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Barss & Lasnik (1986) a CDO e as assimetrias de ligação e escopo

Índice de tabelas do capítulo

Na literatura, as construções ditransitivas ─ quer sejam de duplo objecto (CDO)

3.2. Propostas no âmbito da Teoria de Princípios e Parâmetros 1 Questões centrais abordadas

3.2.1.2. Barss & Lasnik (1986) a CDO e as assimetrias de ligação e escopo

Barss & Lasnik centram a atenção em construções anafóricas e CDO, dando relevância às relações entre a linearidade e a estrutura. Em termos sucintos, dão ênfase ao facto de em CDO, o primeiro DP (que corresponde ao OI na construção ditransitiva preposicionada) c-comandar assimetricamente o segundo DP (o OD, na construção ditransitiva preposicionada), i.e., em CDO [V NP1 NP2)], no final sugerem que a noção de C-comndo não é suficiente.Os dados que se seguem fazem jus à sua constatação: - o DP1 pode ligar reflexos ou recíprocos no DP2, mas não vice-versa, como em (3) e (4):

(3a)

I showed John/him himself (in the mirror). (b)

*I showed himself John (in the mirror). (4a)

I showed the professors each other's students. (b)

*I showed each other's students the professors.

- o DP1 pode ligar uma variável pronominal em DP2, mas não o contrário, como em (5-6):

(5a)

I denied each worker his paycheck. (b)

*I denied its owner each paycheck. (6a)

I showed every friend of mine his photograph. (b)

*I showed its trainer every lion.

(7a)

I have each man the other's watch. (b)

*I gave the other's trainer each lion.

- o DP1 negado licencia a polaridade negativa em DP2, mas não o contrário: (8a)

I gave no one anything. (b)

*I gave anyone nothing.

Barss & Lasnik (1986) apreciam as propostas clássica (tripartida) e a de Kayne (1981, 1984) e afirmam que, tendo em conta as relações de hierarquia, i.e., em termos de domínio imediato sucessivo, não servem, na medida em que NP1 e NP2 se c- comandam mutuamente:

(9) Análise clássica (10) Kayne (1981, 1984)

VP VP

V NP1 NP2 V sc (= small clause)

send NP1 NP2

Barss & Lasnik (1986) acabam por propor que para a noção de c-comando assimétrico se deve ter em conta, para além de c-comando, uma relação que apenas se baseia na estrutura hierárquica dos constituintes, a noção de precedência linear.

Tendo em conta c-comando e precedência, qualquer das representações acima é capaz de captar as assimetrias de ligação de anáforas e de escopo de negação face a item de polaridade, ou a pronomes ligados por quantificadores (que perdem o seu conteúdo referencial, i.e., deixam de designar uma entidade específica, e passam a comportar-se

como variáveis sem referência própria. (11) representa a definição de c-comando assimétrico:

(11)

- C-comando assimétrico

- Y está no domínio de X, sse X c-comanda Y e X precede Y.

Barss & Lasnik foram os primeiros a notar sistematicamente assimetrias relativamente à CDO do Inglês e não entre a CDO e a CDOIP. Assumindo a condição A e B da Teoria da Ligação, as anáforas devem ser ligadas na sua categoria de regência, e os pronomes devem ser livres. Contudo, como Reinhart (1986) salienta, os possessivos devem ser c-comandados pelos seus antecedentes se esses antecedentes estiverem no domínio de um quantificador (QP), uma vez que os possessivos são interpretados como uma variável. Consequentemente a assimetria surge em CDO nas quais a anáfora não é

c-comandada (12-13):

- Movimento Wh e cruzamento fraco

(12a)

Which workeri did you deny hisi paycheck? (b)

*Which paychecki did you deny itsi owner?

- Superioridade

(13a)

Who did you give which book? (b)

3.2.1.3. Baker (1988b, 1997) - a Hipótese de Uniformidade de Atribuição Temática (UTAH)

Baker sugere que duas frases em que o mesmo verbo atribui os mesmos papéis temáticos aos mesmos argumentos constituem paráfrases temáticas que, de acordo com a definição da UTAH, partilham a mesma estrutura subjacente:

(14)

UTAH (Uniformity of Theta Assignment Hypothesis)

- Identical thematic relationships between items are represented by identical structural

relationships between those items at the level of D-structure. (Baker 1988b:46)

De acordo com a UTAH, se os Agentes forem codificados como sujeitos profundos numa derivação, serão codificados como sujeitos profundos em todas as derivações. Conceptualmente, Baker (1988b:51) relaciona a UTAH com o Princípio de Projecção: a UTAH “…leads away from base generation in many cases. Yet unless the

transformational component is limited by principles like the Projection Principle, it makes little difference what D-structure is assigned to a given form, because anything could happen en route to the interpreted levels of PF and LF. In this case the UTAH would have a little empirical content. However, in a theory which contains both, each provides a check against the undisciplined avoidance of the other. This is the kind of situation which can give rise to deep and true explanation.

