• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III POLÍTICA PÚBLICA E A EDUCAÇÃO ESCOLAR

3.2 A ATUAÇÃO DO ESTADO

Mato Grosso do Sul possui um conjunto de legislação em sintonia com as Leis Nacional. O Conselho Estadual de Educação tem constituído um fórum denominado ―Fórum da Educação Escolar Indígena‖ em que as discussões têm servido como subsídios e pauta para os conselheiros. Participam desse Fórum, representantes indígenas, das universidades, dos governos estadual e municipal.

No Estado, encontra-se em vigor a deliberação do Conselho Estadual de Educação – CEE/MS n.º 4.324/1995 que estabeleceu diretrizes gerais para a Educação Escolar Indígena e,

109Assim como em nível médio em que os recursos atenderam o magistério, o MEC entende por formação

em 19 de outubro do mesmo ano, a Secretaria de Estado de Educação constituiu, em seu organograma, o Núcleo de Educação Escolar Indígena para ser responsável pela operacionalização dessa modalidade de educação. Em 2001, esse Núcleo foi transformado em Gestão de Processos da Educação Escolar Indígena dentro da Diretoria de Políticas Específicas em Educação.

A Resolução da Secretaria de Estado de Educação – SED/MS n.º 1.387/1999 instituiu o Comitê de Educação Escolar Indígena, órgão de caráter consultivo formado por representantes de professores indígenas e outros órgãos ligados ao desenvolvimento da Educação Escolar Indígena no Estado (MATO GROSSO DO SUL, 1999). Posteriormente, por meio da Resolução/SED/MS n.º 1.613, de 4 de fevereiro de 2003, o Comitê de Educação Escolar Indígena tornou-se de caráter deliberativo. A categoria de Escola Indígena foi instituída pelo Decreto Estadual n.º 10.734, de 18 de abril de 2002, tendo sido normatizada sua organização e seu funcionamento pela Deliberação CEE/MS n.º 6.767, de 25 de outubro de 2002.

Uma ação que vem sendo desenvolvida pelo Estado desde 1994, inicialmente de maneira indireta ou em forma de apoio e atualmente de maneira mais direta, é a formação de professores indígenas em nível médio. O Curso de Formação e Habilitação de Professores de 1ª a 4ª série do 1º Grau para o Contexto Indígena foi uma realização da Associação de Educação Católica de Mato Grosso do Sul em convênio com a FUNAI e Secretaria Estadual de Educação/MS. Teve seu início em fevereiro de 1994, autorizado pelo Conselho Estadual de Educação em 18 de maio de 1994 e contou com duas turmas. Formou cerca de 90 professores Terena, além de um professor Guató, dois professores Xavantes do vizinho Estado de Mato Grosso e quatro professores Kadiwéu. Em 1999 teve início o Curso Ara Verá (Tempo Iluminado) que atende os professores Guarani/Kaiowá e Guarani/Nãndeva da região sul do Estado. Encontra-se em sua etapa final o curso denominado ―Curso de Formação de Magistério em Nível Médio Povos do Pantanal‖. Esses dois últimos cursos são mantidos em parceria entre o Estado e os municípios.

A partir do ano de 1999, o Estado, por meio da Escola Coronel José Alves Ribeiro, em Aquidauana, iniciou o atendimento do ensino médio para a população indígena. Inicialmente com salas-extensão no Distrito de Taunay, que fica próxima às aldeias Água Branca, Bananal, Colônia Nova, Lagoinha, Imbirussu, Ipegue e Morrinho e na Aldeia Limão Verde. Em 2000 teve início nos municípios de Amambai, Dois Irmãos do Buriti, Dourados, Miranda e Sidrolândia.

Finalmente, após enfrentar inúmeras dificuldades tanto de ordem administrativa como de ordem pedagógica, foram criadas as escolas estaduais indígenas de ensino médio110.

Segundo a fala da ex-gestora da educação escolar indígena, que trabalhou cerca de 15 anos com essa temática, houve um momento que não tinha mais sentido continuar trabalhando o ensino médio nas aldeias com salas-extensão.

