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A autoformação na visão dos entrevistados

5.1 UM OLHAR SOBRE A AUTOFORMAÇÃO

5.1.1 A autoformação na visão dos entrevistados

Em primeiro lugar, a fala dos entrevistados dá ênfase à dimensão epistemológica da autoformação. Para tais sujeitos, ela é vista como processo de busca de conhecimento. Mas conhecer não é o mesmo que apropriar-se, compreender, e sim saber utilizar uma forma singular de pensar, que é também a sua motivação, isto é, entender o motivo que os leva a tal pensamento. A construção de conhecimento revela dimensões pessoais de escolhas e essa procura é apresentada por meio de estudo, pesquisa, cursos e internet.

Vejamos suas falas:

No meu caso, eu espero a oferta. Quando fico sabendo que vai ter algum curso, algo que chame a minha atenção que sei que vai fazer bem pra mim, eu vou, corro atrás e procuro fazer. [...] Eu assisto Futura, TV Escola, esses canais que sei que ali vai falar algo que me interessa, que vai falar algo que posso mudar um pouquinho a minha prática. São coisas que eu gosto de fazer, por isso que eu gosto de assistir. (Rita)

Como eu faço? Estudando, buscando, conhecendo, indo a um autor. Ah! Pela internet. Pelo computador baixava várias teses de mestrado e doutorado, e com a minha eu segui olhando, vendo a estrutura de como se escrevia um TCC. (Guilherme)

Estudando, estudando muito. Continuo fazendo cursos. Cursos pela própria Secretaria da Educação e lendo, lendo bastante, estudando bastante. (Elizabeth)

Eu estudo muito. Se bem que hoje tem a possibilidade do Google, lá eu procuro, leio. Sempre que tem uma coisa eu estou olhando, pesquisando, estou vendo para poder fazer melhor, mas eu acho que ainda falta muito... Ainda é pouco, eu tenho que aprender mais. [...] Eu tenho lido, tenho assistido vídeos em casa. Eu aprendo muito dentro da arte. Eu acho que eu tenho que estudar mais. Não estudar de ir à universidade, mas com cursos voltados para eu dar mais. (Lau)

Eu aprendo todo dia... Eu deixo o Youtube ligado... Eu gosto de pesquisar [...] E coisas que eu tenho certeza, que eu sei e que é inquestionável, mas meu aluno não aprendeu, eu pergunto para outros professores, se não acrescentou eu vou pesquisar. (Márcia) Eu aprendo também na internet, estou sempre atrás de alguma coisa para ler, um vídeo para assistir. Cada coisinha que leio é uma sementinha que é plantada e isso vai nos ajudando. (Ana)

Pode-se dizer que, em seu caminho de autoformação, estes entrevistados buscam alternativas pessoais para a própria aprendizagem, gestada em diversos momentos. Eles admitem que isto fica mais claro quando percebem suas próprias dificuldades. Nesse sentido, diferentemente dos outros entrevistados, Thiago vê que as dificuldades são resolvidas a partir da interação com os outros, como podemos ver na passagem abaixo:

Eu tenho conversado com outras pessoas, especialmente na minha área profissional, para averiguar como ela lida com determinadas situações... Conversando com as pessoas, eu adquiri um conhecimento a mais sobre o que eu precisava fazer. Eu converso com pessoas um pouquinho mais velhas, tiro dúvidas, discuto, para resolver este tipo de problema. (Thiago)

Ao refletir sobre a apropriação do conhecimento, Thiago pensa no compartilhamento com o outro e no quanto é importante a presença e existência desse outro ao seu lado.

Em suas falas, os entrevistados deixam transparecer a convivência com a incerteza em relação à forma tradicional de aprendizagem, observada na mudança de ambiente. Isto é, a aprendizagem ocorre em outros espaços, como nas redes sociais da internet. Daí a ruptura com o modelo de ensinar e aprender que é feito na sala de aula, para desenvolver outras possibilidades e limites. Eles depararam com

o imprevisto, ao perceber que não aprendem somente na escola – local em que se ensinam certezas construídas pela ciência –, mas que podem aprender em lugares diversos. Com essa questão, eles provocaram um rompimento com o conhecido e buscaram pesquisar outros referenciais para aprender.

Como seres capazes de se auto-organizar, esses sujeitos mergulham em si mesmos num processo em que se autoexaminam, analisam suas dificuldades e procuram superá-las, para redimensionar mudanças significativas na produção de seus saberes.

As falas dos entrevistados evidenciam que alguns tiveram boa formação e continuam estudando, enquanto outros, por não terem tido boa formação, também continuam estudando.

Nesse sentido, a autoformação pressupõe a responsabilização do sujeito por suas ações e, de acordo com Morin (2011), revela-se pela mudança do padrão de pensamento. Nessa ação há necessidade de consciência e compreensão, por parte do sujeito, de sua condição humana, bem como da aprendizagem da autoética, que é uma ética de compreensão, e presume que aquele é autor de suas atitudes em relação a si mesmo, aos outros e ao mundo. Por isso, também as ações dos seres humanos são instáveis e de múltiplas possibilidades, dúvidas, enganos, solidariedade, entre outros, de acordo com as finalidades impostas individualmente e pela sociedade.

Assim, a formação desse sujeito demanda a ética, em que cada um escolherá por si mesmo seus valores e ideais, isto é, construirá a autoética (MORIN, 2007b). Tal conceito acarreta uma autocrítica:

Isto significa que é absolutamente necessário à auto-ética um trabalho constante de autoconhecimento, de auto-elucidação e, eu diria mesmo, de autocrítica. [...] Eis aí o longo caminho, o difícil caminho que nós devemos percorrer. A auto-ética não nos é dada. Precisamos construí-la, e eu penso que este problema de construção implica um problema de educação fundamental, talvez desde o início da escolaridade... (PENA-VEGA; ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008, p. 44).

O desenvolvimento da ideia de autoética implica todo o processo de construção da autoformação. É uma ação que parte de uma ética de si para si mesmo, envolvendo a autocrítica e a responsabilização, e aponta para a ética da compreensão, a solidariedade, outro olhar sobre os indivíduos que compõem a sociedade em que nos situamos.