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Índice de tabelas do capítulo

Na literatura, as construções ditransitivas ─ quer sejam de duplo objecto (CDO)

3.2. Propostas no âmbito da Teoria de Princípios e Parâmetros 1 Questões centrais abordadas

3.2.1.7. Pesetsky (1995) – a preposição nula G

Pesetsky introduziu uma nova perspectiva na análise das CDO e das CDOIP, embora preservando a estrutura hierárquica que permite captar as assimetrias sintácticas3, descarta a ideia de que as CDO sejam derivadas transformacionalmente das CDOIP. Sustenta que o complemento projectado por give é um PP. Nas CDOIP, o PP é

3 Como tem sido detalhadamente sugerido neste trabalho, as CDO como as que ocorrem em Xitshwa

permitem que o Beneficiário e o Tema se transformem em sujeitos passivos, enquanto que nas CDO em Inglês o Beneficiário não pode, cf. Bresnan & Moshi (1990) e Macginnis (S/d):

(i.)

Alicia was baked t a cake. (b)

encabeçado pela preposição to e o tema surge como seu especificador e o beneficiário como seu complemento (46). Nas CDO, o PP é encabeçado por uma preposição nula com estatuto afixal, a que designa G, com o tema como seu complemento e o

beneficiário como seu especificador (34). Dado o seu estatuto afixal, G sobe por movimento de núcleo (head-movement) e incorpora-se no verbo give. Resumindo, as duas estruturas diferem na selecção de diferentes complementos preposicionais por give. Pesetsky (1995) sustenta uma análise em que a CDOIP e a CDO recebem representações subjacentes diferentes visualizadas em (46) e (47):

- CDOIP (46) VP V’ … V PP give DP P’ a letter P DP (Tema) to Mary (Beneficiário)

(Análise binária – projecção de P)

- CDO: (47) VP … V’ V PP give DP P’ Mary P DP (Benef) G a letter (Tema)

A análise de Pesetsky não está de acordo com qualquer das versões de UTAH. Pesetsky repensa os efeitos de c-comando da estrutura hierárquica sugerida por Larson (1988) sem propor qual das duas estruturas é derivada da outra. Por conseguinte, give ө- selecciona directamente o DP na posição de especificador da preposição. A ө-selecção indirecta é realizada pela selecção de um PP cujo núcleo, P, selecciona um papel temático adequado. Este facto ocorre porque to selecciona beneficiário, a selecção de um PP encabeçado por to satisfaz a necessidade de give de seleccionar um beneficiário. O mesmo processo acontece quando give selecciona um PP encabeçado por G, que selecciona como papel temático o tema.

- A semântica de to

Segundo Pesetsky, as diferenças na interpretação dos enunciados vistos acima são o resultado da semântica diferente de duas preposições. Sugere que a diferença entre um beneficiário cujo papel temático é seleccionado directamente nas CDO, e um beneficiário cujo papel temático é indirectamente seleccionado pela preposição, nas CDOIP, se deve à semântica da preposição to. Assim, segundo Pesetsky, a semântica de

to-object parece ser um superconjunto da semântica do alvo directamente seleccionado,

i.e., nos exemplos canónicos (send a letter to Lisboa/ *send Lisbon a letter) o que diferencia os dois tipos de construção é que não existe um beneficiário legítimo na CDO, existindo esse beneficiário na CDOIP, seleccionado pela preposição to. O mesmo autor atribui centralidade ao facto de as diferenças semânticas entre as duas estruturas serem causadas pela diferente contribuição semântica originada por diferentes núcleos preposicionais nas CDO e nas CDOIP.

3.2.1.8. Harley (2002)

Harley (2002) converge com Pesetsky (1995) na análise em que a CDOIP e a CDO recebem representações subjacentes diferentes. Harley modifica a versão de Pesetsky (1995) e pressupõe que a preposição nula G, como nos estudos mais recentes, encobre a ideia de posse e renomeia-a como PHAVE. Sugere igualmente que a preposição

que rege o OI em CDOIP seja designada PLOC. A ideia é que o verbo have consiste no verbo be mais um elemento preposicional que nalgumas línguas se incorpora dentro de

be, chama a esta preposição Phave4. Argumenta que em CDOIP, a preposição to não

encabeça o complemento de PP, mas funciona precisamente como uma preposição locativa abstracta PLoc (Harley (2003:46):

(48) - CDO

[vP Agent [vk CAUSE [PP Goal [Pk PHAVE [DP Theme]]]]] (49)

- CDOIP

[vP Agent [vk CAUSE [PP Theme [Pk PLOC [PP to Goal]]]]]

