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A atuação da Polícia Federal

No documento O RETORNO DA TERRA (páginas 126-132)

O campo da disputa territorial

2.2. Sentidos em disputa

2.3.1. A atuação da Polícia Federal

Em outubro de 2008, no marco da operação “Terra firme”, a PF realizou um conjunto de ações na TI Tupinambá de Olivença com vistas a cumprir mandados de reintegração de posse expedidos em favor de fazendeiros34. Em janeiro, o TRF-1 havia suspendido as

liminares de reintegração de posse por 180 dias, concedendo esse prazo para que a Funai concluísse o relatório de identificação e delimitação da TI. Findo o prazo, a Justiça Federal em Ilhéus determinou o cumprimento dos mandados de reintegração de posse já concedidos: em 20 de outubro, agentes à paisana dirigiram-se à Serra do Padeiro, para mapear a área onde ocorreriam algumas das reintegrações. Balas de borracha foram disparadas contra três indígenas que os interpelaram – como nem os policiais nem o carro estavam identificados, os índios temiam se tratar de pistoleiros. Marcionílio Alves Guerreiro (conhecido como Bebé), então com 75 anos de idade, foi atingido no peito e teve de ser hospitalizado (ver imagem 2.4). “Fiquei cuspindo sangue mais de mês”, disse-me.

Ainda que no próprio dia 20 de outubro uma decisão do TRF-1 tenha tornado a suspender por 180 dias o cumprimento das reintegrações de posse, no dia seguinte, indígenas foram violentamente retirados da aldeia Tucum, região litorânea da TI35. No dia 21, um

34 A breve reconstituição da operação que se apresentará a seguir baseia-se em descrições elaboradas pelos

indígenas e por entidades governamentais e não governamentais, colhidas em documentos e em contatos pessoais com as fontes. Destaque-se o relato pormenorizado efetuado pelo cacique Babau na sétima reunião ordinária da CNPI, realizada em dezembro de 2008. Em março de 2012, participei de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal na qual Babau teve oportunidade de tornar a relatar os eventos, provocando comoção entre os presentes. A versão da polícia está registrada em: Brasil, Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus-BA, 2009a. Para informações sobre a repressão na Serra do Padeiro e seus impactos, ver também Magalhães (2010: 102-105), Ferreira (2011: 54-61) e Ubinger (2012: 129-147). Magalhães fala em uma “Polícia Federal baiana”, indicando, em nota de rodapé, que os agentes lotados em Ilhéus “possuem vínculos de amizade e clientelares com atores sociais que se colocam contra a demarcação etnoterritorial de Olivença” (2010: 102). De fato, há diversos indícios de atuação parcial da PF, favorecendo os interesses dos não-índios contrários à demarcação. Contudo, esse “comprometimento” não se daria, necessariamente, no nível dos agentes destacados para a ação, mesmo porque as equipes que reprimiram os indígenas em outubro de 2008 e em outras ocasiões estavam constituídas por agentes deslocados de vários estados para esse fim, como atestavam os indígenas e documentos da PF. Não cabe, portanto, concentrar na PF baiana as críticas que devem ser endereçadas à instituição em nível nacional.

35 Na mencionada reunião da CNPI (ver nota 34), o cacique Babau denunciou que, na reintegração da Tucum,

os indígenas que ali viviam foram “humilhados ao extremo”. Quando estive na região litorânea da TI, em junho de 2012, visitei a Tucum, para onde os indígenas haviam retornado. A realização de reintegrações de posse em outras áreas da TI deixava os indígenas da Serra do Padeiro de sobreaviso. Em 1 de fevereiro de 2012, uma reintegração de posse foi efetuada na aldeia Tucumã, na região do Acuípe, expulsando cerca de 20 famílias indígenas. A realização dessa ação e a possibilidade de que ela se estendesse à Serra do Padeiro fizeram com que toda a aldeia se mobilizasse rapidamente para defendê-la; também reavivou as recordações das ações da PF na Serra, que me foram narradas em detalhes. Contatos telefônicos foram estabelecidos entre os indígenas da Serra do Padeiro e do Acuípe, e os primeiros buscaram denunciar por diversos meios o que ocorria na Tucumã. Em junho do mesmo ano, visitei as famílias expulsas da Tucumã que não haviam se

