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AS ESCOLHAS TEORICAS E METODOLÓGICAS 3.1 A CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

3.3 A geração de dados

3.3.1 Os instrumentos da geração de dados

3.3.1.1 A base documental

A base documental deste trabalho foi constituindo-se desde os primeiros momentos de formulação do projeto. Ao mesmo tempo que toma-se a decisão de conformar um estudo de cunho etnográfico, na hora de proceder a analisar os dados se faz necessário contar com base documental para proceder à triangulação115 115 “Na medida em que a análise vai sendo realizada, e as intuições acerca dos padrões desenvolvidos com base em notas de campo são cruzadas e confirmadas em relação aos dados das entrevistas ou documentos locais, tem-se uma evidência mais forte do que se a evidência viesse apenas de uma fonte de informação. O termo formal para isso é “triangulação”. ERICKSON, em COX e PETERSON Obra citada. p.14

deles. Como afirmam Lüdke e André (1986) “a análise documental constitui uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”. Constituída pelo exame de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou visando uma nova interpretação, no nosso trabalho ela representa principalmente as vozes oficiais.

Utilizamos em princípio o documento conhecido como “Modelo de ensino comum de zona de fronteira, a partir do desenvolvimento de um Programa para a educação intercultural, com ênfase no ensino do português e do espanhol” que foi fruto do acordo bilateral entre Argentina e Brasil que deu início às atividades e ao PEIBF, com “B” de bilíngue. Este documento foi organizado com o projeto já em andamento, e sucessivamente reformulado sem grandes correções a partir de sua extensão aos outros países do Mercosul. Sua importância, além de ser o fundador, é a de contar com a descrição tanto das intenções declaradas da política como a do modelo a ser implementado. Outro documento utilizado é “Política para una nueva frontera o cómo transformar una división en una suma” de autoria de Lía López, coordenadora do programa no nível federal em Argentina, que pretende ser um balance de gestão até esse momento, ano 2007. O documento “Pedagogía de Frontera. La experiencia de la Escuela Verón” do mesmo ano, dialoga com esse texto e inclui vozes de docentes que não são foco da nossa pesquisa mas compartilharam suas experiências no programa e foram nossos colegas nas formações. Incluímos também o recente Boletim do programa da TV Escola “Salto para o Futuro” “Escolas Interculturais de Fronteira” como uma voz oficial, já entendemos que representa aquilo que o MEC exibe para a sociedade por seus canais públicos. Estes constituem o núcleo de documentos oficiais que complementamos com textos de portarias do Diário da União que aportam definições importantes para o estudo, e outros documentos que circulam nos sites oficiais dos ministérios.

Os documentos locais são relatórios vários e registros digitalizados obtidos em campo, que marcam o pulso do que esteve acontecendo até o momento e aporta as vozes de atores fundamentais como os coordenadores regionais e os diretores de escola. Essas vozes são o elo que une a oficialidade com os docentes, e são mais

uma das camadas da cebola que resulta necessário descascar para ver a realidade de uma PL funcionar.

As outras camadas, mais profundas, as obtemos a través da observação e das transcrições das entrevistas e aulas.

3.3.1.2 A observação

Como resulta comum nos trabalhos de campo, se começa observando “tudo” para logo focar em objetivos específicos (BLOMMAERT e JIE, 2010 p.29). Nossa observação visa constatar ou refutar certas expectativas que tinham gerado-se da leitura de documentos, trabalhos acadêmicos, e de anteriores viagens sem objetivos científicos. O exercício de observação vai focando-se nesse estúdio, na medida em que a estratégia é passar tempo nas escolas e sair logo andar pelas cidades para olhar o andamento do quotidiano das cidades acontecendo ao redor dessas escolas. Sem a possibilidade de fazer permanências de longos períodos, ainda é suficiente para ter a percepção que da sentido a muitas coisas escutadas nos depoimentos ou no sentido inverso, é possível perguntar sobre o observado aos entrevistados no seu papel de cidadãos normais. Assim começa a se aproximar os níveis de observação e se fazem a s primeiras conexões. Como dizem Blommaert e Jie (2010: 30)

Descobrir tal coisa demanda, como você pode ver, a observação em vários

níveis, diferentes momentos e lugares - [...]. E também (ainda mais

importante) exige fazer conexões entre pedaços de informação recolhida nos diferentes níveis, tempos e lugares- este é o trabalho de contextualização: coisas que você pode encontrar aqui precisam ser ligadas a coisas encontradas em outros lugares na tentativa de estabelecer conexões contextuais ("isto é um efeito daquilo ',' isto pertence à mesma categoria que isso", "isso só pode ser entendido em relação com"...)116 (BLOMMAERT E JIE, 2010: 30) (grifo no original)

Esses diferentes níveis, momentos e lugares localizam-se tanto dentro das escolas como fora delas. Momentos de observação importantes são tanto os vividos como testemunha de aulas, as festas escolares e as viagens feitas junto às professoras, como as múltiplas travessias pela Ponte da Integração e seus 116 “Finding out such thing demands, as you can see, observation at various levels, different times and places-[...]. And it also (even more importantly) demands making connections between bits of information gathered at the different levels, times and places- this is the work of contextualisation: things you can find here need to be connected to things found elsewhere in attempts to establish contextual connections ('this is an effect of that', 'this belongs to the same category as that', 'this can only be understood in relation to that' …)”

respectivos tramites de aduana, as compras, conversas com motoristas e com a família que presta o alojamento.

A observação participante neste caso passa pelos momentos em que o pesquisador convive dentro de uma sala de aula e pode falar com alunos e docentes, quando participa de atividades propostas nos momentos da formação, quando divide a mesa com docentes e autoridades durante um recesso e também durante uma comemoração, acompanhar as viagens, todos momentos “naturais” na vida dos professores. Podemos supor também que durante os momentos vividos fora das escolas o pesquisador participa do quotidiano da vida das cidades como passageiro de ônibus junto aos trabalhadores do CUF, ou do remisse, como cliente do restaurante ou do mercado, como paciente no Pronto Socorro etc. tendo por objetivo participar do contexto da fronteira e visando fazer as ligações quando possível.

Como um quebra-cabeça, observações registradas em fotografias e apontes começam fazer sentido quando contrastadas com entrevistas e vídeos onde as pessoas falam e compartilham suas impressões com o pesquisador.