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5.2.4 Alguns factos sobre as Estratégias Regionais de Adaptação de países da União Europeia e de países fora da União Europeia

O estudo Design of guidelines for the elaboration of Regional Climate Change Adaptations Strategies (2009), efectuado para a Comissão Europeia, identificou 31 estratégias regionais de adaptação (ERA) em 6 países europeus: França, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Suécia e Espanha.

A figura 18 apresenta os detalhes metodológicos da avaliação efectuada através do referido estudo.

Da avaliação efectuada pelo estudo às ERA foram retiradas as seguintes conclusões (Ribeiro et al, 2009):

 Quanto aos diferentes âmbitos geográficos das ERA – Foram identificados dois principais tipos de regiões que têm desenvolvido ERA: sub-governos nacionais, com diferentes níveis de autonomia, de que são exemplos, províncias (Alemanha, Espanha e Holanda) ou países (Reino Unido); e grandes cidades ou aglomerações urbanas de que são exemplo, Paris, Londres ou Roterdão. Paralelamente, também se encontram a ser desenvolvidas estratégias transnacionais em bacias hidrográficas partilhadas, mas que não foram objecto de análise do estudo.

 Quanto às diferentes fases políticas - Na Europa, algumas regiões já começaram a avaliar a sua vulnerabilidade mais detalhadamente, ou já começaram a desenvolver planos de resposta. O facto de que muitas das ERA identificadas se encontrarem a ser desenvolvidas em países que possuem uma ENA, sugere que, pelo menos informalmente, a política de desenvolvimento está a evoluir de uma forma interactiva entre o governo central e regional/ local.

 Quanto às estratégias direccionadas à adaptação e mitigação - Muitos dos planos estratégicos de regiões em Espanha, Alemanha e Reino Unido apresentam acções e medidas de adaptação e mitigação. Estas ERA procuram optimizar os recursos, olhando para as acções que podem influir sobre a melhoraria da adaptação e da redução das emissões de GEE, simultaneamente.

 Quanto ao papel das estratégias nacionais - Geralmente, as ENA existentes fornecem um quadro para o desenvolvimento de ERA. As ENA podem incluir eventuais obrigações legais para desenvolvimento de planos de adaptação (como no caso do Reino Unido), ou simplesmente incentivar e apoiar o seu desenvolvimento (como na maioria dos outros países). A relativa escassez de ERA concretas sugere que a disponibilidade de orientações de nível nacional ou europeu para a concepção de ERA pode ser útil, especialmente para os países com menos recursos (em situação oposta à que se vive em países como o Reino Unido ou Alemanha).

 Quanto à desarticulação da informação científica – As regiões utilizam a informação que têm disponível (por exemplo, na selecção de cenários de clima e outros), o que pode levar a grandes diferenças na formação científica das suas estratégias. Geralmente, a ênfase encontra-se nas informações sobre potenciais impactes, dando-se pouca atenção à capacidade de adaptação. Enquanto não existir uma harmonização dos métodos, métricas e cenários em toda a Europa, provavelmente não é possível nem desejável, fornecer orientações para melhorar a compreensão das implicações e limitações de escolhas particulares.

 Quanto aos sectores prioritários nas orientações das ERA – As ERA cobrem uma grande variedade de sectores vulneráveis, dependentes do contexto regional específico. Podem destacar-se duas áreas de vulnerabilidade: a saúde (e.g. gestão de stress térmico e novas doenças transmitidas por vectores) e gestão da paisagem (e.g. eliminação de águas

residuais urbanas, aumento do nível do mar, secas). Como as regiões diferem em relação às suas estruturas ambientais, sociais e económicas, a vulnerabilidade dos seus sectores económicos também variam.

