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INSTITUCIONALISMO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

A QUESTÃO DO INSTITUCIONALISMO NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PRONAF

3.1 INSTITUCIONALISMO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

As instituições são organizações humanamente elaboradas que, através de normas, moldam interações entre as estruturas políticas, sociais e/ou econômicas e evoluem ao longo do tempo fazendo-se compreender em seu processo histórico. Essas instituições reduzem as incertezas, já que, sendo um guia, moldam as formas culturais do lugar dentro da lógica comportamental. Nesse sentido, o comportamento humano está alicerçado na ideologia, ideias e dogmas do lugar vivido. Logo, as bases institucionais diferem de um lugar para outro, seja a partir da motivação (evolução genética), seja por interferência do ambiente, e acabam desempenhando um papel importante nas escolhas que os indivíduos fazem. O ser humano precisa desenvolver padrões que regularizem sua interação face às complexidades existentes na realidade (incertezas e ideologias) (North, 2007).

Ademais, as instituições podem representar a imposição de regras para direcionar as condutas sociais, através de estruturas normativas na manutenção da vida social, a fim de garantir a estabilidade da ordem. Essa organização, como pregado por Durkheim (1985)22, ocorre em relação à divisão social do trabalho; ou, ainda, por meio de uma proposta política, conforme apontada por Peters (2003) dentro de uma visão racional, sendo “[…] interpretadas como conjuntos de reglas e incentivos que fijan las condiciones para la racionalidad restringida y establecen un ‘espacio político’ dentro del cual pueden funcionar muchos actores interdependientes”. (Op. Cit, p. 72)

Dessa forma, as regras institucionais são impostas e, nesse campo, limitam ou mudam o comportamento social sempre dentro da racionalidade dos atores. Nessa perspectiva, as instituições são criadas porque os atores são racionais e não porque resultam de circunstâncias históricas, isto é, são o resultado de aspiração de um ou mais indivíduos (Op. Cit.). São, enfim, a interação de regras e valores culturais que influem sobre o conjunto das rotinas sociais e seu consequente quadro, estruturado pela interação humana, que limita o conjunto de escolhas dos indivíduos sociais.

Apesar de focalizada principalmente a partir da década de 1970, entre os economistas, Thorsten Veblen (1983) e Marx Weber (2005, 2006 e 2009) já demonstrava anteriormente que as instituições determinavam os negócios comerciais, ao moldar as demandas dos indivíduos, evoluindo de modo gradativo. Nesse sentido, as instituições econômicas são

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As sociedades e as instituições precedem o individuo. Por essa assertiva, adverte-se que o individuo, quase sempre, acabará por se adaptar ao conjunto de regras vigentes socialmente.

representadas pelos mercados, firmas e contratos, que trabalham com transações (importância de custos e falhas de mercado) avaliadas mediante a execução de contratos livres da racionalidade oportunista e adaptadas as incertezas do ambiente.

Thorstein Veblen (1983) é considerado precursor da Escola Institucionalista na Economia, nascida nos Estados Unidos, entre final do século XIX e início do Século XX, haja vista ter feito a contraposição às Escolas Liberal Clássica e à Teoria Neoclássica moderna. A essência de sua teoria se definiu a partir da abordagem evolucionária da economia (sob influência de Charles Darwin) e do fato de considerar a economia uma totalidade, na qual as instituições fazem parte como um conjunto coletivo organizado a partir do comportamento social. A vertente vebleriana baseava-se nas instâncias econômicas, cuja defesa se fundaria na busca pela realização da distribuição mais equilibrada de renda e bens.

Veblen (1983) afirma que as instituições são hábitos e rotinas de conduta de um determinado período histórico, representativos de modos de pensar e de agir de um grupo ou de toda a sociedade, sendo que esses podem sofrer mudanças de acordo com o processo de evolução social, repercutindo na evolução econômica. Essa visão darwinista agregava às instituições a necessidade de garantir produção e, por consequência, o atendimento das demandas humanas por propriedade privada e por tecnologia.

A visão evolucionista subsidiará a sua teoria de classe ociosa, cujas instituições são resultantes da diferenciação de funções dignas e indignas do desenvolvimento social na economia industrial-produtiva. Sendo assim, as funções dignas são representadas pela honra e nobreza, isto é, “[...] intervém um elemento de proeza ou façanha [...]” (VEBLEN, 1983, p. 08); enquanto as indignas implicam subserviência e desenvolvimento de atividades vis, ou seja, são motivadas por atividades diárias e rotineiras sem mudanças consideráveis.

