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Para poder indagar sobre o PEIF precisamos ir além de documentos oficiais, e o primeiro passo para isso, antes de ingressar na experiência de campo, é fazer uma ampla pesquisa de estudos sobre o objeto, e nesse caminho foi possível achar alguns artigos com o histórico do programa, alguns relatos de experiências e ainda não foi possível acessar a relatórios oficiais das escolas. As teses e dissertações às quais tivemos acesso proporcionam dados e conclusões desde diferentes perspectivas teóricas que resultam úteis para a ampliação do conhecimento acadêmico e que escolhemos para analisar em este texto. Elas são, em ordem cronológica:

CARVALHO, F. O. Fronteiras instáveis: inautenticidade intercultural na escola de Foz do Iguaçu, Tese de Doutorado (Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP, 2011.

COUTO, R. C. do. O currículo como produtor de identidade e de diferença: efeitos na fronteira Brasil-Uruguai. Tese de Doutorado (Educação) Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS, 2012.

FLORES, O. V. O programa escola intercultural bilíngue de fronteira: um olhar para novas políticas linguísticas. Dissertação de Mestrado (Letras) Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Cascavel, PR, 2012.

OLIVEIRA, R. A.. Programa Escolas Bilíngues de Fronteira : das generalizações do documento às especificidades da fronteira entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú. Dissertação de Mestrado (Linguística) Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, 2012.

SAGAZ, M. R. P. Projeto escolas (interculturais) bilíngues de fronteira: análise de uma ação político linguística - Dissertação de Mestrado (Linguística) Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2013.

CAÑETE, G. L. R. Representações sobre a Política Linguística para as escolas de fronteira entre Brasil e Uruguai: integrar para quê? Dissertação de Mestrado (Linguística Aplicada) Unisinos, São Leopoldo, RS, 2013.

FERNANDES, E. A. A. Experiencias linguísticas: como se faz a educação bilíngue com implementação da metodologia do projeto escola Intercultural Bilíngue de Fronteira na fronteira ente Brasil e Paraguai. Dissertação de Mestrado (Letras) Universidade Federal de Grande Dourados, Dourados, MS, 2013.

PEREIRA, S. M. M. da Veiga. Programa de escolas interculturais bilíngues de fronteira: integração e identidade fronteiriça. Dissertação de Mestrado (Geografia) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2014.

Ficou fora desta análise a dissertação de Alves (2011) “Entre os muros da escola: experiências linguísticas bilíngues em uma escola pública em Ponta Porã/Ms. Dourados, MS” apresentada na Universidade Federal de Grande Dourados-MS, que achamos que por falar de experiências concretas com o PEIF, resulta de muito interesse para nossa análise, mas infelizmente não se acha disponibilizada até agora para seu acesso via digital.

A ordem de apresentação da nossa análise não será essa, preferimos seguir um outro critério, que é a distância da adscrição teórico-metodológica que cada uma delas têm com nossa pesquisa, e a densidade dos dados que aportam. No caso da tese de Pereira, da área de Geografia, ela fornece uma série de dados e descrições que dialogam diretamente com outros trabalhos apresentados aqui, e que determinaram que ocupasse esse lugar na apresentação.

Em primeiro lugar, a tese de Carvalho é uma tese da área de Educação, que contribui aos nossos fins pelas descrições que ela faz das experiências docentes com o PEIF e a relação que o programa tem com o poder político local. Guiada pelo conceito pragmático de autenticidade/inautenticidade cultural (TAYLOR, 1996), a tese é mais ampla, faz um estudo em outra escola, da comunidade libanesa, que

não integra o programa, para dar conta de suas afirmações. Resulta especialmente rica em questões culturais para ter em conta e comparar.

Na continuidade, a dissertação de Oliveira resulta particularmente útil pelo mergulho que ela faz nos documentos, o confronto que faz com seus dados secundários, buscando entender se o escrito no papel se faz realidade em campo, e alguns detalhes que outros trabalhos não apontaram. Seguindo o percorrido, a dissertação de Sagaz é importante porque tem profusão de dados, a pesquisadora formou parte da equipe do diagnóstico sociolinguístico apresentado, está solidamente estruturado e, no nosso entender, é um desses textos que fecha uma etapa, de referencia sobretudo para quem compartilha o tipo de análise de política linguística que ela faz. O central ali é avaliar a distância entre o escrito em documentos e a implementação no campo.

