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5.2.2 – A Estratégia Municipal de Adaptação da Cidade do Cabo

Uma das mais detalhadas estratégias municipais de adaptação foi realizada em África, na Cidade do Cabo.

A estratégia designada “Framework for Adaptation to Climate Change in the City of Cape Town”(FAC4T), foi encomendada pelo Departamento de Planeamento Ambiental da Câmara Municipal da Cidade do Cabo, tendo sido elaborada em 2006.

O objectivo da estratégia é desenvolver um quadro de adaptação em resposta aos potenciais impactes da mudança climática, na região metropolitana da Cidade do Cabo, a curto e médio prazo. O documento apresenta um quadro de abordagem consolidada, coordenada e integrada, à escala da cidade, para lidar com a adaptação às alterações climáticas (Mukheibir, et al. 2006).

Seguindo este quadro, a FAC4T refere como etapa posterior, a elaboração de um Plano de Acção de Adaptação da Cidade, que resulte na implementação de iniciativas de adaptação para minimizar a vulnerabilidade aos impactes do clima, e na mobilização dos recursos necessários para a sua execução. Essas estratégias deverão responder, não apenas aos impactes climáticos previstos, mas assegurar, paralelamente, uma certa resistência à variabilidade climática actual (Mukheibir, et al. 2006).

Com efeito, o input para o desenvolvimento da estratégia surge da percepção dos efeitos que as alterações climáticas terão na África do Sul, em particular, nas províncias do Norte e Ocidente (onde se localiza a Cidade do Cabo), mas também da ocorrência de um número significativo de desastres e eventos associados a condições meteorológicas actuais, tais como: inundações (1994 e 2001), tempestades de vento no bairro Manenberg (1999 e 2002), incêndios na Península Sul (2000), incêndios nos assentamentos informais Joe Slovo (2000, 2004, 2005), fortes tempestades (2003, 2004, 2005) e secas recorrentes e graves (2002-2005) [Mukheibir, et al. 2006].

Na FAC4T são analisados os impactes directos sobre os recursos naturais, os impactes secundários sobre o ambiente, socioeconomia e subsistência das comunidades, bem como as estratégias específicas de resposta a estes impactes (Mukheibir, et al. 2006).

A estratégia Sul-africana de combate às alterações climáticas, havia identificado como principais questões a considerar, a nível de adaptação às alterações climáticas, na África do Sul: a saúde, a água; a agricultura; as pastagens; e a biodiversidade. Das questões referidas, a agricultura e as pastagens, constituem as de menor importância para a Cidade do Cabo, pelo que a FAC4T considerou outros impactes das mudanças climáticas, com relevância para a cidade, de que são exemplo, os meios de subsistência ou a gestão das zonas costeiras (Mukheibir, et al. 2006).

Para a elaboração da FAC4T foram consideradas as prioridades estratégicas da Cidade do Cabo, que constam do Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI), anualmente, revisto (Mukheibir, et al. 2006).

O PDI contém um conjunto de metas a longo prazo, para a Cidade do Cabo, para o ano de 2020, incluindo algumas relacionadas com os impactes do clima, a saber (Mukheibir, et al. 2006):

 Melhoria de 100% a nível dos principais indicadores de desenvolvimento humano;

 Cobertura total de acesso a serviços básicos;

 Quota de energias renováveis igual a 10% da energia consumida.

A FAC4T também teve em conta a legislação nacional, relevante para o quadro de adaptação à mudança climática, designadamente (Mukheibir, et al. 2006):

 Constituição da África do Sul;

 Lei dos Sistemas Municipais;

 Plano de Desenvolvimento Integrado;

 Lei Nacional da Água e Lei dos Serviços da Água;

 Gestão Ambiental Nacional;

 Conservação do Ambiente;

 Lei da Gestão de Desastres;

 Lei da Biodiversidade;

 Outras leis relacionadas com as autoridades locais e potenciais impactes do clima: Prevenção da Poluição Atmosférica, Conservação dos Recursos Agrícolas, Saúde, Recursos Marinhos, Património Nacional, Savanas Nacionais e Incêndios Florestais, Conservação da Natureza, Zonas Costeiras, Convenção do Património Mundial.

Foram ainda consideradas obrigações da África do Sul, em termos de adaptação, no contexto da UNFCCC.

