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A chegada dos primeiros imigrantes – os alemães

CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO DA I(E)MIGRAÇÃO JAPONESA NO PROCESSO DE

1.5 HISTÓRIA DE SANTA MARIA – O ACOLHIMENTO DOS IMIGRANTES

1.5.1 A chegada dos primeiros imigrantes – os alemães

Por volta do ano de 1828, instalaram-se, na vila, as primeiras famílias de imigrantes alemães, que haviam sido contratados pelo Império brasileiro para combaterem na Guerra da Cisplatina e faziam parte do 28º Batalhão de Atiradores. Desses primeiros alemães provenientes do 28º Batalhão de Atiradores, Külzer (2009) ressalta a presença de João Appel, que logo que estabeleceu-se na região casou-se com Ana Maria de Oliveira, filha de Maximiano José de Oliveira, proprietário de terras na região. Para a autora foi dessa maneira, através de alianças de casamento e relações de compadrio, que muitos teutos inseriram-se entre os nacionais e obtiveram prosperidade.

Para Külzer (2009, p. 64), a Vila de Santa Maria, em meados do século XIX “se caracterizava por ser uma região que associava a criação de gado, a produção de alimentos com um pequeno comércio regional”. A autora evidencia o predomínio de pequenos e médios criadores, pela grande concentração de terras e pelo domínio da pecuária na região.

Em 1835, deu-se início a chamada “Guerra dos farrapos”, que envolveu a elite do Rio Grande do Sul, não sendo diferente na pequena cidade de Santa Maria/RS. O conflito conhecido na historiografia como Revolução Farroupilha teve como estopim a insatisfação dos estancieiros do Rio Grande do Sul frente a Coroa Imperial que optou por comprar o charque uruguaio ao invés do gaúcho. Segundo Ribeiro (2010), a cidade não foi campo de combates armados da Revolução Farroupilha, contudo, “a constante mobilização militar no Rio Grande do Sul daqueles anos, não deixou de influir de alguma forma no pequeno lugarejo” (2010, p. 227). O autor destaca que, mesmo os combates acontecendo distantes de Santa Maria/RS,

(...) deslocamentos das tropas passaram por Santa Maria/RS, oficiais militares requisitaram gêneros e recrutaram homens na rua do Acampamento, desertores dos exércitos de refugiaram nas serras adentradas pela Boca do Monte, moradores do povoado se posicionaram a favor e contra os lados em combate, efetivos foram desmobilizados e arranchados nos arrabaldes e se inseriram na construção daquela Santa Maria da Boca do Monte que herdamos hoje (RIBEIRO, 2010, p. 228).

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O conflito farroupilha findou em 1845, com a assinatura do Tratado de Poncho Verde32, no qual houve a rendição dos rebeldes rio-grandenses. Nos anos que se seguiram, no período de 1846 a 1858, outros imigrantes alemães se instalaram na localidade. As famílias de imigrantes alemães, que chegaram nessa segunda fase da imigração alemã, encontraram um cenário econômico e social bastante diferente (NICOLOSO, 2013).

Ao separar-se de Cachoeira do Sul/RS, em 1857, Santa Maria/RS foi elevada à condição de vila. O município foi criado em 16 de dezembro de 1857 e instalado em 17 de maio de 1858. Por situar-se na região central do Rio Grande do Sul, o município de Santa Maria se configura como um ponto de intersecção rodoviário e ferroviário, sendo acessado por várias rodovias da malha principal, federal e estadual, promovendo o comércio com o resto do Estado e, também, com os países vizinhos (BELÉM, 2000). De acordo com Nicoloso (2013), havia uma preponderância de alemães33 nas primeiras Câmaras de Vereadores instituídas no novo município e também nos negócios e comércios da cidade. Esse fato pode ser explicado pelo que Levi (2000) chama de alianças familiares, através dos negócios constituídos pelas famílias “alemãs” com os grupos nacionais34, que conformavam “frentes familiares” de atuação

econômica e política. Tais alianças e frentes familiares ocorreram entre outros grupos imigrantes, que chegaram posteriormente à cidade, entre eles os italianos e os japoneses.

Em torno de 1860, o pequeno município contava aproximadamente com 6.000 (seis mil) habitantes, e sua malha urbana contava com poucas ruas. Entre 1860 a 1870, já se consolidavam na elite santa-mariense as famílias alemãs (NICOLOSO, 2013). As atividades econômicas realizadas no espaço urbano, como o artesanato e o comércio, ganhavam cada vez mais destaque, contudo nesse período Santa Maria/RS ainda era predominantemente rural. As propriedades rurais da época se voltavam para o cultivo de milho, arroz, feijão, trigo, batatas, cana, fumo, cevada, amendoim, mandioca e, especialmente, o cultivo da uva em grande escala. Uma das sociedades que reuniam e amparavam os imigrantes alemães na cidade de Santa Maria/RS, em meados do séc. XIX, era a Sociedade de Beneficência Alemã criada em 1866, a qual durante bastante tempo tinha função de auxiliar os alemães em dificuldades que passassem por Santa Maria/RS. Posteriormente, tornou-se sociedade de amparo mútuo, com

32 Para maiores informações sobre o período final da guerra e o Tratado de Poncho Verde, ver Pesavento (1982). 33 Tendo como base Cunha (1991), utilizou-se o termo “alemães”, em consonância com Nicoloso (2013), para definir os diferentes grupos culturais que emigraram de regiões que hoje correspondem ao território de Estado Alemão para o Império do Brasil, durante as três primeiras etapas da imigração alemã, para o Rio Grande do Sul no séc. XIX. Tendo em vista que o RS recebeu levas migratórias das regiões de Hunsruck, do Reino da Prússia, de Bremen, de Hamburgo entre outras.

34 Termo utilizado por Witt (2008) para definir grupos parentais de origem não-germânica e que se enquadra no período histórico destacado. Posteriormente, poderá ser utilizado relacionando-se à outros grupos imigrantes, mas todos serão referendados.

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prédio próprio, oferecendo atividades esportivas e recreativas em sua sede, além de manter a Escola Teuto-brasileira (SILVA; SAQUETT, 2011). Mais tarde, essa sociedade de amparo mútuo veio a tornar-se a Sociedade Concórdia Caça e Pesca (SOCEPE), ainda hoje um dos clubes mais tradicionais da cidade, porém sem a característica étnica.

De acordo com Silva e Saquett (2011), os alemães e seus descendentes integraram-se à vida da sociedade local, como em todos os lugares do Rio Grande do Sul onde se instalaram os imigrantes alemães. Assimilaram a música popular dos gaúchos, dando-lhe um toque germânico, introduzindo os instrumentos de sopro e o acordeom, por exemplo. O mesmo aconteceu com outros grupos étnicos que emigraram para o Rio Grande do Sul ao se integrarem à comunidade, estabelecendo uma “trama cultural” (SILVA, 2013) de brasilidade com a identidade de origem, formando as identidades hifenizadas de Lesser (2001).