• Nenhum resultado encontrado

Índice de tabelas do capítulo

A construção de duplo objecto (CDO) tem sido alvo do interesse de linguistas

2.2. A Teoria de Princípios e Parâmetros Chomskiana

2.2.3. A aquisição e o desenvolvimento do saber linguístico

Na visão generativa, acredita-se na especificidade da aquisição linguística, sendo essa universalidade vista como resultado de um atributo biológico específico da espécie. A resposta à questão por que têm todas as sociedades uma língua e todas as línguas têm

uma gramática, derivará do facto de o ser humano ser gerado dotado de um instinto

para a língua. Os pais não ensinam a gramática da sua língua aos seus filhos, eles apenas dão pistas para a criança descobrir a gramática a ser atingida. Contudo, o que vem bio- programado é concebido de formas diferentes nas várias fases da teoria.

Para Chomsky, sem uma estrutura interna psíquica, um organismo não interage com o ambiente. A estrutura interna na espécie humana é invariável e é responsável não só pelas propriedades invariáveis das línguas, mas também pelas variações possíveis. Segundo a TPP, as línguas variam, mas a variação é restrita, porque dependem de um número limitado de Parâmetros já programados geneticamente, com valores [+] ou [-], definidos através dos dados positivos do ambiente a que a criança está exposta. Após fixado, o valor do parâmetro a partir do input ambiental, cada Língua-I tem uma

componente comum, invariável (os Princípios Pr1, Pr2....Prn) e os valores dos parâmetros fixados em [+] ou [-]. A criança é vista como uma accionadora de botões [+] ou [-] diante das pistas fornecidas pelo ambiente. Assim, considerando uma criança que aprende uma dada L1, a forma da sua Língua-I poderá ser L1-I:

(1) Forma da L1-I

Imput de L1 GU

Pr1, Pr2, Pr3, Pr1[±],

Pr2[±]…Pr3[±]

Criança (selectora dos valores [±])

L1: Pr1, Pr2, Pr3, Pr1[±], Pr2[±]…Pr3[±]

[(Kato (1997)]

Segundo Chomsky (1986a:24), a GU funciona com base no pressuposto de que cada língua natural constitui um "sistema de princípios com os parâmetros fixados associado a uma periferia de excepções marcadas". Deste modo, as línguas naturais, em muitos aspectos, atribuem valores diferentes aos parâmetros fixados pela GU, no entanto, "quando os parâmetros da GU estão fixados de um dos modos permitidos, está

determinada uma língua particular", Chomsky (1981:7).

2.2.3.1. O parâmetro do sujeito nulo

O parâmetro do sujeito nulo é um parâmetro binário, com apenas duas possibilidades de ocorrência, a hipótese positiva e a hipótese negativa:

(2a)

Maria iga amasa. (b)

Iga amasa. (3a)

A Maria come masa. (b)

Come massa. (4a)

Maria eats paste. (b)

*Eats paste.

Como se pode constatar, as três línguas admitem um sujeito expresso, no entanto, diferem pelo facto de em Xitshwa e em Português esse sujeito poder ser apagado, e mesmo assim ser recuperado através das marcas do verbo. Em Inglês, o sujeito tem que ser obrigatoriamente expresso. Concluindo, diremos que o Xitshwa e o Português admitem a presença e a omissão do sujeito ao passo que o Inglês inviabiliza as construções de sujeito nulo. As diferenças entre esses dois tipos de línguas podem ser estabelecidas em termos de admissão de sujeito nulo, nas duas primeiras, e pela não admissão do sujeito nulo em Inglês. Assim, os dois tipos de línguas são definidos pelo parâmetro do sujeito nulo.

2.2.3.2. O parâmetro da ordem linear

Um aspecto também parametrizado é o que se refere à ordem linear, uma vez que diferentes grupos de línguas podem apresentar diferentes ordens lineares em construções específicas. Um tipo de variação de ordem linear pode ser exemplificado pelo contraste entre línguas como o Xitshwa (5a), o Inglês (5b) e o Chinês (5c) relativamente à colocação de questões-wh nas frases. Os exemplos do Inglês e do Chinês são de Radford (1997:17):

(5a)

Wena upima lezwaku yena ita ula yini kê? 'Tu pensas que ele vai dizer o quê?'

(b)

What do you think he will say? 'O que pensas que ele vai dizer?'

(c)

Ni xiangxin ta hui shuo sheme. 'Tu pensas ele vai dizer o quê?''

É evidente que em Inglês, a questão-wh (what) é movida para o início da frase, enquanto em Chinês e em Xitshwa esses elementos (sheme e yini kê) não se movem do final da frase, permanecendo in situ. São ambos complementos do verbo shuo e ula (dizer) e, por isso mesmo, posicionam-se diante dele.

Um outro tipo de variação da ordem linear tem a ver com a posição ocupada pelos núcleos e pelos complementos dentro das frases. Existe uma propriedade universal que determina que todas as frases têm um núcleo que condiciona o resto da frase, por exemplo, uma expressão como students of linguistics encontra-se no plural porque a sua palavra-chave (students) está também no plural. A expressão of linguistics porque expande o significado de students constitui o seu complemento. Assim, também expressões como in the kitchen cujo núcleo é a preposição in constituem complemento dessa mesma preposição, etc. Em Inglês (6a) e em Xitshwa (6c) e em muitas outras línguas, os nomes, verbos, adjectivos, preposições, etc. precedem os seus complementos, assim sendo, as línguas que admitem este posicionamento dos complementos em relação ao núcleo são designadas de línguas de núcleo inicial (heads-

first languages), no entanto, em línguas como o Coreano (6b), verificaremos

exactamente o contrário: (6)

Close the door. Fecha a porta. (b)

Dadala moonul. Porta fecha.

(c)

Vala alivate. Fecha porta.

Notamos que o verbo do Coreano, dadala (fechar), encontra-se a seguir ao seu complemento moonul (porta). Sendo, em Coreano, o posicionamento do núcleo em relação aos complementos generalizável em todas as construções idênticas, esta língua é considerada uma língua de núcleo final (head-last language). Parece claro que o posicionamento do núcleo em relação aos seus complementos constitui um parâmetro de ordem linear que cria apenas dois tipos de línguas, não permitindo, por exemplo, um terceiro tipo de língua relativamente a este aspecto. Deste modo, o parâmetro relevante será designado parâmetro de ordenação do núcleo (head (position) parameter).

2.2.4. A Teoria de Princípios e Parâmetros: a Teoria da Regência e Ligação e o