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CAPÍTULO I: OPÇÕES E PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO

1. A natureza da investigação

1.8. As técnicas e os procedimentos de análise dos dados

1.8.3. A análise de conteúdo

A técnica análise de conteúdo, por ser considerada um procedimento clássico de análise de dados é uma das técnicas mais utilizadas em Ciências Sociais, visando obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens ou de indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção destas mensagens (Bardin, 2009). Este autor defende que a análise de conteúdo consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado. Assim, este divide este método em três etapas:

1. Pré-análise: que tem por objetivo operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais por forma a conduzir a um esquema preciso de desenvolvimento de investigação;

2. Exploração do material: é a operação de analisar o texto sistematicamente em função das categorias formadas anteriormente;

3. Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: as categorias que serão utilizadas como unidades de análise são submetidas a operações estatísticas simples ou complexas, dependendo do caso, para que permitam ressaltar as informações obtidas.

Como afirmam Viciana e Sánchez (2002), nas investigações em que se emprega a análise de conteúdo como instrumento para a obtenção de resultados científicos, é necessário construir um sistema de categorias para conferir robustez metodológica aos dados em estudo. A redução dos dados a uma codificação facilita a análise qualitativa-interpretativa e heurística. Dai que procedemos à análise do conteúdo, categorizando as unidades de registo obtidas das respostas dos entrevistados.

A categorização é uma operação de classificação de elementos construtivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo as caraterísticas dos

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participantes, com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das caraterísticas comuns destes elementos. O critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas), sintático (verbos, adjetivos), léxico (classificação das palavras segundo o seu sentido) e expressivo (categorias que expressam, por exemplo, perturbações da linguagem) (Bardin, 2009).

“Não existe uma forma certa ou errada para se desenvolver uma codificação de categorias provisória. Ainda que o guião da entrevista possa proporcionar um ponto de partida, não nos devemos basear somente nisso para criar todos as componentes e categorias” (Barbour, 2009, p. 151). Neste caso, segundo a mesma autora, a categorização repartiu-se à medida que os elementos pretendidos foram sendo encontrados. O sistema de categorias não é fornecido, resulta antes da classificação analógica e progressiva dos elementos. Este é um processo em que se vão agrupando unidades de significado e o título conceptual de cada categoria somente é definido no final da operação.

Começamos por uma leitura por meio da qual o investigador, num trabalho gradual de apropriação do texto, estabelece várias idas e voltas entre o documento analisado e as suas próprias anotações, até que comecem a emergir os contornos das suas primeiras categorias. Estas categorias são definidas passo a passo e guiam o investigador na busca das informações contidas no texto (Oliveira, Ens, Andrade, & Mussis, 2003).

Juntamente com a análise estatística, a análise de conteúdo é a técnica mais utilizada no âmbito das ciências sociais, podendo esta incidir sobre diferentes discursos (Pacheco & Moreira, 2006), no presente caso, as transcrições de entrevistas realizadas e os documentos escritos recolhidos.

Esta técnica inicia-se pela descrição da informação, seguindo depois a interpretação dos dados, no sentido de encontrar uma lógica fundamentada para o resultado da investigação. Bardin (2009) define a análise de conteúdo como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) das mensagens” (p. 36)

A descrição do método é um elemento fundamental na comunicação científica e inclui basicamente toda a ordem de procedimentos adotados, relevantes para a conclusão de um estudo. O que se verifica na análise de conteúdo é que a descrição da análise, para a

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compreensão dos procedimentos relevantes para um determinado estudo, deveria conter não só a forma de categorização mas também o conjunto de procedimentos que envolvem a organização do material, a escolha de indicadores e a lógica de inferência dos dados (Castro, Abs, & Sarriera, 2011).

Apesar da complexidade que pode implicar a análise de conteúdo, ela centra-se fundamentalmente, no procedimento de desenhar categorias que são relevantes para os propósitos de investigação e classificar todas as ocorrências de palavras significantes. A análise de conteúdo constitui, em última instância, “um trabalho de questionamento do material em análise” (Smith & Caddick, 2012, p. 181) de forma a poder extrair-se a informação pertinente em relação às questões formuladas.

A escolha dos métodos pretendidos para a análise de dados deste estudo, revelou-se fundamental para uma sustentação dos resultados obtidos. A entrevista semiestruturada aliada à aplicação do questionário permitiu-nos conciliar duas metodologias diferentes, promovendo assim uma maior abrangência no que aos resultados obtidos diz respeito. A análise de conteúdo através da técnica de redução dos dados, assim como a análise fatorial exploratória, permitiu- nos refletir sobre diferentes temáticas e ao mesmo tempo reduzir e simplificar todos os nossos resultados, tornando-os diretivos podendo assim responder mais facilmente aos propósitos do estudo.

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PARTE II: O PROCESSO DE BOLONHA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM