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ANEXO 1 – Estatutos do Partido Communista do Brazil, março de 1922

1. A IMPRENSA OPERÁRIA EM QUESTÃO

1.6 A Classe Operária

A partir de agora, o olhar que destinamos às duas últimas publicações: A

Classe Operária (ACO)187 e A Nação (AN), muda um pouco de perspectiva, por se

tratarem de publicações oficiais do Partido Communista do Brazil e que, portanto, carecem de atenção a alguns elementos diferenciados em relação aos periódicos analisados anteriormente vinculados, sobretudo, a sindicatos e ligas operárias compostas por uma cultura militante bastante diversificada se pensarmos em termos ideológicos.

O próprio surgimento do jornal A Classe Operária já coloca em evidência algumas dessas distinções, pois se dá mediante intervenção da Internacional Comunista como parte de um projeto político de amplo alcance das massas. O Partido Communista do Brazil já contava com a revista Movimento Comunista criada por Astrojildo Pereira e que circulou durante o ano de 1922 contendo uma série de textos acerca do Partido e suas filiações políticas. Não obstante, foi convocada pela Comissão Central Executiva (CCE) do Partido uma conferência dos delegados de células e núcleos em 1925, cuja pauta consistia em dois pontos centrais “1º) sobre o recrutamento de novos membros e sua organização em células de empresa; 2º) sobre a publicação de um jornal semanal de massas188”, cujo objetivo era exercer

186 Sobre os perfis de produção, circulação e autoria dessas imagens trataremos especificamente nos

capítulos subsequentes.

187 Todos os números de A Classe Operária analisados nesta pesquisa, correspondentes aos anos de

1928 até 1935, com algumas lacunas na série, encontram-se no Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM), armazenados no fundo: Archivio Storico Operaio Brasiliano (ASMOB) em propriedade do Instituto Astrojildo Pereira (AIP). Dispomos para fins de análise de um total de 57 exemplares do jornal A Classe Operária.

um papel mais abrangente no movimento operário, diferente daquele que vinha sendo empreendido pela revista.

Dois meses depois da conferência surgia, no dia 1º de maio de 1925, o semanário A Classe Operária, sem que houvesse qualquer contrariedade à iniciativa189. Circulou, no entanto, apenas durante um curto espaço de tempo, sendo

logo em seguida proibido. De acordo com Marcos Del Roio, o Partido se mobilizava no sentido de promover a “difusão de suas posições políticas por meio do periódico

A Classe Operária que teve uma primeira fase curta (apenas 12 números)190”.

Conforme assinalam Carneiro e Kossoy, a publicação irregular d’A Classe Operária se deveu às circunstâncias descritas abaixo:

Impressos em uma tipografia montada com maquinário de segunda mão, os exemplares eram empacotados e, em seguida, levados até as portas das fábricas onde eram vendidos por Octávio Brandão e outros militantes ao preço de dois mil réis, com direito a treze números. No entanto, mal concluía a primeira tiragem, a tipografia clandestina localizada à rua Frei Caneca teve que ser desativada e, com autorização do governo, transferiu-se para as oficina do jornal O

Paíz, diário carioca.

Ressurgiu em maio de 1928 para, mais tarde, entrar novamente na clandestinidade circulando de forma irregular. A partir de 6 de outubro de 1928 passou a ser impresso na tipografia de O Jornal, de Assis Chateaubriand, cuja infra-estrutura garantiu ampliar o tamanho da página. Com o reaparecimento de A Classe Operária, o PCB suspendeu a publicação de O Jovem Proletário, órgão porta-voz da Juventude Comunista lançado em 1927. Circulando como semanário até 1929, A Classe Operária ganhou popularidade chegando à tiragem de quinze mil exemplares. [...]

O nº 9 alcançou venda de 9 500 exemplares, tiragem avaliada como “insignificante” considerados os dez milhões de trabalhadores do Brasil. [...]

O sucesso alcançado pela A Classe Operária levou o governo a proibir a sua circulação em 1925, momento em que se preparava a impressão de 10 000 exemplares para o nº 10191.

Apesar de efêmera em sua primeira fase192, a publicação desponta como

órgão central do PC do Brazil o que lhe garante legitimidade, pois é responsável

189 Ibid. p. 89.

190 ROIO, Marcos Del. Os comunistas, a luta social e o marxismo (1920-1940). In: RIDENTI, Marcelo;

REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil : Partidos e organizações dos nãos

1920 aos 1960. Op. cit. p. 32.

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pela publicação de todos os informes do Partido, além das resoluções internas tiradas em conferências e reuniões promovidas pela diretoria. Entre diretores e colaboradores da equipe editorial estavam: Alcides Adett Brazil de Matos (alfaiate e diretor oficial do jornal), Octávio Brandão193 e sua esposa Laura Brandão, Astrojildo

Pereira que era o redator, Júlio Kengen e Hermenegildo Figueira (tecelões), João Borges Mendes (tecelão e posteriormente metalúrgico), Dalla, Déa e José Alfredo dos Santos (gráficos), Carlos Silva (gráfico e posteriormente ferroviário), José Cazini (metalúrgico), Abelardo Nogueira (empregado dos Correios), José Lago Molares (garçom), José Maria de Carvalho (trabalhador em padaria) e Hersch Schechter (estudante)194.

Conforme podemos constatar a composição do grupo editorial reunia trabalhadores dos mais diversos ramos, o que reiterava a chamada do jornal que trazia a seguinte inscrição: “Jornal de trabalhadores, feito por trabalhadores, para trabalhadores”; frase essa que permaneceu sendo estampada no semanário mesmo após seu retorno à ativa, em sua segunda fase, quando o corpo editorial mudara, sendo composto por apenas cinco nomes195.

A redação do jornal localizava-se à rua Marechal Floriano, número 172, no primeiro andar, embora esse sede se configurasse apenas num endereço formal do jornal, tendo em vista o cerco policial em torno da publicação. Em geral, as atividades eram divididas e espalhadas pela cidade e realizadas clandestinamente, mesmo no concernente à venda e distribuição do periódico, para desbaratar a perseguição da polícia196. De acordo com Astrojildo Pereira, durante os períodos de

maior repressão o jornal travou uma luta árdua para tentar se manter em circulação, segundo ele:

192 De acordo com Ronald H. Chilcote: “Em sua fase inicial A Classe Operária teve 12 números

publicados no período de três meses, a partir de 1º de maio de 1925. Ressurgiu em 1928 e continuou até meados de 1929, quando foi reprimida pelo governo e dali em diante surgiu clandestinamente durante um breve período, em 1935, e, depois de 1945 até princípios da década de 50”. Cf. CHILCOTE, Ronald H. Partido Comunista Brasileiro: conflito e integração. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982. p. 64.

193 Octávio Brandão também foi um dos fundadores do jornal.

194 BRANDÃO, Octávio. Combates e Batalhas: memórias. Vol. 1. Alfa-Ômega, 1978. pp. 301-318. 195 Cf. Sem autor. Aqui estamos de novo. A Classe Operária, Rio de Janeiro, 01.05.1928, p. 1. 196 Cf. BRANDÃO, Octávio. Op. cit. p. 305.

Dezenas de tipografias, tanto pertencentes a amigos do Partido, como de propriedade do Partido, foram invadidas e empasteladas; muitas dezenas de camaradas, incumbidos de sua redação ou da sua administração, caíram nas garras da reação, submetidos às piores torturas; mas A Classe Operária reaparecia sempre, e já então como órgão central do Partido Comunista do Brasil. As condições criadas pela rigorosa clandestinidade levaram a essa mudança em sua feição primitiva197.

Quando fala em “feição primitiva” Pereira se refere à mudança efetuada na diagramação no jornal que passa a apresentar um formato bastante rudimentar em alguns exemplares que circularam após 1930, nos quais percebemos que o texto era datilografado e diagramado em colunas largas. Além disso, o layout do título do periódico também sofre mudanças na fonte e nos símbolos que acompanham. A foice o martelo vão sendo reinterpretadas ao longo dos anos, ora compondo parte da letra “o” no título, ora separando as duas palavras “Classe Operária” e impressa no interior de uma coroa de louros, numa proposta visual muito semelhante ao brasão do utilizado pelo exército da URSS, conforme podemos observar nas figuras abaixo:

FIGURA 1

Autor não identificado. A Classe Operária, Rio de Janeiro, nº 94, 28.07.1930. p.1. CEDEM.

FIGURA 2

Autor não identificado, Brasão de armas da URSS.

