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Nihonjinkai – a associação dos imigrantes japoneses de Santa Maria/RS – século XX

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. Alexandra Begueristain da Silva. NIHONJINKAI – A ASSOCIAÇÃO DOS IMIGRANTES JAPONESES DE SANTA MARIA/RS – SÉCULO XX. Santa Maria, RS 2019.

(2) Alexandra Begueristain da Silva. NIHONJINKAI - A ASSOCIAÇÃO DOS IMIGRANTES JAPONESES DE SANTA MARIA/RS – SÉCULO XX. Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em História, área de concentração Memória e Patrimônio, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em História.. Orientador: Prof. Dr. André Luís Ramos Soares. Santa Maria, RS 2019.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA.

(4)

(5) DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho à minha amada mãe Regina, que, em sua pequenez de tamanho, possui um coração enorme e a fortaleza de um ‘Sol’ que ilumina o lar e os filhos. Que ensinou os filhos a não desistirem dos sonhos, nem mesmo enfrentando os mais diversos obstáculos. Com pouco dinheiro, criou os filhos com dignidade e nos trouxe até aqui, à ver a materialização deste sonho de menina. Que a minha infinita gratidão por ti, materialize-se e eu possa retribuir, ainda que mais tarde, tudo que fez por nós.. Teus brancos cabelos, que o tempo cobriu Com a prata parida de amor a teus filhos Saudades do velho que cedo partiu Ficastes sozinha seguiste teu trilho. Se filhos criados, trabalhos dobrados Te fazem pensar que o amor não cansou Seguido te vejo, com olhos molhados Olhando este “homem”, que um dia embalou. Descansa mãe velha te senta ao meu lado Que o mate está quente e o teu coração São brasas ardentes fiquemos calados Desfruta esta voz segure em tuas mãos (“Mãe Campeira”, trecho da música de Sandro Coelho e Celso Dornelles.).

(6) AGRADECIMENTOS Ao findar o período de quatro anos dedicados ao doutorado em História, da Universidade Federal de Santa Maria, são muitas as memórias que pude construir ao lado de colegas e professores. Muitos foram os aprendizados teóricos, metodológicos, mas sobretudo de experiência de vida. A gratidão é um ensinamento do Budismo Nitiren, que carrego como um dos valores mais preciosos, gratidão ao pais, gratidão aos professores, aos mestres, aos desafios vencidos, ao universo. Em japonês “okaguesamade1”, de forma que manifesto aqui a mais pura gratidão à tudo o que me trouxe até este momento, inclusive as dificuldades. Okaguesamade, por ter encontrado o orientador certo, por escolher este objeto de pesquisa, por ter encontrado todos esses professores, por ter aprendido tanto. Aos professores, agradeço, em especial, ao meu orientador Prof. Dr. André Luís Ramos Soares, por quem tenho profunda gratidão e reconheço, através de outro “valor” japonês, ter uma dívida de gratidão o On. Para os japoneses “una de las máximas virtudes que un individuo puede poseeer es el saber devolver el favor; la benevolencia recibida, esto es precisamente lo que trata este concepto de obligación como pauta moral (...)” (DORADO, 1993, p. 36). Aos demais professores do PPGH, também manifesto toda a minha gratidão, por terem auxiliado nesse processo de aprendizado, desde a seleção para o doutorado. Todos, sem exceção, foram sobremaneira importantes nesta trajetória. Os colegas com quem dividi minhas angustias e temores em relação à construção teórico-metodológica desta tese, igualmente sou grata, sobretudo à colega Tomoko Kimura Gaudioso, bem como aos secretários que passaram pelo PPGH durantes esses quatro anos. Em especial, preciso demonstrar a minha gratidão aos professores que aceitaram participar desta banca, deste momento único, tenso, que marca um divisor de águas, a culminância da vida acadêmica e profissional de quem escolhe a academia. Às professoras, Dra. Maria Catarina Chitolina, Dra. Marta Rosa Borin, Dra. Maíra Inês Vendrame, Dra. Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos e aos professores Dr. Jorge Luiz da Cunha e Dr. Marcos Antônio Witt, todo o meu respeito e gratidão por estarem presentes neste momento. Agradeço, antecipadamente, todas as suas contribuições e à análise cuidadosa para que esta tese seja exitosa. O termo em japonês “okagesamade”, que significa “Kage é o ideograma de yin (do yin-yang) e também é negativo, melancolia, sombra, favor, assistência. Okage-sama deshita, literalmente significa: “Você que foi ou tem sido de grande ajuda, apoio, assistência”. Poderia ser traduzida como: “Graças à sua ajuda ou de outros, ou da natureza, do universo...”. 1.

(7) Não vejo maneira mais adequada de demonstrar a minha gratidão senão manifestando o meu respeito, não há como retribuir tal dádiva. Em Mauss (2002), o processo de obrigação de retribuir o que é dado está ligado à moral e à ética; o compromisso interior de ser humano e de acreditar e confiar na gratidão está relacionado ao doar-se, ajudar e receber, bem como ao respeito entre as pessoas, à reciprocidade e à cordialidade (MAUSS, 2002). Agradeço, especialmente, às famílias japonesas que contribuíram para que esta tese pudesse ser realizada, sobremaneira às famílias Yamamoto, Nishino, Suguimoto e Noda, que abriram suas casas, suas caixas de fotografias e suas memórias. Muito obrigada pelo carinho e atenção que dispensaram a mim e ao meu trabalho. Dōmo arigatōgozaimashita. A minha gratidão, sobretudo, à minha mãe Regina Maria Begueristain da Silva, que sempre acreditou em mim, inclusive quando eu mesma duvidava. Mãe que é exemplo de força interior, coragem e esperança, não há no mundo como retribuir tudo o que ela faz ou como explicar o que ela representa. Ao meu irmão, Rafael, por estar ao meu lado em todos os momentos. À memória de meu pai Antonio Alexandre da Silva, meu profundo agradecimento, por toda a herança de dignidade, bondade e honradez. À minha família, que eu tenha como honrá-los sempre, seguindo os princípios da cultura japonesa estudada. À Ikeda Sensei, por oportunizar, trazendo o Budismo Nitiren para o Brasil, que uma menina do interior do Rio Grande do Sul aprendesse a acreditar em si. Descobrisse que existe um potencial ilimitado dentro de cada ser humano pronto para manifestar-se e que cada pessoa é capaz de transformar seu próprio carma e construir o seu próprio caminho. Agradeço também à CAPES, que subsidiou a pesquisa e permitiu que este sonho pudesse ser realizado. Minha mais profunda gratidão a todos. Dōmo arigatōgozaimashita..

