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CAPÍTULO III: A (RE)CONSTRUÇÃO DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

3.1. Currículo e avaliação na Formação de Professores de Educação Física

3.1.2. O modelo de avaliação da aprendizagem

As alterações promovidas pela declaração de Bolonha no ensino Superior, implicou uma abertura à mudança, um aperfeiçoamento constante e obrigou o Docente a reequacionar as atividades pedagógicas, redefinir objetivos, planos de trabalho, procedimentos, formas de avaliação, assumir uma nova postura e reformular o seu papel na sala de aula (Sousa, 2011). A autora, alega ainda, que o papel do Docente deixa de ser um simples transmissor de conhecimentos técnicos e científicos e passa a ser um construtor de conhecimentos, promovendo a reflexão nos estudantes para desta forma poder desenvolver as competências técnicas e científicas necessárias para o seu desenvolvimentos profissional.

O verdadeiro docente facilitador de conhecimentos permite o crescimento cognitivo dos seus alunos, dá asas ao poder inovador e criativo dos seus alunos. Fornece-lhes ferramentas que os tornam organizados, autónomos e motivados para uma aprendizagem constante (Sousa, 2011, p. 188).

Assim, perante as alterações promovidas, o Docente teve que se adaptar rapidamente e perceber uma nova forma de se trabalhar. Neste sentido, uma das adoções das alternativas propostas diz respeito à avaliação da aprendizagem. Verificou-se uma a mudança da avaliação

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final do estudante para avaliação contínua em que a única diferença é a não existência de um único exame final, sendo o conteúdo programático dividido por módulos, promovendo aos estudantes vários momentos de avaliação na mesma Unidade Curricular (Esteves, 2008).

Para além das mudanças na avaliação da aprendizagem do estudante, verificou-se alterações na forma como o Docente geria a matéria devido à diminuição das horas de contacto do estudante com o Docente. O trabalho autónomo do estudante no ensino superior, tornou-se assim fundamental para o desenvolvimento de competências do mesmo. Neste sentido, o estudante necessitava realizar trabalho autónomo para poder responder igualmente a todos os objetivos propostos da Unidade Curricular de uma forma satisfatória.

Os Coordenadores referem que apesar da estruturação curricular organizada em ECTS facilitar essa mesma organização, existiram dificuldades em pôr em prática as horas de não contacto com o Docente da disciplina. Na opinião destes, os estudantes não sentem necessidade de procurar conhecimento fora do horário escolar, o que na perspetiva dos mesmos é falso.

No outro dia estavam a dizer que não tinham tempo para as coisas e eu disse: “Vamos só aqui ver a composição das disciplinas em termos de ECTS, que é que isto representa” e mostrei-lhes que o trabalho autónomo, que era a expetativa em algumas disciplinas, envolvia um trabalho significativo, 40, 50, 60 horas por semestre. É muito trabalho. (Coord.4)

Assim, e já com o Processo de Bolonha a decorrer há pelo menos quatro anos no nosso país, para responder às dificuldades das implementações curriculares, os Coordenadores reúnem-se com os representantes dos estudantes e com o docentes das Unidades Curriculares para fazerem um balanço do que deve ser mantido e do que pode ser alterado para estar de acordo com as necessidades sentidas por parte das partes interessadas.

Temos representantes dos estudantes que são eleitos e que fazem, digamos assim, ouvir a sua voz em qualquer momento, sobre qualquer assunto, junto da coordenação. Depois temos essas reuniões regulares que são trimestrais. Reunimos com Professores, reunimos com alunos para fazer esse apanhado, esse balanço de como é que as coisas estão a decorrer. (Coord.4)

Portanto este é um trabalho que nós fazemos até de uma forma exaustiva porque é um trabalho indutivo exatamente para permitir que possam ser incluídas as perspetivas de toda a gente. Nós devemos estar próximos de poder fazer uma coisa tipo check-list, mas até agora não foi possível e fazemos isso. Fazemos esse levantamento. (Coord.4)

Normalmente em reunião dos docentes a nível curricular, para além de termos o cuidado de não haver sobreposição de conteúdos, depois fazemos sempre uma avaliação dos alunos, ou seja, pedimos aos alunos que façam uma avaliação das disciplinas, para termos as certeza que estamos a corresponder às necessidades dos alunos, quer das disciplinas quer dos docentes. (Coord.1)

É preciso falar com os regentes e perceber o ponto de vista dos regentes por relação ao ponto de vista dos estudantes e portanto essas reuniões são reuniões, digamos assim, ficam um bocadinho fora daquilo que é

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normal. Depois temos, um apanhado que fazemos no final de cada ano em relação a todas as disciplinas, em todas as unidades curriculares, uma opinião sobre os aspetos mais positivos e mais negativos do funcionamento quanto a forma e conteúdo das diferentes unidades curriculares. (Coord.3)

No que respeita à avaliação das Unidades Curriculares do curso de formação de Professores de EF, os EE’s referem que a avaliação de algumas disciplinas não foi a mais correta, nomeadamente, na disciplina de Didática Específica. Os EE’s, pretendiam uma avaliação no terreno, através do contacto com a realidade escolar e não uma avaliação teórica, em que os mesmos eram avaliados através de planificações e justificações desses mesmos guiões.