[...] porque o MEC já vinha desenvolvendo uma política de educação indígena, uma educação diferenciada, inclusive com recursos pra merenda, material escolar. Eram recursos diferenciados para as comunidades indígenas. Sendo extensão esses alunos não recebiam esses benefícios. Então um dos pontos por se optar por essa criação. Outra coisa seria a carga horária, o currículo diferenciado, porque sendo extensão, esses alunos estudavam as mesmas disciplinas, tudo igual ao aluno da cidade. As necessidades da educação indígena diferenciada, privilegiando e também priorizando a cultura tradicional é que se pensou nessa educação mais direcionada. (Miriam Moreira Alves, Campo Grande, 18/06/2009).

Com a criação ficaram assim denominadas: na Terra Terena Limão Verde em Aquidauana - Escola Indígena de Ensino Médio Pascoal Leite Dias, na Terra Terena Taunay, localizada também no município de Aquidauana, a Escola Indígena de Ensino Médio Professor Domingos Veríssimo Marcos e no município de Nioaque, a Escola Indígena de Ensino Médio Angelina Vicente, criadas em 2005. Em 2006 foram criadas outras três escolas de ensino médio nos municípios de Sidrolândia - Escola Indígena de Ensino Médio Professor Lúcio Dias, em Miranda - Escola Indígena Cacique Timóteo e em Aquidauana - Escola de Ensino Médio Pastor Reginaldo Miguel.

Nos anos de 2002 e 2004 existiu uma ação considerada importante e que até hoje é lembrada como um marco na formação da educação escolar indígena, a ―formação continuada dos professores indígenas‖. Para essa formação foram contratados assessores para ministrar oficinas em várias áreas do conhecimento. A referida ação foi possível graças ao apoio financeiro do Programa Fome Zero, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e contrapartida orçamentária da Secretaria Estadual. Essa formação foi realizada em etapas aos sábados ou em blocos no período de férias escolares das redes municipais nas cidades de Aquidauana e Miranda para atender o Terena (MATO GROSSO DO SUL, 2002).

A essa formação continuada é atribuída pelos professores indígenas como a principal condicionante pela quantidade de Terena111 que cursaram ou atualmente cursam a pós-graduação,

vez que um dos objetivos do curso era a formação de pesquisadores nas diversas áreas:

110 Mais detalhes com relação à oferta e a relação desta com a comunidade indígena discorreremos no capítulo 4. 111Atualmente são três mestras e quatro mestres com dissertação ligada à linguística, sociologia, educação e

desenvolvimento local. Estão em curso três mestrandos e cinco mestrandas nas áreas da educação, administração rural, educação, políticas de gênero e linguística.

Antropologia, Direito, Geografia, História e Linguística. Como parte da formação continuada foi realizada a discussão de temas a serem debatidos durante o ―1º Seminário Estadual da Educação Escolar Indígena‖, realizado pela Secretaria Estadual em junho de 2004. Com os povos Aitkum, Ofayé e Guató foi realizado o ―Seminário: Povos Resistentes‖. Outros seminários foram realizados na cidade de Bonito para atender os povos Kadiwéu e Kinikinao e, em Dourados e Amambai, para atender os povos Guarani-Kaiowá e Guarani-Ñandeva. O Seminário Final realizado em Campo Grande em julho de 2004 contou com a participação de 600 pessoas, entre as quais professores indígenas, lideranças indígenas, pesquisadores, Ministério da Educação, Fundação Nacional do Índio, secretarias municipais e universidades.

O resultado do Seminário Estadual foi uma ―Carta de Intenções‖, assinada pelas três esferas governamentais. Da pauta, constam seis destaques: fortalecimento da participação das comunidades indígenas, seus professores e lideranças na discussão, formulação, implementação e avaliação das políticas de educação escolar indígena no Estado; fortalecimento da política de formação de professores indígenas - as comunidades reivindicam a implantação de novas turmas de magistério diferenciado para continuar formando professores indígenas; garantia da autonomia pedagógica, curricular e administrativa das escolas indígenas no Estado; elaboração e implementação de plano de melhoria imediata da rede física que atende os indígenas - as edificações são antigas ou de baixa qualidade, de área reduzida, sem equipamentos necessários ao bom funcionamento de uma escola; garantia da aplicação qualificada dos recursos destinados ou relacionados à educação escolar de crianças e jovens indígenas; e aprofundamento do regime de colaboração entre secretarias municipais, Secretaria Estadual e o MEC para a promoção de uma educação escolar de qualidade.