(8) RESUMO. NIHONJINKAI – A ASSOCIAÇÃO DOS IMIGRANTES JAPONESES DE SANTA MARIA/RS – SÉCULO XX AUTORA: Alexandra Begueristain da Silva ORIENTADOR: André Luís Ramos Soares. A presente tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa Maria, apresenta a descrição, as etapas percorridas e os resultados obtidos durante quatro anos de pesquisa. O objeto de estudo escolhido é a Associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS e sua contribuição para a manutenção da identidade étnica do grupo estudado. Na tese intitulada “Nihonjinkai – A Associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS – Século XX”, trabalhou-se, sobretudo, com as categorias de Memória e Identidade, ao pesquisar a história da associação japonesa, bem como a formação de uma identidade étnica proveniente do contato da cultura imigrante com a cultura brasileira. Para tanto, buscou-se construir um panorama histórico da imigração japonesa no Brasil e no Rio Grande do Sul até a chegada oficial dos primeiros imigrantes à cidade de Santa Maria. Considerando que, apesar de terem emigrado no período posterior a Segunda Guerra Mundial, emigraram para o Brasil com o mesmo objetivo dos primeiros imigrantes, chegados em 1908, de juntarem recursos e voltarem ao país de origem em, no máximo, cinco anos. Verificou-se ainda, como esses japoneses se organizaram cooperativamente e como mantiveram os elementos de sua cultura natal na sociedade acolhedora. Foi por meio de entrevistas e sob o método da história oral que pode-se observar, através das memórias por eles contadas, os motivos pelos quais a sua identidade étnica mantém-se muito em uma esfera íntima e familiar. Buscou-se compreender a Nihonjinkai enquanto espaço de sociabilidade, de demarcação das diferenças e de manutenção da identidade étnica, ao longo desses cinquenta anos, que compreendem o recorte temporal deste estudo. Tentou-se visualizar as possibilidades de continuidade da entidade através da manutenção dos eventos tradicionais organizados desde o início da associação em Santa Maria e através do interesse pela sucessão por parte da segunda geração. Por fim, após buscar referências teóricas que pudessem confirmar ou refutar o resultado de inferências e interpretações sobre a Nihonjinkai, propôs-se uma caracterização através de uma divisão em quatro períodos históricos diferentes, quais sejam: ascensão, estabilidade, declínio e retomada. E, por fim, aborda-se a concepção de “trama” cultural, na qual as identidades transitam livremente, sem a exclusão ou sobreposição de uma pela outra, resultando na identidade do hífen, a nipo-brasileira.. PALAVRAS-CHAVE: Imigração japonesa. Manutenção da identidade. Associações japonesas. Memória..

(9) ABSTRACT NIHONJINKAI – THE ASSOCIATION OF JAPANESE IMMIGRANTS OF SANTA MARIA/RS – CENTURY XX AUTHOR: Alexandra Begueristain da Silva ADVISOR: André Luís Ramos Soares. The present thesis of the Graduate Program in History, of the Federal University of Santa Maria, presents the description, the stages covered and the results obtained during four years of research. The object of study is the Association of Japanese Immigrants of Santa Maria/RS and its contribution to the maintenance of the ethnic identity of the group studied. The thesis entitled "Nihonjinkai – The Association of Japanese Immigrants of Santa Maria / RS – Century XX", we worked with the categories of Memory and Identity in researching the history of the Japanese association, as well as the formation of an ethnic identity that came from the contact of the immigrant culture with the Brazilian culture. In order to do so, we sought to build a historical panorama of japanese immigration in Brazil and in Rio Grande do Sul until the official arrival of the first immigrants to the city of Santa Maria. Considering that, although they emigrated in the period after World War II, they emigrated to Brazil with the same objective as the first immigrants, who arrived in 1908, to raise funds and return to their country of origin in a maximum of five years. Through interviews and under the method of oral history that could be observed through the memories they tell, the reasons why their ethnic identity remains much in an intimate and familiar sphere. We seek to understand Nihonjinkai as a space of sociability, demarcation of differences and maintenance of ethnic identity, over these fifty years. We attempted to visualize the possibilities of continuity or not of the entity through the maintenance of the traditional events organized from the beginning of the association in Santa Maria and through the interest or not by the succession on the part of the second generation. Finally, after seeking theoretical references that could confirm or refute the result of inferences and interpretations about Nihonjinkai it was proposed a characterization through a division into four different historical periods, which are: Ascension, stability, decline and resumption. And finally, the conception of cultural "interlacement" is discussed, in which identities pass freely, without the exclusion or overlapping of one another, resulting in the identity of the hyphen, the japanese-brazilian.. KEYWORDS: Japanese immigration. Identity maintenance. Japanese associations. Memory..

(10) LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Gastronomia japonesa e gaúcha entrelaçadas ..................................................... 37 Imagem 2 – Livro Ata I ........................................................................................................... 52 Imagem 3 – Livro Ata II ......................................................................................................... 53 Imagem 4 – Livro Ata III ........................................................................................................ 53 Imagem 5 – Navio Afukira-Maru.............................................................................................61 Imagem 6 – Undokai no navio ................................................................................................ 61 Imagem 7 – Undokai no navio ................................................................................................ 61 Imagem 8 – Festa Linha do Equador ...................................................................................... 62 Imagem 9 – O interior da casa onde viviam em Uruguaiana .................................................. 62 Imagem 10 – Plantação de hortifrutigranjeiros pelos imigrantes japoneses ........................... 64 Imagem 11 – Mercado Itaimbé: Cultivo e venda de hortifrutigranjeiros ................................ 65 Imagem 12 – Mercado Itaimbé ............................................................................................... 65 Imagem 13 – Mercado Itaimbé ............................................................................................... 66 Imagem 14 – Quadro de associados da ACEP ........................................................................ 99 Imagem 15 – Quadro de associados da ACEP ...................................................................... 100 Imagem 16 – Mercado Itaimbé ............................................................................................. 106 Imagem 17 – Gincana (Undokai) .......................................................................................... 108 Imagem 18 – Undokai ........................................................................................................... 108 Imagem 19 – Japoneses fazendo churrasco para o almoço no Undokai ............................... 109 Imagem 20 – Jornal A Razão, de 11 dez. 1970 ..................................................................... 110 Imagem 21 – Jornal A Razão, de 19 dez. 1973 ..................................................................... 111 Imagem 22 – Feira da Amizade, em 06 abr. 1977. ............................................................... 111 Imagem 23 – Feira da Amizade ............................................................................................ 112 Imagem 24 – Feira da Amizade ............................................................................................ 112 Imagem 25 – Undokai ........................................................................................................... 114 Imagem 26 – Undokai ........................................................................................................... 114 Imagem 27 – Almoço de eleição da Nihonjinkai em janeiro de 2017 .................................. 123 Imagem 28 – Almoço comemorativo ao Dia das Mães, em Fujinkai POA .......................... 123 Imagem 29 – Comemoração dos 15 anos de imigração japonesa em Santa Maria (1972) com a participação do Dr. Telmo Corseiul ....................................................................................... 124 Imagem 30 – Comemoração dos 15 anos de imigração japonesa em Santa Maria (1972).... 124.

(11) Imagem 31 – Os jovens de Santa Maria no Undokai ............................................................ 127 Imagem 32 – Festival cultural (Engekai)............................................................................... 127 Imagem 33 – Comunidade Nikkei de Santa Maria ................................................................ 128 Imagem 34 – Engekai: apresentação de dança típica japonesa ............................................. 129 Imagem 35 – Abertura da exposição comemorativa aos 50 anos de imigração japonesa em Santa Maria ............................................................................................................................. 131 Imagem 36 – Saída à campo - Festival do Japão em Porto Alegre/RS 2018.........................132 Imagem 37 – Palco com apresentações japonesas tradicionais – POA/RS 2018...................133 Imagem 38 – Espaço do Festival do Japão – aberto ao J-pop POA/RS 2018........................133.

(12) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Períodos históricos das associações japonesas .................................................... 95.

(13) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Características temporais das associações japonesas ......................................... 121.

