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3.1.2.3 – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

3.2 – C ONTEXTO E UROPEU

A problemática das Alterações Climáticas é um assunto que desde cedo mereceu a atenção da União Europeia (UE) que, tem tido, um papel fundamental e de vanguarda a nível internacional, participando, activamente, nas negociações internacionais sobre este domínio.

O objectivo que a UE ambiciona atingir é o de garantir que o aquecimento global não excede mais de 2º C os valores da temperatura da era pré industrial, o que significa atingir cerca de 450 a 500 ppm no máximo, face aos 750 ppm esperados caso nada seja feito (CCE, 2007a).

O percurso da UE baseia-se numa política integrada em matéria de energia e alterações climáticas, uma vez que a utilização de combustíveis fósseis para fins energéticos contribui fortemente para estas alterações. As medidas incluem, assim, normas de energia para os edifícios, medidas de promoção da utilização de energias renováveis, bem como disposições legislativas que visam limitar a utilização de determinados gases industriais cujo impacto no aquecimento global é significativo. Esta política foi subscrita pelos líderes da UE em Março de 2007, colocando, desta forma, a Europa na liderança do combate mundial às alterações climáticas (CE, 2008).

Mas o caminho seguido pela Europa já se tinha sido iniciado antes. Em 2000, foi criado pela Comissão Europeia, o Programa Europeu para as Alterações Climáticas (European Climate Change Programme - ECCP), com a finalidade de auxiliar a UE e os seus Estados-Membros a cumprirem os objectivos em matéria de emissões assumidos no âmbito do Protocolo de Quioto. Através do ECCP, já se desenvolveram e implementaram cerca de 40 políticas e medidas (as medidas incluem normas de energia para os edifícios e disposições legislativas que visam limitar a utilização de determinados gases industriais, cujo impacto no aquecimento global é muito elevado) a nível europeu, orientadas para a redução das emissões de GEE, que, têm servido de base e complemento às acções adoptadas pelos Estados-Membros a nível nacional. O ECCP resulta do contributo de várias entidades da sociedade civil, como académicos, peritos nacionais e Organizações Não Governamentais (ONG), permitindo consensos alargados e facilitando a implementação das medidas adoptadas (CE, 2008).

A primeira fase do ECCP decorreu entre 2000 e 2004 e contemplou diversos domínios, como a gestão da procura energética, a agricultura ou os transportes, e desenvolveu-se de acordo com a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da UE e o 6º Programa de Acção para o Ambiente da UE (2002-2012) que, colocam as alterações climáticas, como um assunto prioritário (CE, 2008). As medidas da UE para a redução das emissões de GEE visam, particularmente, os sectores da energia e dos transportes. A eficiência energética e o desenvolvimento de energias renováveis constituem as bases do primeiro. Quanto ao sector dos transportes, os objectivos assentam na

redução das emissões poluentes dos veículos e do consumo dos automóveis particulares, e, na promoção de veículos "ecológicos" (CE, 2008).

Foram assim criados dois instrumentos específicos com vista à redução das emissões de GEE (CE, 2008):

 O mecanismo de vigilância das emissões, segundo o qual os Estados-Membros fazem uma comunicação anual da sua situação e das medidas previstas em matéria de gases poluentes;

 O regime comunitário de transacção das licenças de emissão de gases com efeito de estufa - Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE).

O CELE representa uma das iniciativas políticas mais importantes, elaboradas no quadro do ECCP, constituindo o primeiro instrumento de mercado, especificamente desenhado pela UE, no âmbito das alterações climáticas (independente do Protocolo de Quioto, mas com o mesmo propósito). O CELE foi aprovado pela Directiva 2003/87/CE, lançado em 1 de Janeiro de 2005 e prevê o comércio de licenças de emissão dentro da UE, para operadores de determinadas instalações que desenvolvam actividades abrangidas pela Directiva, designadamente as que envolvem grandes consumos de combustíveis fósseis. O primeiro período de cumprimento do CELE decorreu entre 2005 e 2007, definindo-se períodos posteriores de 5 anos, coincidindo, o segundo período do CELE – 2008-2012 com o primeiro período de cumprimento do Protocolo de Quioto (CE, 2008).

