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4.2 – N ECESSIDADE DE A DAPTAÇÃO

CAPÍTULO IV A ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

4.2 – N ECESSIDADE DE A DAPTAÇÃO

Apesar do grau de incerteza que comportam as previsões a longo prazo, expressas no 4.º Relatório do IPCC, publicado em 2007, estas assentam já, numa importante base analítica de mudança climática verificada, e não só estimada, conforme o exposto na Parte II do presente trabalho. Mesmo que se revelem bem sucedidos, os esforços de mitigação globais, a levar a cabo nas próximas décadas, os impactes das alterações climáticas já se fazem sentir, e é inevitável que ocorra uma alteração do clima face aos padrões actuais, pelo que as sociedades do mundo inteiro, se confrontam com o duplo desafio de reduzir as emissões, e de se adaptarem aos impactes biofísicos e sócio-económicos das alterações do clima.

Estima-se que a mudança climática traga alterações dramáticas para o ambiente, sociedades e economia, de dimensão idêntica ou mesmo superior, às causadas por outros processos de larga escala, como a globalização (EC, 2008).

De acordo com o IPCC (2007), se o aquecimento global ultrapassar os 2º C, ainda este século, verificar-se-ão cenários de impactes mais dramáticos, para os quais a adaptação será mais difícil, mais dispendiosa ou mesmo impossível.

Algumas medidas tomadas em diversos países, no âmbito da protecção civil, podem providenciar respostas de emergência a desastres naturais, mas é necessária uma acção estruturada para reduzir o risco dos desastres relacionados com as alterações do clima e minimizar os seus impactos. Os esforços de adaptação à mudança do clima deverão ser reflectidos a todos os níveis e as acções deverão ser bem coordenadas. Todos os países necessitam, de reconhecer estes factos, o mais cedo possível, e estar preparados, sendo necessárias estratégias integradas de adaptação, a todos os níveis de administração, desde o nível local ao nível internacional (EC, 2008).

Apesar dos investimentos em infra-estruturas serem dispendiosos, são economicamente mais vantajosos que os danos causados por eventos climáticos extremos, como as tempestades ou

inundações. Por exemplo, em 2005, o furacão Katrina (considerado por muitos, a tempestade mais mortal e cara de sempre) causou 210 mil milhões de dólares (cerca de 164 mil milhões de euros) em danos e marcará, com certeza, a região de Nova Orleães, nos próximos anos. Há contudo a salientar, que as habitações e outros edifícios que haviam sido construídos à “prova de furacão” sofreram um quinto dos danos daqueles que não tiveram em conta esta questão (EC, 2008).

Trata-se, assim, de uma matéria onde faz particular sentido evocar o princípio da precaução, pelo que a incerteza não deve ser motivo para adiar a consciencialização para a necessidade das sociedades se adaptarem às alterações climáticas, dando início às primeiras actividades de adaptação (CAC, 2009).

Adaptação versus Mitigação

Segundo a UNFCCC, deve ser atribuído o mesmo nível de importância à adaptação e à mitigação. Considerando embora as suas limitações, a adaptação é um complemento incontornável e indispensável das estratégias de mitigação, e não consiste numa alternativa à redução das emissões de GEE uma vez que se sabe que um nível mínimo de aquecimento global é desde já inevitável, e portanto os impactos associados vão certamente ocorrer (CCE, 2007b).

Assim, tanto a adaptação como a mitigação devem ser implementadas simultaneamente e complementar-se entre si, sendo necessária uma estratégia concertada entre as duas:

 Mitigar as alterações climáticas através da redução de emissões de GEE não protege as comunidades dos efeitos das alterações climáticas; contudo reduz, a uma escala mundial, o risco e a magnitude das alterações climáticas futuras;

 A adaptação não reduzirá a frequência ou magnitude com que ocorrerão as situações de mudança climática, mas protegerá as sociedades em situações de secas, furacões, cheias, entre outros.

A coordenação de medidas de mitigação e adaptação pode gerar benefícios globais. Quanto mais sucesso tiverem os esforços de redução de emissões, menor será a necessidade de adaptação. É importante que as estratégias de adaptação não impeçam os esforços de mitigação ou o bloqueio do aumento das emissões de GEE.

Globalmente, verifica-se uma tendência crescente para uma procura de sinergias entre a mitigação e a adaptação, com vista a possibilitar respostas eficazes no combate às alterações climáticas. Com efeito, as medidas de adaptação podem ter consequências positivas ou negativas sobre a mitigação. Na verdade, muitas estratégias de adaptação implicam, por si, um consumo de energia acrescentado, por exemplo: a implementação de um ar condicionado para responder às elevadas temperaturas ou soluções técnicas para responder à escassez de recursos hídricos, como a dessalinização, que se traduz num aumento do bombeamento e re-tratamento, conduzindo a maior procura de energia e portanto – se obtida de combustíveis fósseis – a um nível mais elevado de emissões de GEE (Magnan et al, 2009).

