CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
3. Procedimentos metodológicos
3.1. Recolha de dados
A recolha de dados diz respeito à colecta de informação necessária para melhor se conhecer o objecto em análise. Neste estudo, para a recolha de dados recorreu-se a dois instrumentos: (i) inquérito por questionário (a professores e alunos), e (ii) inquérito por entrevista, com registo áudio (a professoras bibliotecárias).
3.1.1. Inquérito por questionário
O inquérito por questionário, para além de quantificar a informação obtida, “é um processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemática” para responder a um determinado problema (Carmo e Ferreira, 1998: 138). No entanto, como instrumento de recolha de dados, apresenta, de acordo com Quivy e Campenhoudt (1992: 191,192), vantagens e desvantagens. Assim, as potencialidades da utilização deste instrumento são: (i) a capacidade de quantificação de uma multiplicidade de dados, permitindo diversas análises de correlação; (ii) a possibilidade de representatividade do conjunto dos inquiridos, embora assumindo que essa
representatividade não é absoluta, havendo uma margem de erro. Para estes autores, os principais problemas deste instrumento prendem-se com: (i) o elevado peso logístico e o custo; (ii) a superficialidade das respostas que podem não possibilitar uma análise de processos; (iii) a consideração da individualização dos inquiridos independentemente do seu contexto social; (iv) a credibilidade frágil do dispositivo.
Apesar das limitações do inquérito por questionário, de acordo com Carmo e Ferreira (1998: 167), este tem um valor importante enquanto técnica de investigação empírica, permitindo lidar com grupos grandes de sujeitos.
Examinando as vantagens e desvantagens deste instrumento de recolha de dados, decidimos optar pela sua aplicação, dado que considerámos que é um instrumento de recolha de dados que nos possibilita recolher informação significativa e alargada sobre um grupo elevado de sujeitos (no nosso caso, alunos e professores).
Ghiglione e Matalon (1997) sublinham que na elaboração dos questionários deve ter-se em conta que as questões podem ser: gerais ou concretas, directas ou indirectas e abertas ou fechadas. As questões gerais permitem obter o quadro de referência do participante, enquanto que as concretas proporcionam uma visão mais específica de determinado assunto. As questões directas são objectivas; por seu lado, as indirectas permitem deslocar a atenção do participante permitindo, por vezes, respostas mais sinceras da sua parte. As perguntas abertas possibilitam que o participante responda de modo mais genuíno e completo “utilizando o seu próprio vocabulário, fornecendo pormenores e fazendo os comentários que considera certos” (idem: 115). Em contrapartida, as questões fechadas apresentam uma lista pré-estabelecida de respostas possíveis de entre as quais o participante indica a que melhor corresponde à sua escolha.
Os dois questionários são constituídos por perguntas fechadas e abertas. Estas últimas permitem aos inquiridos maior liberdade de expressão de ideias, o que nos possibilitou maior profundidade e maior diversidade de informação.
Conscientes de que a construção do questionário e a formulação das questões constituem uma fase crucial de um inquérito (Ghiglione e Matalon, 1997), procedemos à validação dos dois questionários. Assim, aplicámo-los a alunos e a professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, aferindo da qualidade, razoabilidade e organização das perguntas. Esta aplicação prévia, feita numa escola diferente daquelas onde realizámos o estudo, permitiu melhorar e clarificar instruções das perguntas formuladas, suprimir algumas repetições e alterar a ordem de duas questões. Depois deste processo, os questionários também foram validados por dois especialistas da área.
Uma vez concluída a elaboração definitiva dos questionários dos alunos e dos professores, fez-se o pedido de autorização de aplicação à Comissão Nacional de Protecção de Dados, tal como preconizado pelo Despacho n.º 15847/2007, pedido que foi deferido. Assim, e após o pedido de autorização aos Presidentes do Conselho Executivo das duas escolas (cf. Anexo I) e aos encarregados de educação (cf. Anexo II), os questionários foram distribuídos a alunos de duas turmas, de cada ano, dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, das duas escolas (num total de 20 turmas), no mês de Maio de 2009.
3.1.1.1. Questionário aplicado aos alunos
O questionário aplicado aos alunos dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico é precedido de um pequeno texto explicativo dos objectivos e dos destinatários do mesmo. Importa referir que foram elaborados dois questionários (Anexos IV e V), que diferem apenas no que se refere à distinção entre o ciclo que frequentam (Questão 1) e as disciplinas que integram respectivamente o currículo de cada um dos ciclos (Questões 15.1, 16 e 21).
O questionário é constituído por 29 questões, algumas das quais com alíneas, visando diferentes objectivos (cf. Matriz em anexo III). Detalhando, pretendemos com este instrumento:
• caracterizar a amostra (Questões 1, 2 e 3);
• conhecer os hábitos de leitura dos alunos dos 2.º e 3.º ciclos (Questões 4,
5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 28);
• conhecer as concepções dos alunos sobre a leitura (Questões 14 e 29);
• analisar as perspectivas dos alunos dos 2.º e 3.º ciclos sobre a
importância de hábitos de leitura e a sua relação com a aprendizagem (Questões 15, 15.1, 15.2, 16, 17,18, 21 e 29);
• compreender a importância que os alunos dos 2.º e 3.º ciclos atribuem à
biblioteca escolar na promoção da leitura (Questões 24 e 25);
• conhecer a actividade de leitura na sala de aula (Questões 19, 20, 22 e 23);
• conhecer as práticas da equipa da biblioteca escolar na promoção da
leitura e na criação/desenvolvimento de hábitos de leitura (Questões 26, 26.1 e 27).