(14) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................17 CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO DA I(E)MIGRAÇÃO JAPONESA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO NACIONAL BRASILEIRO E JAPONÊS ........................... 29 1.1 OS DIFERENTES MOMENTOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL – UM BREVE HISTÓRICO .............................................................................................................. 31 1.2 A QUESTÃO DA INTEGRAÇÃO DOS IMIGRANTES JAPONESES NO BRASIL .... 34 1.3 OS IMIGRANTES JAPONESES NO CONTEXTO DO ESTADO NACIONAL BRASILEIRO .......................................................................................................................... 42 1.4 A CONSTRUÇÃO DO ESTADO NACIONAL NO JAPÃO E O CONTEXTO DE MIGRAÇÃO ............................................................................................................................ 46 1.5 HISTÓRIA DE SANTA MARIA – O ACOLHIMENTO DOS IMIGRANTES .............. 53 1.5.1 A chegada dos primeiros imigrantes – os alemães...................................................... 55 1.5.2 A chegada dos italianos e da ferrovia...........................................................................57 1.5.3 O contexto da chegada dos japoneses – 1958...............................................................60 1.6 OS IMIGRANTES JAPONESES EM SANTA MARIA/RS ............................................ 67 CAPÍTULO 2 – A MEMÓRIA E O SENTIMENTO DE JAPONESIDADE ENTRE OS IMIGRANTES JAPONESES DE SANTA MARIA/RS......................................................72 2.1 HISTÓRIA ORAL, O REGISTRO DE ALGUMAS MEMÓRIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS................................................. .......................................................................... 73 2.2 AS MEMÓRIAS FAMILIARES DO PAÍS DE ORIGEM.................................................76 2.3 MEMÓRIAS ANCESTRAIS E A SUCESSÃO DE GERAÇÕES....................................82 2.4 MEMÓRIAS INSTITUCIONALIZADAS ........................................................................ 91 CAPÍTULO 3 – AS NIHONJINKAI – ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE E MEMÓRIAS ................................................................................................................................................ 103 3.1 A CONSTITUIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ENQUANTO ESPAÇO DE SOCIABILIDADE ................................................................................................................................................ 104 3.2 ASSOCIAÇÕES JAPONESAS NA MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICA ... 114 3.2.1 Os jovens e as suas atividades – Senen-kai, Nihongo Gaku, Undokai e Engekai....125 3.3 AS MULHERES E AS SUAS ATIVIDADES – FUJINKAI .......................................... 128 3.3.1 Festival do Japão - Comemoração aos 110 anos de imigração: histórico e descrição.................................................................................................................................130 3.4 A NIHONJINKAI HOJE .................................................................................................. 137.

(15) DESFECHO – A IDENTIDADE NIPO-BRASILEIRA EM SANTA MARIA .............. 141 REFERÊNCIAS....................................................................................................................151 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO NO FESTIVAL DO JAPÃO DE PORTO ALEGRE/RS..........................................................................................................162 ANEXO A – CERTIDÃO (FRENTE).................................................................................163 ANEXO B – CERTIDÃO (VERSO)....................................................................................164.

(16) O estudo não é visto como preparação para a vida; Ao contrário, ele acontece enquanto se vive, E o viver acontece em meio ao estudo. Estudo e vida real são considerados mais do que paralelos; Trocam informações entre si e Assim interpenetram-se de acordo com cada contexto, O estudo na vida e a vida no estudo, Por toda a existência do indivíduo. Tsunesaburo Makiguchi..

(17) 17. INTRODUÇÃO. A presente tese de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa Maria, apresenta a descrição, as etapas percorridas durante quatro anos de pesquisa, nas quais houveram diferentes fases – todas sobremaneira importantes para o resultado final apresentado e para a construção historiográfica do recorte espaçotemporal –, e o objeto de estudo selecionado. O objeto de estudo escolhido foi a Associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS (Nihonjinkai) e sua contribuição na manutenção da identidade étnica do grupo estudado. Em um primeiro momento, procura-se apresentar como foi o desenvolvimento do trabalho de pesquisa até então realizado. Inicialmente, o projeto doutorado foi intitulado como “Imigrantes japoneses em Santa Maria/RS: de agricultores a doutores (1958-2008)”, que, após as diversas disciplinas assistidas e as leituras direcionadas, passou por uma reformulação. Para esta tese, apresenta-se o resultado do projeto reformulado que agora tem como título “Nihonjinkai – A Associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS – Século XX”. Tal projeto de pesquisa passou por reformulações de acordo com as alterações que se fizeram necessárias no decurso dos dois primeiros anos de trabalho até o momento da qualificação, no qual as sugestões da banca foram sobremaneira valiosas para que o trabalho fosse concluído. Ademais, as saídas a campo e as pesquisas em acervos públicos e particulares contribuiram grandemente com as reformulações feitas neste trabalho, pois houve a necessidade de uma imersão nas teorias e metodologias historiográficas, uma vez que a formação interdisciplinar da autora por vezes auxiliava na compreensão de determinadas teorias e fenômenos sociais encontrados neste período de trabalho, mas, em contrapartida, também expandiu o campo teórico conceitual, o que dificultou o fechamento do objeto de estudo. A tese “Nihonjinkai – A Associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS – Século XX” está inserida na linha de pesquisa do PPGH – Memória e Patrimônio e faz parte do projeto guarda-chuva “Imigração, Patrimônio e Educação: Legados Imigrantes na Bacia Platina”, coordenado pelo orientador Prof. Dr. André Luís Ramos Soares. Ademais, para o desenvolvimento deste trabalho, contou-se com o financiamento/bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), sem a qual não seria possível realizar esta tese..

(18) 18. Qual a história por trás desta tese?. Não faz mal que seja pouco, O que importa é que o avanço de hoje Seja maior que o de ontem. Que nossos passos de amanhã Sejam mais largos que o de hoje. (Daisaku Ikeda2) Para historicizar o caminho percorrido até a escrita desta tese, permito-me, como autora deste texto, contar como cheguei ao doutorado. Para isso, tomo a liberdade ou me utilizo de uma licença poética para escrever este componente em primeira pessoa do singular, bem como foi sugerido pela banca de qualificação. Entendo que o memorial descritivo não seja componente obrigatório na construção de uma tese, mas, em se tratando de uma tese em História, não posso deixar de relacionar a minha própria história ou a trajetória que me trouxe ao final do período de doutoramento. Foram os contextos sociais, econômicos e, inclusive, religiosos que conformaram as minhas escolhas pessoais, acadêmicas e profissionais. Aprendi com as leituras de teoria da história o quanto o sujeito histórico pode contribuir na escrita histórica, ainda que por vezes sem se dar conta, da escolha dos autores escolhidos, da corrente teórica utilizada, com a opção do objeto de estudo e seu recorte espaço-temporal e no próprio contexto do presente em que escreve, não há como se eximir totalmente, sendo assim a construção histórica do sujeito que escreve participa ativamente no processo de construir uma narrativa histórica ainda que com todos os cuidados que a objetividade acadêmica e cientifica exige e estejam presentes. A escolha de fazer o doutoramento em História, na Universidade Federal de Santa Maria, ocorreu por entender que minha trajetória acadêmica se encaminhou para isso. Desde a entrada no curso de Bacharelado em Turismo na Universidade Franciscana (UFN), em Santa Maria/RS, sempre gostei de trabalhar com pesquisa, mais precisamente com os diferentes grupos culturais. Quando iniciei os estudos sobre Turismo, entendi que o fenômeno turístico vai além de seu viés econômico. Os desafios encontrados para pagar uma faculdade particular e, posteriormente, uma especialização, o aprendizado de enfrentar as dificuldades e correr atrás de meus objetivos vieram da prática budista3, a qual faz parte da minha vida desde 1994, ano em que decidi que minha vida de menina pobre da periferia mudaria, pois, para o praticante budista, toda e 2 3. Daisaku Ikeda foi o responsável por trazer o Budismo Nitiren do Japão para o Brasil na década de 1960. Prática do Budismo Nitiren..