A pesquisa de Greisi Cañete tem como objetivo geral discutir as representações de professores, gestores, pais e alunos sobre a aplicação do Programa Escolas Interculturais de Fronteira tentando responder se elas podem interferir na implementação do Programa. Utiliza como referencial teórico as representações sociais (MOSCOVICI, 1978), as representações e a ação da linguagem (BRONCKART, 1999, 2006), questões de política linguística (CALVET, 2007) e identidades culturais (HALL, 2005).De natureza qualitativa e de cunho etnográfico, essa pesquisa entrevistou a docentes, gestores, pais e alunos das escolas envolvidas, utilizou o diário de campo e fez levantamento documental do marco regulatório do PEIF. A metodologia de análise baseou-se na interpretação do agir (BULEA, 2010), e a análise dos dados nos Segmentos de Tratamento Temático das entrevistas.

A dissertação de Stella Maris Veiga Pereira, da área de Geografia, examina como a ideia de integração entre os Estados do Mercosul apresentada pelo PEIF, ao ser interpretada pelos atores da região de fronteiram, se sobrepõe a construções históricas da representação de fronteira diferentes das propostas contemporâneas. O aspecto de reconstrução histórica da fronteira é um dos pontos salientes deste trabalho, que utiliza como metodologia a revisão bibliográfica, pesquisa documental e trabalho de campo. A centralidade da questão territorial percorre o trabalho, mostrando que na região fronteiriça existem relações de poder que emergem das

diferenças das populações que lá habitam; diferenças culturais, econômicas, sociais. Esse território também se caracteriza por processos de cooperação explicados pela formação socioespacial da região da fronteira. No tocante ao PEIF, descreve como as escolas em regiões de fronteira, como instrumentos de integração, encontram obstáculos importantes no território. Descreve como equivocada a intenção de utilizar as línguas oficiais dos dois países como elemento de integração das populações residentes na fronteira, já que pouco considera a formação socioespacial daquela região e não valoriza um componente territorial e de identidade daquela população que é a comunicação através do portunhol.

A dissertação de Eliana Fernandes traz a experiência dela como gestora de uma escola dentro do PEIF e as transformações no Projeto Político Pedagógico da instituição, mostrando o que aconteceu dentro das salas de aula ao se modificar a visão sobre as línguas nacionais em relação com a legitimação das vozes das crianças paraguaias na escola brasileira, falantes de espanhol e guarani.

A tese de Regina Couto apresenta analisa práticas e discursos na fronteira brasileira e uruguaia, processados por meio do currículo. Coloca em dialogo os currículos de Historia e Geografia com a Proposta do PEIF. Produz desse modo uma intensa reflexão sobre a diferencia e a construção de identidades nos discursos sobre a nacionalidade, a diferença e a integração, com as ferramentas teóricas dos Estudos Culturais e a análise do discurso de inspiração foucaultiana.

Para fechar a retomada dos trabalhos sobre o Programa, apresentamos a dissertação de Flores, que se insere no campo da Linguística aplicada e indaga sobre as práticas pedagógicas no PEIF, identidades, interculturalidade e bilinguismo, e reflete sobre algumas questões de política educativa ao redor disso. Por serem a metodologia, marco teórico e, sobretudo, as preocupações muito próximas das nossas, a inserimos no final deste percurso.

Tendo apresentado brevemente os trabalhos, começamos a descrição análise das produções com mais profundidade.

“Fronteiras instáveis: inautenticidade intercultural na escola de Foz do Iguaçu.”

Este trabalho tem como tese “perceber como o discurso intercultural vai sendo construído politicamente para depois se tornar um discurso do sujeito, ou seja, uma '‘apropriação’' que nem sempre será autêntica.” (CARVALHO, F. O. 2011:77). Centralmente, parte da premissa de que as propostas de integração partiram dos poderes centrais e que não foi uma demanda da população iguaçuense, o que decorrerá na impossibilidade de integração, dada a “inautenticidade” manifesta. Nos objetivos da pesquisa lemos:

• Comprovar que há em Foz do Iguaçu uma inautenticidade intercultural.

