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ANEXO 1 – Estatutos do Partido Communista do Brazil, março de 1922

1. A IMPRENSA OPERÁRIA EM QUESTÃO

1.1 O despontar da imprensa operária e sindical no Brasil

1.1.3 O Prestismo e a Internacional Comunista de Moscou: uma política de aproximações

A chamada “crise dos anos 20107” persiste afligindo o Brasil e, em meio à

agitação provocada pelo Tenentismo, o Partido Communista do Brazil tenta se afirmar gradualmente; era praticamente impossível dissociar o partido do ideal pequeno-burguês. Sua organização tímida, também pelo pequeno número de filiados dispersos pelo país, logo mostrou a necessidade de angariar apoio de partidos com uma tradição comunista anterior. A aproximação do PC do Brazil com o Partido Comunista da Argentina veio de encontro aos anseios dos dirigentes brasileiros.

Durante esse período, nas reuniões internas do Partido Communista do Brazil, incorre-se à discussão acerca da necessidade de ruptura com as plataformas reformistas embrenhadas historicamente na política operária brasileira, ao passo que ainda restava a dúvida à respeito da possibilidade ou não de manter o apoio ao movimento tenentista. A decisão vem de Moscou, através da IC, que opta por uma nova classificação do movimento, que passa a ser chamado de “movimento nacional-revolucionário108”. A justificativa ao apoio fica expressa pela crença de que

a maior parte do exército era composta por camponeses e trabalhadores humildes, sendo importante, uma aliança próxima com esses grupos109.

107 Para maiores informações sobre a crise econômica que abalou o país na década de 20 ver:

VIZENTINI, Paulo Fagundes. A crise dos anos 20: conflitos e transição. Porto Alegre: Editora da Universidade UFRGS, 1992.

108 Cf. PINHEIRO, Paulo Sérgio. Estratégias da Ilusão: a revolução mundial e o Brasil 1922-1935.

Op. cit. p. 40.

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Por esses anos Prestes saíra do exílio em que estava na Bolívia por intermédio de novos contatos políticos articulados após a retirada da Coluna Prestes do Brasil. Instalando-se em Buenos Aires, Prestes se aproxima de Rodolfo Guioldi, membro da direção do Partido Comunista da Argentina; lá Prestes funda a Liga de Ação Revolucionária (LAR), mantendo-se ainda contrário à ideia de filiar-se ao Partido Communista do Brazil. Sobre isso Anita Leocádia pondera:

Na verdade, desde o exílio na Bolívia e depois na Argentina, Prestes começara a estudar o marxismo e estabelecera contato com os comunistas. A situação de miséria e abandono da maioria do povo brasileiro, constatada durante a marcha da Coluna, havia causado um grande impacto no Cavaleiro da Esperança, levando-o a busca no estudo da teoria a explicação para as causas dessa situação e a solução para a mesma. Ao cabo de um duro processo de revisão de suas concepções ideológicas e políticas, Prestes chegou a conclusão de que apenas no marxismo seria possível achar respostas racionais para os problemas que o preocupavam; e a resposta, em última instância, se resumia na necessidade de encontrar o caminho para a revolução socialista no Brasil110.

No Brasil, a direção do PC do Brazil começa a perceber na figura de Prestes, amplamente conhecida em território nacional, a oportunidade de unificar e fortalecer o Partido em torno de uma liderança. Logo o nome de Prestes seria indicado para integrar a direção do Partido, não sem que antes se certificassem de que ele de fato, tornara-se um comunista. Incumbido dessa missão Astrojildo Pereira viaja à Argentina. Prestes, receptivo às informações que tratavam da situação política do operariado organizado no Brasil interessou-se pelo que Astrojildo Pereira trazia: eram livros de Lênin, Marx, artigos de intelectuais brasileiros envolvidos na teoria marxiana, material no qual gastaria boa parte do seu tempo a estudar111.

