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ESPECIFICIDADES DA AGRICULTURA FAMILIAR SERGIPANA

CAPÍTULO I ESPAÇO GEOGRÁFICO, DESENVOLVIMENTO E AGRICULTURA FAMILIAR

1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, DESENVOLVIMENTO E AGRICULTURA FAMILIAR

2.4 ESPECIFICIDADES DA AGRICULTURA FAMILIAR SERGIPANA

Além da espacialização de dados referentes à agricultura familiar no estado de Sergipe, faz-se importante considerar outros aspectos que retratam seu contexto socioeconômico, conforme apresentamos em seguida.

A forma de utilização das terras nos estabelecimentos sergipanos, na condição de familiares, tem forte representatividade frente ao total em lavouras temporárias (91,37%), com forrageiras (90,55%) e permanentes (88,61%). Em termos da área utilizada nos estabelecimentos da agricultura familiar, frente aos valores totais, destacam-se as áreas de lavouras temporárias (64,34%), seguidos de sistemas agroflorestais (54,15%), de áreas para forrageiras (51,58%) e de plantação de flores, mudas, estufas de plantas e casas de vegetação (51,23%) (Figura 16). Os dados evidenciam a persistência da agricultura familiar com a produção de lavouras temporárias e de sustentabilidade, com áreas sendo utilizadas com cuidados de preservação, a exemplo dos sistemas agroflorestais.

Uso da terra em estabelecimentos da agricultura familiar 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

A condição do produtor em relação à terra mostra-se, em Sergipe, majoritária em números de proprietários que somam 78.779 do total de 90.330 estabelecimentos familiares (Figura 17). Após a condição de proprietário, segue-se a de ocupante com 5.503 estabelecimentos, e os demais (assentados sem titulação definitiva, arrendatário, parceiros e produtor sem área) somam 6.048 estabelecimentos, representando 6,7% do total.

Figura 17- Sergipe

Condição do produtor 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

No que se refere à gestão do estabelecimento agrícola familiar, é majoritário, 59,3% dos produtores, ter mais de 10 anos de atividade, sendo 46,31% dirigidos pelo sexo masculino e 13% pelo sexo feminino. Mesmo em termos absolutos, a mulher tem posição secundária na gestão da unidade produtiva. Essa participação do gênero feminino amplia-se na tomada de decisão compartilhada, juntamente aos companheiros, em Sergipe (Tabela 08).

Tabela 08– Sergipe

Gestão nos estabelecimentos, por sexo e grupos de anos na agricultura familiar 2006

Sexo Produtor na direção dos trabalhos do estabelecimentos Total

Homens

Menos de 1 ano na direção dos trabalho 2.034

De 1 a menos de 5 anos na direção dos trabalhos 13.172 De 5 a menos de 10 anos na direção dos trabalho 14.654

De 10 anos e mais na direção dos trabalhos 41.834

Mulheres

Menos de 1 ano na direção dos trabalho 432

De 1 a menos de 5 anos na direção dos trabalhos 3.114 De 5 a menos de 10 anos na direção dos trabalho 3.363

De 10 anos e mais na direção dos trabalhos 11.727

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

Em relação ao número de pessoal ocupado nas atividades agropecuárias, somou-se um total de 268.799 pessoas, sendo que 84% estão ocupados na agricultura familiar. Do total familiar (225.950), 70,57% são homens e 29,43% são mulheres, aspecto que atesta ainda a predominância do trabalho masculino no espaço rural de Sergipe. Ao mesmo tempo, é pertinente ressaltar que aproximadamente 32 mil produtores, por estabelecimento, declararam manter atividades fora da sua unidade familiar em atividades agropecuárias e não agropecuárias, assegurando que, até mesmo em áreas onde quase predominam unidades familiares de produção, busca-se incessantemente por novas estratégias de sobrevivência e de geração de renda, fato motivado pelo crescimento da família e por impossibilidade de maiores divisões da unidade (Figura 18).

