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CAPÍTULO III: A (RE)CONSTRUÇÃO DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

3.1. Currículo e avaliação na Formação de Professores de Educação Física

3.1.3. A Avaliação do Ensino superior de Educação Física

A avaliação sobre a qualidade do ensino superior passou a ser uma determinativa, seja para a abertura de cursos , seja para a sua manutenção. Aqui essa função foi assegurada pela A3ES.

A A3ES foi instituída pelo Estado através do Decreto-Lei nº. 369/20079, de 5 de Novembro, como uma fundação de direito privado, constituída por tempo indeterminado, dotada de personalidade jurídica e reconhecida como de utilidade pública. É independente do exercício das suas competências, sem prejuízo dos princípios orientadores fixados legalmente pelo Estado (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino superior, 2010).

Esta dinâmica de procedimentos legais e contextuais, gerados pela publicação de um conjunto de diplomas10 relativos à autonomia das universidades, tendo como particular relevo a definição do perfil de profissionais, que se deseja formar em consonância com as exigências

9 Diário da República, 1.ª série — N.º 212 — 5 de Novembro de 2007.

10 Regulamento dos procedimentos de avaliação e de acreditação: Regulamento n.º 504/2009 (divulgado inicialmente como Regulamento n.º1/2009).

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do mercado de trabalho – incluindo a formação de professor. Trata-se de fazer valer a diversidade de cultura, línguas etnia e autonomia do sistema nacional de educação, presente no seio da sociedade portuguesa, considerando que a defesa do princípio da convergência, assente na Declaração de Bolonha, não pode pôr em risco a pluralidade dos percursos nacionais (Costa, 2012). De referir que, na perspetiva dos coordenadores não existe uma linha orientadora no que à avaliação diz respeito, apesar de a exigência ser muito grande, fazendo com que estes tentem constantemente perceber e corresponder às expectativas da avaliação.

É muito exigente. Continuamos a achar que estamos a tentar descobrir o que eles querem. Parece que nunca vamos acertar no que se quer, porque dá a impressão que a gente cose um buraco de um lado e ele abre do outro, mas estamos sempre na expectativa de que vamos conseguir responder às exigências deles. (Coord.2)

A avaliação externa dos cursos promove uma requalificação específica do corpo docente e uma harmonização da estruturação dos cursos no Ensino superior em Portugal. De salientar que, na opinião de um Coordenador (Coord.3), a avaliação é apenas uma questão formal, mas não será essencial para a formação do curso na instituição. A divisão bietápica da formação de Professores em 2 ciclos, não favorece a avaliação do curso da sua instituição porque faz com que aumente a diversidade e heterogeneidade dos estudantes, visto que muitos destes vêm com uma formação inicial fraca.

A agência tem fundamentalmente uma questão de avaliação formal, portanto, ver se os cursos minimamente cumprem e se adequam aquilo e cumprem requisitos para certificarem e portanto têm idoneidade suficiente para funcionar. (Coord.3)

De qualquer modo, parece-me que há parâmetros de avaliação na A3ES que são muitíssimo adequados, muitíssimo bem elaborados, refiro-me à necessidade de uma requalificação especifica e quase cirúrgica do corpo docente, refiro-me à continuidade em escalões de competências determinantes nos programas ou determinadas pelos programas das várias uc’s, quer dizer, nós próprios aqui na instituição estamos a fazer um trabalho com base na licenciatura... (Coord.2)

Para a avaliação e acreditação dos cursos de formação inicial de Professores de EF, a A3ES promove um esmiuçar dos planos de estudos para perceber de que forma estão os mesmos a seguir os pressupostos de Bolonha e orientados para atingir os objetivos propostos. Contudo, não existe uma linha orientadora nessa mesma avaliação e um desconhecimento das prioridades e dos critérios utilizados na avaliação dos cursos.

Obviamente podemos recolher alguns feedbacks sobre coisas que podem melhorar, etc. mas não me parece que seja o essencial para a formação do nosso curso. (Coord.3)

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A proliferação dos cursos de formação de Professores de EF em Portugal nos últimos anos, foi abismal e a avaliação dos cursos permitiu colocar regras e fazer com que se promovesse algum discernimento sobre a qualidade desses mesmos cursos (Costa, 2012). Neste sentido, o aparecimento desta entidade de avaliação, promoveu a requalificação do corpo docente assim como permitiu travar a proliferação dos cursos de formação de Professores de EF, visto haver muitas instituições que não preenchiam requisitos mínimos para a existência dos mesmos.

