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CAPÍTULO IV A ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

4.1 – A CERCA DA A DAPTAÇÃO

A adaptação às alterações climáticas não é um tema recente. A humanidade, desde sempre enfrentou um futuro incerto no que respeita às variações e a extremos climatéricos e as populações têm procurado, continuamente, formas de sobrevivência e soluções de desenvolvimento, seja em períodos de seca e cheias ou outras situações climáticas extremas.

Existem diversas definições de adaptação. No início do século XIX, o termo foi definido por biólogos, para descrever a capacidade de ajustamento, ao nível da estrutura, função ou comportamento, através do qual as espécies ou os indivíduos aumentam a sua hipótese de sobrevivência, num ambiente específico.

De acordo com o IPCC (2007), e num contexto ligado às alterações climáticas, a adaptação pode ser definida como o ajustamento nos sistemas naturais ou humanos, em resposta a estímulos (ou efeitos) climáticos actuais ou esperados, que minimizam efeitos adversos ou exploram oportunidades benéficas. Para a UNFCCC (2007), a adaptação “é um processo através do qual as sociedades se tornam mais capazes de lidar com um futuro incerto. A adaptação às alterações climáticas implica a tomada das medidas certas para reduzir os efeitos negativos das alterações climáticas (ou explorar os positivos) efectuando os ajustamentos e alterações apropriadas.

As acções de adaptação têm uma temporalidade indefinida, uma vez que têm em vista lidar com problemas actuais, de um clima já em mudança, ou com alterações que venham a ocorrer, antecipando o futuro (CCE, 2007b). A adaptação pode ser orientada para a redução dos potenciais impactes das alterações climáticas nos sistemas naturais e humanos, no sentido de se reduzir a vulnerabilidade geral, ou de se aumentar a capacidade de adaptação, propriamente dita (SWART, R. ET AL 2009).

São exemplos de medidas de adaptação, a exploração mais eficiente de recursos hídricos escassos, o ajustamento da legislação aplicável aos edifícios às condições climáticas futuras e a eventos meteorológicos extremos, a instalação de dispositivos de protecção contra as inundações, a elevação do nível dos diques, o desenvolvimento de culturas agrícolas tolerantes à seca, a selecção de espécies e práticas florestais menos vulneráveis a tempestades e a incêndios, o planeamento do território e a criação de corredores ecológicos que permitam a migração das espécies, entre outros (CCE, 2007b).

As medidas de adaptação podem ser descritas como “duras” ou “suaves”. As primeiras são onerosas, de defesa e deslocalização, como por exemplo a deslocalização de portos, indústrias e cidades inteiras de zonas costeiras baixas e alagadiças ou a construção de novas centrais eléctricas; as segundas são menos onerosas, sendo exemplos o planeamento público ou o desenvolvimento de acções de sensibilização (CCE, 2007b).

A adaptação encontra contexto em sistemas naturais e humanos e pode abranger estratégias nacionais, regionais ou locais, aplicar-se ao nível de comunidade ou individual e ser de iniciativa pública e/ ou privada (CCE, 2007b).

A necessidade de se considerar o seu desenvolvimento a várias escalas é consequência da variabilidade regional que, se traduz, na própria diversidade dos impactes climáticos. Não obstante, estas medidas, podem e devem ser articuladas, apoiadas e reforçadas no âmbito das políticas europeias ou internacionais, através de uma abordagem integrada e coordenada, baseando-se numa sólida análise científica e económica.

Podem distinguir-se diferentes tipos de adaptação (IPCC, 2007):

 Adaptação Antecipatória ou Adaptação Proactiva: consiste na tomada de medidas antes dos impactes das alterações climáticas serem observados;

 Adaptação Reactiva: é a adaptação que ocorre após a observação dos impactes das mudanças climáticas;

 Adaptação Autónoma ou Adaptação Espontânea: é a adaptação que decorre de alterações ecológicas em sistemas naturais, alterações no mercado ou bem-estar de sistemas humanos, não surgindo como resposta consciente a um estímulo climático;

 Adaptação Planeada: consiste na tomada de medidas resultantes de decisão política deliberada, baseadas na consciência de que as condições se alteraram ou estarão prestes a alterar-se, e que são necessárias para retornar, manter ou alcançar um estado desejado;

 Adaptação Privada: é a adaptação que é iniciada e implementada por indivíduos, famílias, ou empresas privadas. A adaptação privada normalmente ocorre por interesse pessoal do realizador;

 Adaptação Pública: é a adaptação iniciada e implementada por governos em todos os níveis. A adaptação pública é normalmente dirigida para as necessidades colectivas.

