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CAPÍTULO 2 – LEITURA E APRENDIZAGEM: REVISÃO DA LITERATURA

3. Promoção e animação da leitura

3.3. A biblioteca escolar: um recurso fundamental na formação de leitores

activos, reflexivos e autónomos. Pretende-se formar leitores capazes de criarem um projecto individual de leitura de acordo com várias motivações (ler por prazer, dever, interesse, necessidade), capazes de lerem em vários suportes, com competências para se apropriarem de diferentes tipos de textos escritos, e também capazes de usarem correctamente diversos espaços de leitura.

A leitura está, desde longa data, associada à escola, assumindo um carácter de obrigatoriedade. Em contraponto, a biblioteca escolar cria situações onde a leitura tem uma natureza diferente, pautada por ideias como o prazer, a descontracção e a libertação, pois é um espaço aberto, de características diferentes das salas de aula, desvinculada da rigidez das disciplinas e da avaliação. Esta ideia é defendida por Sobrino et al (2000) que consideram a escola como o espaço natural da leitura, mas “existe, no entanto, um lugar específico que é a aprazível morada da leitura impressa, ou seja, a biblioteca.” (p. 61). Também o Manifesto da UNESCO para as Bibliotecas Escolares (1999: 2) preconiza um conjunto de objectivos da biblioteca escolar e, de entre eles destacam-se os seguintes: “Desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura, da aprendizagem e da utilização das bibliotecas ao longo da vida” e “Promover a leitura e os recursos e serviços da biblioteca escolar junto da comunidade escolar e do meio.”

Tendo em conta o que ficou exposto, consideramos que a leitura como hábito e como prazer deve ser uma das prioridades da biblioteca escolar, enquanto parte integrante do processo educativo. A biblioteca escolar é, deste modo, um lugar privilegiado para criar e/ou desenvolver o gosto pela leitura por diversas razões. Destacamos dois aspectos que nos parecem essenciais:

• A biblioteca escolar congrega uma grande variedade de textos (jornais,

revistas, poesia, ficção, teatro, BD, dossiers temáticos, etc.) e em diversos suportes (livro, vídeo, CD-Rom, DVD, …) que asseguram uma vasta possibilidade de escolha pelos potenciais leitores.

• O funcionamento da biblioteca escolar permite inúmeros intercâmbios entre

os adultos e as crianças ou jovens a propósito da leitura e possibilita ocasiões de contacto afectivo com os textos, nomeadamente através de actividades de animação para a leitura (que exemplificamos mais à frente na secção 3.4.).

O desenvolvimento das competências de leitura é da responsabilidade de todos os intervenientes no processo educativo, como antes mencionámos. No entanto, cabe à equipa da biblioteca escolar um papel fundamental no desenvolvimento das mesmas e na promoção do gosto pela leitura. Segundo Yabar (2007: 1), “animamos y promocionamos la lectura para proveer a nuestros niños de las herramientas básicas que lo ayuden a comprender su realidad y contrastarla con otras, desarrollando adecuadamente su personalidad y enriqueciendo su lenguaje.” Para isso, a

biblioteca escolar deve proporcionar um clima aprazível, confortável, onde os utilizadores sintam a necessidade de ler e escrever, favorecendo a sua participação activa, reflexiva e crítica.

Para Bastos (1999: 291), a leitura é uma actividade individual, acto voluntarioso e silencioso, que requer calma e quietude, atenção e concentração. Por seu lado, a animação da leitura é uma actividade colectiva, social, é um acto dirigido e ruidoso, que implica mobilidade e tem carácter lúdico, festivo e gratuito. A animação da leitura exige planificação de estratégias que vão desde a leitura em voz alta até ao debate como momento de partilha de leitura e, além disso, o animador deve ser ele próprio um entusiasta da leitura. De acordo com a autora, neste domínio, não há "receitas infalíveis nem fórmulas mágicas, mas é na variedade das experiências tentadas e na troca de conhecimentos, que cada animador vai ganhando confiança" (idem, ibidem). Na biblioteca escolar devem, pois, estar asseguradas condições que permitam favorecer aquela variedade e troca, propícias a experiências e conhecimentos diversificados.

Em particular, e porque a biblioteca escolar visa formar leitores autónomos, deve proporcionar, como ressalta Iturbe (2004: 26), experiências de leitura estimulantes, emotivas e satisfatórias, sem esquecer o desenvolvimento de habilidades intelectuais, psicológicas e afectivas. Assim, “o aluno só se tornará leitor se desenvolver um comportamento de leitor. Para isso terá de fazer da leitura um projecto de vida.” (Sardinha, 2007: 6)

A escola e a sua biblioteca são fundamentais para o desenvolvimento desses hábitos de leitura, pois é lá que, relembramos, existe uma grande variedade de textos e em vários suportes que permitem satisfazer os gostos dos leitores. Também o funcionamento da biblioteca permite intercâmbios entre o adulto e a criança ou o jovem, proporcionando o contacto afectivo com os textos através de um conjunto de actividades de animação da leitura.