• Perceber como o discurso da globalização interfere na realidade local e quais modificações a hibridização provoca na cultura;

• Entender se as culturas que convivem no mesmo território processam as informações globais da mesma forma;

• Compreender como o discurso da integração cultural foi construído ao longo da história de Foz do Iguaçu e de que maneira ele interfere no cotidiano dos moradores desta cidade.(CARVALHO, F. O. 2011:20)

Não podemos deixar de apontar que só um dos objetivos aceita certa provisoriedade introduzindo um “se” na sua formulação. Mesmo sendo muito interessantes as questões apresentadas, no nosso entender, formulam-se como acabadas, mais tendentes a comprovar do que a descobrir. Ao longo da leitura, fica latente a pergunta se isso é só um modo de formulação diferente próprio da autora ou tem a ver com a sua perspectiva teórico-metodológica, mas os temas apontados são duma natureza que os faz atrativos o suficiente para mergulhar no texto.

A pesquisadora tomou como objeto de estudo duas escolas muito diferentes nas condições socioeconômicas e com problemáticas muito distantes no que se refere às dificuldades para ter sucesso na integração intercultural. Ambas escolhas, uma escola integrante do PEIF e a escola da comunidade libanesa, estão atravessadas de diferentes maneiras pela globalização: a primeira pelos imperativos do Setor Educativo do Mercosul, e a segunda pela origem étnica e imigrante da população que atende e o discurso mediático que desde meados dos anos 90 atinge à comunidade árabe e à Tríplice Fronteira.

Resulta frutífero neste caso o trabalho que se faz de seguimento retrospectivo (no momento da pesquisa estava suspenso) do andamento do programa

intercultural, com docentes entrevistados e revisão de arquivos, visando comprovar a verdade de afirmações como a seguinte:

Segundo documento oficial, o PEBF- nasceu da necessidade de estreitar laços de interculturalidade entre cidades vizinhas de países que fazem fronteira com o Brasil. Ou seja, o diálogo e as trocas culturais surgem como se fossem uma necessidade dos habitantes dessas regiões. Entretanto, nossa tese vai de encontro a esse argumento já que acreditamos que o imaginário intercultural presente no cotidiano de Foz do Iguaçu é uma construção política e ideológica e não uma necessidade autêntica dos moradores da região. (CARVALHO, F. O. 2011: 77-78)

É comprovável a primeira afirmação na apresentação do dito documento, entanto que a segunda afirmação decorre do fato de o próprio documento ser escrito pelos governos federais, não pela comunidade. Dessa visão surge a necessidade de recorrer aos protagonistas para ouvir o que eles tem a dizer, e os conceitos de “autenticidade” e “inautenticidade” resultam chave para a autora. Ela toma o conceito de Richard Taylor, filósofo canadiense teórico da Modernidade, o multiculturalismo e a identidade desde a tradição pragmática. Assim, ele entende a autenticidade como

a propriedade dos sujeitos de serem dotados de sentimento moral, de um sentimento intuitivo que lhes permite interpretar e decidir-se pelo bem ou pelo mal, ou seja, escolher suas ações e responsabilizar-se por elas. Agir de forma autêntica é atuar no espaço público ciente de suas escolhas e sendo fiel a si mesmo.”14 (Taylor, 2011 apud Carvalho 2011)

e a inautenticidade como “ação alienada do sujeito, a falta de percepção sobre as configurações morais e elos referenciais significativos que formam a sua identidade.” (CARVALHO, F. O. 2011:138) Logo se segue que:

a '‘inautenticidade intercultural’' faz com os sujeitos de culturas diversas produzam ações ou práticas mais próximas do protocolo e da institucionalização da cultura do que do contato qualificado criando relações com o outro. (CARVALHO, F. O. 2011:139)

No capítulo dedicado ao PEIF, Carvalho cita conversas com os docentes integrantes do Programa e os coordenadores, onde apontam todas as dificuldades que tiveram e a falta de compromisso da prefeitura,

muitas pessoas apontaram que a paralisação do programa em Foz do 14 CARVALHO, F.O. O Programa Escolas Bilíngues de Fronteira: cruzando territórios. Reconhecendo Culturas? em Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.2, n.5, p.132-148, maio/ago. 2012 disponível em http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/educacao/article/view/2152/pdf_139

Iguaçu ocorreu devido ao Prefeito Paulo Mac Donald Ghisi nunca ter acreditado no Programa Escolas Bilíngues de Fronteira. Para elas, o projeto foi “empurrado garganta a baixo” pelo Governo Federal, não havendo possibilidade de recusa pela Prefeitura. As docentes afirmam que ao longo do projeto nunca houve uma vista oficial do Prefeito ou uma menção do Programa em qualquer evento oficial.

