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Numa observação mais atenta é fácil constatar no cotidiano hodierno organizações tradicionais, i. e., aquelas que são criadas e geridas com base no paradigma reducionista/fragmentado, erroneamente contextualizadas num ambiente externo previsível e quase imutável.

Organizações estas onde as pessoas aprendem em momentos e espaços específicos e são tidas como executoras das tarefas pré-determinadas pela gerência, sem o efetivo empoderamento de suas funções, sem liberdade e autonomia, sem espaço para a criatividade, flexibilidade e inovação. Nelas as pessoas são gerenciadas, recebendo informações de como devem trabalhar, ficando isoladas e alienadas, encontrando gerentes que vigiam as condutas e o cumprimento das ações, numa manutenção de uma organização pautada no comando e controle (ANGELONI, 2008).

Nesse patamar gerencial encontram-se as escolas tradicionais, algumas associações, as organizações governamentais muito hierarquizadas e empresas com rígida estrutura e gestão que segue o pensamento linear cartesiano.

Nas organizações tradicionais normalmente há uma centralização de poder na figura do chefe, que geralmente fica incumbido de dar as ordens, determinando o quê, como e quando cada subordinado deve executar, cuidando de manter também o controle do cumprimento das tarefas por ele fixadas, seguindo numa estrutura hierárquica com repetição deste modelo, aonde há uma relação de equivalência de relações em toda a estrutura organizacional.

No contexto de uma organização tradicional um dos pilares é o mando e controle, sendo este o mecanismo mais utilizado para regular o trabalho das pessoas. Entretanto, este padrão está em crise, pois não possui a efetividade de outrora quando toda a estrutura organizacional existia para a manutenção do citado padrão. O certo é que esse pressuposto não tem mais serventia para sustentar uma empresa que pretenda alcançar o êxito em sua missão institucional, manifestando como principal sintoma de sua crise quando apresenta perda de efetividade.

Não é recomendável generalizar, mas em nossas vivências não é raro nos deparamos com falhas ou bruscas rupturas na condução do nosso processo de educação e no seu distanciamento da realidade social na qual estamos inseridos.

Essas questões são constatadas no individualismo e na competição incitados em nosso convívio social pela racionalidade instrumental, na falta de valores e ética resultantes da nossa

educação doméstica, fruto de famílias em constantes crises existenciais, na obediência irrestrita aos nossos dogmas e preceitos religiosos, na falta de senso crítico ao observarmos as mudanças planetárias, tudo isso formando os nossos modelos mentais, i.e., a imagem que cada um tem do mundo, que conduz e define atos e decisões (SENGE, 2012).

A organização burocrática de Weber (1978) possui características próprias que a definem, a saber:

 o estabelecimento de uma autoridade racional, cuja continuidade está atrelada à estrutura organizacional e não à perpetuação de indivíduos, o que é obedecido é a lei ressalta Weber (1978, p. 16);

 caráter formal das comunicações (na burocracia todas as comunicações são feitas por escrito, com vistas à comprovação e à padronização);

 manutenção de registros para preservação da sua memória;

 capacitação e análise de desempenho dos funcionários facilitada pela comparação com os anteriormente padrões estabelecidos;

 gestores especializados à frente da organização (almejando a profissionalização de todos os membros, com distinção das atividades de gerência das atividades de execução);

 fixação de salários pagos em dinheiro de acordo com uma escala graduada com os níveis hierárquicos;

 divisão clara do trabalho, com especificações quanto a autoridades e responsabilidades, em relação a cada área de competência, com esferas de obrigações das funções;

 seleção de pessoal, sistema de promoção e remoção, baseados nas habilidades técnicas e nas competências individuais, avaliadas por exames, treinamentos e pela experiência, o papel das qualificações técnicas em organizações burocráticas é continuamente incrementado (WEBER, 1978, p. 22);