Dessa forma, o autor mostra a existência da habitual diferenciação entre ocupações industriais e não-industriais, a partir de uma visão geográfica, ao enfocar o domínio exercido pelo homem sobre a natureza, pois o “[...] domínio industrial sobre a natureza inclui o domínio do homem sobre a vida animal e sobre os elementos. Traça-se assim uma linha entre a humanidade e a criação bruta” (Op. Cit, p. 09). Por esse contexto, o autor demonstra que a classe ociosa é reflexo da reprodução do capital, pois o conhecimento técnico e as inovações tecnológicas estão subordinadas ao dinheiro e, nesse sentido, o controle da economia está sendo exercido em favor dos proprietários que não trabalham no processo produtivo (absenteístas), e acabam por subordinar de modo ilegítimo a produção aos interesses do capital.

O propósito de Veblen (1983) foi demonstrar o valor da classe ociosa, pois, segundo ele, essa classe é uma “instituição” no sentido de fator econômico da vida moderna, através da avaliação da origem dessas instituições, advindas dos costumes e da evolução da divisão do trabalho na sociedade. Para o autor, a classe ociosa emerge juntamente a emergência da propriedade, definindo, assim, a instituição da propriedade privada, baseando-se na utilidade do consumo, isto é, na cultura do consumo como reflexo de conforto e respeitabilidade para o possuidor. Nas palavras do autor (1983, p. 15),

[...] o aparecimento de uma classe ociosa coincide com o início da propriedade. É uma coincidência necessária porque as duas instituições resultam do mesmo conjunto de forças econômicas. Na fase inicial de seu desenvolvimento, as duas são somente aspectos diferentes dos mesmos fatos gerais de estrutura social. (Op. Cit)

O autor ainda discorre sobre a necessidade de regras de respeitabilidade pecuniária que exercem efeito social; e sobre a evolução da estrutura social como um processo de mudança das instituições que regem a vida da sociedade, através da seletividade de indivíduos por capacidade de adaptação temperamental e de hábitos em ambiente mutável. Isso mostra a conduta humana no sentido de os indivíduos buscarem ser reconhecidos como melhores que os outros, numa competição seletiva. Desse modo,

[...] As instituições são elas próprias o resultado de um processo seletivo e adaptativo que modela os tipos prevalecentes ou dominantes, de atributos e aptidões espirituais; são ao mesmo tempo, métodos de vida e de relações humanas, e constituem, por sua vez, fatores eficiente de seleção. (Op. Cit, p. 87)

Assim, as instituições mudam de acordo com as mudanças circunscritas ao cenário que a sociedade lhes proporciona. Contudo, essas instituições são definidas por hábitos mentais herdados anteriormente e adaptados às circunstâncias do passado. Por isso, muitas vezes são consideradas insensatas para os aspectos vivenciados no presente. Tal aspecto é explicado pela inércia social, que tende a ser alterada conforme pressão externa, principalmente de natureza econômica, o que provoca o reajustamento das instituições às demandas sociais (Op. Cit).

Diferentemente da corrente institucionalista, que tem à frente Veblen, cujos fundamentos pressupõem o estudo de estruturas, regras e comportamentos de instituições

(empresas, sindicatos, Estado e seus organismos23), os quais, a partir dos instintos e costumes, movem o comportamento econômico; e o neoinstitucionalismo, configurado em uma reunião de escolas ou vertentes do pensamento econômico contemporâneo, caracterizadas pelas “regras do jogo”, sejam formais ou informais e pelas “qualidade dos jogadores” em competirem para se manterem no mercado, além de se considerarem os custos de transação (terra, capital, trabalho e incerteza do mercado) e a lógica da eficiência. Por consequência, observa-se que a diferença entre essas duas correntes ocorre mediante a “[...] intervenção governamental na economia [...]. Enquanto a primeira tem uma visão favorável, a segunda tem uma visão, por princípio, contrária à intervenção governamental” (MACHADO, 2007, pg. 01). Essas duas visões sedimentam um momento histórico em que se consolidam ideias keynesianas em relação à intervenção do Estado na economia.