Existem outros conceitos fundamentais, nos quais se enquadram geralmente as estratégias e medidas de adaptação aos impactes das alterações climáticas a nível global, que importa referenciar:

 Capacidade Adaptativa – Define-se como o potencial que um determinado sistema possui de se ajustar às alterações climáticas (incluindo a variabilidade e os extremos climáticos), minimizar os potenciais impactes, tirar partido das oportunidades ou lidar com as consequências. Pode incluir capacidades institucionais, financeiras, tecnológicas ou de conhecimento. A capacidade adaptativa geral depende do nível de desenvolvimento de um país, sistema ou comunidade e é aumentada em função do progresso verificado no processo de desenvolvimento. A capacidade adaptativa específica depende do nível de consciência e conhecimento de um país, sistema ou comunidade, relativamente aos impactes das alterações climáticas, bem como a capacidade de os suportar (www.iied.org).

 Resiliência – Consiste na quantidade de alterações que um dado sistema pode acarretar sem modificar o seu estado prévio (IPCC, 2007).

 Sensibilidade – Define-se como o grau com que um sistema natural ou social é afectado (adversamente ou positivamente) pelos estímulos climáticos (IPCC, 2007).

 Vulnerabilidade – A vulnerabilidade é comummente definida como o grau em que os sistemas humanos e ambientais reagem ao experienciar uma perturbação ou stress. Na sua relação com as alterações climáticas, o IPCC (1997) define a vulnerabilidade como “o grau em que um sistema natural ou social é capaz de suportar os danos provocados pelas alterações climáticas. A vulnerabilidade é uma função da sensibilidade de um sistema às mudanças no clima e a habilidade de se adaptar a essas mudanças. Neste quadro, um sistema altamente vulnerável será aquele que manifestar uma elevada sensibilidade a pequenas alterações no clima”.

Climate Proofing (“tornar à prova de alterações climáticas”) – É um conceito frequentemente usado para indicar que, para garantir a sustentabilidade dos investimentos ao longo da sua vida, se tomaram em consideração as alterações climáticas. Consiste na identificação dos riscos de um projecto de desenvolvimento, ou outros bens humanos ou naturais, como consequência das variabilidades e alterações do clima, assegurando que esses riscos são reduzidos a níveis aceitáveis através da implementação de mudanças duráveis, economicamente viáveis e socialmente aceitáveis, numa ou mais fases do ciclo do projecto: planeamento, desenho, construção, operação e desmantelamento. O climate proofing ao nível político nacional é uma das principais formas de mainstreaming (“inclusão sistemática nas decisões e práticas habituais”) da adaptação, ajudando a favorecer o ambiente propício para a adaptação, enquanto, concomitantemente, integra o planeamento e a implementação nas políticas, planos e acções de desenvolvimento novas e existentes (www.adb.org/Documents/Reports/climate-Proofing/climate-proofing-summary.pdf).

 Défice de Adaptação - Falta de capacidade adaptativa para lidar com a variabilidade do clima e com as alterações climáticas. Um ponto de partida para melhorar a capacidade de adaptação pode ser o de diminuir o défice de capacidade adaptativa, antes de lançar novas actividades de adaptação (www.iied.org).

 Construir Capacidade Adaptativa - Consiste em implementar e operacionalizar a totalidade dos sistemas de suporte e quadros legislativos e políticos que irão encorajar, permitir ou requerer que se considere a adaptação. As medidas incluirão: sensibilização, investigação, formação dos colaboradores, aplicação de regulamentos, códigos, normas políticas e incentivos fiscais e investigação de opções alternativas de adaptação. Só depois de este trabalho ter sido realizado, numa organização ou sector em particular, poderá ser iniciada a implementação de acções de adaptação (DEFRA, 2005).