Actualmente, o CELE, abrange cerca de 11 600 instalações dos sectores energético e industrial, responsáveis, no seu conjunto, por cerca de metade das emissões de CO2 da UE. O regime constitui um incentivo financeiro de minimização das emissões das empresas participantes, uma vez que aplica um custo às suas emissões de Carbono. As autoridades nacionais de cada Estado- Membro da UE, concedem um determinado número de licenças de emissão de gases a cada instalação e as empresas que mantenham as suas emissões abaixo do montante da sua licença, podem vender as quotas de emissões não utilizadas, a outras empresas, em princípio àquelas que prevêem vir a exceder os respectivos limites de emissão (CE, 2008).

Se previrem dificuldades quanto ao cumprimento dos seus limites, as empresas, podem desenvolver medidas que visem reduzir as suas emissões (e.g. investimentos em tecnologias mais eficazes, utilização de fontes de energia com menos emissões) ou adquirir no mercado as licenças complementares necessárias. As empresas que excedam os seus limites de emissões e não cubram esse excesso, com emissões compradas a terceiros, sujeitam-se ao pagamento de multas elevadas. Os limites impostos, ao número total de licenças, criam a escassez necessária para que o mercado funcione. No âmbito do CELE, as empresas podem, ainda, utilizar os créditos de emissão gerados por projectos de poupança de emissões de países terceiros, desenrolando-se este regime no quadro do MDL e dos projectos JI, ao abrigo do Protocolo de Quioto. A procura destes créditos constitui, assim, um forte incentivo ao investimento em ideias que reduzam as emissões noutros países (CE, 2008).

Figura 11– Funcionamento do Comércio de Emissões (Adaptado de Ferreira, 2008).

Uma segunda fase do ECCP teve início em Outubro de 2005, com o lançamento de um documento em sinergia com a Estratégia de Lisboa, nomeadamente, nas áreas da eficiência energética, energia renovável, transportes e sequestro e retenção do carbono, baseando-se essencialmente (CE, 2008):

 No reforço dos objectivos do CELE, através do alargamento do controlo das emissões aos transportes rodoviários e aéreo, uma vez que, as instalações dos sectores energético e industrial, não constituem as únicas infra-estruturas responsáveis pelo aumento das emissões de GEE;

 No desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono;

 No financiamento de estratégias de adaptação às alterações climáticas.

Pacote Energia-Clima

Em Janeiro de 2008, a Comissão Europeia aprovou um pacote climático e energético, constituído por um conjunto de propostas para acções concretas e um conjunto de objectivos ambiciosos, designado “Pacote Energia-Clima”.

Com o Pacote Energia-Clima definiu-se o objectivo principal de reduzir, até 2020, as emissões de GEE para, pelo menos, 20% abaixo dos níveis de 1990. Este compromisso poderá atingir os 30% caso se obtenha um acordo internacional que vincule outros países desenvolvidos a "atingir reduções de emissões comparáveis, e os países em desenvolvimento economicamente mais avançados contribuam adequadamente, de acordo com as suas responsabilidades e respectivas capacidades" (CCE, 2008).

Para se alcançar este objectivo principal, o Pacote Energia-Clima, define também os seguintes objectivos principais (CCE, 2008):

 Redução do consumo de energia em 20% até 2020, mediante a melhoria da eficiência energética;

 Aumentar a quota de energias renováveis (e.g. eólica, solar, biomassa) no consumo energético final para uma média de 20%, até 2020 em toda a UE, o que representará mais de o dobro dos níveis actuais (cerca de 8,5 %);

 Decuplicar - para pelo menos 10% - até 2020 a percentagem de combustíveis de origem renovável, incluindo biocombustíveis, no consumo total de gasolina e de gasóleo; garantir a sustentabilidade da produção de biocombustíveis, sejam eles produzidos na UE ou importados; criar incentivos para o desenvolvimento de biocombustíveis a partir de desperdícios, resíduos e outras fontes que não se destinem à alimentação.

São também reforçados, com este Pacote, os objectivos do ECCP no sentido de serem abrangidos todos os principais emissores industriais e de se aumentarem os leilões de licenças. O Pacote prevê que as emissões no âmbito dos sectores não cobertos pelo CELE como os transportes, os edifícios, agricultura e resíduos sejam reduzidas para 10% abaixo dos níveis de 2005 (CCE, 2008).

São ainda propostas medidas de promoção de tecnologias de sequestro e armazenamento de carbono, redução de emissões de CO2 dos automóveis e introdução de normas mais rígidas no que se refere à qualidade dos combustíveis (CCE, 2008).

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