(19) 19. qualquer situação pode ser transformada, o “carma” pode ser transformado, podemos “transformar o veneno em remédio4”. Com base na filosofia budista, aprendi a não desistir dos meus e a me dedicar para alcançar os objetivos. Com vistas ao Mestrado em Ciências Sociais da UFSM, procurei o professor doutor André Luís Ramos Soares, o qual me recebeu para uma conversa em seu gabinete no Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória (NEP), e foi objetivo em dizer-me que, no PPGCSociais, não havia linha de pesquisa na área da Hospitalidade ou Turismo em que eu pudesse encaixar meus objetos de estudo. No entanto, contou-me sobre seu tema de pesquisa, os “estudos japoneses” e como funcionava o Memorial de Imigração e Cultura Japonesa do Rio Grande do Sul e o Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória (NEP). Foi descortinador, pois pratico o Budismo Nitiren, uma das novas religiões japonesas, vinda com os imigrantes para o Brasil na década de 60. O desafio de entrar no Mestrado em Ciências Sociais era grande, pois, além das leituras sobre os estudos japoneses, ainda tinha que fazer as leituras da Antropologia, da Sociologia e de métodos de pesquisa em Ciências Sociais para, então, ter condições de ingressar no Mestrado. Uma vez que a determinação e a dedicação para alcançar os objetivos fazem parte da prática budista Nitiren Daishonin, tenho nessa prática, de origem japonesa, a base da minha vida pessoal. A partir dos princípios budistas, sempre acreditei no meu potencial e atribuo ao Budismo muitos aspectos positivos da minha trajetória, tanto acadêmica quanto pessoal. Felizmente, consegui uma vaga no Mestrado e pude realizar o curso com certa tranquilidade, pois havia conseguido uma bolsa CAPES, em função da classificação na seleção de mestrado. Em maio de 2013, defendi a dissertação que tinha como título: “Deus é Eles”: As práticas religiosas familiares dos japoneses de Santa Maria/RS. Posteriormente, conhecendo as linhas de pesquisa do PPGH, encontrei uma ligação entre o objeto de estudo do Mestrado e o tema do projeto de Doutorado, na linha Cultura, Migrações e Trabalho, na qual teria condições de continuar com o tema da cultura japonesa e trabalhar com o deslocamento humano e o encontro entre os diferentes grupos sociais. No entanto, desde a seleção do Doutorado até a escrita final da tese, o projeto passou por uma reformulação teórica e metodológica em função das novas perspectivas vislumbradas nas disciplinas assistidas, além da alteração na linha de pesquisa. Atualmente, pertenço a linha de pesquisa Patrimônio e Memória. A partir de tais reformulações, hoje o título de minha tese de doutoramento é “Nihonjinkai – A associação dos Imigrantes Japoneses de Santa Maria/RS –. 4. Princípio budista “transformação de veneno em remédio” (hendoku iyaku, em japonês)..

(20) 20. Século XX”. A esperança de um outro mundo possível (BOFF, 2005), através da convivência entre os diferentes grupos sociais, inclusive os imigrantes em suas sociedades globalizantes, esteve presente em minhas monografias, especialmente da graduação e da especialização, com a hospitalidade incondicional, as práticas humanizadoras de hospitalidade e a territorialidade da paz, acreditando, tal qual Lévinas (2000), que “a unidade da pluralidade é a Paz”. Desde a entrada no doutorado em História do PPGH/UFSM, precisei me dedicar às disciplinas teóricas referentes à historiografia e às metodologias de investigação historiográfica, visto ter uma formação bastante interdisciplinar. A carga horária de disciplinas e leituras foram grandes, pois, desde o momento em que fui entrevistada no processo de seleção, fui alertada para o fato de que o doutorado era em História e as dificuldades de não ser (ainda) historiadora apareceriam, e de fato apareceram. Felizmente, pude fazer todas as disciplinas obrigatórias e algumas optativas que me ajudaram a compreender a historiografia com tranquilidade, pois, em função da classificação na seleção, tive a “boa sorte”5 de ser bolsista CAPES. Valores da cultura japonesa, presentes na prática budista têm sido base da minha trajetória, que sempre esteve, de alguma maneira, concomitante a minha formação acadêmica, profissional e sobretudo, humana. Dessa forma, considero que a cultura japonesa faz parte da minha vida pessoal e acadêmica, de modo que todos os cuidados sobre a subjetividade do pesquisador foram levados em consideração na construção desta tese. Afinal, tal qual Bourdieu (2004, p. 20-21) destaca, duas preocupações devem ser relevantes na escolha do método e das técnicas empregadas quanto à investigação do objeto de pesquisa, quais sejam: “nas situações reais da atividade científica, só é possível esperar construir problemáticas ou novas teorias com a condição de renunciar à ambição impossível [...] de dizer tudo sobre tudo e de forma ordenada”. A temática analisada leva em consideração o que Bourdieu (2004) definiu como “vigilância epistemológica”, pois muitos aspectos da filosofia budista fazem parte do contexto da imigração japonesa. No entanto, isso não pode influenciar a minha perspectiva de análise, pois um objeto de pesquisa só pode ser construído por conta de uma problemática teórica que interroga os aspectos retirados de determinada realidade, neste caso, a Nihonjinkai na cidade de Santa Maria/RS. Portanto, a cultura japonesa presente na construção da minha personalidade desde a juventude, direcionou o meu interesse acadêmico que desencadeou nesta pesquisa de tese, inclusive por que no Budismo Nitiren nada acontece por acaso e, por maiores que tenham 5. Princípio do Budismo Nitiren para definir um acontecimento importante e muito esperado pelo praticante budista, através da dedicação e disciplina na prática budista..

(21) 21. sido as dificuldades até aqui encontradas, esta obra com certeza é o maior objetivo alcançado na vida da menina pobre da COHAB Santa Marta. Por outro lado, o encerramento desta abre uma nova etapa em minha vida, que será também de muitos desafios – o mercado de trabalho e o sustento da família. E, assim como outras etapas difíceis pelas quais passei, essas também serão enfrentadas e vencidas, pois, como diz o Buda Nitiren Daishonin, “o inverno nunca falha em tornar-se primavera6”.. O processo de construção desta tese. A presente tese é fruto de quatro anos de trabalho. Quatro anos de experiências e conhecimentos em historiografia e, principalmente, em cultura japonesa. É o resultado palpável de um objetivo íntimo, um trabalho individual que possui inúmeras contribuições teóricas, históricas, motivacionais, inspiradoras e amparadoras, que foram contadas inicialmente nos agradecimentos, mas que são tão valiosas que não podem deixar de estar presentes dentro da introdução deste trabalho. Além desta introdução, esta tese é dividida em três capítulos e mais um capítulo destinado as “Considerações finais”, o qual optou-se por não intitulá-lo como “Considerações finais”, por entender que a totalidade da história da imigração japonesa em Santa Maria/RS não será alcançada, mas sim apresentar um recorte, observado e analisado sob aspectos objetivos e subjetivos advindos da base cultural da autora. Para isso, tomou-se de empréstimo das ciências que se avizinham, como a Antropologia, a ideia de que a cultura não é estática, ela é dinâmica (GEERTZ, 1980) e a ideia de Hobsbawm (1984) de que as tradições são inventadas, assim como observado na tentativa do governo dos dois países em estudo, Brasil e Japão, sobre a criação de um Estado-Nação, que unificasse a sociedade. Apoiou-se também em Burke (2008), que entende que a História Cultural dedica-se às diferenças, debates e conflitos das tradições compartilhadas em culturas inteiras. “Os historiadores foram influenciados por este conceito no plural: culturas” (BURKE, 2008, p. 46). O primeiro capítulo desta tese tem como foco o processo migratório brasileiro, dando especial atenção aos diferentes momentos da imigração japonesa para o Brasil, assim como as teorias de formação do Estado-Nação nos dois países, Brasil e Japão, e da questão da integração dos imigrantes japoneses à sociedade brasileira7. Além de tratar, especificamente, da chegada. 6. IKEDA, D. Os escritos de Nitiren Dishonin. v. 01. São Paulo: Brasil Seikyo, 1992. p. 336. Por entender que o conceito de “assimilação” tem conotação de “dominação”, optou-se por utilizar o termo “interação”, pois entende-se que existe uma ação por parte dos japoneses e outra por parte da sociedade receptora, 7.