Figura 18- Sergipe

Atividades executadas pelo produtor fora de sua unidade produtiva 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

Em relação às receitas, segundo dados do Censo Agropecuário (2006), 60.814 estabelecimentos familiares tiveram como fonte de renda a venda de produtos agropecuários (vegetais, animais, húmus e esterco) que perfizeram 93,7% da renda rural. Esse número demonstra como o estado de Sergipe ainda mantém a agricultura como fonte central na geração da renda, apesar de observamos que novas atividades estão sendo inseridas, muitas vezes de modo complementar. Outra atividade aliada ao setor agrícola e que tem ganhado destaque é a instalação de agroindústrias para processamento do que é produzido no estado, as quais contabilizam 4.139 estabelecimentos, muitas ainda manufatureiras, mas com algumas já totalmente em escala industrial.

Contudo, não se pode deixar de destacar que as receitas oriundas de aposentadoria e pensão é uma das principais fontes de renda para as famílias rurais sergipanas, pois estão presentes em cerca de 22% dos estabelecimentos familiares e repassam valores de até 10% da renda total do que é produzido por esses estabelecimentos. A essa constante somam-se os salários obtidos em atividades fora da unidade produtiva de 7.235 estabelecimentos, que geram cerca de 4% da renda total; seguidos de programas especiais do Governo Federal, a exemplo do Bolsa Família, presente em 10.687 estabelecimentos com representação de 1,3% da renda total rural do estado (IBGE, 2006) (Tabela 09).

O rural sergipano se mantém ligado à atividade agropecuária, apesar de já aliar as mais diversas tecnologias ao processamento dos produtos. A constituição de agroindústrias familiares, que operam com a produção da agricultura familiar, a exemplo de empresas aliadas ao processamento de laticínios, condimentos e chás, demarca a potencialidade do setor agroindustrial e a força da pequena produção como fornecedora de produtos dessa natureza em Sergipe.

Nessa esteira de geração de rendas no setor rural sergipano, a questão do financiamento tem ganhado relevância, devido o up grade que determina a produção agropecuária, sem desconsiderar que essa prática está integrando a agricultura familiar às dinâmicas do capital, ao associar sua produção às lógicas do mercado. Dados do Censo Agropecuário (2006) demonstram que 13.572 estabelecimentos obtiveram algum tipo de financiamento, segmentado nas modalidades de investimento (53%), custeio (34%), comercialização (2%) e manutenção do estabelecimento (11%).

Tabela 09– Sergipe

Receitas obtidas pelos estabelecimentos familiares 2006

Receitas obtidas pelos estabelecimentos Familiares Estabelecimentos

Valores (R$ 1000)21

Produtos Vegetais 43.896 493.611

Produtos

Agrícolas Animais e Seus produtos 27.356 97.635

Animais criados em cativeiros (jacaré,

escargô, capivara e outros 95 465

Húmus 26 86

Esterco 393 255

Turismo Rural 11 51

Exploração mineral 29 189

Outras

Atividades Produtos da Agroindústria 4.139 31.599

Prestação de serviços de

beneficiamento e/ou transformação de produtos agropecuários por terceiros

mais serviços de empresas integradoras 635 6.763

Outras atividades não-agrícolas realizadas no estabelecimento

(artesanato, tecelagem e etc.) 503 746

Aposentadoria ou pensão 13.218 62.721

Outros recursos

Salário obtido com atividades fora do

estabelecimento 7.235 25.092

Doações ou ajudas voluntárias de

parentes ou amigos 432 468

Programas especiais do Governo 10.687 8.330

Desinvestimentos 549 1.377

Pescado (Capturado) 108 213

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

Cerca de 13,5% dos estabelecimentos familiares existentes em Sergipe contaram com o apoio de financiamentos de investimento e de manutenção, para auxiliar na aquisição de maquinários e na construção de infraestruturas. Tais equipamentos, como a construção de armazéns para guardar a produção, visa a melhores preços no mercado e, mesmo, à alimentação de animais na propriedade, como é o caso dos silos. Desse modo, a busca por crédito para custeio tem possibilitado a implementação produtiva nas unidades familiares, muitas vezes com a opção de cultivo para algumas poucas culturas comerciais, fato que se verifica, nos últimos anos, na porção centro-oeste e sudoeste do estado, com a produção maximizada de milho, demandado pelo mercado interno, com a produção de ração animal e

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Os valores expostos são referentes aos dados disponibilizados pelo Censo Agropecuário (IBGE, 2006), sendo assim, pode não validar a realidade atual, haja vista o fator inflação.

para atender a demanda de outros estados, como Pernambuco e Bahia, principalmente (Figura 19). Nesse aspecto, a espacialização observada dos dados do IBGE, em relação aos estabelecimentos familiares que obtiveram algum tipo de financiamento, demonstra que os mesmos estão concentrados onde há uma forte dinâmica da agricultura sergipana.