Pereira logo expõe a Prestes as razões do encontro: obter bases de apoio ao Partido no Brasil através da aproximação com o exército e as classes médias, justo às quais o tenente adquiriu notória popularidade. A estratégia vinha de Moscou, estudava-se a ação dos partidos comunistas da América Latina como forma de ampliar o alcance da própria política Soviética. A iniciativa se configurava no

110 PRESTES, Anita Leocádia. Op. cit. pp. 102-103. 111 Idem.

sustentáculo da diplomacia soviética manifesta na direção da Terceira Internacional Comunista.

Lançado na ilegalidade, mas mesmo assim tentando vencer as adversidades, o Partido Communista do Brazil realiza em 1925 o II Congresso do Partido; a inciativa concentrou-se em torno da formação de um bloco único das organizações operárias que se fizesse combativo. Inicialmente a organização foi denominada Bloco Operário sendo, logo em seguida, renomeada, passando a se chamar Bloco Operário e Camponês112. O BOC representava a alternativa capaz de

impulsionar a participação dos comunistas nas eleições através de alianças com os tenentes e o Partido Democrático Paulista113; a crença era a de que essa parceria

assentaria as bases para a posterior revolução democrático-burguesa no Brasil. Segundo Tronca:

Efetivamente lendo a história do período através das lentes da Internacional, O BOC identifica, em primeiro lugar, o início da revolução democrático-burguesa nos movimentos armados de julho de 1924. Para as oposições, esse é o momento gerador da luta contra as oligarquias.

Em segundo lugar, os “revolucionários” de 1924 estariam cumprindo as tarefas da revolução agrária contra o feudalismo, tendo a Coluna Prestes como precursora das revoltas do campesinato. E finalmente, o BOC identifica na luta antioligárquica o esforço de criação da própria nação, até então inexistente, por causa do domínio imperialista114.

De acordo com a interpretação de algumas lideranças do Partido Communista do Brazil, um novo levante de militares rebeldes era iminente, em virtude da crise que previa na agricultura cafeeira e os conflitos que se estabeleceriam no processo de sucessão presidencial115. Conforme assinala Ângela

de Castro Gomes, “além de dispor do jornal A Nação – que circulava com a foice e o martelo – os comunistas realizaram inúmeros comícios em portas de fábricas nos

112 Cf. ROIO, Marcos Del. A gênese do Partido Comunista. In: A formação das tradições (1889– 1945). Op. cit. p. 239.

113 Cf. TRONCA, Ítalo. Revolução de 1930: a dominação oculta. São Paulo: Brasiliense, 1982. pp.

62-63

114 Ibid. p. 63.

115 Astrojildo Pereira sustentava que essa seria a razão pela qual o movimento operário deveria se

aliar à pequena burguesia, pois daí sairia o levante contra a oligarquia. Cabia ao partido, posteriormente, tomar a frente do movimento. Cf. ROIO, Marcos Del. A gênese do Partido Comunista. In: A formação das tradições (1889–1945). Op. cit. p. 242.

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horários de entrada, saída e almoço116”. O jornal, órgão oficial do Partido é colocado

inteiramente à disposição do BOC117, para fazer circular os informes e divulgar

textos políticos pertinentes ao momento de intensa agitação.

Fomentando greves e frequentes manifestações, o Bloco Operário e Camponês logo é visto como uma ameaça à ordem. Consequentemente, o Estado elabora uma nova estratégia no intuito de dissolver o poder de alcance dessa organização. Foi então decretada em 1931 a chamada lei de sindicalização que, conforme esclarece Ângela de Castro Gomes:

Vinha transformar e ao mesmo tempo concorrer com o padrão de associações até então inexistente no movimento operário. Consagrando o princípio da unidade e definindo o sindicato como órgão consultivo e de colaboração com o poder público, o decreto trazia as associações operárias para a órbita do Estado. Além disso, vedava aos sindicatos a propaganda de ideologias políticas ou religiosas, e, embora estabelecesse a sindicalização como facultativa, tornava-a na prática compulsória, já que apenas os elementos sindicalizados poderiam gozar dos benefícios da legislação social. Seu objetivo evidente era o combate a toda organização que permanecesse independente, bem como a todas as lideranças – socialistas, comunistas, anarquistas etc. – definidas como capazes de articular movimentos de protesto contra a nova ordem institucional118.

