• Nenhum resultado encontrado

3.1.2.3 – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

3.3 – C ONTEXTO N ACIONAL

As políticas públicas nacionais de combate às alterações climáticas têm sido desencadeadas, fundamentalmente, em virtude dos acordos criados no âmbito das Nações Unidas e possuem um cariz determinado pelas orientações e Directivas Comunitárias.

Assim, no âmbito dos compromissos internacionais, nomeadamente do Protocolo de Quioto, Portugal assumiu o objectivo de limitar o aumento das suas emissões de GEE a 27%, no período de 2008-2012, relativamente aos valores de 1990 (Garcia, 2004).

Face à necessidade de mobilização dos agentes económicos e dos sectores da economia, para a elaboração de uma estratégia nacional para as alterações climáticas, que permitisse alcançar os compromissos comunitários e internacionais, subscritos pelo Estado Português, foi criada, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 72/98, de 29 de Junho, a Comissão para as Alterações Climáticas (CAC). A CAC foi posteriormente alterada, quanto à sua composição, pela Resolução do

Conselho de Ministros n.º 59/2001, de 30 de Maio, composta por todos os departamentos do Estado com competências nesta área e com um mandato que lhe permite responder às solicitações internacionais e às necessidades nacionais (e.g. identificação de projectos de energia limpa nos países em desenvolvimento).

Para o cumprimento dos objectivos nacionais, em matéria de alterações climáticas, foram criados três instrumentos fundamentais (CAC, 2008):

 Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) - Em 2001 dá-se início à discussão pública da primeira versão do PNAC, que foi depois aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 104/2006, de 23 de Agosto e alterado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 1/2008, de 4 de Janeiro. O PNAC procura quantificar o esforço de mitigação das emissões de GEE, necessário para o cumprimento dos compromissos assumidos por Portugal, identificando as responsabilidades sectoriais e definindo um conjunto de políticas, medidas e respectivos instrumentos, que permitam reduzir as emissões de GEE nacionais. O PNAC aposta, fortemente, no sector energético (incluindo os subsectores transportes, residencial, e serviços, indústria), nomeadamente, através da promoção de energias renováveis, bem como dos transportes públicos (e.g. ferrovia). Para além do sector energético, o PNAC, também contempla medidas para os sectores da agricultura e pecuária, floresta e resíduos. Com os PNAC reforça-se, paralelamente, o papel das políticas e medidas nos sectores não abrangidos pelo CELE, como os transportes e o sector residencial. Algumas das principais medidas incluídas no PNAC são: a promoção do aquecimento de água por energia solar através do Programa Água Quente Solar, cujo objectivo era instalar 1 milhão de m2 de colectores solares até 2010, colocando 150 000 m2 destes equipamentos por ano; a promoção da utilização do transporte público em detrimento do automóvel privado, através da implementação de um conjunto de medidas como a construção e ampliação de várias redes de metropolitano; a diversificação dos modos de produção de electricidade, dando ênfase às fontes de energia renováveis (e.g. eólica); o aproveitamento energético dos resíduos provenientes das suiniculturas, responsáveis pela emissão de grandes quantidades de CH4; ou, o aumento da reutilização e reciclagem de resíduos sólidos urbanos e da compostagem de resíduos orgânicos (permitindo o seu desvio dos aterros), e a captação e aproveitamento de biogás produzido em aterros. As políticas e medidas do PNAC 2006 organizam-se em dois tipos: políticas e medidas de referência (MR) e políticas e medidas adicionais (MA). As primeiras integram o cenário de referência e consistem nas políticas e medidas já em vigor ou adoptadas à data de 1 de Janeiro de 2005 e com impacte na redução de emissões de GEE e o bloco de políticas e medidas adicionais integram aquelas que foram adoptadas após essa data. Em termos de potencial de redução de emissões, a totalidade das políticas e medidas PNAC representa cerca de 12,6 MtCO2eq/ano, sendo que 7,3 MtCO2eq/ano provêm das MR, 3,7 MtCO2eq/ano das MA e 1,6 MtCO2eq/ano das novas metas 2007. No sentido do reforço da responsabilização de cada sector, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 104/2006,