Para o desenvolvimento da FAC4T são indicadas como etapas necessárias (Mukheibir, et al. 2006):

 Avaliação das tendências do clima actual e projecções futuras;

 Realização de uma avaliação de vulnerabilidade: identificar vulnerabilidades correntes (em cada sector e para temas transversais), com base nos riscos e tendências do clima actual, e identificar vulnerabilidades futuras, baseadas em cenários do clima e riscos futuros;

 Formulação da estratégia;

 Desenvolvimento de opções de adaptação;

 Avaliação de estratégias de adaptação prioritárias;

 Programação e concepção do projecto;

Implementação;

 Acompanhamento e avaliação das intervenções.

De acordo com a FAC4T, as etapas descritas devem ser complementadas por dois processos transversais (Mukheibir, et al. 2006):

Envolvimento dos stakeholders, para identificar os sectores mais vulneráveis e iniciativas de adaptação já existentes ou a desenvolver;

 Avaliação da capacidade adaptativa dos diversos sectores que serão afectados pelos impactes das alterações climáticas e do seu potencial de redução da vulnerabilidade. Este aspecto deve incluir uma avaliação da capacidade do governo local para tratar estas questões.

A Cidade do Cabo dispõe de uma série de planos e estratégias locais, onde são identificadas questões-chave prioritárias e vulnerabilidades socioeconómicas. A FAC4T sugere que estas sejam alvo de nova avaliação, que permita identificar vulnerabilidades relacionadas com os impactes da mudança climática (ou seja, como a variabilidade climática e as mudanças esperadas, poderão aumentar a vulnerabilidade em diferentes sectores) [Mukheibir, et al. 2006]. Esta sobreposição permitirá identificar pontos críticos, onde se deverão concentrar actividades de adaptação e contribuir para a elaboração do Plano de Acção de Adaptação da Cidade, conforme se ilustra na figura 17.

Figura 17- Processo de desenvolvimento do Plano de Acção de Adaptação da Cidade (Mukheibir, et al 2006).

Um passo inicial para o desenvolvimento do Plano de Acção de Adaptação da cidade consiste na consolidação e integração de iniciativas de adaptação já existentes a nível nacional ou em municípios vizinhos (Mukheibir, et al. 2006).

Com base nos dados disponíveis, foi identificada uma série de impactes, induzidos pelas alterações climáticas, e apontadas algumas medidas de adaptação para a Cidade do Cabo (Mukheibir, et al. 2006).

Os referidos impactes incluem (Mukheibir, et al. 2006):

 Aumento do stress hídrico na cidade, devido à previsão de redução da precipitação e aumento da evaporação pelo aumento da temperatura;

 Aumento do nível médio do mar, com consequente aumento da vulnerabilidade das praias, margens e zonas costeiras, obrigando ao desenvolvimento de infra-estruturas adequadas a tempestades e à erosão;

 Aumento da temperatura pode levar a mudanças na intensidade e frequência de incêndios que, por sua vez, podem desencadear a destruição ou a migração de plantas e ou espécies de animais sensíveis, que já se encontram no limite da sua tolerância à temperatura e precipitação.

 Ocorrência de eventos climáticos extremos (e.g. tempestades) dos quais podem resultar danos nas infra-estruturas;

 A saúde e meios de subsistência poderão ser indirectamente afectados, especialmente através do risco de incêndios e alterações na qualidade do ar.

Para cada sector chave identificado na FAC4T, é efectuada uma introdução, são referidas as vulnerabilidades e os impactes previstos, e são indicadas as iniciativas de adaptação propostas (Mukheibir, et al. 2006).

No anexo VII são apresentados os sectores chave identificados na FAC4T e estratégias de adaptação já existentes ou a desenvolver.

A FAC4T apresenta uma visão ampla do problema colocado pelas alterações climáticas projectadas, requerendo, uma maior atenção, em termos de detalhe e relativamente a várias áreas, antes da implementação de estratégias adaptativas (Mukheibir, et al. 2006).

É reforçada na FAC4T, a necessidade de serem efectuados estudos mais aprofundados, principalmente para reduzir as incertezas relacionadas com as projecções climáticas; com as consequências de impactes; e com as vulnerabilidades sectoriais (especialmente nos sectores da água, desenvolvimento urbano, ambiente, saúde e meios de subsistência). A FAC4T sugere ainda a realização de uma avaliação mais detalhada da vulnerabilidade das principais áreas de risco, juntamente, com prováveis prazos em que, terão lugar os impactes (Mukheibir, et al. 2006).

Apesar desta aproximação cautelosa, as estratégias de adaptação propostas para cada sector identificado, podem atenuar ou evitar os piores efeitos das alterações climáticas. E estas são consideradas iniciativas que cada sector pode estudar, como ponto de partida para o desenvolvimento do Plano de Acção (Mukheibir, et al. 2006).

5.2.3 – Algumas Estratégias de Adaptação de nível Regional e Local em território

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