3.1.1.2. Questionário aplicado aos professores
À semelhança do questionário aplicado aos alunos, também o questionário aplicado aos professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico é precedido de um texto explicativo dos objectivos e dos destinatários do mesmo (cf. Anexo VII). Este questionário é constituído por 22 questões, algumas das quais com alíneas, visando diferentes objectivos (cf. Matriz em anexo VI). Detalhando, em particular, com este instrumento, foi nosso propósito:
• caracterizar a amostra (Questões 1.1, 1.2, 1.3, 2 e 3);
• conhecer as concepções dos professores sobre a leitura (Questões 4 e 5);
• descrever as concepções dos professores sobre a importância de hábitos
de leitura e a sua relação com a aprendizagem (Questões 6, 6.1, 6.2, 7, 13, 14, 15, 16 e 22);
• conhecer as práticas dos professores na promoção da leitura e na
criação/desenvolvimento de hábitos de leitura, em que os alunos mais participam (Questões 8, 9, 10, 11, 12, 12.1 e 21);
• compreender a importância que os professores atribuem à biblioteca
escolar na promoção da leitura (Questões 17 e 20);
• conhecer a visão que os professores têm das actividades dinamizadas
pela biblioteca escolar que são promotoras da leitura (Questões 18, 19, 21.1 e 21.2).
3.1.2. Inquérito por entrevista
O inquérito por entrevista é uma técnica bastante comum na investigação em educação. Permite ao investigador o contacto directo com o entrevistado, possibilitando-lhe a recolha de informação junto do seu interlocutor acerca das percepções de um determinado acontecimento ou situação, das interpretações ou experiências e das reacções de forma mais autêntica e aprofundada. Neste sentido, Quivy e Campenhoudt (1992: 193) referem que “os métodos de entrevista distinguem-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e de interacção humana. […] estes processos permitem ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados”. Estes autores consideram, ainda, que o inquérito por entrevista apresenta um conjunto de vantagens e desvantagens. Por um lado, apresentam as seguintes vantagens:
(i) a profundidade dos elementos de análise;
(ii) a flexibilidade e a reduzida directividade, que permitem a recolha de
testemunhos e interpretações dos entrevistados. Por outro lado, apresentam algumas limitações:
(i) a própria flexibilidade do método pode inibir o investigador de trabalhar
sem técnicas directivas e precisas ou, pelo contrário, poderá levar alguns a pensar que podem conversar de qualquer maneira com o entrevistado;
(ii) o facto de a informação recolhida não se apresentar imediatamente
tratada para uma análise particular;
(iii) por último, a natureza da entrevista pode levar a acreditar numa completa
espontaneidade do entrevistado e neutralidade do investigador.
Neste estudo, optámos por realizar entrevistas semi-estruturadas, pois embora partam de um guião, são suficientemente flexíveis para se poder alterar a ordem das perguntas, eliminar ou incluir outras. Esta ideia é defendida por Lüdke e André (1986: 33-34) ao afirmarem: “nas entrevistas não totalmente estruturadas, onde não há imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira razão da entrevista.”
Realizámos duas entrevistas, uma a cada uma das professoras bibliotecárias, baseadas num guião de entrevista (cf. Anexo VIII), o que permitiu que para além das perguntas previamente preparadas, outras surgissem à medida que as entrevistas foram decorrendo.
A entrevista às duas professoras bibliotecárias possibilitou-nos conhecer mais profundamente a sua opinião em relação aos objectivos da nossa investigação, nomeadamente as suas práticas e as suas concepções de leitura.
3.1.2.1. Entrevista às professoras bibliotecárias
A entrevista semi-estruturada13, realizada às professoras bibliotecárias, teve por
base um guião que foi elaborado tendo em conta os seguintes objectivos (cf. Anexo VIII):
• caracterizar a entrevistada;
13 Na matriz da entrevista foi usada a designação de coordenadora da biblioteca escolar, uma vez que à
• analisar as perspectivas da coordenadora da BE sobre a importância de hábitos de leitura e a sua relação com a aprendizagem;
• compreender a importância que a coordenadora atribui à biblioteca escolar na promoção e animação da leitura;
• conhecer as práticas da equipa da biblioteca escolar na promoção da leitura e na
criação/desenvolvimento de hábitos de leitura;
• conhecer as concepções sobre a leitura.
A entrevista à professora bibliotecária da escola A foi realizada no dia 31 de Agosto de 2009, pelas 15h, em sua casa, por conveniência da entrevistada. A entrevista decorreu durante cerca de 45 minutos. A entrevista à professora bibliotecária da escola
B foi feita no dia 15 de Julho de 2009, pelas 10h, na escola onde exerce funções,
também por conveniência da entrevistada, com a duração de cerca de 45 minutos. Em ambos os casos, houve grande receptividade na realização das entrevistas, tendo estas decorrido num clima informal e muito descontraído.