92 helicóptero da PF sobrevoou a Serra do Padeiro; no dia 23, os agentes retornaram, desta vez em maior número (as viaturas foram acompanhadas por helicópteros e, inclusive, por rabecões). Com o objetivo alegado de prender o cacique Babau e procurar “armas” que estariam em posse dos indígenas, os policiais invadiram o sítio dos pais do cacique, seu Lírio e dona Maria, onde se localizavam a escola, a casa do santo e outros espaços coletivos. Um ônibus que transportava os estudantes foi parado pela polícia; o motorista foi detido e o veículo, apreendido. Em relatório enviado à CNPI acerca dos fatos ocorridos em outubro, os Tupinambá denunciaram que os estudantes foram agredidos pelos agentes: “Obrigaram todos a se ajoelhar, em seguida a colar o rosto nos barrancos da estrada, o tempo todo a golpes de cassetete, poupando apenas as mães com seus bebês”.

Os relatos dos indígenas acerca do que ocorreu no sítio aludiam a velhos e crianças que tiveram de se embrenhar na mata ou nas roças, para escapar dos tiros. Quando estive em campo muitos se lembravam de Marcela dos Santos, grávida de seis meses, correndo na ladeira de cacau com uma criança pequena em cada braço. No tumulto, seu marido, Anezil Dias de Oliveira, perdeu-a de vista e, buscando-a, tornou-se um alvo fácil: foi baleado no nariz e teve de ser removido pela própria polícia, de helicóptero, para receber atendimento médico. Vários indígenas foram atingidos por balas de borracha (ver imagem 2.6). Em outubro de 2012, quatro anos depois, uma indígena ferida na operação ainda sentia dores e foi então submetida a uma cirurgia, para a retirada de estilhaços que estavam alojados em suas pernas. Como os tiros também vinham do alto, grandes galhos quebraram-se e caíram; mais tarde, foram encontradas balas alojadas nos troncos das árvores – “balas de verdade”, enfatizam os indígenas36.

Durante a ação, os indígenas tiveram documentos, roupas e outros pertences queimados; móveis, veículos e construções foram danificados; roças, completamente destruídas (ver imagem 2.2). Muitos indígenas referiam-se com especial consternação à destruição das “feiras”, isto é, aos sacos de café, açúcar, leite e outros mantimentos que foram propositalmente furados pelos policiais e tiveram seus conteúdos espalhados pelo chão. Utensílios de uso doméstico (espetos, facas e pilões, entre outros) e ferramentas agrícolas (como bodogos, facões curtos utilizados para quebrar cacau) foram apreendidos pela polícia, e nunca devolvidos. Alguns deles eram objetos de memória, portanto, insubstituíveis – por exemplo, a grande e quase centenária

dispersado após a operação; viviam em uma retomada conhecida como Tetama, em condições extremamente precárias, sob lonas pretas. Em julho, o cacique Valdenilson Oliveira denunciou o ataque em um simpósio durante a 28ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), em São Paulo.

36 Recolher cápsulas de balas e outras evidências da violência policial e apresentá-las a representantes do

poder público foi uma preocupação dos índios, já que, como me disse uma indígena, “muita gente pensa que nós exageramos [ao relatar a violência sofrida]”.

93 mão de pilão usada no preparo da giroba (bebida fermentada à base de mandioca ou aipim) e a espingarda velha apelidada de “vovó”. A espingarda, que não mais funcionava, pertencera ao pai do pajé, que dava salvas de tiros sempre que as parentas “pariam” (três tiros se o nenê fosse menina, quatro se fosse menino), para avisar os vizinhos e “para as crianças não crescerem assombradas”. Documentos do arquivo da associação indígena também foram levados – entre eles, alguns de valor inestimável, como vídeos com depoimentos de indígenas idosos que já morreram. Na operação, os policiais não conseguiram prender Babau, mas detiveram, além do motorista do ônibus escolar, um irmão do cacique. Além de todos esses danos físicos, psicológicos e patrimoniais infligidos aos índios, disse-me certa vez o cacique Babau, a ação da polícia teria, em certo sentido, agredido a própria terra37.