Podem distinguir-se também, diferentes tipos de adaptação: técnica (e.g. construção de edifícios resistentes a futuros riscos climáticos), gestão (e.g. gestão da procura de água ou dos recursos

hídricos), políticas (e.g. política agrícola e segurança alimentar compatível com as alterações climáticas), investigação (e.g. avaliação de impactes e de lacunas de conhecimento), educação (e.g. sensibilização da população sobre as alterações climáticas e o seu impacte nos recursos hídricos, nas áreas florestais, naturais e nas zonas costeiras), comportamental (e.g iniciativas de conservação de água) [Meilmann D., 2008].

A adaptação significa avaliar e lidar com a capacidade de adaptação e vulnerabilidade dos sistemas humanos e naturais. Torna-se, assim evidente que, além da identificação dos potenciais impactes das alterações climáticas sobre, por exemplo, um determinado sector socio-económico é igualmente necessário, procurar avaliar de que forma esse sector (ou a região onde este é analisado) é vulnerável aos impactes previstos, devendo as medidas de adaptação a implementar, ser capazes de conduzir a uma diminuição dessa vulnerabilidade e ao aumento da sua resiliência.

Frequentemente são tomadas opções e medidas, a nível local e sectorial, que contribuem para a adaptação, sem que tenham, explícita ou exclusivamente, esse fim. Muitas vezes, as políticas de prevenção e gestão dos riscos, integram já, a adaptação, como é o exemplo dos desastres naturais, da gestão dos recursos hídricos e das zonas costeiras. Contudo, existem medidas específicas para as quais é necessário o desenvolvimento de uma estratégia capaz de considerar os aspectos multissectoriais e em particular as sinergias entre os impactes, simultâneos, em diversos sectores, de que são exemplo os recursos hídricos e a agricultura (PECSAC, 2009).

Em termos práticos, qual é o real significado de adaptação? O que é necessário ser feito? Não existe uma resposta única para estas questões. A adaptação é um processo que envolve incertezas significativas nas avaliações de impactos, na identificação e selecção das medidas de adaptação e nos cenários socioeconómicos que permitem definir os quadros de referência futuros nos vários sectores (PECSAC, 2009). Por conseguinte, é importante que exista um conhecimento razoável da dimensão temporal das consequências, para que as prioridades possam ser estabelecidas. Existem por exemplo, incertezas relacionadas com a dimensão exacta do aumento das temperaturas ou da alteração dos padrões de precipitação, até porque estão dependentes das medidas globais de mitigação a desenvolver no futuro. Estas incertezas tornam-se maiores em escalas de tempo mais longas (CCE, 2007b).

Os impactes experimentados ou esperados diferem também, em relação às diferentes pessoas, regiões ou sectores. Enquanto uns podem enfrentar ameaças cada vez maiores, outros podem ser menos afectados e alguns até beneficiados. Por exemplo, enquanto na zona mediterrânica, é provável que o turismo venha a sofrer prejuízos, como resultado do aumento da temperatura e a redução da disponibilidade de água, o turismo no Norte da Europa pode, contrariamente, vir a beneficiar das novas oportunidades ligadas a verões mais quentes e estáveis. Também não existe uma solução única de adaptação para estes impactes. De facto, as situações de adaptação encontradas, por exemplo, na Europa, além de diversas e complexas, envolvem múltiplos actores, diferentes escalas e diferentes percepções acerca do problema, não existindo consenso no que se refere a respostas eficazes (Hulme, M. et al, 2009).

Além disso, a ciência das alterações climáticas está ainda em aperfeiçoamento e a informação que se dispõe actualmente sobre impactos e adaptação é ainda incerta, incompleta e fragmentada. Por esta razão, os efeitos das alterações climáticas são melhor avaliados quando se abordam a um nível sectorial e geográfico concreto (Hulme, M. et al, 2009).

Quando existirem percepções claras sobre o nível dos impactes esperados para algumas regiões e sectores, poder-se-ão fazer projecções sobre o que poderá acontecer noutros locais. Dado que este é um campo de pesquisa relativamente novo, não existem evidências práticas da extensão, exequibilidade, eficiência, nem da relação custo-eficácia de potenciais opções de adaptação. Poder- se-á portanto, afirmar que, a adaptação constitui uma decisão complexa, na medida em que, à partida, conta com algum grau de incerteza, quer ao nível dos impactes considerados, quer em relação à real eficácia das opções de adaptação a tomar. A adaptação é um processo intemporal e contínuo de aprendizagem entre actores e instituições, a todos os níveis da tomada de decisão (Hulme, M. et al, 2009).

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