Quanto ao envolvimento dos stakeholders - Embora nem todos os documentos contenham informações sobre os seus processos de desenvolvimento, a maioria das ERA parecem ter sido desenvolvidas através de um organismo responsável, normalmente, consultando entidades regionais, e, às vezes, actores locais ou nacionais. A maioria das estratégias não fornecem detalhes sobre a organização do acompanhamento e a passagem das estratégias a processos de acção. Pode estar implícito que, o mesmo tipo de arranjo institucional utilizado para o desenvolvimento da ERA, pode, também, ser adoptado na fase de execução, o que, não significa, por si, que este corresponda à metodologia mais eficaz.

 Quanto à avaliação estratégica - Não é, usualmente, utilizada para avaliar os planos de acção regionais para a mudança de clima.

 Quanto à passagem da estratégia à acção – É dada pouca atenção às questões de implementação, tais como os instrumentos e políticas de implementação; a atribuição de responsabilidades, específicas para os diferentes intervenientes e a diferentes níveis administrativos; ou os custos. Da mesma forma, as ERA, contêm pouca informação sobre os recursos necessários para a sua implementação. Apenas algumas ERA mencionam como se irá organizar o acompanhamento ou estimar os custos de implementação. Finalmente, as ERA também não apresentam informação sobre a monitorização ou a eficácia das políticas implementadas.

No total, o estudo analisou 14 documentos de orientação: 10 desenvolvidos no seio da UE e 4 desenvolvidos fora da UE.

As características comuns identificadas nos documentos de orientação foram as seguintes (Ribeiro et al, 2009):

 Apoio político e compromisso de gestão - Uma vez que a adaptação é uma questão multidisciplinar, que permeia a política e as diversas áreas de intervenção, ganhar apoio político e ter um compromisso de gestão, são aspectos cruciais no desenvolvimento de uma ERA. O apoio político pode facilitar o processo de colaboração dos vários departamentos de uma autoridade regional, e, paralelamente, garantir o compromisso da alta administração, pode agilizar o desenvolvimento de respostas de adaptação e garantir o financiamento necessário para implementação dessas acções.

 A incorporação e integração da adaptação às alterações climáticas no âmbito de planos, políticas e programas - A incorporação ou integração da adaptação em planos futuros ou já existentes e nas políticas e programas é considerado pela maioria das directrizes revistas, um passo importante na redução da vulnerabilidade às mudanças climáticas em todos os sectores. Este aspecto, também parece garantir que, as visões e metas sobre a mudança climática, são reflectidas de forma consistente através de todas as políticas, incluindo estratégias comunitárias para a sustentabilidade, planos de gestão de activos, os planos

de viagem e de políticas de contratos. Adicionalmente, a ter-se uma estratégia de adaptação isolada, as acções de adaptação necessárias, deverão caracterizar todas as políticas sob pena de serem vistas como um extra opcional.

 Desenvolver uma base de evidência - Uma ERA robusta deverá basear-se em dados científicos sólidos e na melhor tecnologia e informação disponíveis (e.g. devem ser usados cenários de alterações climáticas e avaliações de riscos para se identificarem as potenciais ameaças e oportunidades associadas à mudança do clima).

 Identificação de vulnerabilidades chave - A avaliação de vulnerabilidade é uma forma de medir o grau em que uma comunidade/ sector ou activo/recursos serão afectados pelos efeitos adversos da variabilidade e alterações climáticas. Antes de se realizar uma avaliação da vulnerabilidade deve considerar-se o tempo disponível; as áreas de planeamento prioritárias; o orçamento disponível; e diferentes cenários (melhor situação, pior situação ou business as usual).

 Selecção e avaliação das opções de adaptação - As opções de adaptação podem ser divididas em quatro categorias: ”no regrets”, “low regrets”, ”win-win", e flexíveis ou adaptativas. Estas acções, podem ainda, ser divididas consoante permitam criar capacidade adaptativa (planeamento, pesquisa e educação) ou implementar medidas físicas (tais como defesas costeiras contra inundações). A “má-adaptação” pode ser evitada pela recusa de opções de adaptação que são susceptíveis de aumentar a vulnerabilidade aos impactes do clima futuro.

 Envolvimento dos interessados e comunicação - Esta etapa é considerada a chave para uma estratégia bem sucedida e deve, efectivamente, envolver as partes interessadas, para que se maximize a tolerância e aceitação da estratégia.