Essa operação e duas outras – realizadas em 2009 e 2010, respectivamente nas fazendas Santa Rosa e Serra das Palmeiras, ambas retomadas – eram consideradas pelos Tupinambá da Serra do Padeiro os exemplos mais contundentes da sistemática violência policial de que eram vítimas no contexto da disputa territorial. Os indígenas afirmavam que, nessas ações, a PF mostrou indícios de estar compromissada não com o cumprimento de suas atribuições legais, mas com a defesa irrestrita dos fazendeiros e de suas alegadas propriedades. Denunciaram, ainda, que policiais teriam, em alguns casos, criado condições para práticas delituosas de pistoleiros contratados pelos fazendeiros.

Durante operação policial na fazenda Santa Rosa, em junho de 2009, três agentes da PF valeram-se de pistolas Taser M26, armas “menos letais” que emitem descargas elétricas, provocando na vítima incapacidade neuromuscular e paralisia38. Segundo os policiais, as armas foram utilizadas por poucos segundos, para render três indígenas que resistiam à prisão em flagrante por esbulho possessório: os índios teriam tentado atacar os policiais com facões, houve breve luta corporal, disparo da Taser e então os primeiros foram algemados. De acordo com uma perícia realizada posteriormente, se a versão dos agentes fosse verdade, o uso da Taser, naquelas condições, teria transcorrido em um intervalo de 15 a 20 segundos. O sistema de data/hora da Taser utilizada contra um dos indígenas, contudo, registrava sete disparos, em um intervalo total de 4 minutos. Os indígenas afirmavam que já estavam algemados e

37 No capítulo 3 discutirei mais detidamente a relação entre a penetração dos não-índios no território

Tupinambá e o adoecimento da terra.

38 A reconstituição das diferentes versões sobre os fatos ocorridos na fazenda Santa Rosa exposta a seguir

baseou-se principalmente nas descrições, depoimentos e análises periciais reunidos nas seguintes fontes: Brasil, Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus-BA (2009c); Brasil, Ministério Público Federal (2009c e 2010); Brasil, Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Superintendência Regional na Bahia (2009); Brasil, Distrito Federal (2009a, 2009b, 2009c, 2009d e 2009e). Uma carta enviada pelos indígenas à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) inclui descrições pormenorizadas do episódio; pude complementá-las durante a pesquisa em campo.

94 temporariamente cegos, em decorrência do uso de spray de pimenta, quando foram submetidos a uma sessão de choques elétricos, entre outras agressões. Laudos produzidos pelo Instituto Médico Legal (IML) de Brasília identificaram, nos cinco indígenas, lesões condizentes com seus relatos. Em dois deles, foram localizados três pares de queimaduras elétricas, com distâncias semelhantes entre si, produzidas provavelmente por pistolas Taser ou, eventualmente, por fios desencapados ligados à rede elétrica. Conforme os laudos, a multiplicidade e a distribuição das lesões elétricas “sugerem terem sido provocadas por meio cruel”. Falando mais claramente: tratou-se de um caso de tortura.

A Santa Rosa fora ocupada em 26 de maio de 200939. Poucas horas após a retomada, os

indígenas encontraram um corpo em uma das represas da fazenda e chamaram a polícia, que levou 15 índios detidos (14 foram liberados em seguida e um passou a noite na delegacia). No dia 30, os policiais retornaram, para reintegrar a fazenda, mas os Tupinambá resistiram, refugiando-se na mata; conforme os índios, antes de partir, os agentes teriam ateado fogo à casa-sede. No dia seguinte, um não-índio confessou à polícia ter assassinado, antes da retomada, o homem encontrado na fazenda, em decorrência de um desentendimento pessoal; apesar disso, os índios continuariam sendo referidos como suspeitos, durante meses (Brasil, Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus-BA, 2009c).

