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CAPÍTULO III POLÍTICA PÚBLICA E A EDUCAÇÃO ESCOLAR

3.3 A ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

Aos municípios cabe a responsabilidade da operacionalização da educação escolar indígena no ensino fundamental no Estado de Mato Grosso do Sul. Assim está estabelecido para todos os povos.

Segundo o histórico da Aldeia Limão Verde e que consta do projeto político- pedagógico da Escola de Estadual de Ensino Médio Pascoal Leite Dias, no início da década de 1940 o índio Lúcio Dias lecionou por cerca de quatro anos. Esse trabalho não foi remunerado. Nos anos seguintes a Prefeitura de Aquidauana contratou três professores. Dois deles eram não índio e um terena de Limão Verde cujo nome é o da Escola de Ensino Médio. Outro terena da Limão Verde

que lecionou nesse período foi Valério Martins, que era remunerado pela Missão Evangélica União das Igrejas Evangélicas da América do Sul (UNIEDAS).

Com a justificativa de falta de formação, os professores indígenas foram impedidos de continuarem em suas funções no ano de 1947.

Em 1969 iniciava de maneira oficial a parceria entre FUNAI, então responsável direta pela educação escolar dos índios, e Prefeitura Municipal de Aquidauana. A FUNAI cuidava da vida escolar dos alunos e era responsável pelo pagamento de professores e cabia ao município o transporte destes.

Com o processo de esvaziamento de poder político da FUNAI112 no plano político

nacional, cada vez mais a ação do município ia se tornando influente na educação escolar em Limão Verde. Em 1973, foi construído o prédio da escola para atender cerca de 50 alunos. O atendimento era de maneira multisseriada. Ao final da década de 1970 poucos professores eram da FUNAI, a maioria era da prefeitura municipal. Nesse período havia séries, como o caso da primeira e segunda séries, com duas turmas. Como que assumindo o papel de gestora da educação escolar para aquela Aldeia, a prefeitura construiu a cerca de 50 metros da antiga escola a atual que inicialmente contava com duas salas e banheiro. Nesse tempo tornei-me aluno do Núcleo Escolar Limão Verde. Nos anos de 1980, quando deixou de ser sala-extensão de uma escola situada em área rural113 e tornar se Escola Municipal de Limão Verde, foram

construídas outras duas salas de aula, a secretaria e a cozinha.

Com a formação da primeira turma de professores índios, em 1997, a prefeitura de Aquidauana decidiu que os professores das séries iniciais fossem indígenas da própria aldeia. Esse ato ajudaria o município a economizar com transporte de professores urbanos em pelo menos um período e atenderia a reivindicação das lideranças indígenas pela vaga de professor ao recém-formado. Há caso como o meu em que fui lecionar na Aldeia Córrego Seco que pertence ao mesmo território de Limão Verde. A única professora formada daquela Aldeia não residia ali. Em 1999, após ser incluída a palavra indígena nos nomes das escolas nas

112Hoje é possível perceber que o esvaziamento de atribuições da FUNAI vem sido executado há muitos anos. A

pulverização de responsabilidades pode ter facilitado para o Estado brasileiro, quando foi distribuindo ao longo dos anos a vários Ministérios as atribuições de políticas de atendimento ao índio. Não pretendo aqui entrar no mérito da execução da educação escolar indígena após o Decreto nº 026/1991. Porém, parece-me exagero que mais de 12 ministérios possuam alguma função para atender as populações indígenas. Isso tem sido uma maneira destes últimos não saberem a exatamente onde ―acertarem suas flechas‖ na hora de fazer suas reivindicações e uma forma de promover um festival de ―lavar as mãos‖, ou seja, um órgão público jogando para o outro a responsabilidade pelo não atendimento. Além disso, têm permitido, também, que pseudorrepresentantes, que sequer visitam as aldeias, falem em nome delas, nos vários conselhos de representações que têm sido instituídos pelo Poder Público.

aldeias, foi realizado o concurso que contemplariam aspectos da cultura indígena com finalidade de selecionar professores indígenas.

A Lei Municipal Nº 702/1999 alterou a denominação da Escola Municipal de 1º Grau ―Limão Verde‖ para Escola Municipal Pólo Indígena ―Lutuma Dias‖. A escola atende em dois turnos com turmas de pré-escola e 6ª ao 9ª ano no período vespertino, onde atuam professores não índios e, no período vespertino, os professores índios atuam do 1º ao 5º ano. O Núcleo Escolar Córrego Seco é uma extensão da Escola Lutuma Dias e atende do 1º ao 4º ano.

O município realizou em 2001 o segundo concurso de professores para atender, entre outras, as escolas indígenas. Porém, o requisito em ser índio e os aspectos linguísticos colocados na prova foram somente para as séries inicias (1º a 5º ano).

Quando da implantação do ensino médio para populações indígenas, o município foi parceiro do Estado na cedência do espaço físico e transporte dos professores.

Atualmente parece existir um consenso entre índios e os que discutem a educação escolar para o Terena de que a maioria das escolas nas aldeias, embora tenham o nome indígena, talvez pela prática de muitos anos, ainda funciona como uma locomotiva. Ou seja, tem sua administração, concepção política e pedagógica e até alguns professores alheios acerca da especificidade de que são detentora as populações indígenas. Às vezes isso é tão incutido que representantes do poder público falam em ―minha escola‖ quando faz referência a uma escola indígena. Nessa mesma direção ouvi de um aluno Terena114: ―quem manda na

escola é a Prefeitura‖. O desafio está na própria concepção política tanto dos poderes públicos quanto dos índios e o papel da escola dentro da Aldeia.