No entanto, a relação entre adaptação e mitigação também pode ser positiva, especialmente, se for bem planeada. No caso do sector da construção civil, por exemplo, devem, de facto, ser estabelecidos novos padrões e normas, como resposta à mudança climática. Uma abordagem diferenciada, relativamente à actualmente prevalente, pode ter um impacto positivo, intencional ou não, sobre mitigação; por exemplo, o isolamento dos edifícios irá reduzir o desconforto do aumento da temperatura, e ao mesmo tempo, reduzir as necessidades de energia (Magnan et al, 2009). Por sua vez, as medidas de mitigação, também podem afectar positiva ou negativamente as medidas de adaptação. Entre outras situações, os conflitos podem ocorrer entre acções de mitigação e de adaptação ao nível da gestão dos recursos hídricos: uma estratégia corrente para reduzir as emissões é a transição para fontes de energia que emitem menos GEE, como a energia hidráulica, no entanto, as barragens, contribuem para a redução de sedimentos depositados no mar, agravando a erosão costeira que pode ser causada pelas alterações climáticas e pela subida das águas, tornando a adaptação mais complicada. Um exemplo de uma relação positiva é a protecção da biodiversidade: a desflorestação constitui uma importante fonte de emissões de GEE, e a protecção das florestas, pode, ao mesmo tempo, reduzir essas emissões e ajudar a preservar a biodiversidade global, assumindo, portanto, grande relevância no âmbito da adaptação (Magnan et al, 2009).

A identificação, destas duas grandes categorias de inter-relação, demonstra a importância da exploração das sinergias possíveis e eventuais soluções de compromisso entre adaptação e mitigação. Adoptadas de forma independente, estas duas estratégias podem conduzir a acções contraproducentes e ineficazes, não obstante a sua finalidade comum. Uma estratégia integrada, que tenha em conta as questões de mitigação e adaptação, bem como as questões de curto e longo prazo, evitaria muitos conflitos e permitiria uma melhor gestão de restrições às alterações climáticas (Magnan et al, 2009).

Em última análise, refira-se que, as questões levantadas não dizem respeito unicamente à adaptação ou à mitigação, ou às sinergias e compromissos entre ambas, uma vez que, de forma mais ampla, abrangem questões de desenvolvimento sustentável: “como podem as estratégias de adaptação e mitigação fazer parte de um processo de desenvolvimento sustentável, se considerarem apenas os constrangimentos relacionados com os problemas, em vez dos condicionalismos específicos das próprias estratégias? (Magnan et al, 2009).

Ao mesmo tempo, na adaptação às alterações climáticas, devem também evitar-se inadvertidas práticas “mal adaptativas”. A “má adaptação” refere-se às medidas de adaptação que contribuem para aumentar a vulnerabilidade, em vez de a reduzirem. As infra-estruturas de protecção contra a subida do nível do mar ou contra as inundações, que podem perturbar o carácter dinâmico natural dos sistemas costeiros e fluviais, constituem exemplos de “má adaptação” CCE. (2009a).

O IPCC (2001) define “má-adaptação” como “quaisquer mudanças nos sistemas naturais ou humanos que, inadvertidamente, aumentem a vulnerabilidade aos estímulos climáticos; uma adaptação que não terá êxito uma vez que aumentará a vulnerabilidade, em vez de a reduzir”. Uma explicação mais pragmática consiste no tipo de acção que a adaptação pode envolver (EEA, 2007):

 Uso ineficiente de recursos em comparação com outras opções (e.g. o princípio de que todas as acções de adaptação devem ser climate proofing constituiria um acréscimo extremamente elevado no investimento actual, trazendo provavelmente poucos benefícios para a sociedade no seu todo);

 Ineficaz (e.g. baseando-se em cenários de futuros riscos climáticos que posteriormente não se concretizem e em acções que não têm outros benefícios associados);

 Transferência de vulnerabilidade (a partir de um actor para outro);

 Redução da possibilidade de adaptações futuras.

O conceito de “má-adaptação” pode ser colocado de forma mais explícita num contexto económico. Se os custos líquidos de adaptação conduzirem à redução dos impactes negativos induzidos pelas alterações climáticas, ou ao reforço dos impactes positivos, existem benefícios de adaptação; no caso contrário a adaptação produz danos, tornando-se uma “má-adaptação”. É importante salientar, que um determinado tipo de adaptação, bem sucedido numa escala temporal ou espacial específica, pode tornar-se uma “má adaptação” em diferentes contextos espaciais e/ ou temporais (EEA, 2007).

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