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Alguns princípios e condições de boa formação O princípio de projecção e o critério temático

Índice de tabelas do capítulo

A construção de duplo objecto (CDO) tem sido alvo do interesse de linguistas

2.2. A Teoria de Princípios e Parâmetros Chomskiana

2.2.4. A Teoria de Princípios e Parâmetros: a Teoria da Regência e Ligação e o Programa Minimalista

2.2.4.2. Alguns princípios e condições de boa formação O princípio de projecção e o critério temático

As propriedades de subcategorização dos itens lexicais têm de ser verificadas em todos os níveis da representação, desse modo, caso haja movimento, um vestígio tem necessariamente de ocorrer na posição de origem. A configuração sintáctica na qual um item lexical é inserido é directamente determinada pelas suas propriedades temáticas: (8)

- Formulação do Princípio de Projecção

- As representações em cada nível sintáctico (estrutura subjacente, estrutura

derivada e FL são projectadas no Léxico, i.e., observam as propriedades temáticas e de subcategorização dos itens lexicais. (Chomsky 1981)

De acordo com Raposo (1992:294), o Princípio de Projecção não significa que os diferentes níveis de representação de uma oração sejam exactamente idênticos entre si. Isso não acontece porque a regra que gera a estrutura derivada a partir da estrutura

subjacente e FL a partir da estrutura derivada - Mover- α - tem precisamente como efeito mover categorias de uma posição para outra. O que o Princípio de Projecção exige é que as posições não mudem de nível para nível, i.e., que não se apaguem quando um constituinte é movido:

(9)

[VPbeber [DPo leite]]

Em (10), o verbo bater projecta um VP com uma posição DP (Objecto Directo) subcategorizada. Se na construção passiva o DP o leite for movido por Mover-α, o Princípio de Projecção requer que a estrutura derivada e a FL do VP mantenham a posição subcategorizada como em (11):

(11)

[VP bebido [DP t]]

Assim, o Princípio de Projecção exige que após Mover-α, o movimento de um constituinte subcategorizado ou seleccionado deixe um vestígio na posição original, t em (11). Um dos princípios que regula a operação de movimento-A designa-se critério- θ e desempenha papel crucial na sintaxe da operação de elevação e na sintaxe da passivização.

(12)

- Formulação do Critério-θ

- Each argument bears one and only one θ-role, and each θ-role is assigned to one and only one argument.

[Chomsky (1981:36)]

Existe uma estreita articulação entre o Princípio de Projecção e o Critério temático, deste modo, a primeira parte do Princípio de Projecção permite somente os constituintes θ-marcados dentro de X’, como irmãos do núcleo X. A segunda parte assegura que as propriedades lexicais projectam na Sintaxe. A terceira parte assegura que os requisitos de selecção se encontram nos diferentes níveis na Sintaxe (estrutura subjacente, estrutura de superfície, FL e FF). A selecção lexical deve ser projectada na Sintaxe pelo Princípio de Projecção. Por outro lado, o Critério-θ requer que cada papel- θ seja gerado por algo em Sintaxe, numa relação de um para um. As consequências

desta arquitectura conduzem a não alteração das relações temáticas ao longo da derivação e a não adição nem subtracção de itens. As transformações não devem alterar as propriedades de selecção lexical, o movimento deve ter como origem uma posição-θ e o local de poiso deve ser uma posição não-θ. De notar que esta formulação afirma que a subcategorização implica θ-marcação e não o contrário, para o caso da função de Sujeito, que é subcategorizada, mas que pode ser θ-marcada.