O Neoinstitucionalismo24 está focado no estudo sociológico da teoria das instituições, desenvolvida nas décadas de 1980 e 1990, cujas raízes estão nos modelos de equilíbrio geral e compreende temas como a economia dos custos de transação, a escola dos direitos de propriedade e a nova história econômica. Essa teoria apresenta uma reação contrária à perspectiva behaviorista, diferindo assim no modo de tratar os problemas sociais e políticos.

Tal teoria apresenta, ao menos, três métodos de análise diferentes que se configuram em três escolas do pensamento neo-institucional, sendo designados: 1- O Institucionalismo Histórico, que trata a relação entre instituições e comportamento individual, enfatizando as assimetrias de poder associadas ao funcionamento das instituições; 2- O Institucionalismo da Escolha Racional, que se empenha na maximização do bem-estar material, por isso considera importante o direito de propriedade, das rendas e dos custos de transação para o funcionamento das instituições, que estruturam a interação ao possibilitar “[...] alternativas na agenda, ou ao oferecerem informações ou mecanismos de adoção que reduzem a incerteza no tocante ao comportamento dos outros, ao mesmo tempo que propiciam aos atores “ganhos de troca” [...]” (HALL e TAYLOR, 2003, p. 206); e 3-Institucionalismo Sociológico, redefinindo as instituições a partir da cultura, modelos morais com padrões de significação e guias da ação

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As ideias da corrente institucionalista vão de encontro às ideias de que o Estado deve intervir na economia, isto é, às ideias Keynesianas que serão muito fortes entre final da Segunda Guerra Mundial e a década de 1970, quando passa a reflorescer o pensamento liberal.

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Alguns teóricos definem que North é integrante da corrente definida como Nova Economia Institucional, que tem como outros representantes Cosae e Williamson. Essa diferenciação quanto à corrente deve-se ao modo como cada estudioso do institucionalismo subdivide suas análises. Sendo assim, Conceição (2007, p.624) diz que em geral, o pensamento institucionalista está subdividido em três correntes: “[...] o Antigo Institucionalismo de Veblen, Commons e Mitchell, a Nova Economia Institucional de Coase, Williamson e North, e a corrente neo- institucionalista, que reivindica sua filiação ao “velho” institucionalismo e uma grande proximidade com o evolucionismo” (op. Cit). Todavia, para vias deste estudo estamos optando pela definição institucional de HALL e TAYLOR (2003), embasada na diferenciação de três escolas, que se intercruzam em termos de ideias.

humana, assim como através da natureza interativa e da imposição do Estado Regulador reordenando as organizações (Op. Cit.). Deste modo, as instituições são padrões sociais que se reproduzem culturalmente e variam no espaço-tempo conforme análise preconizada.

Max Weber (1864-1920) já trabalhava numa conduta racional-econômica com observações historicistas, adentrando ao que viria a ser a visão neo-institucionalista sociológica. O autor trabalhou o modo como as instituições estruturam o campo de visão da sociedade em processo de reforma política que acaba por engendrar campos de competição de interesses. Para o autor (2006), o mercado capitalista e o Estado racional centralizado são instituições que inferem racionalidade e eficiência ao capitalismo moderno. Tal institucionalismo pode influenciar preferências e identidades dos indivíduos, a partir das interferências dominantes. De todo modo, o autor realiza a análise da política e da crítica social, pois estuda a inconstância das estruturas institucionais, constituídas num ambiente de manipulação da política reformista.

Dessa forma, Weber reflete a estrutura social dentro de uma esfera de dominação que acarreta mudanças sociais e econômicas. Para tanto, analisa a natureza psicológica da economia e suas normas étnicas e sociais, deixando claro que a doutrina institucionalista é uma simples análise da estrutura e do funcionamento das formas adotadas pelas organizações sociais e econômicas na busca do “equilíbrio social”. Disso, sobressaí a ideia de dominação burocrática, demarcada pela administração ocupada por um responsável em executar atribuições que definem processos de mobilidade hierárquica dos membros sociais. Isso demonstra que a racionalidade do Estado se faz mediante presença de funcionalismo especializado e integrado às leis, pois, “para Weber, a burocracia racional, baseada no conhecimento técnico e no não-envolvimento político do funcionário, é um dos pilares do Estado racional moderno e, portanto, da própria modernidade”. (SOUZA, 2006, p.91)

Por conseguinte, Weber (2006) mostra que a burocracia nas sociedades ocidentais fora extremamente importante no sentido de disseminar aspectos culturais e mercadológicos, aliada a propostas de leis e técnicas que contribuíram para a consolidação da racionalidade moderna e, por fim, para o desenvolvimento do capitalismo moderno. Todavia, a origem desse sistema estaria aliada à ética protestante que somente com a disseminação da racionalidade instrumental nas sociedades e na matriz cultural consegue romper essa ligação (WEBER, 2005).