Estabelecimentos da agricultura familiar que obtiveram financiamento 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006 e Atlas SEPLANTEC, 2004. Organização: Carvalho, 2014.

Apenas 22% dos agricultores realizaram empréstimos, estando esses concentrados, sobretudo, na porção centro-sul e na porção sertaneja do estado, onde se localiza o maior número de estabelecimentos familiares, sendo motivados respectivamente pela citricultura e pelas práticas pecuárias. Ao passo que 78% dos estabelecimentos não obtiveram financiamentos, justificados conforme descrito: 40,32% não precisaram; 13,4% alegaram ter medo de contrair dívidas; 12,57% delimitaram outros motivos; 5,2% devido à burocracia, 1,5% informaram não saber como conseguir e/ou por falta de garantia pessoal. O baixo percentual de agricultores familiares inseridos nas políticas de financiamento demonstra a falta de simetria informativa mais precisa aos agricultores que, por vezes, não têm entendimento e, mesmo, temem esse tipo de financiamento.

Os dados analisados dimensionam o retrato da agricultura familiar sergipana em termos de concentração dos estabelecimentos agropecuários, área, pessoal ocupado na atividade, renda, etc. Nesse estado, a agricultura familiar é responsável por quase 65% da produção de lavoura permanente e por quase 45% da produção de lavoura temporária, além de responder por 52% do rebanho bovino e 20% dos mesmos nas unidades que desenvolvem a pecuária de corte (IBGE, 2006).

Por esse contexto, os 90.330 estabelecimentos de agricultura familiar em Sergipe respondem produtivamente, na proporção de estabelecimento sergipanos, por: 96% da produção de mandioca, 95% da produção de feijão, 82% da produção de milho em grão, 78% da produção de arroz em casca, 78% de suínos, 76% da produção de leite de cabra, fora as produções de leite de vaca (66%), de aves (24%) e da produção de ovos de galinha (21%) (Figura 20) (IBGE, 2006). Tal representatividade produtiva tem para a geração de valores na ordem de 240 milhões de reais. Isso significa uma forte integração dessa agricultura ao mercado, além de evidenciar a diversificação produtiva existente nos estabelecimentos da agricultura familiar sergipana, haja vista a inexistência de monoculturas absolutas. Assim, é possível serem evidenciadas, nos estabelecimentos, atividades que se complementam, a partir da representatividade das culturas no total dos estabelecimentos (Figura 21).

Figura 20- Sergipe

Produção da agricultura familiar no total da produção 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

Figura 21- Sergipe

Estabelecimentos e a produção da agricultura familiar 2006

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 2006. Organização: Carvalho, 2014.

Deste modo, a diversificação produtiva dos estabelecimentos da agricultura familiar, em Sergipe, faz-se ver na representatividade das culturas alimentares, o que prova que, além

de produzir para o autoconsumo, existe uma preocupação de repasse de sua produção para corresponder às demandas das populações locais, principalmente as urbanas, dentro da relação campo-cidade de caráter complementar. Esse repasse garante ao agricultor renda e aquisição de novos produtos e serviços no mercado local-regional, impulsionando a economia municipal e estadual, mesmo a atividade agropecuária não tendo tão forte expressão no Produto Interno Bruto total do Estado. Pelo exposto, prova-se que a agricultura familiar é potencializadora de desenvolvimento rural e local, a qual tem sido impulsionada também, nos últimos anos, pelo Pronaf.

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A QUESTÃO DO INSTITUCIONALISMO NA OPERACIONALIZAÇÃO