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Índice de tabelas do capítulo

ASSIMÉTRICAS SIMÉTRICAS OBJ aplicado mostra propriedades de

3.3.4. Alsina (1992) a sintaxe das construções causativas

As construções causativas nas LB ocorrem associadas a CDO. Alsina (1992) dá tratamento lexical aos argumentos seleccionados pelo morfema causativo e suas realizações na estrutura-F como funções gramaticais. Alsina (1992: 520-521) afirma que os predicados complexos como os causativos têm origem na combinação de estruturas argumentais que produzem uma estrutura argumental derivada.

Uma vez que a estrutura argumental contém informação semântica sobre os itens lexicais que é relevante para a sintaxe, o resultado da combinação da estrutura argumental terá efeitos nas expressões sintácticas dos argumentos, dada uma série de princípios do mapeamento da estrutura argumental para a sintaxe. Esta complexidade das construções causativas deriva da natureza da causatividade que regra geral é tratada como se tivesse dois predicados. O predicado principal é considerado como sendo o predicador CAUSE que contém dois argumentos, um causador que pode ser uma entidade ou um evento. A segunda componente da semântica das causativas é o evento causado que resulta da causativização. Esta combinação tem como resultado a

emergência de dois predicados que tomam lugar dentro do mesmo evento causativo. Remontando a Rizzi (1986) e Mohanan (1988), Alsina (1992: 521) conclui que os morfemas causativos são universalmente predicados de três lugares como mostra o esquema:

(77) Configuração da causatividade

caused event CAUSE < ag pt PRED < … θ….> >

Alsina (1992) sustenta que a combinação do morfema causativo com o predicado de base dá origem a um novo argumento, que é um argumento semântico do predicado causativisado e do predicado de base, agora como um predicado encaixado. A ligação entre o paciente e o papel temático não especificado significa a fusão dos argumentos do predicado de base com os predicados encaixados, sendo que a identidade de ambos os argumentos originais é mantida no argumento fundido. Esta proposta vai no sentido da fusão de papéis temáticos do predicado base e do predicado encaixado, bem como da preservação da identidade temática dos papéis temáticos originais.

- A ocorrência da construção causativa entre as línguas

Seguindo a assumpção de que o predicado causativo possui três argumentos, Alsina (1992: 522) sugere a existência de dois tipos de construções causativas:

- Tipo 1: O causador, de modo a causar um evento, actua sobre um indivíduo que é o participante mais controlado do evento.

- Tipo 2: O causador actua sobre um indivíduo causando um evento que afecta o indivíduo.

Segundo Alsina (1992:522), as construções causativas variam entre as línguas, dependendo sobre se possuem um dos tipos ou se possuem ambos. Se a língua possui a construção causativa do tipo 1, o paciente da causativa funde-se com o sujeito lógico do predicado encaixado, que é o mais proeminente argumento de um predicado. Se a língua possui o tipo 2, o paciente da causativa funde-se com o objecto lógico do predicado encaixado, i.e., um argumento afectado, tipicamente um paciente ou tema. O argumento afectado é o que muda de estado ou local. O paciente de um predicado causativo pode fundir-se com:

i. o sujeito lógico de um predicado de base ou ii. o objecto lógico.

O Chichewa responde positivamente aos dois parâmetros, i.e., o predicado causativo pode fundir-se com o sujeito lógico ou com o objecto lógico.

- Diferenças sintácticas e diferenças semânticas

De acordo com Alsina (1992:523), em Chichewa, o causador pode sintacticamente ser expresso de duas maneiras:

i. como um objecto primário ou como um objecto directo;

-ii. como um obliquo do predicado causativizado (78a), Alsina (1992: 523).

(78a)

Nungu i-na-phik-its-a maungu kwa kadzidzi

porco-espinho CS-PAS-cozer-CAUS-VF pumpkins para mocho ‘O porco-espinho fez as abóboras serem cozidas pelo mocho.’

(b)

Nungu i-na-phik-its-a kadzidzi maungu.

porco-espinho CS-PAS-cozer-CAUS-VV 1a owl ‘O porco-espinho fez o mocho cozer abóboras.’