(22) 22. dos imigrantes japoneses à cidade de Santa Maria/RS, utilizaram-se fontes bibliográficas – teses e monografias sobre cultura e imigração japonesa –bem como visitas ao arquivo Histórico Municipal de Santa Maria, com a finalidade de historicizar a chegada desses japoneses na cidade. Entre os autores presentes no primeiro capítulo estão: Barros (1992), Belém (2000), Benedict (2002), Cardoso (1998), Cuche (2002), Demartini (1997; 2012), Dezem (2005), Hall (2000), Handa (1987), Herrera (1994), Saito (1973), Sakurai (1998; 2000), Seyferth (1991; 2000), Silva (2013) e Soares e Gaudioso (2008). No entanto, para contextualizar historicamente o cenário no qual a cidade se encontrava naquele período em que recebeu o grupo de japoneses e, por sugestão da banca de qualificação, incluiu-se um item sobre a história e formação de Santa Maria/RS, a qual recebeu outros grupos de imigrantes antes dos japoneses e teve seu ápice social, comercial e econômico com a chegada da ferrovia na cidade. Portanto, o primeiro capítulo vem a ser um capítulo teórico, de referências bibliográficas e documentais pertinentes ao tema. Somente no fechamento do capítulo, aparecem algumas narrativas dos sujeitos de pesquisa para corroborar com as fontes documentais, pois finaliza-se o capítulo com a chegada dos japoneses em Santa Maria/RS e, logo, entende-se que as narrativas dos imigrantes teriam a função de confirmar ou não as fontes documentais. Desde o primeiro capítulo, foram utilizadas as fotografias disponibilizadas pelas famílias pertencentes à pesquisa, as quais abriram suas caixas de fotografias e memórias à pesquisadora. Na sequência, estão os demais capítulos que comporão esta tese de doutoramento. Expõe-se no segundo capítulo, como principal categoria de análise, a memória. Nesse capítulo, em que se tenta costurar as teorias sobre memória com as narrativas dos sujeitos de pesquisa, buscou-se compreender a função da Nihonjinkai na manutenção dessas memórias. Em outras palavras, em que medida a associação atua na manutenção da memória imigrante e a identidade étnica, por esse motivo as narrativas dos sujeitos de pesquisa e a maioria das fotos coletadas estão presentes nesse componente. Ademais, as bases metodológicas desta tese, além das pesquisas bibliográfias, estão na história oral, nos acervos familiares, nas caixas de fotografias, na pesquisa documental no Acervo Histório de Santa Maria, nos Livros Atas da Nihonjinkai e, ainda, nas visitas aos cartórios da cidade em busca de Atas de fundação. De forma que se apresenta, no segundo capítulo, bases teóricas da história oral que foram utilizadas como ferramenta metodológica para classificar as narrativas. Essa classificação se deu da seguinte forma: (i) memórias. na qual as duas partes são afetadas. O termo “interação”, no entanto, será utilizado quando a autora se referir à relação dos imigrantes japoneses com os brasileiros, permanecendo as palavras “assimilação” e “aculturação” em citações de outros autores..

(23) 23. individuais e coletivas, (ii) memórias familiares do país de origem, (iii) memórias ancestrais e culto aos antepassados, e (iv) memórias institucionalizadas, em que se enquadram, principalmente, as relacionadas com a Associação Japonesa em Santa Maria. Dentre os autores citados neste capítulo, destacam-se: Alberti (1989), Bosi (2013), Bourdieu (1989), Candau (2011), Chartier (1990; 1991), Ferreira (1994), Ferreira e Amado (1996; 2002), Geertz (1989), Goffman (1985), Halbwachs (1990; 1997), Hall (1992; 2003; 2006), Hobsbawm (1997), Lesser (2001), Lourenção (2010), Meihy (2000), Nora (1993), Pollak (1992), Portelli (1997), Sahlins (1997), Seyferth (2000) e Thompson (2006) Além disso, utilizou-se livros comemorativos dos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, relativos às comemorações estaduais e às comemorações dos 50 e dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil para fins de comparação, inclusive demonstrando-se esta comparação na forma de gráfico feito pela autora. Vale lembrar que os estudos japoneses no Rio Grande do Sul (RS), estão voltados para a área da Linguística, principalmente na Universidade Federal do Ro Grande do Sul, no departamento de Letras, de onde foram utilizados os poucos trabalhos que se referem à cultura japonesa, em sua maioria da autora Tomoko Kimura Gaudioso, indicando que praticamente não há dissertações e teses sobre imigração japonesa no RS até o presente momento. Das existentes, a que serviu como referência neste trabalho foi a monografia de Ushida (1999). Ademais não foram encontrados trabalhos acadêmicos sobre a imigração nipônica no Estado, o que fez com que a autora precisa-se utilizar teses e dissertações de outros Estados, sobretudo Paraná, São Paulo e Mato Grosso. O terceiro capítulo é destinado às associações japonesas de maneira geral, como foram constituídas nos diferentes períodos migratórios e suas características. Nesse ínterim, apresentam-se as associações como espaços de sociabilidade e como cada departamento dentro das associações eram formados, assim como o papel que exerciam na manutenção da identidade étnica do grupo. Ainda nesse capítulo, apresentam-se alguns eventos em que houve imersão e observação para a pesquisa. Em alguns desses eventos, foram aplicados questionários e, em outros, realizadas entrevistas face-a-face como, por exemplo, o último festival realizado na cidade de Porto Alegre, RS, comemorativo aos 110 anos de imigração japonesa no Rio Grande do Sul. No dia desse festival comemorativo, foram aplicados questionários que contribuiram para a análise dos dados e corroboram com as narrativas dos sujeitos de pesquisa. Além de atentar para o fato de que não houve comemoração por parte dos imigrantes na cidade de Santa Maria/RS, que estariam comemorando seus 60 anos de imigração. Esse aspecto também aparece.

(24) 24. na análise dos dados e das narrativas apresentadas no segundo capítulo desta tese. O contexto atual da Nihonjinkai8 em Santa Maria/RS e suas perspectivas também estão presentes nesse componente, bem como o resultado da pesquisa em acervos familiares – sobretudo nas caixas de fotografias –, entre os japoneses e a descoberta de que não foi registrada como Associação Nipo-brasileira, e, sim, como Sociedade Nipo-brasileira. Daí, justifica-se a dificuldade em encontrar esse nome nos cartórios e na Junta Comercial de Santa Maria. Afinal, somente depois das diversas disciplinas assistidas no início do curso e da posse de um conhecimento historiográfico mais consistente voltado para o objeto de estudo, que foi possível fazer as primeiras saídas a campo com vistas ao tema do doutorado. Inclusive, no primeiro semestre de 2017, pode-se participar do almoço da Associação Japonesa de Santa Maria, no qual houve a eleição da diretoria da Nihonjinkai, no dia 07 de janeiro de 2017, onde estavam presentes somente integrantes da primeira geração de imigrantes, ou seja, japoneses emigrados do Japão. É importante, esclarecer ainda nesta introdução como serão chamado/denominados nos capítulos a seguir os sujeitos de pesquisa. Por imigrantes, japoneses ou Isseis serão chamados os japoneses emigrados do Japão em 1955 em direção ao Brasil. Por Dai-nisseis os que nasceram no Japão e que vieram muito pequenos ao Brasil. Por Nisseis ou segunda-geração os filhos dos imigrantes, que chegaram ao Brasil ainda crianças e que colaboraram sobremaneira com esta pesquisa. É válido destacar que não se trabalhou com a terceira geração ou com os netos dos imigrantes, pois a maioria está na juventude e estudando fora de Santa Maria/RS. Ademais, o termo Nikkei será utilizado somente quando a referência for à comunidade japonesa como um todo, tanto no Brasil, como em Santa Maria/RS. Antes disso, em 2016, participou-se de alguns eventos da comunidade japonesa em Porto Alegre/RS e Santa Maria/RS, com vistas a estreitar os laços de amizade e, assim, marcar visitas e entrevistas com mais tranquilidade. Entre esses eventos estão: o almoço do Dia das Mães, na cidade de Porto Alegre/RS, no dia 20 de maio, onde a Fujinkai9 possui um número expressivo de associadas e realiza atividades anuais. Essa associação feminina é praticamente inexistente na cidade estudada, as mulheres podem se reunir informalmente, mas não se configura como associação. No dia 1º de outubro de 2016, ocorreu na Universidade Federal de Santa Maria, uma pequena comemoração referente ao aniversário da imigração japonesa em. 8. Esse termo será utilizado sempre que se referir ao período imigratório anterior a 2ª Guerra Mundial e quando se referir à associação em Santa Maria/RS, porque é assim que o corpo diretivo e seus associados, todos imigrantes de primeira geração se referem à ela. 9 Associação feminina japonesa..