Todo o curso e toda a instituição de “vão de escada” podia propor um curso e bastava acontecer uma abrasileirização daquilo que era a formação em EF que a gente tinha um descontrole total. Havia mais de 40 ou 50 cursos de EF do privado e do público sem que houvesse um discernimento sobre a qualidade desses cursos. (Coord.3)

As dificuldades não foram sentidas por parte dos Coordenadores, mas o trabalho por eles realizados foi exigente e competente. Com as exigências da A3ES, os cursos tiveram que ser reestruturados por forma a responder aos pressupostos de Bolonha, havendo uma área de maior importância atribuída à prática pedagógica do estudante e um maior número de acolhimento de alunos de diferentes instituições, porque com a situação económica atual, as instituições de Ensino superior contam com uma maior admissão de alunos por estratégia de sobrevivência da mesma.

Nós não tivemos muitas dificuldades, tivemos foi trabalho, mas se as dificuldades são trabalho está bem. Tivemos trabalho… Trabalhamos muito em conjunto, houve umas primeiras propostas, as cadeiras foram atribuídas às pessoas, as pessoas vieram apresentar as cadeiras umas às outras, discutimos muito as sobreposições e o que é que faltava e o que não faltava. (Coord.4)

Quer dizer que de alguma forma é esse figurino que nos obrigou a desenvolver e a concretizar matéria, portanto, tem que responder às questões, às exigências especificas da área das ciências da educação, mas nós fazemos sempre com ligação muito forte à questão da EF do ensino do desporto, portanto está sempre assim muito forte. (Coord.3)

Nós sabemos e essa é outra questão, outra dificuldade do nosso curso. É que por razões puramente económicas, por estratégia de sobrevivência da escola, portanto admite mais gente que aquela que seria necessária, ou que seria desejada. (Coord.3)

Tal como na estruturação dos planos de estudo, a avaliação dos cursos de ensino superior veio uniformizar a formação de Professores de EF no ensino superior. Quando outrora, qualquer instituição poderia criar um curso de formação de Professores de EF, hoje em dia, tal não acontece. A exigência da A3ES na avaliação externa dos cursos, terminou com a proliferação de cursos de formação de Professores em Portugal. O único inconveniente desta avaliação diz

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respeito ao facto dos parâmetros de avaliação terem diferentes exigências nas instituições formadoras e não serem claros no que pretendem para determinadas áreas a serem avaliadas.

Numa apreciação mais global e comparativa entre os planos de estudo dos cursos, entre si e para com a legislação, verifica-se que há um certo rigor na implementação das decisões de Bolonha tendo em atenção as áreas científicas determinadas, bem como os coeficientes propostos para cada área. As instituições optaram por autonomizar o domínio da investigação científica, proposto pela legislação para ser integrado numa das três componente referidas anteriormente. Em suma, a integração das decisões do Processo de Bolonha, no 2º ciclo de formação de Professores em Ensino de EF, pelas instituições estudas, foi efetuada do ponto de vista da absorção das orientações no processo de adequação dos Cursos, resultando na apresentação de planos de estudos e programas que refletem aos pilares do alinhamento nas suas múltiplas dimensões.

Isso, principalmente no que se refere ao sistema de créditos ECTS, à carga horária com horas letivas e de trabalho autónomo, ao currículo e avaliação da aprendizagem, à investigação e à perspetiva de formação ao longo da vida uma estratégia de promoção de competências para a equiparabilidade e para a especificidade no quadro do desenvolvimento profissional e, por fim, à avaliação interna e externa dos cursos. Nestes dimensões experimentaram-se condições compensatórias advindas desta reestruturação, nomeadamente da preparação dos docentes, dando enfâse a uma boa relação entre a teoria e a prática nos conteúdos de ensino e no exercício experimental da prática profissional (o estágio que já existia no modelo anterior, mas que mudou perante a reformulação da formação docente, face o atual cenário escolar). Procurou-se dirigir a formação para a equiparabilidade e mobilidade no espaço europeu do ensino superior.

Os testemunhos revelam êxitos e dificuldades no processo destacando alguns, como sejam dificuldades em reestruturar toda a organização curricular por forma a estar direcionada para os objetivos propostos na Declaração de Bolonha e para a satisfação do grau de exigência da A3ES para a aprovação dos cursos, requerendo centralidade dos Coordenadores de curso na organização das decisões e dos processos, para além de tarefas administrativas.

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CAPÍTULO IV: PROFISSIONALIZAÇÃO E PERFIL DE