A este respeito Gonçalves et al., (2010) afirmam que em relação à avaliação, o consenso não é generalizado, pois há discrepâncias relativamente às medidas a utilizar para monitorizar o desempenho dos alunos. Mas acerca de um aspeto há uma anuência generalizada, a de que os exames ou testes tradicionais não são, de todo, a melhor forma de se avaliarem os resultados das aprendizagens dos alunos, pois estes não permitem ajudar os alunos na resolução dos problemas. Com efeito, devem passar a incluir mais aspetos como as metas, objetivos e procedimentos para a realização do programa com êxito, isto é, a avaliação deve deixar de se centrar na formulação de juízos sobre cada aluno, para ser entendida como um mecanismo que pode servir para melhorar o processo de ensino e os seus resultados desse mesmo aluno. A avaliação deve desenvolver e não certificar o aluno (Parente, 2004). Para além desse aspeto, existem Unidades Curriculares em que a avaliação é feita de forma díspar. Assim, a avaliação deveria ser realizada para desta forma melhorar a harmonização metodológica entre as mesmas disciplinas da formação do futuro Professor de EF.

Havia diferença entre os Professores. Nós como alunos temos um professor, por isso o que sabemos de outro eventualmente poderá ser ouvido e o que é ouvido não é aquilo que se vê, no entanto parece-me que haviam algumas discrepâncias (no modo de lecionar é natural porque cada professor é único) no modo de avaliar acho que devia ser mais unânime e consistente. (EE5)

Na parte da avaliação, lembro de didática, que é assim, didática é como haveremos de ensinar alguma coisa. Tivemos essas aulas no terreno, tivemos a abordagem do professor a uma determinada modalidade e como ensinar essa modalidade e depois tivemos uma espécie de um trabalho que…. Enfim…. Acho que isso devia-se ver no terreno a forma como se leciona. (EE2)

A avaliação dos EE’s no estágio pedagógico supervisionado, segundo a opinião dos PC’s, está bem aplicada nos moldes atuais, porque existe um regulamento da instituição que promove uma orientação na avaliação por parte dos PC e dos Orientadores de Estágio. De referir, que

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apesar da existência do regulamento, os PC sentem que as avaliações de outros núcleos de estágio vai sendo diferente consoante o Orientador e mesmo o PC.

Assim, na opinião dos EE’s, a avaliação do ano de estágio pedagógico supervisionado dos EE’s foi algo incoerente. Os EE’s, não sentiram que houvesse algum regulamento em que fosse aplicado de igual forma por todos os Orientadores. A diferença entre a exigência pretendida pelos Orientadores aos grupos de estágio da instituição foi sentida por parte dos EE’s. Desta forma, os entrevistados sugeriam que todos os Orientadores se regessem pelo regulamento interno no que à avaliação do estágio pedagógico diz respeito, para que no final, todos os EE’s fossem avaliados de igual forma.

É o órgão máximo, não sei quem é, mas se foi decidido que se tinha que fazer isso, toda a gente tem que fazer o que é pedido, quer sejam planos de aula, aulas assistidas, seminários… Se é para se fazer, toda a gente tem que fazer, porque se um orientador se lembra que para os EE terem mais tempo de fazer uma coisa vão deixar de fazer outra, se isso acontece nuns, os outros vão ser beneficiados por tudo aquilo que lhes era exigido e isso não aconteceu. (EE5)

Claro que devia haver uma espécie de regulamento aqui da Instituição com que se deve e não fazer, porque também houve muita coisa que não achei correto e toda a gente sabe que houve núcleos que não deram as aulas todas, nem assistiram às aulas… (EE1)

É para fazer, é para fazer. Levar do início ao fim e haver uma equidade na avaliação. Nós seguimo-nos sempre pelo documento regulador da Instituição. Isso existe e toda a gente deveria seguir esse documento. (EE2)

Das duas uma, ou mais visitas regulares por parte do Orientador ou então uma ligação mais próxima entre os orientadores e a instituição. (PC8)

Daquilo que percebo do ser orientadora, realmente tem que haver uma maior articulação entre a escola e a instituição superior na formação dos estagiários. (PC2)

Há um conjunto de visitas à escola, intervenções de supervisão na escola que foram cumpridas pelo orientador e que são fundamentais, penso eu. (PC1)