determinou a necessidade de elaboração de Planos de Actuação, das políticas e medidas, aí consideradas, da responsabilidade dos Ministérios proponentes. Determinou, também, face à importância da monitorização do cumprimento do PNAC, que os Ministérios proponentes reportassem o progresso de cada medida no final de cada semestre. Encontra- se ainda previsto que, caso existam desvios desfavoráveis ao cumprimento do plano de actuação, seja apresentado, pelos Ministérios proponentes, um plano de contingência que permita colmatar a redução de emissões não alcançada.

 Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE), criado no âmbito do CELE e aplicável às instalações industriais com grandes emissões de GEE – sector de produção de energia, de produção e transformação de metais ferrosos, a indústria mineral (produção de cimento e cal, vidro e produtos cerâmicos) e a produção de pasta de papel e papel. O PNALE II, correspondente ao período 2008-2012, prevê um montante global de licenças de emissão a atribuir às instalações de 34,81 Mt CO2e/ano, sendo que uma parte deste montante (30,5 Mt CO2e) corresponde às instalações existentes, ficando a parte remanescente (4,3 Mt CO2e) destinada à constituição de uma reserva para novas instalações. O PNALE II também traduz um esforço de redução das emissões nacionais de GEE para as instalações abrangidas pelo CELE, dado que o valor atribuído, anualmente, para o período 2008-2012 para as instalações existentes, é inferior às emissões verificadas nestas instalações entre 2005 e 2007 e o montante destinado à reserva para novas instalações não utilizado, será cancelado.

 Fundo Português de Carbono, criado pelo Decreto-Lei n.º 71/2006, de 24 de Março, é o instrumento financeiro do Estado Português que visa suprir o défice de cumprimento do Protocolo de Quioto, que subsiste com a aplicação do PNAC e do PNALE. As linhas de acção no contexto do FPC, consistem: na obtenção de créditos de emissão de GEE, a preços competitivos, ao abrigo dos mecanismos de flexibilidade previstos no Protocolo de Quioto (CIE, IC e MDL); na obtenção de créditos de emissão de GEE, a preços competitivos, através do investimento em fundos geridos por terceiros ou outros instrumentos do mercado de carbono; apoio a projectos que conduzam a reduções de emissões de GEE no país quando o retorno em termos de emissões evitadas assim o recomende; e promoção da participação de entidades públicas e privadas nos mecanismos de flexibilidade do Protocolo de Quioto. A competência de gestão do FPC cabe ao Comité Executivo da Comissão para as Alterações Climáticas (CECAC), que também apoia a CAC na sua função de Autoridade Nacional Designada para os Mecanismos de Quioto. O FPC dispõe de uma dotação de 348 milhões de euros, para o período 2007-2012, para afzer face ao défice remanescente para o cumprimento das metas de Quioto e aos riscos de cumprimento do PNAC.

As projecções efectuadas, no âmbito do PNAC, estimam um valor médio anual de emissões de GEE de 84,60 Mt CO2e/ano relativamente a um cenário de referência. Através das políticas e medidas previstas no PNAC 2006 e das metas de 2007 (que incidem sobre políticas e medidas do

PNAC 2006 para os sectores da oferta da energia e dos transportes), o valor das previsões de emissões anuais situa-se nos 79,36 Mt CO2e. A soma das políticas e medidas adicionais do PNAC 2006 e das novas metas 2007, contribuem assim para uma redução média anual de 5,25 Mt CO2e (3,7 Mt associadas às medidas adicionais e 1,7 Mt associadas às novas metas 2007). Com o esforço adicional decorrente da aplicação do PNALE 2008-2012, estimado em 0,09 Mt CO2e/ano, fica ainda por suprir um défice médio anual da ordem dos 2,88 Mt CO2e/ano que deverá ser conseguido através do FPC, conforme se pode observar através da figura 12 (CAC, 2008).

Outline

Documentos relacionados