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CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3. Procedimentos metodológicos

3.2. Análise de dados

A análise de dados é o processo de estabelecer ordem, estrutura e significados ao conjunto de dados que foram recolhidos pelo investigador. Nesta linha de pensamento, também Bogdan e Biklen (1994: 250) consideram que a análise de dados é o processo de procura e de organização de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros dados recolhidos durante a investigação, para compreender e apresentar aos outros. O investigador ao trabalhar os dados, organiza-os, divide-os em unidades manipuláveis, sintetiza-os, procura padrões e aspectos importantes e decide o que vai ser transmitido.

Vale (2004: 11), baseando-se em Wolcott (1994), indica três componentes no processo analítico: descrição, análise e interpretação. A descrição é o processo de escrita dos dados originais registados nas observações feitas pelo investigador. O investigador qualitativo tem que ser um contador de histórias, isto é, tem que narrar os factos observados e/ou relatados. A análise é o momento da organização de dados, no sentido de procurar os aspectos essenciais e identificar as relações entre eles. Finalmente, a interpretação é o processo de obtenção de significados e ilações a partir dos dados obtidos. A interpretação pode vir a seguir à análise ou pode surgir logo na descrição. Não há fronteiras definidas que delimitem onde termina a descrição e onde

começa a análise ou onde a análise se torna interpretação. Neste sentido, Vale (2004: 12) alerta: “Tendo em atenção as suas próprias características, a finalidade do trabalho e o tipo de problemas, o investigador poderá apresentar os seus dados dando mais ou menos ênfase à descrição, à análise ou à interpretação, podendo optar por uma das formas.”

Também Quivy e Campenhoudt (1992) sustentam que a análise de dados envolve várias operações, salientando três delas: “a descrição e a preparação (agregada ou não) dos dados necessários para testar hipóteses; depois a análise das relações entre as variáveis; por fim, a comparação dos resultados observados com os resultados esperados a partir da hipótese.” (p. 216). Para Yin (1989: 105), a análise de dados consiste “of examining, categorizing, tabulating, or otherwise recombining the evidence, to address the initial propositions of a study. Analyzing case study evidence is especially difficult because the strategies and techniques have not been well defined in the past.”

Quivy e Campenhoudt (1992: 220) salientam, ainda, que a maior parte dos métodos de análise das informações está dependente de um de dois procedimentos metodológicos: a análise estatística dos dados e a análise de conteúdo.

Neste estudo, os dados recolhidos através do inquérito por questionário e por entrevista são, como já foi mencionado, de natureza quantitativa e qualitativa. Assim, os de natureza quantitativa foram analisados recorrendo à Estatística Descritiva e à expressão gráfica e tabelar dos dados. Depois de recolhidos os dados, estes foram organizados em tabelas do programa Microsoft Office Excel. A cada questão foi atribuído um código para se proceder à contagem e elaboração de gráficos e tabelas de resultados. Posteriormente, os dados foram analisados e em seguida interpretados, tendo como orientação as questões de investigação e como sustentação a revisão da literatura.

Os dados de natureza qualitativa foram analisados através da análise de conteúdo, de acordo com Bardin (1995). Para esta autora, a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores […] que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.” Nesta linha, procurámos organizar as diferentes fases da análise de conteúdo em torno de três pólos cronológicos, tal como indica

Bardin (1995: 121): (i) pré-análise; (ii) exploração do material; (iii) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A pré-análise consiste em tornar operacionais as ideias iniciais de modo a organizar o corpus, ou seja, o conjunto dos documentos que nos propusemos submeter a procedimentos analíticos. A leitura flutuante, importante nesta fase, “consiste em estabelecer contacto com os documentos a analisar e em conhecer o texto, deixando-se invadir por impressões e orientações” (1995: 122). Neste estudo, foi, ainda nesta fase que começámos a identificar segmentos ou unidades relevantes e significativas, ou seja, começámos a decompor o todo nas suas partes. Neste passo foi possível iniciar a

definição das categorias formaisa usar na análise de conteúdo.

A exploração do material, que ocorre à medida que se vão lendo os dados, consiste na identificação de palavras, frases, comportamentos, sentimentos, acontecimentos que se destacam e que se repetem. Às palavras e frases que representam

estes elementos, Bogdan e Biklen (1994) designam de categorias de codificação. A

definição e constituição de categorias pode ser feita a priori ou a posterior, ou pode ainda, como neste estudo, utilizar-se um sistema de categorias misto. Bardin (1995: 129) entende que “a codificação é o processo pelo qual os dados em bruto são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exacta das características pertinentes do conteúdo.” A codificação consiste em atribuir a cada uma dessas unidades de informação/registo um código próprio da categoria na qual a consideramos incluída. Os códigos que representam as categorias consistem em marcas que adicionamos às unidades de dados para indicar a categoria a que pertencem.

O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação é um ponto muito importante deste processo, tanto mais que “a intenção de qualquer investigação é produzir inferências válidas” (Bardin, 1995: 136). Esta autora acrescenta ainda que é relativamente simples inferir-se o conteúdo das predisposições, atitudes e valores do sujeito, mas é difícil identificarem-se relações e factores causais a partir do seu conhecimento.

Na fase da interpretação e discussão dos resultados, que vai para além da descrição dos dados, pretende-se dar explicações, fazer inferências, apresentar conclusões, construir sentidos, isto é, explanar o óbvio que os dados revelam e explicar o que está escondido.

Em particular, a interpretação dos resultados da análise de conteúdo pretende procurar respostas para as questões de investigação colocadas. Essa interpretação deve ser feita “à luz da literatura disponível sobre a temática e a problemática em apreço. O enquadramento teórico e/ou conceptual que todo o trabalho de investigação exige deve ser nesta fase chamado a primeiro plano para se tentar compreender, de modo mais abrangente, o que os resultados alcançados significam.” (Esteves, 2006: 120).

Neste estudo, procurámos seguir estas fases. Começámos por atribuir códigos às duas escolas básicas dos 2.º e 3.º ciclos que colaboraram neste estudo, escola A (EA) e escola B (EB). Seguidamente, fizemos a transcrição verbatim das respostas que tínhamos gravado. Terminada a tarefa das transcrições, fizemos uma primeira leitura flutuante das entrevistas procurando compreender o sentido geral. Depois, procurou-se decompor o texto em partes (trechos significativos), reduzindo os dados e identificando as categorias formais (que se apoiaram na revisão teórica efectuada e na procura de padrões no texto). Essas categorias de análise, como diz Bardin (1995: 32), são “espécies de gavetas ou rubricas significativas, que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem”. Após a codificação, estabeleceram-se relações entre os dados e iniciou-se a reconstrução, visando a interpretação e a resposta às questões de investigação inicialmente formuladas (cf. capítulo 1, secção 1, p. 2).

Também as perguntas abertas do questionário dos alunos (Questões 15.2, 17, 20, 24, 27 e 29) e dos professores (Questões 13, 14, 15, 17, 19, 21.2 e 22) foram tratadas recorrendo às etapas da análise de conteúdo, já antes explicitadas.

Em síntese, neste capítulo apresentámos o desenho de estudo do nosso trabalho, definimos as opções metodológicas e descrevemos os procedimentos metodológicos usados para operacionalizar esta investigação.

No capítulo seguinte apresentamos e analisamos os dados recolhidos através dos questionários aplicados a alunos e a professores e através das entrevistas semi-estruturadas realizadas às professoras bibliotecárias. Os dados resultantes da análise são apresentados através de quadros, gráficos e texto.