Assim, numa dada estrutura, as relações temáticas idênticas correspondem a relações estruturais idênticas. Portanto, se as relações temáticas atribuídas em CDOIP e em CDO são as mesmas, entende que uma das estruturas tem de ser básica, sendo a partir dessa estrutura que se gera a segunda por meio de um movimento-A. Do seu ponto de vista a estrutura básica é a CDOIP. Baker (1997) retém esta hipótese. Assim, para a representação das frases John gave a book to Mary e John gave Mary a book sugere, respectivamente, as derivações de (15) e (16):

I VP Past

DP V’

John V Asp Gavei Spec AsP

AsP VP ti DP V’ V PP a book ti P DP to Mary (16) I’ I VP Past DP V’ John V Asp [Gave+ Pi]j DP AsP AsP VP ti DP V’ V PP Maryk tj P DP ti t k

Em Baker (1997), as CDO em Inglês são derivadas com base nas seguintes assumpções:

i. uma preposição nula (P) incorpora-se no verbo;

ii. sendo nula, essa preposição é incapaz de atribuir Caso;

iii. o DP-alvo sobe para a posição de Spec de Asp para adquirir Caso, derivando a ordem na qual o alvo precede o tema;

- Construções aplicativas em línguas Bantu

Baker (1988b), na sua análise das construções aplicativas, implica a Teoria Temática, a Teoria do Caso e o processo de Incorporação. Em relação à Teoria Temática, Baker defende que o argumento beneficiário e o argumento instrumental constituem argumentos de um verbo cuja estrutura subjacente é diferente. O argumento beneficiário é o argumento complemento de uma PREP da qual recebe o seu papel temático. O argumento instrumental é irmão do verbo e dele depende para a recepção do seu papel temático:

(17a) VP (b) VP

V θ PP DP V DP

θ

P θ DP (P) DP

(BEN) (INST)

Como se nota nas estruturas, em (17a) ao beneficiário é atribuído o seu papel temático indirectamente, uma vez que o verbo θ-marca o PP e não propriamente o DP. Na estrutura de (17b), o instrumental é θ-marcado directamente por V. Do mesmo modo, em relação à Teoria do Caso, Baker assume a Teoria da Regência e da Ligação (TRL) de acordo com a qual um DP explícito deve receber Caso de modo a que uma dada estrutura seja gramatical. Ocorrem dois tipos de Caso, o estrutural e o inerente. Assume que todos os verbos podem atribuir Caso inerente em Chichewa e que apenas

os verbos transitivos podem também atribuir Caso estrutural, i.e., os verbos ditransitivos atribuirão Caso estrutural a um dos seus objectos e Caso inerente ao objecto restante. Seja como for, existem diferenças entre os dois tipos de Caso – o Caso inerente é atribuído em estrutura subjacente sendo que o atribuidor casual deve θ-marcar o DP relevante; o Caso estrutural é atribuído em estrutura-S e requer adjacência do DP relevante ao atribuidor de Caso.

Finalmente, Baker derivou o seu maior suporte empírico para a UTAH a partir das estruturas de Incorporação que analisa em Chichewa e outras línguas. A

Incorporação é definida como o resultado de um movimento sintáctico, sendo que as

construções criadas como resultado desse processo não são idênticas a simples estruturas transitivas. Mais concretamente, Baker afirma que a Incorporação cria uma categoria complexa ao nível Xº e uma ligação sintáctica entre duas posições na estrutura por meio de traços. Os possíveis movimentos, proveniência e local de poiso são regulados pelo Princípio da Categoria Vazia, Empty Category Principle (ECP) de Chomsky (1981).

Assim, Baker (1988b), com base no aparato teórico acima apresentado, dá conta das assimetrias sintácticas que ocorrem em línguas Bantu, entre os DPs-beneficiários e os DPs-instrumentais aplicativos, tendo em conta o seu diferente comportamento relativamente às propriedades de objecto, nomeadamente, a ordem linear; concordância de objecto (CO) e passivização:

- Ordem linear

- o DP-beneficiário deve ocorrer imediatamente a seguir ao verbo: [Chichewa]

(18a)

Amayi a-ku-umb-ir-a mwana mtsuko.

mulher CS-PRES-moldar-APL-VF criança pote ‘A mulher molda o pote para a criança.’

(b)

?? Amayi a-ku-umb-ir-a mtsuko mwana.