Eles vêm cá uma vez por período verem as aulas observadas, mas depois os nossos estagiários à 2ª feira tem que ir à faculdade e tem que ter encontros regulares com o orientador, por isso o acompanhamento do relatório, tudo o que se faz na escola há sempre uma vistoria também de lá. Por isso é assim, o que funciona sempre bem é, tanto o orientador da faculdade como o professor cooperante tem que ter ali uma relação muito forte para uma pessoa conseguir… Tem que ser muito verdadeiro, tem que ser muito claro e eu acho que as coisas funcionam bem. (PC6)

Para Cunha (2002), a finalidade da avaliação é a de regular a prática educativa. Para tal, à semelhança da componente curricular, há uma recolha sistemática de informações, que depois de analisadas podem promover a qualidade das aprendizagens. Então, a avaliação visa apoiar o processo educativo de modo a sustentar o sucesso de todos os alunos, certificar as competências

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adquiridas pelo aluno e contribuir para melhorar a qualidade do sistema educativo. Neste contexto, a supervisão assume-se como um processo que proporciona desenvolvimento e crescimento profissional, quer ao estudante, quer ao PC, através da partilha, da colaboração e do trabalho de equipa (Silva, 2011).

Nesta perspetiva, Alarcão (2007) delega ao PC o compromisso com a qualidade da formação e do ensino que os EE praticam, sendo que a ação de supervisão deve ser vista para além da sala de aula, mas num contexto mais abrangente da escola, como um lugar e um tempo de aprendizagem para todos. Assim se justifica a presença do Orientador de estágio ser mais regular nas escolas, para promover uma maior interação e reflexão entre o PC e o EE. Os PC, referem ainda que a presença de alguém com muita experiência na área e com uma visão mais abrangente do ensino é sempre importante para o desenvolvimento da identidade profissional do EE.

A corroborar os nossos resultados, Guedes (2011) sobre as funções do PC no processo de supervisão da prática pedagógica, refere que a presença do orientador de estágio deveria ser mais sistemática, já que os PC consideram de extrema importância existir uma colaboração/cooperação mais estreita com a entidade formadora de forma a existir uma reflexão conjunta e um maior acompanhamento durante a prática pedagógica. Com efeito, a articulação entre as instituições de formação e as instituições cooperantes é uma das problemáticas centrais da formação de Professores, revelando-se, muitas vezes, a maior fragilidade de um programa de formação.

As reuniões entre os intervenientes do processo de avaliação, permitem demonstrar aos EE a leitura e interpretação das dificuldades observadas por parte do PC e do Orientador. Isto possibilita ao EE acompanhar a discussão e a procura de soluções e, provavelmente, emitir as suas opiniões de como fazer de maneira considerada eficaz e competente (Albuquerque, Graça, & Januário, 2005).

O processo de avaliação remete ao EE um processo de reflexão, de síntese e de crítica, levando-o a reaprender o aprendido mais ativamente para um melhor desenvolvimento das suas atividades de prática profissional pedagógica. De referir ainda que o Orientador da Faculdade é um mediador no estabelecimento de relações orientadoras e facilitadoras do desenvolvimento das tarefas de ensino dos futuros Professores (Costa, 2012).

Ela é contínua, ela tem momentos de avaliação inicial, o PC teve que traçar o perfil inicial do EE, ela tem uma avaliação intermédia agora no fim do semestre que acabou, tem uma avaliação final feita por dois

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Professores e é feita da parte do PC, é feita no dia-a-dia, e o contacto com os EE é de tal maneira diário que a avaliação em termos conceptuais está bem definida. (PC4)

Eu acho que em relação a essa situação… As grelhas estão relativamente bem definidas, agora como é lógico, o PC tem que saber bem o que é que está a querer avaliar e nesse aspeto não vejo grandes…. Há alguma liberdade independentemente condicionadora dos parâmetros que a faculdade nos coloca, nos elementos e instrumentos que nós temos para observar. (PC9)

Eu acho que o método de avaliação não esta errado. Até é bastante preciso nas classificações a atribuir aos estagiários, tendo perfeitamente balizados os parâmetros e aí eu acho que não esteja errado nem esteja desadequado. (PC8)

Penso que há lacunas e acima de tudo pouca uniformização ao nível dos orientadores. (PC2)

Neste sentido, e apesar de a avaliação estar instituída através de regulamento interno por parte da Instituição formadora, os PC sentem diferenças no modo como os EE são avaliados nos diferentes núcleos de estágio por parte dos Orientadores.

Os PC dizem que o Orientador de estágio é um elemento fundamental no processo de formação do EE, porque, para além da supervisão do PC, é necessário um representante da Instituição formadora no acompanhamento do desenvolvimento do EE, realizando uma reflexão em conjunto com o PC para uniformizar matrizes de pensamento no que há competência docente diz respeito.