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A aproximação do cenário físico e construção do cenário social

Capítulo 4 Bases Epistemológicas e Metodológicas da Pesquisa

4.3 A metodologia da pesquisa

4.3.3 A aproximação do cenário físico e construção do cenário social

Diferentemente do local físico da pesquisa, o espaço social é uma construção estabelecida pelo pesquisador. A inserção do pesquisador e aproximação com os participantes da pesquisa é uma etapa crucial para o estabelecimento de relações com

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os sujeitos envolvidos. Nesse sentido, optamos por iniciar o trabalho de pesquisa no Centro de Ensino Médio, pois a pesquisadora já fazia parte do grupo de professores da escola, local em que atuava como intérprete educacional durante o início deste processo de doutoramento. Com certeza o fato de pertencer ao grupo de professores facilitou muito o acesso e aproximação.

De toda forma, o grupo de professores participantes, os alunos envolvidos, a direção da escola e a responsável intinerante pela inclusão dos surdos nesta Regional de ensino foram procurados especificamente para conversar sobre o projeto de pesquisa em questão e manifestaram aprovar a participação no referido trabalho. Todos manifestaram estar dispostos e nenhum empecilho foi apresentado por quaisquer das partes.

Considerando a especificidade da situação a participação da pesquisadora em todos os âmbitos da escola foi facilitada devido às questões profissionais já apresentadas.

Paralelamente a realização da pesquisa na escola de Ensino Médio a pesquisadora também buscou contatar as escolas de Ensino Fundamental e para isso contou com o auxílio da responsável intinerante pela inclusão de surdos nesta Regional de ensino, a qual indicou duas escolas de Ensino Fundamental para a realização desta pesquisa: uma Escola Classe e um Centro de Ensino Fundamental. A responsável intinerante fez questão de marcar um encontro com a equipe de atendimento aos surdos de cada uma destas escolas para a apresentação da pesquisadora e do trabalho a ser desenvolvido, o que com certeza muito auxiliou a aproximação com o grupo.

Neste encontro percebemos que já conhecíamos grande parte do grupo de professores que atuavam no atendimento ao surdo devido aos cursos já realizados pela própria Regional de ensino e atividades esporádicas já realizadas em conjunto.

Muitos dos alunos que hoje estão no Ensino Médio já haviam passado por essas escolas, o que fez com que o grupo de professores do Ensino Fundamental se interessasse por ter notícias dos ex alunos a assim se aproximassem mais da pesquisadora.

Para a escolha do grupo de alunos participantes de cada escola conversamos com seus professores para identificarmos situações de pouca ou nenhuma defasagem idade série, além de destaques quanto a facilidade ou dificuldade de aprendizagem, conforme relataremos a seguir.

A partir deste encontro inicial com alunos e professores, estipulamos que a pesquisadora passaria a acompanhar, pelo menos uma vez por semana, o grupo de

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alunos participantes da pesquisa em horários de aulas de Ciências (por esta ser a área de formação da pesquisadora).

4.3.3.1 A seleção do grupo de alunos e aproximação dos professores

A partir da reunião que tivemos com a presença da responsável intinerante e o grupo de professores especializados no atendimento ao surdo da Escola Classe, verificamos que nesta havia oito alunos surdos regularmente matriculados. Destes, quatro estavam no quarto ano (com idade variando entre nove e onze anos) e quatro estavam no terceiro ano (neste caso há duas alunas com oito anos e, em outro turno, duas alunas com quatorze anos). Devido ao nosso interesse em selecionar crianças que estejam com uma boa correlação idade e série, optamos por fazer nossos estudos observando as duas alunas de oito anos que estavam no terceiro ano do Ensino Fundamental. Para tais alunas utilizaremos os nomes fictícios de Ana e Maria, conforme a tabela abaixo:

Alunos Idade (anos) Ano escolar (EF 9 anos)

Comprometimento auditivo

Ana 8 3º Profundo

Maria 8 3º Moderado

Quadro 7: Alunos do Ensino Fundamental – anos iniciais.

Além disso, Ana foi identificada pela professora da sala de recursos como uma aluna destaque, enquanto que Maria foi citada como uma aluna de “aprendizagem lenta” (conforme citado pela própria professora).

No Centro de Ensino Fundamental havia alunos surdos no primeiro e no segundo ciclo, porém, o primeiro ciclo funcionava em sistema supletivo e a faixa etária dos alunos estava com muita defasagem à idade prevista (entre 20 e 43 anos), conforme já citamos. No segundo ciclo havia alunos com pouca defasagem idade/série (alunos de 13 a 18 anos), o que fez com que optássemos por acompanhar, nesta escola, apenas os alunos do segundo ciclo (ou anos finais do Ensino Fundamental).

Nesta escola haviam seis alunos surdos matriculados no sexto ano vespertino (com média de idade de 13 anos), cinco alunos surdos matriculados no sétimo ano vespertino (com idade média de 15,7 anos), três alunos surdos matriculados no oitavo ano matutino (com idade média de 18,3 anos) e dois alunos surdos no nono ano

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matutino (com idade média de 20 anos). Nesse sentido, buscamos selecionar o grupo de alunos que possui menor defasagem idade série por considerarmos que uma maior defasagem pode indicar outros comprometimentos pedagógicos e de acesso ao contexto escolar. Então, optamos por trabalhar com o grupo de seis alunos matriculados no sexto ano.

Na tabela abaixo apresentamos os alunos surdos incluídos nesta classe, todos com nomes fictícios:

Alunos Idade (anos) Ano escolar (EF 9 anos) Comprometimento auditivo Fátima 11 6º Leve Tatiana 14 6º Profundo Laura 13 6º Profundo André 11 6º Severo Marcelo 13 6º Severo Diogo 16 6º Severo

Quadro 8: Alunos do Ensino Fundamental – anos finais.

Dos alunos citados apenas Laura e Tatiana fazem uso exclusivo de Libras. Os demais possuem resquícios auditivos e se comunicam preferencialmente por via oral.

Já na escola de Ensino Médio havia um aluno surdo matriculado no primeiro ano vespertino (com 23 anos), quatro alunos surdos matriculados no segundo ano matutino (com idade entre 21 e 29 anos), uma aluna surda matriculada no terceiro ano matutino (com 24 anos) e um aluno surdo no segundo ano noturno (com 18 anos). Para fins práticos de pesquisa optamos por fazer nossas observações com o segundo ano matutino por este ter um número maior de alunos surdos matriculados (quatro). Destacamos que todos os alunos surdos matriculados nesta escola estão com defasagem idade/série.

Na tabela abaixo apresentamos os sujeitos participantes desta pesquisa, todos com nomes fictícios:

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Alunos Idade (anos) Série Escolar (EM) Comprometimento auditivo

Miguel 21 2º Profundo

Amanda 22 2º Profundo

Enzo 23 2º Severo

Natália 29 2º Profundo

Quadro 9: Alunos do Ensino Médio.

Após a seleção do grupo de alunos participantes, nos aproximamos do grupo de professores que trabalham diretamente com estes. Prestamos esclarecimentos sobre o teor da pesquisa e convidamos o grupo de professores a participar do estudo. Todos aceitaram participar do referido trabalho. Assim, a seguir apresentamos a relação de professores colaboradores, todos com nomes fictícios.

Ensino Fundamental – Anos Iniciais

Professora Regente Marta Professora de Atendimento Curricular Específico Elen

Quadro 10: Professores do Ensino Fundamental – anos iniciais.

Ensino Fundamental – Anos Finais

Professor Regente de Ciências Marcos Professora Intérprete Educacional Nara

Professora de Sala de Recursos Cláudia

Quadro 11: Professores do Ensino Fundamental – anos finais.

Ensino Médio

Professora Regente de Química Lívia Professor Intérprete Educacional Jonas

Professor de Sala de Recursos Rodrigo

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4.3.3.2 O contato com os alunos e professores participantes

O contato com os alunos do Ensino Médio já existia previamente a realização da pesquisa (2010). Todos já estavam matriculados na escola desde o primeiro ano, em 2009, e a pesquisadora já trabalhava com eles desde então. Isto facilitou muito a aproximação e confiança destes alunos, pois já haviam laços fortemente estabelecidos. De qualquer forma, a pesquisadora explicou aos alunos o intuito da pesquisa e questionou se estavam dispostos a participar. Todos ficaram entusiasmados com a possibilidade de participar de uma pesquisa sobre a elucidação de questões de aprendizagem voltadas aos alunos surdos. Seus pais também foram contatados e após explicações, autorizaram a participação dos filhos.

Como todas as escolas envolvidas nesta pesquisa pertencem a uma mesma cidade satélite do Distrito Federal e todas são bastante próximas fisicamente, os próprios alunos do Ensino Médio já haviam comentado com os colegas do segundo ciclo do Ensino Fundamental sobre a possibilidade de colaboração com a pesquisa e também sobre a pesquisadora. Assim, na escola de Ensino Fundamental do segundo ciclo, encontramos colegas de trabalho já conhecidos (pois já havíamos feito alguns cursos juntos) e, ao conversarmos sobre a pesquisa, todos se mostraram disponíveis e dispostos em participar. Ao conversar com o grupo de alunos selecionados, vários disseram que já sabiam sobre a pesquisa, pois seus colegas do Ensino Médio já haviam comentado. Isto foi, com certeza, algo que muito facilitou a inserção e aceitação da pesquisadora no grupo. Os responsáveis legais pelos alunos também foram contatados e autorizaram a participação destes na pesquisa.

Com relação ao primeiro ciclo do Ensino Fundamental, a aproximação com os alunos ocorreu por intermédio da equipe de atendimento ao surdo da escola. Foi combinado com a professora de atendimento curricular específico que, durante o horário de atendimento, a pesquisadora estaria presente para apresentações e conversas iniciais, visando aproximação com as crianças. Além disso, a pesquisadora passou a estar semanalmente presente nas atividades de acolhimento dos alunos, realizada no pátio da escola e também em alguns momentos de intervalo. Depois de um período de três semanas, após considerar que já haviam laços estabelecidos com tais crianças, a pesquisadora passou a também acompanhar as aulas regulares, priorizando principalmente as que eram destinadas a trabalhar conteúdos de Ciências.

Por acreditar que o momento de aproximação com o grupo participante da pesquisa seja algo crucial para todo o processo investigativo, não se estabeleceu um tempo padrão para esta aproximação. Consideramos que cada grupo teve seu tempo conforme suas características. Nesse sentido, com o grupo pertencente ao Ensino

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Médio apenas prestamos alguns esclarecimentos sobre a pesquisa, mas devido as questões de convivência prévia, consideramos que tal grupo não necessitava de tempo para a aproximação. Com os alunos pertencentes ao segundo ciclo do Ensino Fundamental consideramos que a aproximação foi facilitada por já ter existido contato com a pesquisadora em atividades conjuntas entre as escolas (como passeios e comemorações em que todos os alunos surdos se reuniam). Com relação ao grupo do primeiro ciclo do Ensino Fundamental fomos mais cautelosos na aproximação por não ter tido, com este grupo de alunos, professores e funcionários, nenhum tipo de contato prévio. Com este grupo específico contamos com o apoio da direção da escola para contatar os responsáveis e solicitar autorização para a participação.