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área das LB e respectiva segmentação [Guthrie, M (1967-1971)] Fonte: Jouni Maho (A Comparative Study of Bantu Noun Classes)

Índice de tabelas do capítulo

Mapa 2: área das LB e respectiva segmentação [Guthrie, M (1967-1971)] Fonte: Jouni Maho (A Comparative Study of Bantu Noun Classes)

Bleek e posteriormente Carl Meinhof realizaram estudos comparativos das gramáticas das LB, tendo chegado a semelhanças importantes. Uma das características mais importantes destas línguas é o facto de os nomes exibirem prefixos que os vinculam a uma determinada classe semântica. Cada língua poderá possuir até 23 classes, não sendo portanto uniforme o número de classes numa dada língua, cf. Capítulo V. A LB com maior número de falantes é o Swahili (G40). Como o demonstra

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o mapa (3), abaixo, o grupo Bantu é o maior de todos os grupos linguísticos de África. O número total destas línguas é difícil de definir, havendo estimativas díspares que avançam números entre as 300 e as 600 (as menos optimistas, e as 1500 e as 2000 (as mais optimistas)).

Mapa 3: principais LB (a vermelho).

Fonte: MSU (Michigan State University – African Studies Centre)

Como se depreende pelo gráfico (1), abaixo, na província de Inhambane, o Xitshwa ocupa uma posição hegemónica com 57,2 % do total de habitantes da província, para além de outros falantes da língua dispersos pelo País, particularmente na capital, Maputo:

Gráfico 1: LB da província de Inhambane e LP; Fonte: INE – Moçambique (1997)

INHAMBANE

0,6

3

2,4

0,2

1,1

16,6

1,6

57,2

17,2

Portuguese

Another foreign

Xichangana

Unknown

Cindau

Xitshwa

Gitonga

Txitxopi

Another mozambican

Em pleno século XXI nenhuma língua moçambicana apresenta uma gramática completamente sistematizada. As soluções para colmatar este atraso inqualificável encontram-se num estado embrionário. Os esforços para o ensino das línguas nacionais esbarram em inúmeros obstáculos, sendo assim previsível que o Português subsista por muitos séculos como língua de prestígio, contudo, é certo que a variedade de Moçambique se irá distanciar da europeia. Historicamente, a colonização portuguesa (1500-1974) afectou seriamente a evolução linguística, ao encetar, através de uma política de assimilação, um processo de marginalização sistemática das línguas autóctones, enfraquecendo-as na veiculação da cultura e da ciência, relegando-as para o plano familiar e cerimónias mágico-religiosas.

Grande parte das línguas moçambicanas é carente de tradição escrita oficial, contudo, são usadas na correspondência, nas canções, na poesia lírica e maioritariamente no contexto eclesiástico por um número limitado de indivíduos que sabem ler e escrever a sua língua materna. Algumas dessas línguas possuem Bíblia imprensa e são radiodifundidas pela emissora estatal de rádio, que mantém delegações em todas as capitais provinciais. As emissões televisivas em línguas nacionais são inexpressivas, paradoxalmente as estações de televisão privadas emergentes emitem parte da sua programação em Xichangana e Xirhonga, duas das línguas do sul de Moçambique. Relativamente à imprensa escrita, os dados que possuímos asseguram que

o número de periódicos editados em LB é inexistente ou irrelevante. No que diz respeito à literatura, o número de escritores que publicaram ou que viram as suas obras traduzidas para essas línguas é igualmente insignificante. Não obstante a Constituição

do País (artigos 5 e 6) consagrar o estatuto multilingue do País, nenhuma língua

nacional foi adoptada como língua de trabalho no parlamento por razões que supomos terem a ver com a preservação da unidade do nacional.

Como se depreende, a República de Moçambique é um estado pluri-étnico e multilingue em que razões históricas determinaram que a língua oficial não fosse a língua materna da maioria dos moçambicanos, mas sim a língua da ex-potência colonizadora - Portugal. Por conseguinte, a LP é a ponte entre os diferentes povos que constituem o País. De facto, dados dos recenseamentos de 1980 (14 milhões de habitantes) e de 1997 (16 099 200 milhões de habitantes) mostram-nos um país heterogéneo, constituído por várias etnias e subsequentes subdivisões, todas com diferentes línguas, culturas, valores, tradições. A escolha política da LP como língua oficial de Moçambique não é um reconhecimento da superioridade cultural do colonizador, mas segundo Graça Machel (antiga ministra da Educação), in NELIMO (1989:3), uma “forma de negação dos factores de divisão e de alienação nacional