A falta de incentivo do Prefeito Municipal acarretava em dificuldades operacionais para a manutenção do projeto, tais como o agendamento do transporte que levaria as professoras a cruzar a fronteira, o chamado cruzes, e o apoio para fazer com que as crianças da escola brasileira e argentina pudessem frequentar o território vizinho. (CARVALHO, F. O. 2011: 98)

Essas dificuldades e omissões acabaram na suspensão do Programa no ano 2010. A autora carateriza o PEIF como uma política que não foi nascida de demandas da comunidade, e por essa circunstância é associada à “inautenticidade cultural” da proposta. Em outros trechos podemos ler que

… o diálogo cultural e a interculturalidade não faz parte do horizonte dos sujeitos envolvidos nesta investigação. Entretanto, defendemos a tese de que isso não é resultado de subjetividades especificas, mas de subjetividades que atuam num espaço onde estas dimensões não estão presentes de forma autêntica. (CARVALHO, F. O. 2011: 142)

Ao concluirmos esta investigação não temos dúvidas de que a tese de que há na cidade de Foz do Iguaçu uma inautenticidade intercultural é verdadeira. Ao longo da história da região, acreditamos que o discurso da

integração e da convivência cultural promovido pelo Estado Brasileiro em relação aos países que compõem a Tríplice Fronteira altera as práticas culturais dos moradores de Foz do Iguaçu. Entretanto, o interesse por um diálogo cultural com os diversos grupos identitários que ali vivem, é mais resultado deste projeto político, alterado ideologicamente em diversos

momentos, do que uma necessidade autêntica dos moradores da cidade de Foz do Iguaçu.

Ao investigarmos o Programa Escolas Bilíngues de Fronteira e a Escola Libanesa Brasileira percebemos que o diálogo cultural e a interculturalidade

não faz parte do horizonte dos sujeitos envolvidos na investigação.

(CARVALHO, F. O. 2011: 155)(grifo nosso)

Surpreende o fato de atribuir “alterações” nas práticas culturais ao discurso da integração, ligado a um projeto político, e não fazer menção dos outros discursos (os imperiais português e castelhano, o religioso jesuítico, o nacionalista, o militar) que circularam, e muitas vezes conviveram, na história da constituição e delimitação do território fronteira, e que moldaram o “horizonte dos sujeitos”15 provocando a 15 “As coisas assumem importância em contraste com as circunstâncias de inteligibilidade. Chamamos isso de

ausência das mencionadas dimensões “diálogo cultural” e “interculturalidade”. Ao mesmo tempo retomamos a discussão página 26 sobre o imaginário intercultural, onde Carvalho denuncia ele como uma “construção política e ideológica” e perguntamo-nos se existe algum imaginário que não seja uma construção político- ideológica. A “necessidade autêntica” não é acaso uma construção política e ideológica sobre a necessidade? A circulação destes discursos é particularmente visível dentro de uma instituição como a escolar, componente de um sistema regido pelo Estado, e muito mais no contexto de fronteiras entre Estados-Nação, onde os por poderes externos são ostensíveis como, por exemplo, os destacamentos militares. Assim, retomamos as palavras que ao início do trabalho citava a autora ao problematizar a questão da fronteira:

a fronteira é um marco que limita e separa e que aponta sentidos socializados de reconhecimento.(...)Fronteiras, antes de serem marcos físicos ou naturais, são sobretudo simbólicas, referências mentais que guiam a percepção da realidade e dialogam com a identidade. As fronteiras são, sobretudo, culturais, ou seja, são construções de sentido, fazendo parte do jogo social das representações que estabelece classificações, hierarquias e limites, guiando o olhar e a apreciação sobre o mundo. (PESAVENTO, 2002, apud CARVALHO, 2011: 16)

A presença de sucessivas orientações políticas que constroem, com suas ações e discursos, as citadas “referências mentais”, merece, no nosso entender, uma historização mais aprofundada.

