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INSTITUCIONALISMOS E O DESENVOLVIMENTO RURAL

A QUESTÃO DO INSTITUCIONALISMO NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PRONAF

3.3 INSTITUCIONALISMOS E O DESENVOLVIMENTO RURAL

A ação do Estado na promoção e desenvolvimento do espaço rural esbarra no institucionalismo existente na própria ideia de rural e de ruralidade. Para Favareto (2006), esses termos impõem o sentido de residual ao espaço concreto e, assim, a

[...] associação automática à ideia de pobreza e de atraso restringem de partida as possibilidades de investimentos científicos, políticos e econômicos, o que contribui para gerar um ciclo onde esta posição marginal é sempre reforçada, seja simbolicamente, seja materialmente. (FAVARETO, 2006, p. 150)

Por consequência, o institucionalismo brasileiro na promoção do desenvolvimento rural está disperso entre algumas poucas estruturas ministeriais que possuem propostas

complementares, mas distanciadas em termos objetivos, haja vista o caráter setorial das políticas para o agronegócio e para a agricultura familiar. Tal aspecto limita a proposta de desenvolvimento territorial rural, ao tempo que demonstra a inércia institucional, apoiada em agentes sociais individualizados (Op. Cit.). Sendo assim, as políticas desenvolvidas no Brasil ainda permanecem vinculadas ao interesse de poucos e, por fim, ainda não promoveram mudança institucional significativa no país.

Dessa forma, a falta de mudança institucional explicita os conflitos existentes entre instituições e organizações, assim como a operacionalização das instituições informais, aspecto motivado por interesses que podem impulsionar rupturas ou aceleração de políticas. Assim, mostra-se necessária a criação de instituições, a partir do aprendizado adquirido com a implantação de mudanças que priorizem a descentralização produtiva, diversifiquem as economias locais e garantam possibilidades aos indivíduos.

Destarte, sabe-se que o Brasil não tivera forte herança cultural em termos de consolidação de instituições que possibilitassem seu desenvolvimento econômico. Toda a nossa história estivera alicerçada nas instituições e interesses portugueses. Com a independência do país, novos modelos institucionais foram buscados, a fim de alicerçar o crescimento econômico, mas nada que pudesse transpor a herança cultural (as instituições informais) que existiam no país, baseada nas demandas dos grandes proprietários de terra. Deste modo, a história do Brasil inicia-se com a constituição de uma elite agrária que se perpetua com base em marcos legais, como a Lei de Terras (1850), a Constituição de 1891 e o Código Civil (1916) que reforçaram “[...] os mecanismos institucionais para a manutenção das grandes propriedades”. (BASTOS, 2006a, p.31)

Nesse contexto, o poder de decisão no país tem se mantido nas mãos de grupos econômicos, isto é, das oligarquias locais e regionais, apoiadas pelo poder central. Esse fato demonstra a existência de uma “estabilidade institucional” que dificulta, por exemplo, a alternância de poder. Decorrente disso, justifica-se a subordinação da região Nordeste aos interesses das regiões dominantes economicamente e aos interesses de seus gestores locais. Sendo também por isso que a maior parte dos agricultores familiares pobres é excluída do acesso ao crédito rural, haja vista o ambiente institucional de privilégios transpor obstáculos para a mudança da qualidade de vida dos agricultores familiares.

No mais, a oligarquia brasileira nunca almejou (ou teve interesse em) alcançar mudanças produtivas e modernizar o âmbito rural, apesar de a necessidade de suprimir concorrências (como o Pacto Colonial), principalmente em nível internacional, acarretar a adoção de algumas práticas. Diante desse contexto, observa-se que o desinteresse pelo campo,

por exemplo, acabou por perpetuar relações de poder que impediram a construção de um novo projeto nacional de modernização da agricultura, perpassando sempre ações corretivas sem fins de transformação definitiva. O referido aspecto, segundo Bastos (2011), prezava pela manutenção de formas de dominação arcaicas, desconsiderando sempre os interesses da massa populacional, excluída de políticas públicas e de ação intervencionista do Estado. Assim, “[...] o desenvolvimento mais lento das forças produtivas findou limitando a incorporação de insumos modernos”. (Op. Cit, p. 05)

Por conseguinte, observa-se que a população rural pobre esteve quase sempre à mercê das políticas do Estado implementadas, visando à produtividade do campo. E aos poucos, políticas historicamente implantadas com esse sentido tiveram alcance limitado. Por isso, a maior parte das políticas brasileiras teve caráter excludente, pois a política de crédito, por exemplo, correspondeu aos interesses principais dos Complexos Agroindustriais. Sendo assim,

As políticas públicas direcionadas para o meio rural desde a modernização, mesmo contendo regras que privilegiam os mais pobres, não promovem mudanças substantivas, por conta do ambiente institucional prevalecente, impregnado de velhas convicções, que impedem a apropriação das transformações ocorridas nas estratégias de sobrevivência das populações excluídas. (Op. Cit., p. 25)

Decorrente desse contexto, conclui-se que o Brasil nunca possuíra uma política de desenvolvimento nacional. Tal assertiva define-se na atualidade, no modo como ainda copiamos e incorporamos modelos de crescimento econômico para a agricultura familiar, para a educação e para a saúde, quase sempre desconsiderando a realidade local. A partir do momento em que tais modelos forem revisados e catalogados pelas instituições informais que cobram das instituições formais mais ação, passaremos a ter resultados positivos em praticamente todos os segmentos.

Contudo, sabe-se que não é fácil promover mudanças propriamente nas regras informais, representativas da cultura de uma dada sociedade, pois depende do contexto social em que se inserem. Deste modo, para promover o desenvolvimento rural e possibilitar a agricultura familiar interagir nesse processo, é necessário romper com as regras informais gestadas por uma minoria e galgar maiores mudanças nas regras formais, principalmente no que diz respeito ao acesso a políticas públicas, a exemplo do Pronaf.

O Pronaf corresponde às respostas do Estado aos anseios históricos e sociais de trabalhadores rurais e pequenos proprietários que buscam alicerçar seu crescimento produtivo.

Todavia, ainda é persistente entre instituições financeiras o caráter seletivo e de resistência à expansão da base social desse programa, que se encontra subdividido em linhas de ações e modalidades, aplicáveis em relação à declaração de renda do agricultor familiar.

Apesar disso, o Estado tem proporcionado mudanças nas regras formais e informais do Pronaf, facilitando o acesso creditício ao pequeno agricultor, em termos de custeio e de investimentos para suas unidades produtivas. Esse elemento, além de integrar os agricultores a lógica do mercado, tem contribuído para a quebra radical de um modelo cultural imposto à sociedade desde a década de 1930, quando se pregava que o financiamento rural poderia ter como maior consequência a perca da terra. Destarte, toda essa mudança institucional proporcionada principalmente pelo Estado brasileiro, no intuito de ajudar ao pequeno agricultor e mesmo a quebra de paradigmas culturais têm alicerçado melhores desempenhos econômicos e promovido mudanças no desenvolvimento rural, resultando na melhoria da qualidade de vida dos beneficiários do programa.

Sendo assim, as instituições são guias para o comportamento social, em um dado contexto, pois exprime dimensões diferentes do comportamento humano e de seus impactos na vida social. E mais, é um arcabouço normativo que, juntamente com a Governança do Estado, contribui para o desenvolvimento espacial.