(25) 25. Santa Maria/RS, promovida pelo Memorial de Imigração e Cultura Japonesa do RS, no qual várias famílias japonesas da cidade, pertencentes ao grupo de estudo, fizeram-se presentes. Tal fato colaborou para que fosse possível retomar alguns contatos e estabelecer relações. Esses, que foram os principais eventos ocorridos no transcorrer da pesquisa, e outros encontros que foram documentados – através de fotografias, questionários e entrevistas semiestruturadas – serão contados mais detalhadamente dentro dos capítulos que comporão a tese de doutoramento. As fotos referentes aos eventos citados entrarão no terceiro capítulo, pois relacionam-se com as atividades das associações em Santa Maria/RS ou em Porto Alegre/RS. Para o desenvolvimento desta tese de doutorado, esses encontros foram basilares para estreitar os laços de amizade com a comunidade nipo-brasileira em Santa Maria/RS. Foram necessários muitos outros encontros para as entrevistas e, sobretudo, para adquirir a confiança desse grupo que, por vezes, se mostra fechado (SILVA, 2013), até para ter acesso às atas das reuniões da Nihonjinkai, que estão escritas em idioma japonês, e, nesse sentido, houve pouca colaboração e os poucos livros que se teve acesso precisaram passar por um processo longo de tradução, a qual teve a colaboração de colegas do Núcleo de Estudos Japoneses - NEJA (UFRGS). Por esses motivos elencados, optou-se por trabalhar os aspectos metodológicos aplicados aos documentos e testemunhos entrelaçados à teoria dos conceitos e categorias analíticas no corpo dos capítulos que compõem esta tese, com a sistematização e o detalhamento necessários. Para tanto, no terceiro capítulo, encontram-se presentes referências como: Candau (2011), Catroga (2005), Handa (1987), Hirata (2006), Inagaki (2002), Le Goff (1993), Moraes (2012), Nora (1993), Pollak (1989), Ramos (2000), Ricoueur (2007), Oliveira (2001), Shibata (2012), Silva (2013), Soares e Tomoko (2008) e entre outros. Por fim, apresenta-se um capítulo de fechamento da pesquisa, o qual não foi chamado de “Considerações Finais” e sim de “Desfecho”. Isso deve-se ao fato de se entender, aqui, o historiador como um agente na construção e reconstrução de aspectos históricos que caracterizam um determinado recorte espaço-temporal. Além disso, considera-se, aqui, o historiador como alguém dotado de responsabilidade sobre os dados levantados, sejam documentais ou orais. O historiador é, portanto, responsável também pela escrita da história, não podendo haver uma isenção completa do sujeito histórico que é o próprio historiador. Nesse capítulo, entre as referências utilizadas, estão: Bourdieu (2004), Brayner (2007), Burke (2008), Candau (2011), Geertz (1989), Hall (2000), Le Goff (1990), Lesser (2001), Nora (2003), Ricouer (2012), Rüsen (2010; 2015) e Silva (2013). Outro motivo para essa escolha metodológica deve-se à formação interdisciplinar da.

(26) 26. autora, e, sobretudo, ao mestrado em Ciências Sociais, na linha de pesquisa de Antropologia. Contudo, vale lembrar que esse aspecto auxiliou no processo de escrita, não influenciando nas teorias e metodologias historiográficas que o doutorado em História exige. Inicialmente, tinhase a intenção de escrever toda a tese em primeira pessoa do singular, em função do entendimento que a autora traz de sua formação interdisciplinar e de alguns autores como Ricouer (2012), mas, por adotar com cautela as contribuições dadas pela banca de qualificação e reconhecer que a academia possuí determinado grau de formalidade, optou-se por mudar a escrita. Contudo, no que se refere às considerações finais, prevaleceu o entendimento de que não há como separar o sujeito histórico do presente que analisa e o passado que estuda. Por entender que não há como totalizar a história da imigração japonesa em Santa Maria/RS, e que toda a escrita perpassa por uma subjetividade natural ao agente humano, o historiador, levou-se em consideração as palavras de Ricouer (2012), o qual diz que. [...] o historiador, enquanto indivíduo apaixonado e cidadão responsável, analisa seu tema de acordo com suas expectativas, seus desejos, seus temores, suas utopias, sem dizer seu ceticismo. Esta relação com o presente e o futuro influi, incontestavelmente, na escolha de seu objeto de estudo, nas questões e nas hipóteses que ele forma, no peso dos argumentos que sustentam suas explicações e suas interpretações; não obstante, suas posições com relação ao presente e ao futuro não fazem parte, tematicamente, de seu objeto de estudo. Os arquivos, as documentações e os vestígios são “do” passado (RICOUER, 2012, p. 343, grifo da autora).. Encontra-se em Ricouer (2012), entre outros autores que serão citados no decorrer da escrita da tese, um aporte teórico que possibilita esse entendimento da escrita histórica, de trazer à luz ao final da tese não considerações finais e fechadas mas sim um desfecho para a pesquisa, pois, segundo o autor, [...] o historiador é, enquanto sujeito do conhecimento histórico, um homem de seu tempo, a respeito do qual compartilha certas expectativas relativas ao futuro de seu país ou da humanidade. Neste sentido, a temporalidade do historiador não escapa à constituição tripartite de toda consciência histórica. Essas antecipações, contudo, não fazem parte do objeto histórico. Elas são, o mais que possível, mantidas à distância do campo de investigação, e esta exclusão – nunca completa – faz parte da ética profissional do historiador: (...). Dito isto, a lição da memória, tardiamente remodelada pelo projeto, não é inacessível ao historiador. Ele a aplica simplesmente em sua abordagem do passado. O historiador pode se reportar, em imaginação, a um momento qualquer do passado como tendo sido presente (ter sido), e, portanto, como tendo sido vivido pelas pessoas de outrora, como representação presente de seu passado e presente de seu futuro, para retomar, ainda uma vez, as fórmulas de Santo Agostinho. Assim como nós, os homens do passado foram sujeitos de iniciativa, de retrospecção e de prospecção (RICOUER, 2012, p. 347, grifo da autora).. O pesquisador observa e faz interpretações e, a partir dessas interpretações, tira suas conclusões, que, no entanto, são provisórias e relativas, como afirma Geertz (1989), que aplica.