Mulher CS-PRES-moldar-APL-VF pote criança

[Baker (1988b:247)]

- os DPs-instrumentais aplicativos, os pacientes e os temas podem ocorrer adjacentes ao verbo:

(18a)

Fisi a-na-dul-a chingwe ndi mpeni. Hiena CS-PAS-cortar-VF corda com faca ‘A hiena cortou a corda com uma faca.’ (b)

Fisi a-na-dul-ir-a mpeni chingwe.

Hiena CS-PAS-cortar-com-VF faca corda ‘A hiena cortou a corda com uma faca.’

[Baker (1988b:238)]

Baker argumenta que uma vez que os beneficiários não são directamente θ- marcados por V em estrutura subjacente, não podem receber Caso inerente, consequentemente devem receber Caso estrutural, e dada a obrigatoriedade de adjacência para a recepção de Caso estrutural, devem ocorrer adjacentes a V. Desse modo, (18b) onde o tema ocorre adjacente ao verbo é agramatical visto que nesse estado de coisas o DP-beneficiário deixa de receber Caso. Em (18a-b), os instrumentais são idênticos aos pacientes e aos temas, em estrutura subjacente são directamente θ- marcados por V e dele recebem Caso inerente, i.e, os instrumentais, os pacientes e os temas recebem Caso estrutural e podem ocorrer imediatamente adjacentes a V.

- Concordância de objecto (CO)

Baker (1988b:301) constata que em Chichewa a concordância de objecto é possível com os DPs-aplicativos em CDO (19a-b), sendo igualmente possível com ambos os objectos em construções instrumentais:

(19a)

Mavuto a-na-wa-um-i-a mtsuko ana.

Mavuto CS-PAS-CO-moldar-APL-VF pote crianças ‘Mavuto moldou-lhes o pote (para as crianças). (b)

* Mavuto a-na-u-umb-ir-a ana mtsuko.

Mavuto CS-PAS-CO-moldar-APL-VF crianças pote ‘Mavuto moldou-o (o pote) para as crianças.’

(20a)

Mavuto a-na-u-umb-ir-a mpeni mitsuko.

Mavuto CS-PAS-CO-moldar-APL-VF faca potes ‘Mavuto moldou os potes com uma faca.’

(b)

Mavuto a-na-i-umb-ir-a mpeni mitsuko.

Mavuto CS-PAS-CO-moldar-APL-VF faca potes ‘Mavuto moldou-os (os potes) com uma faca.’

A CO é um infixo que manifesta Caso estrutural atribuído por V, assim, o diferente comportamento dos DPs-beneficiários e dos DPs-instrumentais, pacientes ou temas aplicativos releva dos seus diferentes requisitos de recepção de Caso. Uma vez que o DP-beneficiário deve receber Caso estrutural e tendo em conta que os verbos do Chichewa podem atribuir pelo menos um Caso estrutural, somente o DP-beneficiário pode ser expresso como CO (19a) e nunca o paciente ou o tema (19b). No caso dos instrumentais aplicativos, o DP-instrumental, o paciente e o tema podem receber Caso estrutural, logo são substituíveis por CO (20a-b).

As CDO que ocorrem em línguas em que os objectos não são distinguidos por meio de um Caso gramatical foram tratadas na TPP que assume que os objectos são diferenciados por meio do contraste de Caso (Baker 1988a, b), i.e., um objecto ostenta determinadas propriedades sintácticas se possui Caso inerente ou se possui Caso estrutural.

- Passivização

Baker (1988b), assumindo pressupostos da TRL, considera que a morfologia passiva retira a V a capacidade de atribuir Caso estrutural. Prediz a existência de assimetrias entre os beneficiários e os instrumentais aplicativos. Uma vez que V perde a capacidade de atribuir Caso estrutural, o DP-beneficiário não pode permanecer na posição de complemento de V, movendo-se, por isso, para a posição de sujeito passivo onde recebe Caso estrutural nominativo de Infl (21b):

(21a)

Kalulu a-na-gul-ir-a mbidzi nsapato.

Coelho CS-PAS-comprar-APL-VF – presente por louco ‘O coelho comprou os sapatos para as zebras.’

(b)

Mbizi zi-na-gul-ir-idw-a nsapato (ndi kalulu).

Zebras CS-PAS-comprar-APL-PASS-VF sapatos por coelho ‘As zebras foram compradas sapatos pelo coelho.’

(c)

*Nsapato zi-na-gul-ir-idw-a mbizi (ndi kalulu)

Sapatos CS-PAS-comprar-APL-PASS-VF zebraspor coelho ‘Os sapatos foram comprados para as zebras pelo coelho.’

Apenas a passiva de (21b) é gramatical, a passiva que exibe o paciente ou o tema na posição de sujeito passivo é agramatical (21c).

3.2.1.4. Larson (1988) - as assimetrias de escopo e ligação na construção