Em 2 de junho, ocorreu nova tentativa de reintegração. Segundo os índios, os policiais chegaram à fazenda atirando e acompanhados do suposto proprietário da área. Note-se que, na operação, atuavam agentes da PF de Ilhéus e membros do Comando de Operações Táticas (COT/PF), unidade especializada em situações “de alta periculosidade”, que portavam não apenas munição “menos letal”, mas armamentos pesados. Ailza Silva Barbosa, Alzenar Oliveira da Silva, Carmerindo Batista da Silva (ver imagem 2.3), José Otavio de Freitas Filho e Osmário de Oliveira Barbosa não conseguiram escapar da polícia e acabaram torturados, detidos e autuados por esbulho possessório.

Em carta-denúncia entregue à SDH/PR, os índios da Serra do Padeiro listaram as ações que teriam sido praticadas pelos agentes da PF; também os depoimentos dos indígenas ao MPF detalham o tratamento recebido. Conforme os relatos, os cinco indígenas foram mantidos pelos policiais no secador de cacau da fazenda, insultados verbalmente e ameaçados de morte (os policiais teriam dito frases como “a gente podia matar esses bandidos”, prometendo depois jogá-los em uma vala ou em uma represa; já na estrada, a caminho da

39 Magalhães estava em campo quando da retomada da Santa Rosa. Ainda que não tenha participado do ato

inicial de ocupar – relata haver sido impedida, por precaução do cacique –, conheceu o estopim da ação, acompanhou os preparativos e alguns de seus desdobramentos (2010: 117-131).

95 delegacia, ameaçaram jogá-los sob uma carreta). Foram derrubados no chão, ficaram sob a mira de armas e receberam chutes e jatos de spray de pimenta; além disso, permaneceram aproximadamente dez horas algemados, sofrendo dores e formigamento nos pulsos e braços.

Ailza foi golpeada nas costelas com o cabo de uma arma; deram puxões em seu cabelo, ameaçando cortá-lo, e bateram sua cabeça várias vezes na parede. Osmário recebeu choques elétricos no rosto, nas costas, nas pernas e nos órgãos genitais; depois de solto, os braços continuavam inchados, devido ao uso de algemas apertadas. Alzenar também recebeu choques elétricos, no pescoço e costelas; e levou um tapa que o derrubou. Um policial calçando coturno deu um pisão no pé de Carmerindo, deixando-lhe um hematoma; o indígena foi encostado na parede e recebeu diversos socos na nuca, fazendo com que batesse a testa. Finalmente, José Otávio recebeu choques elétricos no pescoço e órgãos genitais; e um policial disse-lhe que iria cortar seu pescoço. Conforme eram torturados, os policiais lhes perguntavam onde haviam escondido as “armas”, que supostamente estariam em sua posse. Diversos pertences dos indígenas foram queimados pelos policiais – especialmente documentos pessoais e objetos marcadores da identidade étnica, como tangas e maracás.

Na Serra das Palmeiras, os episódios de violência transcorreram entre os dias 23 e 24 de fevereiro de 201040. Assim como se dera na Santa Rosa, a diligência policial foi desencadeada pela denúncia de que haveria reféns em posse dos indígenas – neste caso, efetuada por Domingos Alfredo Falcão da Costa, filho do pretenso proprietário da fazenda. A inexistência de cárcere privado foi reconhecida pelos policiais, nos dois casos, depois das violentas operações mencionadas aqui. Foram, ambas, tentativas de reintegração de posse sem base legal, isto é, sem que houvesse liminares para tanto. Isso fica evidente no depoimento de Falcão à PF de Ilhéus; ele conta que, quando da operação policial, “verificando a oportunidade de conseguir retornar à sua fazenda”, compôs um grupo formado por “lavradores, empregados e vizinhos”, bem como pelo secretário municipal de agricultura de Buerarema e por um vereador, e seguiu o comboio policial. Os indígenas denunciaram a participação de pistoleiros na ação, a mando do fazendeiro e com a conivência da polícia. Armas e munições encontradas pelos índios em posse desses pistoleiros, algumas das quais com a inscrição “federal”, foram posteriormente entregues à Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, para que se averiguasse sua origem; até a conclusão desta dissertação, o órgão não dera a conhecer os resultados de uma eventual investigação a esse respeito (Bahia,

96 Poder Legislativo Estadual. Assembleia Legislativa da Bahia, 2010). Em 2012, ainda era possível ver as marcas de balas em algumas casas da fazenda.