(27) 27. a ideia de descrever o que acontece no interior de cada interação “dramática”, ou seja, em termos do que aquilo significa para cada sujeito participante da interação, naquele exato momento e lugar. De modo que cada participante tem sua percepção e interpretação acerca dos fatos. Evidentemente, essas interpretações são subjetivas e momentâneas, pois o pesquisador está envolto por uma teia de significados, conforme nos mostra Geertz (1989):. O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície. Todavia, essa afirmativa, uma doutrina numa cláusula, requer por si mesma uma explicação (GEERTZ, 1989, p. 15).. Com base nos autores, pode-se afirmar que os dados, fatos e memórias coletados durante a pesquisa da tese foram “interpretados” através das práticas cotidianas e as atividades da Nihonjinkai enquanto instituição dos imigrantes japoneses em Santa Maria/RS. Foi necessário visitar e conviver mais com o grupo em estudo, não para que a autora se tornasse parte do grupo, afinal não teria como fazê-lo, mas, a partir das interpretações deles sobre sua identidade étnica, produzir a própria interpretação e construir um texto historiográfico, com base nos documentos e testemunhos coletados e, ainda, as nuances de literatura que a historiografia permite para fechar as lacunas deixadas pelas fontes, considerando e tentando tomar distância das teias de significados sociais que são intrínsecas, dos valores de juízo, naturais do ser humano e do grupo social ao qual a autora pertence. Afinal, as categorias com as quais o historiador trabalha elucidam a problemática da objetividade na prática historiográfica (LE GOFF, 1990).. A tomada de consciência da construção do fato histórico, da não-inocência do documento, lançou uma luz reveladora sobre os processos de manipulação que se manifestam em todos os níveis da constituição do saber histórico (LE GOFF, 1990, p. 11).. Essa constatação não deve se desdobrar em um ceticismo denso à propósito da objetividade histórica e numa renúncia da “noção de verdade em história”, como Le Goff (1990) afirma: O caráter "único" dos eventos históricos, a necessidade do historiador de misturar relato e explicação fizeram da história um gênero literário, uma arte e ao mesmo tempo que uma ciência. Se isso foi válido da Antiguidade até o século XIX, de Tucídides a Michelet, é menos verdadeiro para o século XX. O crescente tecnicismo da ciência histórica tornou mais difícil para o historiador parecer também escritor. Mas existe sempre uma escritura da história (LE GOFF, 1990, p. 12)..

(28) 28. Esta tese está baseada no entendimento da escrita da história como uma mistura de relato e explicação, tal qual Le Goff (1990). Todavia, não se tem a pretensão de alcançar um texto literato, porque não é o objetivo da tese. No entanto, não há como eximir a autoria de um texto construído com base em um grupo tão singular, cheio de relatos, memórias, esquecimentos e silêncios, que devem ser preenchidos com o contexto histórico em que os sujeitos de pesquisa chegaram ao Brasil e como vivem ainda hoje na sociedade brasileira. A escolha por esse modelo de escrita e pela divisão dos capítulos deu-se em função de entender que o texto transcorreria melhor do global ao local, indo desde as teorias imigrantistas à chegada dos primeiros imigrantes, perspassando o contexto histórico em que chegaram, a chegada dos japoneses em Santa Maria/RS e, por fim, a função social e histórica da associação. Por esse motivo, aspectos teóricos da história oral enquanto metodologia ficaram para o segundo capítulo, visto estar relacionada com os testemunhos e memórias que aparecem nesse componente. Ressalta-se que os componentes foram assim distribuidos e construídos para instigar o leitor a conhecer a realidade da Nihonjinkai – Associação Japonesa de Santa Maria, resultado desta tese que aparece aos poucos dentro da narrativa, mas, sobretudo, tem seu desfecho revelado, após a apresentação de associações japonesas em outras cidades do Brasil. Assim, o texto parte de teorias, passa pela historiografia da imigração japonesa no Brasil até chegar em Santa Maria/RS e, posteriormente, a organização das colônias japonesas em associações, para finalmente chegar à Nihonjinkai em Santa Maria/RS..

(29) 29. CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO DA I(E)MIGRAÇÃO JAPONESA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO NACIONAL BRASILEIRO E JAPONÊS. No contexto do processo imigratório brasileiro, encontra-se a imigração japonesa, quando, em 18 de junho de 1908, houve a chegada do navio Kasatu-Maru. Essa data é oficialmente considerada como o início da imigração japonesa no Brasil10, uma vez que, naquela data, aportou, em Santos, a primeira leva de imigrantes nipônicos, que trouxeram na bagagem, entre outras coisas, as suas práticas socioculturais, entre elas o objeto de estudo desta tese – as Nihonjinkai ou associações japonesas –, além de sua cultura ancestral oriental bem diferente do que encontrariam em terras brasileiras. A imigração japonesa no Brasil, assim como a imigração de outros grupos étnicos, traz a história de homens e mulheres cheios de esperanças. Barros (1992) enfatiza o desejo dos imigrantes de acumular dinheiro e retornar à terra natal: “... no plano individual, cada imigrante, saindo do seu berço e ninho natal, trazia para a nova terra esperança dos imigrantes de todos os tempos de a eles voltar o mais rapidamente e o mais rico possível” (BARROS, 1992, p. 13).. O desejo de trazer mão de obra à terras brasileiras era intenso, tanto que, desde 1895, o Brasil e o Japão assinaram um tratado de amizade (1895, em Paris), mas a resistência ao tipo amarelo associado às ideias eugenistas e as más safras de café postergaram a primeira remessa de imigrantes somente para 1908 (Id.).. Encontra-se julgamentos ideológicos favoráveis e contrários à presença japonesa no Brasil, em estudos como o de Saito (1973). O autor afirma que os textos pátrios até a década de 1940 proferiam justificativas da necessidade (ou não) da presença japonesa no Brasil (1973, p. 07). Ainda que os estudos acadêmicos tenham se aplicado, nas últimas décadas, a disseminar debates mais decisivos e assinalar as opiniões filonipônica11 ou antinipônicas, as políticas públicas quase sempre destacam e permanecem representando os japoneses como: pioneiros, imigrantes modelos e até mesmo exaltam tanto os Nikkei12, como as regiões em que. 10. Conforme Gaudioso (s.d.), os primeiros japoneses a aportarem no país foi um grupo de 4 náufragos resgatados por um navio russo que fazia reparos na ilha de Santa Catarina, em 1807. Disponível em: <seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/47949/29859>. Acesso em: 23 abr. 2017. 11 Rogério Dezem (2005), no livro: “Matizes do ‘amarelo’” trata da gênese do discurso sobre (a não) entrada de orientais no Brasil no século XIX. 12 “O japonês-brasileiro, ou seja, o descendente de japonês é atualmente denominado de Nikkei, não importa a que geração pertença. Essa denominação está sendo utilizada desde a Convenção Panamericana Nikkei ocorrida em 1985, em São Paulo, que adotou a terminologia para todos os descendentes japoneses nas Américas. Antes, usavase a terminologia Nissei, para os descendentes dos imigrantes, e Sansei, para os descendentes de terceira geração no Brasil. Essa terminologia foi adotada na década de 1950, substituindo o termo Dainisei”. (SAKURAI, 1993, p..

