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CAPÍTULO I: OPÇÕES E PERCURSOS DA INVESTIGAÇÃO

1. A natureza da investigação

1.5. As técnicas e os instrumentos de recolha de dados

1.5.1. Entrevista

1.5.1.1. A entrevista a focus groups

O uso de focus groups, ou grupos focais é um método de investigação social já consolidado, que assume a forma de uma discussão estruturada que envolve a partilha progressiva e a clarificação dos pontos de vista e ideias dos participantes. Usado inicialmente em estudos de mercado, é extensamente aplicado a uma variedade de contextos de aplicação e de investigação académica com vista à produção de informação e de conhecimento (Smith & Caddick, 2012).

Millward (1995) refere que a constituição de um focus groups com um conjunto de elementos entre 4 a 10 participantes torna a discussão mais clara. Caso o grupo seja muito grande, a discussão torna-se impercetível, difícil de controlar, podendo promover a constituição de subgrupos e a fragmentação do mesmo. Para além disso, torna-se muito complicado realizar

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a gravação da discussão, porque as pessoas falam com diferentes tons de voz e diferentes distâncias.

Os grupos focais devem ser homogéneos em termos de contexto de vida, não de atitudes. A heterogeneidade neste último aspeto poderia provocar opiniões potencialmente fragmentadoras, dando às discussões de focus groups o seu caráter instigante (Barbour, 2009). A técnica da entrevista aplicada a grupos focais, tem particular interesse na análise de temas ou domínios que levam opiniões divergentes ou que envolvem questões complexas que precisam de ser exploradas em maior detalhe (Greenbaum, 2000). Corroborando a ideia de Millward (1995), a formação de grupos focais em investigação qualitativa agrupa os participantes, recrutados com base na semelhança demográfica, sobre um tema específico, orientado por um moderador treinado e num espaço de tempo de cerca de duas horas (Greenbaum, 2000).

Segundo Debus (1997), é necessário ter em conta as seguintes caraterísticas dos elementos que constituem um focus groups: Classe social (aconselhável que o grupo venha de classes sociais semelhantes); Ciclo temporal (os entrevistados devem fazer parte do mesmo ciclo temporal); Nível de experiência (o nível de experiência pode afetar as respostas de um determinado tema); Idade e estado civil (de acordo com a questão que se investiga, participantes com idade ou estado civil substancialmente diferentes não deveriam ser incluídos num mesmo grupo); Sexo (é viável integrar num mesmo grupo homens e mulheres, quando a investigação não está relacionada com estereótipos sexuais).

Os grupos escolhidos são especialmente importantes quando o objetivo é compreender o porquê que está por trás de determinado comportamento (Greenbaum, 2000). Assim,

Estabelecer um guia de tópicos para uma discussão de grupo focal, requer algo similar a um ato de fé. Pesquisadores novos aos grupos focais invariavelmente ficam desconcertados pela aparente brevidade dos guias de tópicos e precisam ser convencidos de que umas poucas breves questões e materiais de estímulo bem selecionados serão suficientes para provocar e sustentar uma discussão. A chave para isso e antecipar a discussão, imaginando possíveis respostas para as suas manobras conversacionais e, preferencialmente, fazer estudos-piloto dos guias de tópico ou de questões específicas antes de usá-los no projeto de pesquisa principal (Barbour, 2009, p. 113).

O aspeto mais forte dos grupos focais é que permitem que um grupo de indivíduos partilhe os seus pontos de vista num ambiente amigável, com o objetivo de apreender fatores que estão subjacentes a determinadas ações ou atitudes (Ribeiro, 2008).

Greenbaum (2000) identifica o conjunto de elementos que fazem parte integral da técnica de grupos focais, nomeadamente: (a) Autoridade do moderador – constitui um elemento essencial de modo a garantir que o grupo se mantém orientado para o tópico da sessão e para que estejam envolvidos na discussão; (b) Capacidade para utilizar sinais verbais e não-verbais

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como parte do processo de aprendizagem – dado que o grupo decorre num contexto cara a cara, as ações e reações de ambos os tipos são informação relevante que o coordenador deve estar atento e exaltar se necessário; (c) Dinâmica de grupo – uma das maiores vantagens deste grupo é a interação que decorre na sala; (d) Atenção concentrada dos participantes – num focus

groups, os participantes sabem com antecedência que vão estar cerca de duas horas em grupo;

(e) Capacidade dos participantes em serem envolvidos diretamente no processo de investigação – este processo é enriquecido pela capacidade dos participantes serem observadores do processo em curso e de poderem participar na tomada de decisão e na modificação enquanto observam e compreendem as dinâmicas em marcha; (f) Segurança do grupo – o facto de estarem cara a cara, discutindo um tema, que é comum a todos, garante um maior empenhamento e envolvimento na discussão, o que não aconteceria se se entrevistasse um a um; (g) A natureza dinâmica do processo – dada a natureza destes grupos, a dinâmica que se instala valoriza os resultados, principalmente se em comparação com os estudos quantitativos muito focados nos números e em constructos muito mais específicos dos que podem surgir numa discussão aberta mesmo que focada como a destes grupos; (h) A rapidez do processo – trata-se de um método de recolha de informação rápido; (i) O custo do processo – dada a rapidez, o custo do projeto é também menor.

Perante estes aspetos apontados pelo autor, Ribeiro (2008) refere que devem ser preparados os seguintes aspetos que constituem o início da sessão, sendo eles: (a) O papel do moderador; (b) A apresentação do moderador salientando o seu papel como facilitador e o garante que se centram no assunto; (c) A discussão breve sobre o objetivo geral do grupo de modo a que os participantes entendam o que vão fazer e o que se espera deles; (d) Os aspetos administrativos e regras; (e) A apresentação breve dos participantes.

O entrevistador deve evitar questões que depreendam respostas sim-não assim como “porquês”, o que conduz frequentemente para racionalizações e respostas socialmente desejáveis ou politicamente corretas (Greenbaum, 2000).

Analisar a informação conseguida através dos focus groups é o mesmo que analisar informação conseguida por meio de outra técnica metodológica de índole qualitativa. O investigador compara as respostas dos entrevistados sobre um determinado tema e examina como é que esses resultados se relacionam com os seus objetivos. Perante isto, é importante saber distinguir a opinião pessoal de um participante acerca de um tema para desta forma saber até que ponto essa opinião é consensual dentro do grupo a ser investigado (Kitzinger, 1995).

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É necessário considerar o período inicial da entrevista, para se atingir bons níveis de interação que, por sua vez, se vai refletir no debate, bem como preservar um espaço para o encerramento da sessão. Quando se excede o tempo definido pode ocorrer fadiga entre os participantes ou intelectualizações excessivas acerca do tema (Debus, 1997).

Neste estudo, optámos por promover um focus groups , para discussão, em apenas uma instituição, por dificuldades em reunir os EE’s das outras instituições superiores. Até porque se tratou de recolher elementos complementares de análise. Assim, os EE’s da instituição participante deste focus group foi selecionado por motivos de conveniência. Denscombe (2010) refere que as amostras por conveniência são construídas mediante as condições do investigador, porque têm tempo e dinheiro limitado à sua disposição e é necessário adaptar a sua realidade ao contexto proposto. No presente caso, a facilidade no contacto com os participantes e a pronta disponibilidade por parte destes, foram fatores fundamentais na escolha dos seus elementos.