 atos e decisões administrativas registrados por escrito; gerentes e funcionários sujeitos a regras e procedimentos que irão assegurar comportamentos confiáveis e previsíveis (cada um sabe exatamente o seu papel na organização através da divisão clara de tarefas conforme os cargos);

 administração separada da propriedade que pertence à organização, tanto na esfera da administração pública quanto nas organizações burocráticas privadas, pois funcionários, empregados, trabalhadores vinculados ao quadro administrativo, não fazem seus os meios de

produção e administração. Esses são fornecidos em espécie ou em dinheiro, e o funcionário é obrigado a prestar contas (WEBER, 1978, p. 18);

 hierarquia de autoridade bem definida entre os cargos (estrutura de mando e subordinação claramente definidas), a obediência é impessoal, pois não é prestada em consideração às pessoas que chefiam, e sim dos cargos que ocupam, o funcionário

burocrático típico ocupa o cargo como sua principal ocupação (WEBER, 1978, p. 23);  fixação de regras, normas e regulamentos claros e explícitos alcançando todos os setores, para manutenção da continuidade organizacional; e

 procedimentos impessoais e tratamentos equitativos, aplicados de maneira uniforme a todos os empregados (a administração nas burocracias é efetuada desconsiderando as pessoas como possuidoras de interesses e desejos, mas apenas como ocupantes de cargos e funções).

Por outro lado, a burocracia pode ser perfeitamente aplicável a certas realidades organizacionais, gerando inclusive mais eficiência para a organização, que pode fazer sucesso em seu segmento de atuação, assim, a abordagem da organização burocrática weberiana é mais uma dentre as inúmeras formas de se gerenciar uma organização.

Não há um modelo de gestão único, melhor que os demais, cabendo ao gestor diagnosticar, no caso concreto, qual é o modelo de gestão mais eficiente para cada tipo de organização e cada momento para aplicá-los dentro de uma mesmo organização, diante da diversidade de interesses e de necessidades daqueles que compõem a organização ou dela são clientes. Assim, resta saber quando e em quais situações o modelo de burocracia weberiana tem melhor adequação e funcionamento e, ainda, quais as alternativas de gestão em relação a esse modelo. Todavia, várias tendências atuais que sugerem propostas rotuladas como inovadoras acabam almejando objetivos muito similares aos das organizações burocráticas, trazendo apenas nuances diferentes abordagens quanto à forma como devem ser estruturadas as organizações (SCHERMERHORN JR., 2006, p. 218).

Para Weber (1978, p. 25) sem o aparato burocrático uma sociedade como a nossa que separa os funcionários, empregados e trabalhadores da propriedade dos meios de administração e que depende da disciplina e da formação profissional deixaria de existir, haja vista que a burocracia e o sistema capitalista possuem uma grande vinculação quando se trata de administração de massas, chegando o capitalismo a fomentar o desenvolvimento da burocracia, servindo como a base econômica mais racional para a administração burocrática.

Max Weber (1999) também faz considerações relevantes sobre o tema da sociologia da dominação, mais precisamente sobre suas estruturas e seu funcionamento. Para ele, a dominação faz parte da composição da ação social, destacando-se como um de seus elementos

de maior importância, pois todas as suas áreas mostram-se profundamente influenciadas por esse caso especial de poder, que é a dominação.

Retrata o poder econômico como uma consequência frequente, muitas vezes deliberada e planejada, da dominação (WEBER, 1999, p. 188), apesar de fazer uma ressalva de que nem todo poder econômico manifesta-se como dominação, mesmo porque nem toda dominação se utiliza de meios coativos econômicos para sua manutenção.

É lógico que a forma como os meios econômicos são utilizados para manutenção da dominação influencia, decisivamente, o caráter da estrutura de dominação, que é, quase sempre, um relevante fator para a economia, além de ser condicionado por ela também.

Weber (1999, p. 188) define dominação como a possibilidade de impor ao comportamento de terceiros a vontade própria, pode apresentar-se nas formas mais diversas , por exemplo, como o direito que a lei confere a um indivíduo de fazer valer seu direito sobre um ou vários outros. Disse ainda que dominação é

uma situação de fato, em que uma vontade manifesta ( mandado ) do dominador ou dos dominadores quer influenciar as ações de outras pessoas (do dominado ou dos dominados ), e de fato as influencia de tal modo que estas ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feito do próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações ( obediência ) (WEBER, 1999, p. 191).

Temos de um lado a dominação resultante da situação de monopólio e, de outro lado, a dominação em virtude da autoridade. Nesta há um poder de mando de alguém e o dever de obediência de outrem, naquela o detentor do monopólio pode obrigar outros indivíduos, mediante sua ação, a praticarem um comportamento que lhe convém, apesar de não lhes impor nem mesmo o simples dever de sujeitar-se a esta dominação. Todavia, uma situação monopolizadora, em virtude da situação de interesses, pode gradualmente se transformar em dominação autoritária.

Em um sentido mais amplo, não apenas as trocas no mercado, como também as relações de troca da vida social produzem dominação, assim como não somente nas relações ou mercados privados existem situações de dominação.

Weber (1999) ressalta que justamente pela falta de regulamentos, a dominação condicionada pelo mercado ou por situações de interesses pode ser algo muito mais opressor do que uma autoridade expressamente regulamentada na forma de deveres de obediência.

A dominação pode ser uma relação bilateral, como aquela que se estabelece entre os funcionários de departamentos diferentes dentro de uma mesma organização, onde existe, em

verdade, uma subordinação recíproca quanto ao poder de mando para cada grupo dentro da área de atuação do outro.

Weber (1999) conclui dizendo que toda administração necessita, de alguma forma, da dominação, pois para gerenciar uma organização se faz necessário de algum poder de mando esteja concentrado nas mãos de alguém. Contudo, na administração democrática, o dominador é considerado servidor dos demais indivíduos que compõem a comunidade da organização.

Técnicas e procedimentos de melhorias dos processos internos e o incremento na produção não serão suficientes para o gestor ser bem sucedido na atualidade e compreender como se formam as relações de dominação dos mercados, o que circunda as relações de mando e obediência.

Conhecer o processo histórico, as características e consequências para a gestão do modelo burocrático weberiano, serão muito válidos, em especial, para aqueles que pretendem ter uma visão geral das forças que influenciam os gestores nas suas decisões diárias e das consequências de certas ações gerenciais, mas nada se compara a força dos argumentos teóricos que a seguir serão apresentados.

Se a gestão se configura no ato de administrar os recursos e atividades de uma organização que busca alcançar seus objetivos que, no caso de uma organização de natureza pública, consiste na materialização da sua missão institucional, é preciso encontrar substratos teóricos que sejam suficientemente harmoniosos com essa pretensão.

Dentro dessa perspectiva do pilar da segurança humana, o conceito de segurança pública assume uma forma ampla e não se restringe apenas ao compromisso de lutar contra a violência cotidiana e reduzir os índices de criminalidade, mas deve englobar a importância de diminuir a sensação de insegurança que impede ou restringe a população no usufruto de seus direitos e de suas liberdades substantivas, diminuindo as possibilidades de externalização das suas capacidades.

No contexto da teoria do agir comunicativo, a segurança pública adquire o dinamismo necessário para gerenciar seus recursos e processos, porque atribui nova racionalidade à gestão organizacional policial que acaba desenvolvendo seu caminhar na direção do diálogo, da confiança e do entendimento interno e com os demais atores sociais do seu campo de atuação. Então vejamos a seguir os desdobramentos dos dois pilares que auxiliaram a construção da presente pesquisa

5.1 A PERSPECTIVA DA SEGURANÇA HUMANA E A CONCEPÇÃO DA IDEIA DE