- A questão da hierarquia das relações temáticas e a Hipótese da Atribuição- Temática Uniforme (UTAH)

Em pesquisas realizadas nas últimas três décadas, a começar pelos pioneiros Gruber (1965), Filmore (1968) e Jackendoff (1972), os linguistas têm tentado encontrar uma tipologia universal de papéis semânticos desempenhados pelos argumentos em relação aos seus predicados. Abaixo, exibimos os principais papéis semânticos usualmente referidos na literatura:

i. Tema (ou Paciente) – entidade que sofre os efeitos de uma dada acção: (O João caiu)

ii. Agente/ Causador – entidade que instiga uma dada acção: (O João matou a mulher)

iii. Experienciador – entidade que vive um dado estado psicológico: (O João sente-se satisfeito)

iv. Recipiente/ Possuidor / Beneficiário – entidade que recebe/ possui outra entidade:

(O João enviou uma carta à Maria)

v. Alvo/ Beneficiário – entidade para a qual algo se move: (O João foi para casa)

A razão por que se designa aos papéis semânticos relevantes por papéis-θ, se deve ao facto de o Tema ocupar lugar central na maioria das estruturas sintácticas, os exemplos de Radford (2004:164) ilustram essa situação:

(13)

[The FBI] arrested [Larry Luckess].

Agente Tema

(14)

The suspect] received [a caution].

Recipiente Tema

(15)

[The audience] enjoyed [the play]. Experienciador Tema (16)

[The president] went [to Boston].

Tema Alvo

O papel-θ desempenhado por um dado argumento em relação ao seu predicado determina o leque de expressões que podem preencher a função de argumento relevante. Na aplicação dos papéis-θ ocorrem por vezes restrições que dependem de dois factores - as propriedades semânticas do predicado e o papel semântico (papel-θ) desempenhado pelo argumento. O papel-θ é atribuído aos argumentos V’ (verbo + complemento(s)) dependendo das propriedades semânticas do verbo. Como o ilustram os exemplos de (13-16), o papel-θ canónico associado aos DP-objectos é o de Tema. Aos sujeitos, de acordo com evidências apresentadas por Marantz (1984:23-) e Chomsky (1986a:59-60), não é apenas o verbo, mas V’ na sua totalidade (verbo + complemento(s) que determinam composicionalmente o papel-θ atribuído ao seu argumento externo:

(17a)

Jonh threw a ball. (b)

(18a)

Jonh broke the window. (b)

Jonh broke his arm.

Nos exemplos acima, John com o mesmo verbo é Agente em (14a), Experienciador em (17b), Agente em (18a), Experienciador ou Agente em (18b), dependendo da interpretação.

De acordo com Radford (2004:200), ao se assumir que os princípios da GU correlacionam a estrutura-θ com a estrutura sintáctica de modo uniforme, isso pode significar que dois argumentos que suportam o mesmo papel-θ relativamente a um dado predicado devem ocupar a mesma posição subjacente em Sintaxe. Essa ideia é assumida por Baker (1988b:46) com a UTAH.

(19)

- UTAH - Uniformity of Theta-Assignment Hypothesis (Baker 1988b:46)

- Identical thematic relationships between items are represented by identical structural relationships between those items at the level of D-structure.

Ao adoptar a UTAH, assume-se que os sujeitos passivos devem ter origem na mesma posição que os complementos activos. Assim, o sujeito passivo na frase de (16), abaixo, the students recebe o papel-θ de Tema/ Paciente que, normalmente é atribuído ao complemento de arrest, esta parece ser a sugestão natural para afirmar que the

students tem a sua origem na posição de complemento do verbo arrested. O argumento the students eleva-se para a posição de sujeito de were em sucessivos movimentos

cíclicos, para sujeito do particípio passivo arrested e depois para sujeito do verbo auxiliar were:

(20)

The students were arrested.

IP DP I’ The students I VP were DP V’ (2) t V DP arrested t (1)

Assim, the students gerado como complemento de arrested, passiviza saindo da posição de complemento do particípio passivo arrested para ser seu sujeito e, finalmente, eleva-se de sujeito de arrested para poisar como sujeito de were. Existem evidências que comprovam tal movimento cíclico, sendo porém a sua apresentação desnecessária para os propósitos da tese.

- O filtro do caso

O princípio da teoria que requer que todo o DP foneticamente realizado manifeste Caso abstracto designa-se Filtro do Caso:

(21)

- Filtro do caso

- *NP if NP has phonetic content and has no Case .