As instituições, em Weber, surgem do controle de rentabilidade e do cálculo de balanços, decorrentes da empresa racional com força motriz, isto é, da relação do mercado capitalista e do Estado racional eficiente com outros fenômenos culturais, especialmente o

Direito. Desta forma, tem-se aí uma sociologia econômica que comunga também, mas de modo parcial com a história econômica, quando demonstra que essa história ocupa-se das transformações organizacionais, institucionais e psicológicas do agir humano na vida econômica (WEBER, 2009).

Apesar dessa vertente sociológica, o neoinstitucionalismo trabalha com a compreensão do mundo político, principalmente no enfoque da escolha racional, em que analisa aspectos fundamentais da vida política, envolvendo gestão de incertezas e interação estratégica. Deste modo, esses estudiosos da Escolha Racional “[...] reservam espaço muito maior à intencionalidade humana na determinação das situações políticas sob a forma do cálculo estratégico, sem deixar de reservar um papel para as variáveis estruturais, sob a forma das instituições (HALL e TAYLOR, 2003, p. 214). Essa corrente tem por principal proponente Douglass C. North (prêmio Nobel de Economia de 1993), que renovou a pesquisa em história econômica, utilizando a teoria econômica e métodos quantitativos para explicar a mudança econômica e institucional. Será a partir desse autor (2003, 2005 e 2007, tradução nossa) que se busca fundamentar a noção de institucionalismo em consonância com atributos sociais.

Nessa perspectiva, o respectivo autor tem por cerne a ideia de unidades autônomas que se coordenam historicamente e que são centros da sociabilidade humana, com destaque para as instituições, as organizações e as representações mentais. A partir disso, explicita as instituições como sendo constituídas por organizações, que lhes fornecem uma estrutura para a interação humana. Tais organizações incluem

[...] political bodies (political parties, the Senate, a city council, a regulatory agency), economic bodies (churches, clubs, athletic associations), and educational bodies (schools, universities, vocational training centers). They are groups of individuals bound by some common purpose to achieve objectives. [...] Organizations are created with purposive intente in consequence if the opportunity set resulting from the existing set of constraints (institutional ones as well as the traditional ones of economic theoru) and in the course of attempts to accomplish their objectives are a major agente of institutional chance. (NORTH, 2007, p. 05)

Por essas afirmativas, o autor deixa claro que as organizações são criadas com intensão propositadas e evoluem de acordo com seus objetivos, sendo assim, agentes de mudança institucional. Tal conjuntura é demarcada pela história familiar na economia norte- americana que, por meio do trabalho, conseguiram desenvolver organizações econômicas e políticas, cujo resultado foi o aumento da produtividade e o crescimento econômico direto e indireto. Disso, North (2007) conclui que as organizações, mediante oportunidades, alteram o

quadro institucional, e a mudança institucional cria conveniências para o aumento da produtividade e para aqueles que reduzem a produtividade, em virtude das adversidades e reforços. Deste modo, o autor inclui no seu institucionalismo a racionalidade e a noção de mercados eficientes que, através do marco institucional da política, caracterizaria-se por retornos crescentes na economia.

North (2007) reafirma que as instituições podem ser consideradas como restrições que os seres humanos criam e impõem a si próprios. Essa abordagem tem sido trabalhada pelos estudiosos da teoria econômica neoclássica, haja vista as instituições afetarem o desempenho da economia por seu efeito sobre os custos de troca e produção, resultante do processo evolutivo da sociedade. Os respectivos custos, que criam mudanças nos preços relativos e incentivam a construção de instituições mais eficientes, são resultados do emprego de tecnologia que determina a operação e os custos de transformação (produção).