A biblioteca escolar pode ser “o grande motor do fomento da leitura e de actividades com ela relacionadas” como refere Bastos (1999: 295). Tal só será possível se for traçado um plano sistemático, adequado, em que os mediadores acreditem que podem colaborar na formação de leitores proficientes, activos, reflexivos: “ensinar a ler, motivar para a leitura terá que ser algo em que se acredita. Nenhuma estratégia terá o resultado desejado se não houver crença no seu valor.” (Sardinha, 2007: 6). Para além disso, é importante que o material disponibilizado vá ao encontro dos interesses do

público-alvo, que seja acessível, e que o próprio ambiente seja convidativo à prática da leitura. É, ainda, indispensável que haja tempo livre e mediadores capazes de motivar.

A biblioteca escolar é essencial na promoção da leitura e na formação de leitores, tanto com o desenvolvimento de actividades de animação da leitura como com o trabalho desenvolvido com os professores e com a família. Asselin (2005: 15) reforça esta ideia: “Promoting reading fosters and habit of reading in students, and when students love reading, they will choose more and their reading achievement will be greater.”

O professor bibliotecário, enquanto mediador, deve contemplar encontros sistemáticos com diversos tipos de texto (literários, científicos, descritivos, argumentativos, informativos, …), em vários suportes e diferentes modos de leitura (silenciosa, em voz alta, individual, em grupo, recreativa, informativa, ...). É este mediador que ajuda a criança ou o jovem a construir significados do texto. Neste sentido, Pennac (1993: 90) afirma que “os alunos que descobrem o livro por meio de outros canais continuarão tranquilamente a ler. Os mais curiosos guiarão as suas

leituras pelos faróis das nossas mais luminosas explicações.”Esses encontros podem

acontecer fora do espaço da biblioteca, por exemplo no átrio, na sala de convívio, no recreio, na sala de aula, na rua, etc. No entanto, devem ser bem organizados e divulgados, através do boletim informativo da biblioteca escolar, de cartazes, de desdobráveis, da página Web, da Rádio Escolar, …

A biblioteca deve desenvolver uma colecção variada e actualizada para satisfazer as necessidades e gostos dos utilizadores porque a leitura é uma fonte de prazer que se faz, hoje em dia, e cada vez mais, em vários suportes, desde o livro ao CD, CD-ROM, Ipad ou internet. Cabe à equipa da biblioteca escolar, em estreita colaboração com os professores e estruturas pedagógicas da escola e com a família, a promoção da leitura, rentabilizando os recursos existentes.

A motivação para a leitura é necessária, mas sem a impor, pois a escolha livre é um factor determinante na atitude de um jovem em relação à leitura (Plano Nacional de Leitura, 2008: 6). Os alunos, ao sentirem liberdade de escolha, acabarão por descobrir as suas preferências literárias. Se verificarem que os seus interesses são verdadeiramente considerados, ficarão bastante mais disponíveis para aceitar aconselhamento de outras leituras.

Criar hábitos de leitor é dar início a um processo de maturidade pessoal, de auto-educação e de igualdade social. A biblioteca escolar contribui para uma maior

equidade na educação, na medida em que pode compensar as desigualdades sociais. Os utilizadores, sejam quais forem as suas proveniências sociais, dispõem de recursos que favorecem o sucesso educativo.

De acordo com Asselin (2005: 15), os alunos que contactam com livros e com a leitura desenvolvem competências que lhes permitem ler textos cada vez mais complexos. O importante é ser capaz de “getting the right book in the right child’s hands”, para que elas se envolvam com o texto. Os professores bibliotecários “are, first of all readers themselves” (idem, ibidem) que conhecem um conjunto de estratégias, títulos, autores e géneros literários para cativar e formar leitores, dando a cada um o livro/texto certo, no suporte certo, na hora certa.

O estudo realizado por Santos et al (2007), já anteriormente referido, sobre os hábitos de leitura dos portugueses, também aborda o uso da biblioteca. No universo de 2552 inquiridos, foi criada uma subamostra de 737 pais e encarregados de educação que dizem que, em 36,5 % dos casos, os seus filhos nunca frequentaram a biblioteca escolar e 50,6 % nunca foram à biblioteca municipal, porque têm outras maneiras de aceder aos livros. No entanto, os que referiram que os filhos frequentam a biblioteca consideram que esta pode estimular a leitura dos filhos de várias formas, porque dispõe de uma selecção adequada de livros para as suas idades, oferece condições para desenvolver trabalhos escolares e tem um ambiente atractivo.

É aconselhável que a biblioteca escolar estabeleça parcerias de promoção e animação da leitura não só com as famílias, mas igualmente com bibliotecas públicas, autarquias, centros de formação, meios de comunicação social, organizações governamentais de educação e outras instituições. Só os adultos significativos para as crianças e jovens podem funcionar como mediadores de leitura – pais, professores, bibliotecários – e podem abrir portas, facilitando e permitindo que sejam os próprios livros a atrair a criança/o jovem para a leitura recreativa ou informativa.

Pelo exposto, torna-se evidente que o encontro com a leitura não pode ter um carácter esporádico e deve ser adequado aos destinatários. É preciso formar leitores para a vida e não apenas enquanto frequentadores da escola, tanto mais que a leitura é um instrumento e não um fim em si mesmo.