O filtro do Caso regula DPs explícitos que não recebem Caso pela estrutura derivada e não regula categorias vazias como PRO e vestígios. Chomsky assume que PRO nunca recebe Caso. Assim, em termos gerais, de acordo com o contexto, existem diferentes atribuidores casuais directos:

i. o Caso nominativo é atribuído a um DP-sujeito pela flexão verbal: - …[IP[DP[I’[I[+Agr]…]…]…]

ii. o Caso acusativo é atribuído a um DP no contexto de um verbo transitivo:

- …[VP V DP…]

iii. O Caso oblíquo é atribuído por uma preposição: - …[PP P DP]…

De acordo com essa perspectiva chomskyana, os DPs fonológicos necessitam de Caso para serem interpretados. Se um DP não manifestar Caso, as regras fonológicas não geram uma representação fonética para esse DP.

- Teoria do Movimento

As estruturas derivadas são fundamentalmente formadas por uma operação que altera a ordem dos constituintes - Mover-α; pela condição de localidade que restringe o poder de Mover- α e determina qual a distância a que pode encontrar-se o constituinte movido do seu vestígio, Condição de Subjacência; pelo princípio que regula a identificação dos constituintes vazios deixados pelo movimento, Princípio da Categoria Vazia.

- A Teoria da Ligação

Para uma melhor compreensão da argumentação de Barss e Lasnik (1986), ou de Larson (1988) sobre as assimetrias OD/ OI (ou ainda sobre os objectos duplos), apresentamos brevemente a Teoria da Ligação:

(22) - Ligação

- Um elemento α liga um elemento β se e somente se α c-comanda β, e α e β são co-

referentes.

Antes de apresentarmos alguns exemplos referentes à ligação, exibimos seguidamente o conceito de c-comando. A ligação é definida do seguinte modo:

(23)

- C-comando

– O nó X c-comanda o nó Y, se (i) X e Y forem irmãos; (ii) ou se Y estiver contido no

nó irmão de X.

[Radford (2004)]

A representação abaixo reflecte esse estado de coisas: (24a)

O Joãoi viu a suai mãe. (b)

Um amigo do João viu a sua mãe

IP DP VP O Joãoi V DP viu a suai mãe

Na estrutura acima, referente a (24a), João c-comanda sua porque o primeiro parente não trivial de João, S, contém sua. João e sua referem-se à mesma pessoa, por conseguinte, João pode ligar sua, uma vez que o c-comanda e podem ter referência idêntica. Por outro lado, numa frase como Um amigo do João viu a sua mãe, João não c-comanda sua, i.e., não existe nenhuma relação de ligação, não obstante serem co- referentes, o que provoca a ambiguidade da estrutura. A agramaticalidade das frases abaixo mostra a importância da ligação:

(25)

*O Joãoi viu elei. (agramatical com co-referência) (26)

O João viu-se a ele próprio. (não ambígua com co-referência) (27)

*Ele próprio viu o João. (agramatical) (28)

*Joãoi viu o Joãoi. (agramatical, excepto se os dois DPs representarem entidades diferentes.)

A ligação é usada para explicar a agramaticalidade de frases semelhantes às de (25-28). As regras aplicadas são designadas Princípios A, B e C da Teoria da Ligação.

i. Princípio A - estabelece que os reflexos e os recíprocos (i.e. as Anáforas) devem sempre ser ligados nos seus domínios de ligação. Caso nada ocorra que ligue ele próprio (27), o princípio é violado e a frase resulta agramatical;

ii. Princípio B - estabelece que um pronominal nunca deve ser ligado dentro do seu domínio de ligação. Se, em frases como (25), João e ele são co-referentes, então, existe uma relação de ligação entre ambos, o que viola o princípio, resultando na agramaticalidade da estrutura;

iii. Princípio C - estabelece que as expressões-R nunca devem ser ligadas, visto serem expressões referenciais: não são pronomes, são simplemente entidades identificáveis. Na frase (28), o primeiro João liga o segundo, o que resulta na agramaticalidade da estrutura.

(29)

- Domínio de Ligação

É a projecção máxima mais pequena que tem um Sujeito e domina o Sintagma Nominal em questão e o seu atribuidor de caso. (cf. Chomsky 1986)