturas; 4 - economia neoclássica, que incide sobre os custos de produção (relações de produção, compra, venda e preços – qualidade).

As mudanças operadas em nível de instituições (regras presentes na sociedade), conforme já analisadas, ocorrem de modo formal (por meio de leis e regras) e informal (com alterações nas convenções e hábitos presentes na sociedade). Esse ambiente institucional, juntamente ao comportamento dos agentes empresariais, explica as formas de coordenação econômicas, isto é, a governança (corpo político, corpo econômico, corpos sociais e corpos educacionais) na elaboração de políticas agrícolas e na alocação de recursos públicos. Nesse contexto, o Estado, enquanto instituição, pode definir políticas públicas, mas depende também da demanda social. Logo,

[...] as políticas agrícolas derivaram ou de uma alteração no ambiente institucional (por exemplo, na legislação agrícola), que afetaria as estruturas de governança; ou da criação dos indivíduos, que provocaria reação nas estruturas de governança objetivando a redução dos custos de transação. (BELIK, et. al., 2007, p.124)

Além disso, o Estado passou a assumir papel importante na regulação dos diversos setores da economia e mesmo na regulação privada do espaço público. A abordagem institucional tem ganhado destaque nas ciências sociais e na economia. Nesse interregno, os estudos rurais têm se utilizado dessa visão para mostrar a realidade econômica contemporânea, “[...] no sentido que permite uma integração entre os vários níveis e diferentes formas como as relações sociais de produção se expressam [...]”. (Op. Cit, p.136)

As instituições contribuem, assim, para compreender-se a estruturação das práticas econômicas e das relações sociais. Por esse contexto, as instituições podem contribuir para a solidariedade entre cadeias produtivas, para a integração aos mercados via redução dos custos de transação, ao mesmo tempo que pode acarretar insucessos nos processos produtivos, no sentido de dependência da ação do Estado por meio de políticas públicas. Por isso, prega-se a mudança de paradigma da sociedade rural para o setor agrícola empresarial, aspecto a ser analisado a partir das implicações do institucionalismo para com o desenvolvimento rural.