Fonte: http://saber.sapo.pt/wiki/Brasão_de_armas_da_União_Soviética198

197 PEREIRA, Astrojildo. Op. cit. p. 98.

198 Brasão adotado pela URSS em 1923 e utilizado até 1991. Para maiores informações ver:

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No tocante à diagramação d’ A Classe Operária, outro elemento importante é o perfil adotado pela publicação, sobretudo, no que diz respeito à funcionalidade do jornal. É perceptível a semelhança entre a proposta desses periódicos partidários em relação aos jornais produzidos na França no período pré-revolucionário que antecede o 1789. A tradição parece se manter através de uma série de elementos na imprensa operária e mormente partidária brasileira. No contexto em que é criado no Brasil, A Classe Operária, filia seu conteúdo às bandeiras de luta da União Soviética, publicando uma série de textos sobre o marxismo-leninismo em seus exemplares iniciais, com o objetivo claro de fomentar a consciência classista nas massas como degrau para a futura revolução comunista. Segundo Fábio da Silva Souza, “a maioria dos impressos comunistas foi editada em quatro páginas e tinha o formato tabloide”, embora tal formato variasse, pois “alguns números de A Classe Operária saíram com seis, oito e até 16 páginas199”.

O jornal, portanto, passa a ter papel central na vida da militância comunista, ele é um dos principais mecanismos de formação e informação política, tal característica se assemelha àquela suscitada na França às vésperas da revolução de 1789 quando, conforme salienta Popkin: “os jornais se tornaram a principal forma impressa na qual a luta revolucionária pela legitimidade política se articulou200”. A

Classe Operária está inserida num contexto de forte disputa ideológica, mas não

apenas isso, se insere em meio à disputa pela própria legitimidade do movimento operário. O partido se coloca como a vanguarda do proletariado brasileiro e, nesse sentido, ao jornal caberia o papel de porta-voz das ideias revolucionárias.

É interessante também pensarmos na articulação histórica empreendida por essas tendências políticas dentro do movimento operário através de sua mídia impressa. A política da Partido visava a remodelação do próprio sistema sindical no país. De acordo com as prerrogativas da IC, o modelo sindical implementado deveria

199 SOUSA, Fábio da Silva. Dos e Para os Operários: Questões metodológicas de pesquisa em

jornais comunistas (El Manchete e A Classe Operária). In: Revista de História Comparada, Dossiê

América Latina: Identidades. Rio de Janeiro, vol. 6, número 2, dezembro 2012. p. 57. Disponível

em: http://www.hcomparada.historia.ufrj.br/revistahc/artigos/volume006_Num002_artigo003.pdf Acesso em: 22/02/2014.

200 POPKIN, Jeremy D. Jornais, a nova face das notícias. In: DARNTON, Robert; ROCHE, Daniel

(orgs.). A Revolução Impressa: A Imprensa na França, 1775-1800. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p. 199.

compreender os sindicatos por indústria e não por ofício ou cooperativista201, e essa

política já vinha sendo articulada pelos comunistas através da imprensa, junto, inclusive, ao jornal Voz Cosmopolita, cujo papel fundamental, segundo Ângela de Castro Gomes seria justamente reorganizar e ativar os sindicatos no modelo proposto202.

A Classe Operária acaba adquirindo um potencial de articulação política

fortíssimo, na medida em que suas páginas incorporam o papel de “agentes” de determinada causa, a partir da atuação impressa dessas lideranças. Essa função se faz clara na própria narrativa de Pierre Broué quando escreve que “em 1929, A

Classe Operária propõe a Prestes, que ela chama de ‘o heroico general’ , ser

candidato do PCB à presidencial sob a bandeira da ‘união da classe média e do proletariado’203”. Broué se reporta ao próprio jornal, não ao Partido, tampouco a

alguma liderança comunista, é A Classe Operária, o semanário, que confere a Prestes o título honorífico e que o convida a candidatar-se, pois a publicação é considerada “voz orgânica” do Partido.

Outra diferença considerável que percebemos em relação aos jornais anteriores, sobretudo aqueles de conteúdo ácrata, diz respeito às imagens veiculadas na publicação. Em A Classe Operária as imagens nem sempre são publicadas na página inicial do exemplar, tampouco possuem dimensões consideráveis, como podemos perceber em outros jornais. Elas eram veiculadas com menor incidência, se considerarmos o número de exemplares e o período de circulação do jornal, e várias estabeleciam uma relação direta com o texto do seu entorno, inseridas como ilustração da narrativa.