 Monitorização, avaliação e revisão - O objectivo do acompanhamento, avaliação e revisão da estratégia é determinar se o projecto ou actividade proporciona os benefícios pretendidos e/ ou gera impactes negativos. As actividades de avaliação e monitorização devem ser realizadas para verificar a eficácia das medidas tomadas e fazer ajustes, se necessário. Além disso, permitem a actualização da informação sobre a evolução climática, científica e tecnológica.

O estudo também permitiu identificar algumas lacunas e limitação das directrizes de adaptação existentes, a saber (Ribeiro et al, 2009):

 A definição de objectivos - É um elemento-chave no desenvolvimento das ERA, já que, permite o benchmarking. A configuração de uma estratégia, com base numa clara definição de objectivos de desenvolvimento, possibilita que as acções sejam referenciadas, o que é particularmente útil para as futuras revisões (periódicas). No entanto, esta etapa não é levada a cabo, de forma extensiva, em muitos dos documentos de referência (não sendo este o caso do UKCIP)

 A incerteza como um dos principais constrangimentos no desenvolvimento de estratégias de adaptação - É reconhecido que devem ser desenvolvidos e testados métodos para

corrigir as incertezas nas projecções dos modelos, a fim de se obterem cenários de impactes regionais, com uma alta resolução espácio-temporal. Esta acção permitirá uma melhor avaliação dos impactes localizados e o desenvolvimento de estratégias de adaptação.

 A limitação da falta de dados no desenvolvimento de estratégias de adaptação - É necessário o desenvolvimento de mapas de risco, a fim de identificar onde existem riscos climáticos. Paralelamente, devem ser desenvolvidos bancos de dados que agreguem todas as informações espaciais sobre um determinado município e sub-nível local. Este mecanismo, poderia, basear-se na Climate Change Impacts and Adaptation Clearinghouse a ser desenvolvido pela Comissão Europeia.

 Cooperação e comunicação entre diferentes regiões e países é uma outra restrição no desenvolvimento de ERA - A mudança climática é um problema transfronteiriço. É portanto, inevitável que surjam conflitos de interesses a todos os níveis geopolíticos, do local ao internacional. A cooperação e comunicação devem ser mantidas, também, como forma de minimizar possíveis disputas. Existe uma necessidade de comunicação e cooperação transfronteiriça, interdisciplinar e intergeracional que objective a partilha de melhores práticas e o desenvolvimento das ferramentas adequadas, para controlar e prevenir os riscos, e implementar ERA úteis em todas as comunidades.

 A falta de compreensão sobre o que é realmente a adaptação pode ser outra restrição no desenvolvimento de estratégias de adaptação - Muitas vezes, a adaptação é confundida com a mitigação, ou, esta última, é considerada mais importante. Há ênfase na necessidade de diálogo contínuo entre os decisores políticos, governo, cientistas, ONG e público no sentido de aumentar a compreensão, a transferência de conhecimentos e garantir que todas as partes estão satisfeitas com as estratégias, sendo de facto implementadas as orientações.

 A abordagem a questões sectoriais específicas, destacadas no Livro Branco, foi grandemente negligenciada - A maioria das orientações revistas abordam a adaptação a um nível geral, focando-se nas principais fases do desenvolvimento de uma estratégia, na angariação de apoio político e na incorporação da adaptação n

a

s actuais estratégias. Na maioria das orientações não são focados sectores e questões específicos. Contudo, algumas orientações abordam dimensões mais particulares. As recomendações incluem a monitorização das zonas onde são esperados maiores impactes, e, o desenvolvimento de um plano comum transnacional sobre a avaliação dos riscos. Existem novas orientações que abrangem áreas sectoriais, de que são exemplo, as orientações espanholas para o desenvolvimento de planos de emergência para lidar com a seca em centros urbanos.

CAPÍTULO VI

PROPOSTA PARA UMA METODOLOGIA DE

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