A alternância entre as duas posições é em função do facto de o causee ser afectado ou não pela acção referida pela causatividade. Se o causee assumir a função de objecto primário como em (78b), isso significa que foi afectado pela acção. Esta proposta semanticamente está de acordo com a definição de paciente como uma entidade ou participante que é afectado pela acção ou a entidade que é criada, destruída ou dramaticamente alterada no decurso de um dado evento e que é causalmente afectada por outro participante. Se o causee for interpretado como não afectado pela causatividade, emerge como oblíquo. Esta definição de causee representa a função de obliquo na construção causativa (78a) sendo que o causee é o agente pelo facto de causar um evento (causativa de um verbo transitivo) ou a mudança de estado em outro participante (causativa de um verbo intransitivo).

Alsina (1992) distingue (78a) e (78b) pelo objectivo da acção causativa em relação aos dois participantes da estrutura do evento. Caso as acções sejam direccionadas contra o causee, kadzidzi (mocho), então o mesmo emerge com a função de objecto do predicado causativizado (78b). O porco-espinho entende que o causee,

kadzidzi (mocho) coze as abóboras, numa acção que verá kadzidzi (mocho), afectado.

Em (78a) o afectado é expresso como um obliquo porque o porco-espinho entende tomar as abóboras cozidas, uma acção que deixa as abóboras afectadas. Alsina (1992: 523) afirma que o papel de kadzidzi (mocho) é o de intermediário que desempenha a função de cozer as abóboras.

- Mapeamento das construções causativas

Alsina (1993:548) sugere que, em Chichewa, quando o verbo é formado, o paciente de um predicado causativo (78) deve fundir-se com um argumento do

predicado encaixado, que pode ser o argumento mais proeminente ou o argumento afectado. No caso do verbo transitivo como phik-a, cozinhar, ocorrem dois argumentos que se qualificam para a fusão com o paciente que é afectado porque muda de estado. O verbo causativo, neste processo, possui duas estruturas argumentais que geram dois diferentes mapeamentos para as funções sintácticas:

(79a) phik-a < ag pt < ag pt > > (cozinhar-VF)

Int. Arg. [-r] [+o] Subj. Pr -r

. -o

Def. Pr. [+o] [+r] SUBJ OBJ OBJθ

O argumento composto em (79a), por ser o paciente do predicado causativo, é lhe atribuído a classificação sintáctica de argumento interno. Por ser agente não pode ser [+o] que não está disponível para os papéis proeminentes da hierarquia. O paciente do predicado encaixado, pode somente ser classificado como [+o] uma vez que [-r] é atribuído a outro argumento. Ao agente do predicado causativo, como sujeito lógico proeminente são lhe atribuídos os traços de sujeito pelo Princípio do Sujeito, e os Princípios da CR atribuem os traços positivos restantes ao argumento interno.

Em (79b), o paciente do predicado causativo está fundido com o paciente do predicado encaixado e recebe a função sintáctica de argumento interno. Como em (77a), o causador é realizado como sujeito pelo Princípio do Sujeito. Todavia, o agente do predicado encaixado não possui uma realização sintáctica nesta forma - uma vez que não é um argumento interno não pode ser classificado como tal; e como não é um argumento externo da estrutura derivada não pode receber os traços de sujeito. Não lhe são atribuídos traços sintácticos e por isso é suprimido. O adjunto kwá-phrase pode ser usado uma vez que é tematicamente ligado a um afectado suprimido:

(79b) < ag pt < agi pt > > (kwái) Int. Arg. [-r] -r Subj. Pr. -o Def. Pr. [+o] SUBJ OBJ

Esta configuração dá conta das alternâncias observadas para as causativas baseadas em verbos transitivos. Assim, (78a), com um oblíquo afectado, corresponde a (79b); e (78b), com um objecto afectado, corresponde a (79a).

Resumindo a abordagem feita sobre as construções causativas em Chichewa, afigura-se-nos importante referir que Alsina (1993) considera que os verbos causativos são formados no nível da estrutura-A. Conclui igualmente que o predicado causativo possui um argumento interno, o paciente, que é semanticamente identificado com a estrutura encaixada do evento afectado, criando um argumento tematicamente aglutinado. Sugere ainda que o predicado causativo possui um paciente e que forma um argumento aglutinado com um argumento do predicado de base.