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AS ESCOLHAS TEORICAS E METODOLÓGICAS 3.1 A CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

3.2 O campo da pesquisa

3.2.1 As escolas de fronteira e a pesquisa de campo.

3.2.1.2 As escolas de Santo Tomé

As escolas de Santo Tomé, pela conformação do sistema educativo argentino, estão regidas pelo Consejo General de Educación, dependente do Ministerio de

Educación de la Província de Corrientes. A presençaa desse organismo na região é através das supervisões regionais.

A escola primaria argentina equivale ao Ensino Fundamental I e até a 7ª série do Ensino Fundamental II, atendendo, idealmente, crianças até a idade de 12 anos. Nos casos que nos ocupam, a tendência é que permaneçam com sobre idade devido às dificuldades de aprendizagem que verificam-se em número importante de alunos, ligadas muitas delas à condição socioeconômica precária.

A modalidade de tempo integral não está implementada na cidade, pelo que as escolas permanecem abertas durante as tardes para atividades extracurriculares ou de apoio aos alunos com dificuldades, que assistem voluntariamente. Por essa circunstância as escolas não contam com refeitórios, pelo que o lanche que ganham é consumido dentro das salas de aula.

Escola Boga

Esta escola é centenária, fez 100 anos em 2015 quando já tínhamos concluído nosso trabalho de campo. Localiza-se numa zona de periferia, perto de uma linha ferroviária desativada, numa estrada de chão. Atende uma população de baixa renda, com problemas de repetência entre os alunos, que mora na zona.

No mesmo quarterão encontra-se um Jardín de Infantes Nucleado (Centro de Educação Infantil). É uma construção espaçosa e tipica da década de 1950, uma etapa de expansão da cobertura de educação primária. A escola conserva ainda muito mobiliário e lembranças de outras épocas exibidas nos corredores amplíssimos. Como a maioria das escolas argentinas, cartolinas com os próceres da pátria decoram os corredores aludindo às datas cívicas.

Escola Surubí

A escola que chamamos Surubí também é uma escola histórica, fundada em 1918, cujo prédio conserva o frente original preservado depois de uma reconstrução no ano 2000, necessária pela destruição ocasionada por um tornado. Localiza-se no centro, muito próxima à Prefeitura, a Igreja Matriz e a praça principal.

Integrada al programa em 2006, durante esse tempo foi parceira de mais de uma escola são-borjense até ficar associada com a escola Butiá. Ela conta com amplos espaços comuns (pátio coberto, usado como salão de usos múltiplos e dois pátios com grama) uma sala de informática, uma modesta biblioteca, e a sala de direção e vice direção. As salas de aula estão distribuídas ao redor dos pátios em dois construções diferentes com amplos corredores. Todas as salas onde não se dão aulas têm cartazes indicativos bilíngues.

A comunidade que atende é população de baixa renda que vem de longe. Ao contrário da outra escola santotomenha os alunos vêm de outros bairros, o que motiva que as inclemências climáticas produzam uma grande baixa no nível de comparecência, sobre tudo nos horários das aulas de reforço. Nesses dias, fomos testemunha, a clássica divisão por séries é substituída por um grupo único de trabalho, que só se divide para trabalhar conteúdo específico. Este era o panorama geral com que as professoras brasileiras se deparavam nos cruces: uma sala multisseriada. Com os mesmos problemas da outra escola.

3.2.2 Os professores

Antes de particularizar nos docentes das escolas objeto do nosso trabalho, resulta importante apontar algumas questões gerais que têm a ver com o funcionamento dos sistemas educativos nacionais e do PEIF em geral que fazem parte da problemática estudada. Identificamos as nacionalidades precisamente porque não são particularidades da região mas diferenças que podem aparecer em qualquer ponto que estivéssemos estudando da fronteira.

Os professores brasileiros

• São formados em alguma Universidade ou Faculdade da região (pedagogos e licenciados, para o Ensino Fundamental II), ou pelo Curso Normal (magistério, ligado ao Ensino Fundamental I).