integrando-a como veículo de comunicação social, política e económica (…)”, convertendo-a num “todo harmónico da nova realidade nacional. (…)”, não

esquecendo que não obstante a colonização, os idiomas nacionais foram “transmitindo e criando a cultura moçambicana, veiculando as artes e as técnicas e o conhecimento antigo da natureza. Nelas se forjaram as palavras e os conceitos, as formas, a musicalidade e os ritmos que caracterizam o ser moçambicano”. Não obstante a colonização portuguesa preconizar a destruição da cultura moçambicana, dada a sua incapacidade em administrar todo o território, a transmissão do conhecimento de geração em geração por via oral decorreu uniformemente nas zonas rurais até que a sucessão de vários factores, nomeadamente, os conflitos bélicos, sobretudo a guerra civil (1981-1992); a inexistência de quadros habilitados para o ensino das suas próprias línguas; as epidemias passadas e presentes que ceifam quadros especializados (as estatísticas actuais apontam para 500 pessoas infectadas por dia pelo HIV), a fome e as calamidades naturais abrem profundas brechas na escala natural da vida, ceifando os detentores da sabedoria – os mais velhos – e as crianças, grupos mais vulneráveis. Estes

factores e as eternas e sensíveis questões de ordem sociolinguística e política tornam a tarefa do desenvolvimento e do ensino abrangente e sistemático das línguas nacionais nas escolas um desígnio quase virtual. Apesar da inexistência de dados estatísticos, também a insidiosa entrada da língua inglesa na capital do país como segunda língua estrangeira de prestígio (o Português é considerado a primeira língua estrangeira, apesar de novas correntes advogarem a sua nacionalização, convertendo-a numa das línguas nacionais), utilizada nos negócios, no turismo e até no ensino, torna ainda mais complexa a tarefa de valorização das línguas moçambicanas. A política de assimilação/ diglossia seguida pelos colonizadores durou cinco séculos, percebendo-se, então, a gravidade do atraso. As palavras de Paixão (1948:10) citado por Ngwabi Bhebe (ed) (2002:131) são inequívocas nesse aspecto: “our mission towards the native is

civilization and naturalization... we approach the native to turn him into another Portuguese”. Se o retorno ao ponto zero, com influência colonial nula, é inverosímil,

então cabe aos linguistas moçambicanos e a outros:

i. a descrição da situação actual das línguas moçambicanas;

ii. a sua preservação através da construção de gramáticas;

iii. a sua valorização pelo ensino e pela literatura;

iv. o estudo das interacções que mantêm com a LP.

1.1. Rede linguística

Moçambique exibe uma multiplicidade de línguas que corresponde a respectivos grupos étnicos, por exemplo, o Xitshwa é falado pelos matshwa, o Cisena é falado pelos senas, o Cinyungwe é falado pelos nyungwes e por sua vez o Emakhuwa é falado pelos makhuas, etc. Administrativamente o país é constituído de sul a norte por 10 províncias, nomeadamente, Maputo, a capital, Gaza, Inhambane, Manica, Sofala, Zambézia, Tete, Nampula, Cabo Delgado e Niassa. O mapa linguístico de Moçambique mostra-nos, inequivocamente, que, por um lado, não existe nenhuma LB falada em todas as

províncias, mas, por outro, verificamos que as línguas que pertencem ao mesmo grupo apresentam um elevado grau de inteligibilidade, enquanto entre os diferentes grupos essa inteligibilidade decresce drasticamente. Este facto põe-nos perante três perspectivas: primeira, que a variável geográfica desempenha um papel relevante no êxito da comunicação entre os falantes; segunda, o surgimento de problemas importantes na aferição dos idiomas com estatuto de língua, havendo neste aspecto, sérias contradições entre os linguistas que consideram que as línguas mutuamente inteligíveis são dialectos do grupo que lhes dá o nome, e, outros que apesar dessa inteligibilidade tomam-nas como línguas independentes. Por exemplo, o grupo Tsonga comporta o Xirhonga, o Xichangana, e o Xitshwa. Para uns, estas línguas são dialectos do Tsonga enquanto para outros constituem línguas independentes, o mesmo sucedendo em relação a restante rede linguística; e, terceira perspectiva, os fluxos migratórios internos, devido sobretudo à guerra, geraram línguas intermédias pelo facto de os indivíduos deslocados terem de comunicar num novo cenário linguístico:

Mapa 4: fluxos migratórios