Contabilizamos um total de 24 imagens ao longo dos anos de 1928 a 1940 o que demonstra que o conteúdo imagético não era uma prioridade para ACO diferentemente do que ocorre com A Nação, periódico também oficial do Partido Communista do Brazil que veiculou em suas páginas imagens com incidência consideravelmente maior. No entanto, esse fato não é suficiente para que

201 GOMES, Ângela de Castro, Op. cit. p. 29. 202 Ibid. p. 169.

203 BROUÉ, Pierre. História da Internacional Comunista 1919-1943. Tomo I. São Paulo:

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desprezemos o conteúdo imagético d’A Classe Operária tendo especialmente em vista, a importância de suas incidências temáticas.

Entrementes, devemos atentar particularmente ao perfil de cada publicação.

A Classe Operária não foi o único periódico oficial do Partido Communista do Brazil,

mas dividiu espaço com o jornal A Nacão, cuja presença de conteúdo imagético foi maior, não apenas no concernente às caricaturas, gravuras e ilustrações, como também no condizente às fotografias, que se destacam pelo grande volume em que são publicadas, ostensivamente mais presentes do que em A Classe Operária. As duas publicações dividiram espaço em determinados períodos e, apesar de serem dirigidas por membros do Partido apresentam diferenças sensíveis, inclusive naquilo que diz respeito à periodicidade de sua circulação. Passemos então ao sexto e último jornal selecionado para o presente estudo: A Nação.

1.7 A Nação

A Nação (AN)204 foi o primeiro diário comunista publicado no Brasil; surge

não como órgão oficial do Partido, mas se coloca a serviço dele, já que o título estava em propriedade do professor de Direito Leônidas de Resende, contando com Adalberto Coelho como secretário e Januario Pigliasco como gerente. A partir de 1927 o diário passa a circular sob a tutela do Partido Communista do Brazil, embora o diretor do diário continuasse sendo Resende. A redação e administração localizavam-se à rua 13 de Maio, no primeiro andar de um dos prédios do centro da cidade.

A passagem do jornal à influência do Partido se dá em meio à política da IC de frente única, desta maneira A Nação congrega através de suas páginas uma série de conteúdos acerca da política sindical no Brasil, relatando reuniões e conferências promovidas por sindicatos e registrando boa parte desses encontros através da fotografias que acompanhavam a narrativa acerca dos eventos. De

204 Todos os números de A Nação analisados nesta pesquisa, correspondentes ao ano de 1917, com

algumas lacunas na série, encontram-se no Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM), armazenados no fundo: Archivio Storico Operaio Brasiliano (ASMOB) em propriedade do Instituto Astrojildo Pereira (AIP). Dispomos para fins de análise de um total de 186 exemplares do jornal A Nação.

acordo com Marcos Del Roio, o jornal contava ainda com Astrojildo Pereira e Octávio Brandão na redação, teóricos comunistas, em contrapartida, Leônidas de Resende carregava consigo a bagagem positivista de ideias205; a associação de

forças entre eles já denunciava por si só a política da frente única.

No que diz respeito à apresentação formal de A Nação, o jornal trazia no canto esquerdo, no cabeçalho, brasão muito semelhante àquele publicado por A

Classe Operária, com a diferença que no primeiro a foice e o martelo voltavam-se

para a direita, sobre o sol que com seus raios de luz funcionava como base para a frase do manifesto comunista de Marx e Engels: “proletários de todos os países, uni- vos!”, mesma inscrição presente em ACO, embora no período inicial de sua circulação o texto fosse disposto acima do título do jornal. Abaixo, podemos observar tais diferenças gráficas através da imagem do cabeçalho de A Nação:

FIGURA 3

Autor não identificado, A Nação, Rio de Janeiro, nº 270, 03.01.1927. p.1.

A Nação, usualmente, contava com um total de quatro páginas, todavia esse

número costumava variar, sobretudo nas edições comemorativas, nas quais o volume de páginas aumentava. O jornal dispunha ainda de uma página inteira dedicada ao movimento sindical, publicando nesse espaço não apenas informes sobre reuniões e assembleias, como também denúncias referentes à exploração do trabalho dos empregados em diversos ramos de comércio e dos operários das fábricas. Nessa seção a chamada aos trabalhadores era incitada pelas palavras de ordem: “Nem mais um operário fora dos sindicatos!”, reforçando o trabalho do Partido pela organização dos sindicatos de indústrias.