(30) 30. se instalaram no país. A opinião sobre a migração para a América do Sul é sempre diferente, se solicitado aos japoneses no Japão ou no Brasil. Os japoneses, em geral, enfatizam a provação pela qual tiveram que passar para decidirem emigrar. A imagem transmitida do emigrante é a de expulsos da própria sociedade e da pobreza. O Nikkei, no entanto, destaca a rápida ascensão social, que poderia experimentar uma percentagem significativa desses imigrantes. Entretanto, vale refletir sobre os julgamentos ideológicos anteriores a imigração japonesa e os discursos políticos após mais de cem anos da presença e contribuição japonesa no Brasil (SAITO, 1973). Percebe-se que, no início, registrou-se uma relutância pela vinda de imigrantes asiáticos, isso em função de oposições de outros países do mundo que já haviam tido experiências negativas com os asiáticos. O problema dos conflitos raciais era temido e influenciava a decisão do governo. Em um primeiro momento, isso foi resolvido com a vinda de imigrantes europeus. Conforme Sakurai (1998, p. 06), “o problema da substituição da mão de obra escrava é resolvido com a arregimentação de imigrantes de origem europeia, particularmente os italianos e espanhóis para o Centro-Sul do Brasil”, processo que se deu, especialmente, em função do ideal do branqueamento no Brasil com sua política eugenista. Demartini (2012), ancorada em Handa (1987), Vainer (1995), Demartini (1997) e Sakurai (2000), refere-se à política imigrantista e à preocupação com a não “assimilação” dos imigrantes japoneses, considerados amarelos13:. Historicamente os japoneses eram considerados os imigrantes mais indesejáveis, pois eram amarelos, não europeus e não católicos; nos debates que foram travados sobre as possibilidades de sua vinda para o Brasil, eles surgem sempre como ‘inassimiláveis’. A opção da política imigrantista, principalmente a pressão dos cafeicultores pela sua entrada, deve-se apenas ao fato que se constituíram em um povo com tradição agrícola (DEMARTINI, 2012, p. 25).. O processo imigratório no Brasil está imbuído da ideia de “civilização”, contendo e manifestando modelos de exclusão em que o uso da categoria “branco” demonstra a relevância das diferenciações fenotípicas antes mesmo da categoria “raça” estabelecer-se no país. 21). O termo Nikkei, neste estudo, foi utilizado no singular, porém o Dossiê Temático da Revista REVER (2011) faz uso da palavra sempre no plural. 13 Ao contrário de outras etnias, os japoneses não poderiam ser considerados, mesmo em médio prazo, como parte do “cadinho de raças” proposto por Freire (2006), no qual matizes entre o branco, o índio e o negro teriam formado a nação..

(31) 31. (SEYFERTH, 2000). A imigração deu-se concomitante ao regime escravocrata, pois o discurso sobre o “trabalho livre” excluía negros pela suposta “inferioridade racial e cultural” que impediria o desenvolvimento econômico brasileiro (SEYFERTH, 1991). O país chegou a receber perto de cinco milhões de imigrantes de diversas nacionalidades entre 1819 até fins da década de 1940, o que ativou um debate a respeito da “assimilação”14 imperando a tese do “branqueamento”. Desse modo, a imigração japonesa não contemplava o objetivo do branqueamento, pois os preceitos racialistas desqualificavam imigrantes oriundos da África e da Ásia por serem considerados como empecilhos à unificação do “tipo” nacional15. Em contraposição, havia quem os chamasse de “brancos da Ásia” (DEZEM, 2005) na tentativa de dar crédito aos trabalhadores japoneses e amenizar o “descaso” por esses imigrantes. Como delimitou-se o caso japonês em particular, é necessário esclarecer a relevância de ponderar sobre os processos de integração quando se trata não só da geração imigrante, mas de seus descendentes, que são cultural e legalmente membros de pleno direito da sociedade no Brasil. Eles são fenotipicamente distintos em uma área, como é a cidade de Santa Maria/RS, onde o biotipo europeu predomina e alguns descendentes de alemães e italianos têm buscado a dupla nacionalidade16. Observa-se, nesta tese, a história da imigração japonesa em Santa Maria/RS, nesses quase 60 anos, os japoneses procuraram inicialmente sua invisibilidade e, paradoxalmente, o processo de integração social que, para eles, era a sua visibilidade como brasileiros. Tal processo dava-se com o apadrinhamento das crianças japonesas por famílias brasileiras na Igreja Católica, por exemplo17. Assim, tornavam-se minimamente invisíveis ou parecidos (HALL, 2000). 1.1 OS DIFERENTES MOMENTOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL – UM BREVE HISTÓRICO. 14. Assimilação cultural ou assimilação social é o processo pelo qual minorias étnicas adquirem características culturais dos grupos dominantes. O termo é, algumas vezes, utilizado em relação a imigrantes de vários grupos étnicos que se estabeleceram em uma região. Novos costumes e atitudes são adquiridos através do contato e comunicação, no qual cada grupo de imigrantes contribui com um pouco de seu próprio traço cultural na nova sociedade. A assimilação cultural, normalmente, envolve uma mudança gradual e ocorre em vários níveis e tornase completa quando novos membros da sociedade tornam-se irreconhecíveis em relação aos antigos (LARAIA, 2007). 15 Conforme nota 13. 16 Ainda hoje, filhos de nipo-brasileiros nascidos no Japão não são considerados “japoneses”, mesmo nascendo no país de seus ancestrais. Eles são considerados “brasileiros”, não possuem a dupla nacionalidade como os italianos, por exemplo (conforme entrevista com a presidente da Nihonjinkai, em agosto de 2018). 17 Silva (2013)..

(32) 32. Dentre o levantamento bibliográfico realizado, percebeu-se vários momentos da imigração japonesa no Brasil. Além das diferenças de acordo com a necessidade ou foco do governo brasileiro, tem-se um grande primeiro momento para ser dividido em diferentes fases de partida do Japão, indo desde 1908 até a interrupção das relações entre os dois países na década de 40, devido ao começo da Segunda Guerra Mundial. O segundo momento começa com a restauração da chegada de imigrantes entre 1953 até aos primeiros anos da década de 60, quando a imigração ainda é planejada ou tutelada (SAKURAI, 1998; 2000), e com uma forte ênfase na formação de colônias agrícolas. E o terceiro momento vai da década de 60 até hoje, período no qual a principal atividade dos japoneses que vieram para o Brasil era de empresários, executivos. Nesse ínterim, o imigrante passa pelo complexo fenômeno do "caminho inverso Brasil-Japão", conhecida como fenômeno Decasségui18 (Issei, Nissei, Sansei)19, a partir da década de 1990. No entanto, é inegável que, com relação à igualdade formal, no Brasil é um aspecto que também passa pela invisibilidade dentro da multiplicidade étnica e cultural brasileira, embora os estereótipos também estejam presentes e os preconceitos positivos e negativos ainda possam agir indiretamente para limitar a igualdade formal e de direito. O desafio teórico esteve em estudar um grupo de imigrantes e seus descendentes, que agora também têm Nikkei nascidos no Brasil. Um grupo em que a grande parte dos seus membros tiveram a oportunidade de viajar para o Japão, para trabalhar no chamado “Movimento Decasségui” ou visitar parentes. Alguns deles em mais de uma ocasião, o que pode demonstrar que a maioria dos japoneses de Santa Maria/RS ainda mantêm alguma ligação com esse país. E, por esse motivo, deixa de ser somente o estudo de um grupo/aldeia/colônia, mas um estudo que tem uma abordagem mais globalizada do assunto. O fenômeno Decasségui foi determinante para a comunidade japonesa em estudo, bem como em outros Estados brasileiros, pois praticamente todos os Nisseis da cidade, foram trabalhar no Japão na década de 90, interrompendo um período de estabilidade nas atividades da Nihonjinkai, o que tem reflexos na associação ainda hoje, o que é abordado/trabalhado no terceiro capítulo desta tese. Utilizou-se o esquema das cinco fases da imigração japonesa de Saito (1973) e Nogueira (1984): (i) A primeira fase (1908-1925) é caracterizada por subsidiar a chegada de imigrantes pelo governo de São Paulo, o trabalho necessário para plantações de café. (ii) A. 18. A partir do entendimento do fenômeno Dekasegi, optou-se, neste estudo, por utilizar o termo em língua portuguesa: Dekassegui ou Decasségui. Dekassegui (Dekasegi) é um termo formado pela união dos verbetes na língua japonesa (deru, sair) e (kasegu, para trabalhar, ganhar dinheiro trabalhando). 19 Primeira, segunda e terceiras gerações de japoneses..

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