Além disso, a teoria de North (2007) combina comportamento humano e custos de transação que explicam o funcionamento da sociedade e o desempenho da economia. Isso porque os custos de transação, através dos custos de mediação e de aplicação são as fontes de instituições sociais, políticas e econômicas. Neste contexto, os direitos de propriedade são resultados dos direitos apropriados dos indivíduos sobre seu próprio trabalho, bens e serviços.

A apropriação define-se em função de normas legais, formas de organização, aplicação, e normas de comportamento, ou seja, é o quadro institucional, porque, com qualquer estrutura de direitos de propriedade, os custos de transação são positivos, sendo que os direitos nunca são perfeitamente especificados e aplicados. Alguns atributos de valor são de domínio público e pagos para indivíduos se dedicarem à captura de recursos. Assim, as instituições proporcionam a estrutura para o intercâmbio que, em conjunto com a tecnologia empregada, determina o custo de negociação e o custo de transformação. As instituições resolvem os problemas de coordenação e de produção, determinados pela motivação dos “jogadores” (função de utilidade) em ambiente complexo (medição e aplicação) (Op. Cit).

Em termos econômicos, as instituições mostram-se necessárias para realizar o intercâmbio, resolvendo problemas a taxas simples, ao longo do espaço e do tempo, para numerosos indivíduos. O grau de complexidade em trocas econômicas gira em função do nível de contratos necessários para realizar trocas em economias de graus variados de especialização, a qual não é uma forma de seguro, quando os custos e as incertezas de transacionar são elevados. Quanto maior a especialização, o número e a variabilidade de atributos, mais peso deve ser colocado em instituições confiáveis que permitam aos indivíduos envolverem-se e realizarem contratos complexos. As taxas, comuns às economias

modernas consistem em muitos atributos variáveis que se estendem por longos períodos de tempo e exigem confiabilidade institucional, como as que, gradualmente, emergiram nas economias ocidentais. Não há nada de automático sobre a evolução da cooperação a partir de formas simples de contratação e de troca para as formas complexas que têm caracterizado as economias de sucesso dos tempos modernos (Op. Cit).

De modo geral, aspectos da evolução comercial mostram que novas instituições econômicas foram construídas ao longo do tempo para permitir a ampliação do mercado e a realização dos ganhos de produção mais complexa, estendendo as trocas para além dos limites de um pequeno espaço geográfico. No início do período moderno da história, essas instituições encarregaram o Estado europeu de proteger os comerciantes e de adotar códigos de comércio como potencial para aumentar as receitas de atividades fiscais. Nas palavras do autor, o papel do Estado era ambíguo, “[...] because the state was as often an increasing source of insecurity and higher transaction costs as it was protector and enforcer of property rights” (NORTH, 2007, p. 35). Apesar de toda insegurança em relação ao Estado, é nesse momento que se estabelecem as práticas mercantilistas e, por conseguinte, a imposição do Pacto Colonial, protecionismo e balança comercial, que fundamentou a unificação de mercados e consolidação dos Estados-nacionais.

Do final do século XX para o século XXI, as negociações impessoais ganharam espaço, fundamentando economias modernas de sucesso e envolvendo contratação complexa para a promoção do crescimento econômico. Nesse sentido, a aplicação de terceiros nunca é o ideal, pois as partes envolvidas nas trocas ainda dedicam imensos recursos para tentar personalizar essas relações. Por isso, nem a autoaplicação, nem a confiança podem ser completamente consideradas. Disso abstrai-se que não é a ideologia ou as normas que podem desmontar essa estrutura; mas a dedicação de imensos volumes de recursos, na tentativa de promulgar códigos de conduta. Decorrente dessa premissa, os retornos de ideias sobre oportunismo, engano e fuga de indivíduos em sociedades complexas tendem também a ascender(Op. Cit.).

Por tal contexto, faz-se necessário um terceiro intermediário-coercitivo, cuja aplicação eficaz é mais bem realizada através da criação de um conjunto de regras que, em seguida, fazem uma série de restrições informais. Não obstante, os problemas de obtenção e de aplicação de terceiros em acordos, através de um sistema judicial eficaz, ainda não cumprem fielmente as regras e, por isso, são pouco compreendidos, tornando-se um grande dilema no estudo da evolução institucional (Op. Cit). Assim, para desenvolver um modelo de

instituições, fazem-se necessárias as características estruturais das restrições informais,