Em abril de 2011, nova operação violenta da PF – desta vez na aldeia Guarani Taba Atã, no litoral – causou comoção na TI. No dia 5 daquele mês, o indígena Nerivaldo Nascimento e Silva foi alvejado (pelas costas) na perna direita, por um agente à paisana, que investigava denúncias contra os indígenas, acusados de extorquir a proprietária do areal Rabo da Gata, vizinho à aldeia41. À época, o areal, explorado pela empresa Areal Aliança Ltda

(antiga Rabo da Gata Comercial de Areia e Terraplanagem Ltda), funcionava por força de liminares, concedidas pela Justiça Federal de Ilhéus, que haviam suspendido os efeitos de embargos realizados pelo Ibama – os impactos negativos do areal, entre os quais o assoreamento dos afluentes do rio Sirihiba, eram reiteradamente denunciados pelos indígenas (Ministério do Meio Ambiente, 2011). Nerivaldo e outro indígena foram presos em flagrante; semanas depois, outros três indígenas foram presos preventivamente, acusados de participação no episódio. Em decorrência do tiro, a perna de Nerivaldo teve de ser amputada (ver imagem 2.5). Os indígenas denunciaram que, no hospital, Nerivaldo permaneceu todo o tempo algemado ao leito e vigiado por policiais; após um mês internado, foi mantido mais dois meses no presídio Ariston Cardoso, em Ilhéus. Em 2012, ainda respondia a processo.

Esses e outros episódios de violência contra os Tupinambá foram documentados, com riqueza de detalhes, pelos indígenas. Vêm sendo amplamente denunciados e averiguados: diferentes organismos, alguns dos quais vinculados ao Estado, manifestaram-se publicamente; foram constituídas comissões especiais para analisar o caso e realizadas visitas à área, ao cabo das quais foram publicados relatórios com denúncias e recomendações42. Em relação especificamente ao incidente de tortura, a PF em Ilhéus instaurou um inquérito para apurar as denúncias; contudo, este foi concluído sem que qualquer policial tenha sido indiciado (Brasil, Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus-BA, 2009f). Em julho de 2010, o MPF em Ilhéus, referindo-se ao mesmo episódio, propôs uma ação civil pública por dano moral coletivo e individual em face da União.

41 O episódio é descrito pelos Tupinambá em carta aberta de 7 de abril de 2011 e em carta enviada à Câmara

Federal em 27 de maio do mesmo ano. O Dossiê Rabo da Gata, elaborado pelos indígenas e pelo Cimi, reúne informações detalhadas sobre o caso. Em junho de 2012, conheci Nerivaldo, que havia se mudado para a periferia de Ilhéus; na ocasião, ele me concedeu um depoimento sobre os acontecimentos de abril.

42 Ver, entre outros: Amnesty International (2008); Centro de Trabalho Indigenista (2008); Brasil,

Ministério da Justiça, Departamento de Polícia Federal, Delegacia de Polícia Federal em Ilhéus-BA (2009); Bahia, Poder Legislativo Estadual (2010); Brasil, Presidência da República (2011). A situação dos Tupinambá tem recebido destaque nos relatórios sobre a violência contra os povos indígenas do Brasil elaborados anualmente pelo Cimi e foram documentadas também nos relatórios da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os conflitos no campo ocorridos em 2009 e 2010.

97 Como se indicou no capítulo 1, ações foram propostas pelo MPF em Ilhéus e pelo MPF na Bahia responsabilizando a União e a Funai pela morosidade no procedimento demarcatório. O vínculo entre a exacerbação dos conflitos na região e a demora na demarcação já fora evidenciado pela Comissão Especial “Tupinambá”. Ao elaborar 21 recomendações a diferentes órgãos federais, a comissão incluiu entre elas a “urgente conclusão do procedimento administrativo de identificação e demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença” e o “pagamento da indenização das benfeitorias aos ocupantes de boa-fé que concordem em deixar a área, antes mesmo da finalização do processo demarcatório” (Brasil, Presidência da República, 2011: 86-87).

No documento O RETORNO DA TERRA (páginas 126-132)