De acordo com Harley (2003), este facto parece explicar alguns problemas sintáctico/ lexicais surgidos com as CDO: a estrutura hierárquica e os efeitos da generalização de Oehrle5. Harley correlaciona a disponibilidade de have numa dada língua com a disponibilidade de CDO. As preposições PHAVE e PLOC projectam estruturas que contêm dois argumentos, o tema e o beneficiário, também chamado possuidor, ou locativo, do Inglês location. PHAVE contém o locativo como seu especificador e o tema como complemento, e PLOC tem como especificador o tema e o locativo como seu complemento. Como as CDO e as CDOIP são interpretadas

4 Harley (1995) sustenta que existem línguas que não possuem o possessivo “have”— como no Inglês

“owner has ownee”. Em CDO encabeçadas por verbos como give, como em Opus gave Ronald-Ann a book está um elemento semântico que significa HAVE. Este facto leva a uma interpretação que vai no sentido de que Opus CAUSED Ronald-Ann HAVE a book. Quer isto dizer que as línguas sem HAVE poderão também não possuir CDO:

- Correlação: (i)

As línguas que possuem a relação HAVE também possuem CDO. (ii)

As línguas que não possuem a relação HAVE não possuem CDO.

5 Oehrle (1976) foi o primeiro linguista a notar que havia diferenças semânticas entre a CDOIP e a CDO e

que ambas as estruturas possuíam diferente projecção subjacente. Esse facto ficou conhecido como a generalização de Oehrle. Larson (1988) e Baker (1988b,1997), conforme temos visto, sustentam, porém, que ambas as estruturas são derivadas de uma única estrutura subjacente.

diferentemente, a diferença de sentido acentua-se quando estruturas do mesmo verbo são opostas na sua interpretação semântica, dando origem a generalização de Oehrle. As línguas sem PHAVE e PLOC, cuja configuração requer dois objectos, projectam sempre possuidores, beneficiários, locativos na posição de complemento. Nestas línguas, as interpretações possessivas assim como as interpretações Locativas estão associadas com a estrutura PLOC. Estas preposições sobem e juntam-se a v que as selecciona consoante são vBE (have) ou vCAUSE (give) ou vBECOME (get). Nessa posição, o núcleo complexo é

pronunciado como forma verbal final. Isto significa uma abordagem não lexicalista dos

átomos sintácticos e uma tardia inserção da realização fonológica (Late Insertion

approach to phonological realization), no âmbito da Morfologia Distribuída6. As

estruturas que Harley propõe são as seguintes:

- Projecção alternativa: PHAVE, PLOC - CDOIP (50) vP v’ … v PP CAUSE DP P’ a letter P PP PLOC to Mary

6 A Morfologia Distribuída é assim chamada porque separa as funções do léxico em diferentes

submódulos autónomos, cada um destes módulos interage com diferentes componentes de um Y-model. A compatibilidade entre a Morfologia Distribuída com o Minimalismo é analisada em Halle & Marantz (1993), Halle & Marantz (1994), Harlez & Noyer (1999) e Marantz (1997).

- CDO (51) vP … v’ v PP CAUSE DP P’ Mary P DP PHAVE a letter

A necessidade de explicar as diferenças semânticas evidentes entre as CDO e as CDOIP motivou uma Projecção Alternativa que dá conta dessas estruturas. De modo a captar essas diferenças, substituiu-se, nas CDOIP, a concha de Larson (1988) por um PLOC e, por PHAVE nas CDO dum modo similar à proposta de Pesetsky (1995). Harley, ao adoptar esta proposta, elimina a necessidade de ligar regras a estruturas semânticas lexicais notada em hipóteses transformacionais, com o escalonamento de um para um entre as posições sintácticas e a interpretação semântica. Questiona a proposta de Larson (1988), (1990), segundo a qual a CDO é derivada da CDOIP e que as relações temáticas são iguais em ambas as estruturas. Alega existirem casos em que há projecções alternativas disponíveis o que faz com que grelhas temáticas alternativas estejam disponíveis em CDO.

Partindo da argumentação de Larson para os verbos como blame, conclui que o OD em CDO e o objecto de to nas CDOIP não apresentam os mesmos papéis temáticos, deste modo, a CDO não é derivada da CDOIP via uma alteração similar à passiva. Adopta a posição de Pesetsky (1995) segundo a qual as diferenças semânticas vistas entre as duas estruturas são causadas pelas diferenças na contribuição semântica feita por dois núcleos preposicionais diferentes, mas sugere que cada núcleo dá uma particular contribuição semântica para a interpretação final. Particularmente G é PHAVE e

o argumento que ocorre no seu especificador é um Possuidor. Afirma que ao incorporar PHAVE na teoria, codifica directamente a relação possessiva entre o beneficiário e o tema, dá conta dos contrastes já referidos, sendo que essas diferenças não podem ser atirados sobre a semântica de to. Resumidamente, Harely dá conta das diferenças semânticas entre a CDOIP e a CDO no que corresponde à ideia de posse e sua associação ao constrangimento de animacidade, e, tal como Pesetsky, desiste da UTAH.