Ao concluir a tese, Carvalho retoma o tema da distância entre discurso e prática pedagógica:

Acreditamos que a falta de clareza sobre as ações tanto individuais quanto coletivas dos professores e gestores das escolas investigadas reforça a tese da inautenticidade intercultural presente em Foz do Iguaçu. Faltam a essas iniciativas uma compreensão e um envolvimento que vá além da institucionalização do discurso da interculturalidade. (CARVALHO, 2011:141-142)

Podemos coincidir provisoriamente nas ausências apontadas pela autora, muito mais se o reclamo passa pelo envolvimento dos atores na formulação de políticas públicas que os afetam diretamente, mas na análise efetuada por ela, notamos uma insuficiente problematização das ideologias circulantes, e tanto a fronteira como a globalização, aparecem mais como dados estáticos que mereceriam mais atenção.

“Programa Escolas Bilíngues de Fronteira : das generalizações do documento às especificidades da fronteira entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú.”

Esta pesquisa se foca na perspectiva de alguns professores participantes do programa entre 2004 e 2006, a respeito do nível de bilinguismo dos alunos apontado no diagnóstico sociolinguístico que serviu de base para escrever o Modelo de ensino comum em escolas de fronteira, o documento base do PEIF. Aquele diagnóstico apontava que as crianças argentinas tinham um nível razoável de bilinguismo, produto de um contato cotidiano com a língua portuguesa via mídia, contato comercial, e via família, enquanto que não acontecia o mesmo no lado brasileiro. A pesquisa apresenta uma confirmação dos professores daquela afirmação. O texto aporta evidências que permitem fazer críticas ao documento base do PEIBF que são significativas, algumas delas válidas em geral e outras comprováveis ao menos na zona de Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú:

• No par Interculturalidade-Bilinguismo, que deu o primeiro título ao Programa, a autora não consegue identificar uma definição ou adscrição teórica concreta do termo Bilinguismo;

• as generalizações que o Programa apresenta sobre o nível de bilinguismo das crianças de um ou outro lado da fronteira não se confirmam na região estudada, questionando neste ponto o levantamento sociolinguístico que dera origem às ações do PEIF, realizado pelo Instituto de Políticas Linguísticas (IPOL)16;

• as professoras reproduzem o discurso do documento e revelam um contexto adverso ao desenvolvimento do bilinguismo.

A autora então, baseada nesses fatos aponta que

a função social das línguas nas comunidades brasileira e argentina interfere diretamente no desempenho das crianças no projeto e consequentemente reforça a representação das crianças evidenciadas pela documentação publicada em 2008. (OLIVEIRA, 2012:14)

16 Os profissionais deste instituto asessoraram aos docentes do programa durante os primeiros anos de andamento do PEIF.

A pesquisa então é orientada para (OLIVEIRA, 2012:14) entendendo que dita generalização tem influência no andamento das atividades nas aulas. Assim chegamos aos propósitos perseguidos por Oliveira:

• a necessidade de compreender mais sobre alguns fenômenos linguísticos evidenciados pelas relações que se dão na fronteira; • no âmbito da comunidade escolar, particularmente no cerne da

política educativa, priorizar a análise das representações dos cidadãos fronteiriços nos documentos regulamentares conferidos ao Programa de Escolas Bilíngues de Fronteira;

• discutir no perímetro acadêmico sobre o valor e a importância atribuídos pelas autoridades públicas ao fornecimento de uma educação que valorize o que há de peculiar na fronteira.

• refletir sobre uma formação bilíngue baseada em prerrogativas que reconheçam os valores meneados nas comunidades fronteiriças, com a finalidade de evidenciar o que há de concreto e substancial, para que não haja uma supervalorização de uma comunidade em detrimento da outra com base em dados aparentes, superficiais, surtindo ideologias discriminatórias e facilmente incorporadas pelo senso- comum. (OLIVEIRA, 2012: 17)

e às perguntas de investigação:

• A partir de quais critérios as crianças brasileiras foram consideradas como “grandemente monolíngues” e as argentinas “parcialmente bilíngues”?

• Qual é a percepção das professoras brasileiras sobre essa generalização expressa no documento?(OLIVEIRA, 2012: 15) A escolha metodológica foi pela documental de caráter interpretativista que, combinada com técnicas investigativas utilizadas para gerar dados secundários, como entrevistas, questionários e análise de conteúdo, lhe permitiram construir uma estratégia de análise em três etapas: uma interna de crítica ao documento, outra