205 ROIO, Marcos Del. Os comunistas, a luta social e o marxismo (1920-1940). In: RIDENTI, Marcelo;

REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil: Partidos e organizações dos anos

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Em geral a primeira página abrigava textos acerca da situação nacional do movimento operário, contando com fotografias que ora se apresentavam como registros das reuniões promovidas por sindicatos, ora agiam como elemento de legitimação das denúncias impetradas por trabalhadores acerca de suas penosas condições de trabalho. Na segunda página a seção “Hoje” trazia informes atualizados sobre as atividades que variavam de reuniões promovidas por ligas operárias e associações sindicais até peças teatrais, filmes em cartaz nos cinemas, aniversários, noivados e festas populares; ainda que uma seção especial chamada “Teatros e Cinemas” fosse dedicada apenas para a divulgação de tais atividades culturais e de lazer. A terceira página era dedicada ao movimento sindical e à coluna intitulada “Novas Assinaturas: a luta contra o capital precisa de capital”, cujo conteúdo vinha em forma de apelo emitido pelo grupo editor em busca de novas assinaturas206 . A página final hospedava uma interessante seção chamada

“Desportos”, cujos informes transitavam em torno dos campeonatos esportivos variados entre eles: futebol, remo e natação.

Entre as múltiplas atividades desenvolvidas pelo diário A Nação, enquanto órgão a serviço do Partido Communista do Brazil, a principal delas foi, inegavelmente, a articulação política, não se restringindo tão somente à reorganização sindical, mas cumprindo também o papel de promotor de alianças, condizente ao seu surgimento já que tratava-se, inicialmente, de uma publicação liberal, perfil esse que foi transformado após o PC do Brazil assumir o controle do jornal. Questões internas do Partido também ganhavam destaque nas páginas de AN, com destaque à arregimentação e ao apoio conferido à Juventude Comunista do Partido. De acordo com Dainis Karepovs, já nos primeiros anos em que o jornal circulou produziu-se em A Nação uma forte agitação em torno da organização da

206 A Nação contava com assinaturas nacionais e internacionais. No Brasil, as assinaturas anuais

custavam 33$, enquanto as semestrais custavam 20$. Ainda era possível contratar a assinatura por 9 meses no valor de 28$ ou por 3 meses custando 10$. O lembrete publicado abaixo desses valores atentava para o fato de que as assinaturas deveriam ser pagas adiantadas. Fora do Brasil a assinatura anual custava 60$, enquanto a semestral custava 33$.

Juventude Comunista207, o diário ainda promovia em suas páginas o debate acerca

das condições de trabalho dos jovens no Brasil, denunciando:

As penosas e precárias condições de trabalho, os baixos salários ofertados pelas empresas, a péssima alimentação que consumiam, as extensas jornadas de trabalho, a sua condição de reserva de mão de obra para provocar o rebaixamento dos salários – e, em consequência, jogá-los contra os trabalhadores mais velhos -, as agressões e tratamentos desrespeitosos a que eram submetidos os jovens por parte das chefias. Além disso, chamava-se a atenção dos jovens trabalhadores para a importância da educação e do lazer. Estas matérias envolviam as mais variadas categorias profissionais: trabalhadores têxteis, vendedores de jornal, alfaiates, telefonistas, engraxates, aprendizes metalúrgicos, trabalhadores da construção civil, trabalhadores na indústria de fogos de artifício, trabalhadores em fábricas de bebida. Estes textos, de modo geral encerravam-se com apelos para que os jovens se organizassem, sendo que, por vezes, os apelos ora apontavam às suas organizações de classe, ora, posteriormente, à Juventude Comunista208.

Associada ao zelo que o jornal mantinha para com as questões relacionadas à juventude militante, entravam em pauta os debates acerca do militarismo e, portanto, do serviço militar obrigatório209, cuja posição contrária sustentada pelo

grupo editor argumentava no sentido de que tal convocação consistia em mais uma dolorosa espécie de sanção imposta pelo Estado aos jovens brasileiros pobres. O diário comunista foi incansável na tarefa de chamar os jovens à política, os conclamando para que participassem do movimento estudantil nas escolas e universidades e também para que se juntassem às comemorações do 1º de Maio210.