• Cumprem suas funções durante a manhã e a tarde, podendo atender durante esse período somente uma escola.

• Os diretores são eleitos pelos docentes.

Os professores argentinos

• São formados por instituições chamadas Institutos de Formación Docente, vinculados ao âmbito provincial, sucessores das antigas Escuelas Normales Superiores. Somente as professoras de Português são Licenciadas formadas na Universidade.

• Geralmente cumprem um turno de trabalho só, podendo atender no contra- turno uma outra escola ou outra turma se a escola tiver dois turnos.

• As participantes do PEIF foram escolhidas por concurso, e suas tarefas estão ligadas com exclusividade a ele.

• Os diretores são escolhidos mediante postulação e avaliação da pontuação num listado público.

EMEF Jerivá

A professora entrevistada coordena as atividades do PEIF como coordenadora pedagógica, junto com a professora de espanhol. Ela mesma participou dos cruces antes do 2010. Essa circunstância faz com que o envolvimento que ela tem seja maior e que, devido a sua posição, possa tomar decissões autonomamente, como o uso da verba federal para contratar oficinistas. Ela tem participado de todas as atividades do programa, como seminários, encontros e capacitações, para os que produziu materiais. Atualmente seu foco está na gestão. Ela não fala espanhol.

EMEF Butiá

O grupo entrevistado na escola é bem variado, dado que foi possível permanecer mais tempo e interagir mais. Está composto por 5 (cinco) professores vinculados ao programa. O envolvimento da equipe de gestão com o PEIF é grande, e a receptividade do grupo da escola em geral também. Além de professoras que participaram nestes anos dos cruces, a professora de espanhol também se encontra

formando parte da proposta e promovendo e participando de atividades vinculadas ao programa. Nenhum dos atuantes na EF I trabalha em outra escola. Os professores de área (História, Cs. Naturais, Educação Física) também foram informantes. A relação com a outra escola é fluida.

Salvo a professora de espanhol, nenhum docente diz falar essa língua.

Escola primária Boga

As professoras entrevistadas, foram as participantes de cruces, a Diretora e a professora de Português que também faz parte da equipe PEIF. A Diretora está envolvida na proposta mas durante sua gestão não houveram cruces. Todas as professoras foram formadas no IFD Jorge Luis Borges, o formador de professores da região, menos a professora de português, formada na UNAM. O grupo está consolidado, e divide tarefas durante o turno vespertino, chamado “Terminalidad educativa” para quem debe terminar a escola, e “apoio escolar” para os alunos com dificuldades. Elas têm uma relação pessoal boa, e compartilham a empolgação pela tarefa de promoção da interculturalidade e também a inquietude pela instabilidade laboral. É marcada a diferença que faz o corpo docente regular da escola com elas, dado marcado pela diretora. Também não têm uma relação fluida com a escola Surubi, fato atribuído à atitude geral do outro grupo. Salvo a professora de português, nenhuma diz saber falar essa língua.

Escola primária Surubí

Aqui foram entrevistadas separadamente a equipe de gestão composto por Diretora e Vice diretora, e o grupo de 4 (quatro) docentes que participaram dos cruces. O grupo é maior mas a efetiva participação tanto nos cruces como nas entrevistas se reduz a esse numero.

Igual que acontece na outra escola as professoras foram formadas no IFD Jorge Luis Borges, menos uma das professoras formada na sua cidade de origem, Paso de los Libres. O grupo também está consolidado, e da mesma maneira divide tarefas durante o turno vespertino, entre “Terminalidad educativa” e “apoio escolar”

para os alunos com dificuldades. Aqui também notamos uma relação pessoal boa, e a empolgação pela tarefa de promoção da interculturalidade e também a inquietude pela instabilidade laboral. O corpo regular da escola também não tem boa relação com elas, o que foi apontado com preocupação por elas. Elas não fazem referência ao grupo da outra escola correntina.

Nenhuma delas diz falar português.