Ainda que o decreto 19.770 evidenciasse ao Partido Communista do Brazil a necessidade de estabelecer alianças; essa posição era contrária às resoluções da IC, que percebiam um conflito de interesses entre o BOC e o PC do Brazil. Conforme salienta Karepovs “é preciso realçar o papel da direção do PCB, inexperiente e sem muita qualificação teórica, e que foi incapaz de fazer frente às imposições da Internacional Comunista e de seu Secretariado Sul-Americano119”;

com isso o BOC aos poucos vai perdendo força.

116 GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. São Paulo: Vértice, 1988. p. 173. [grifo

da autora].

117 É importante salientar que o esforço do BOC também se dirigia às eleições. Em 1927 a

organização lançou o nome de Azevedo Lima para concorrer pelo 2º Distrito à Câmara dos Deputados, sendo eleito. Pelo 2º Distrito concorreu João da costa Pimenta. Enquanto em 1928, o BOC lançou como candidatos para o Conselho Municipal do Rio de Janeiro: Octávio Brandão e Minervino de Oliveira. Cf. Ibid. pp. 172-173.

118 Ibid. p. 176.

119 KAREPOVS, Dainis. A Esquerda e o Parlamento no Brasil: O Bloco Operário e Camponês (1924-1930). Op. cit. p. 673.

A constante intervenção política empreendida pela IC, e a própria mudança de orientação da mesma120, suscitou uma série de equívocos políticos no interior do

Partido Communista do Brazil. A política de “proletarizar” o Partido culminou num projeto infeliz que conferiu espaço nas discussões mesmo àqueles elementos com pouco ou nenhum conhecimento político do que se passava no Partido121.

Em contrapartida, a aproximação de Prestes das fileiras do Partido não parecia nada fácil, pois suas lideranças estavam receosas de integrá-lo enquanto força representativa dos setores da pequena-burguesia. O vínculo entre Prestes e o Partido foi articulado, sobretudo, por intermédio da IC; “em outubro de 1931, junto com a família e acompanhado pelo revolucionário alemão Arthur Ernst Ewert, Luís Carlos Prestes embarcou para a URSS, onde permaneceria por pouco mais de três anos”122.

Durante o tempo em que esteve em Moscou, o “Cavaleiro da Esperança” denuncia o “prestismo” como ideologia de caráter pequeno-burguês e se define, objetivamente, como marxista, preparando-se para ingressar no Partido Communista do Brazil. Entretanto, ele só retorna ao Brasil, clandestinamente, em 1935, sendo admitido pelo Comitê Central do PC do Brazil somente em 1934, por determinação direta da IC. De acordo com Leandro Konder “a direção do PCB temia o que lhe parecia ser uma assustadora convergência de tendências contra revolucionárias externas (o trotskismo) e internas (o prestismo e a conciliação oportunista com a Aliança Liberal)123. A temeridade das lideranças do PCB não mais se ajustava ao

posicionamento político adotado por Prestes que não demonstrava qualquer inclinação em relação à Aliança Liberal124.

120 A orientação política da IC sofre uma profunda alteração entre os anos de 1929 a 1932, que

pregava o emprego de um marxismo vulgarizado em termos teóricos aplicável através da socialização forçada dos meios de produção ou pela restauração da economia privada. Foi precisamente este marxismo que chega até Luís Carlos Prestes. Cf. VIANNA, Marly de Almeida Gomes. O PCB: 1929-43. In: A formação das tradições (1889–1945). Op. cit. pp. 335-336.

121 Ver: VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Ibid. p. 336.

122 Cf. ROIO, Marcos Del. O impacto da Revolução Russa e da Internacional Comunista no Brasil. In:

MORAES, João Quartim de.; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil: O

impacto das revoluções. Op. cit. p. 91

123 KONDER, Leandro. A derrota da dialética: recepção das ideias de Marx no Brasil até o início dos anos trinta. Op. cit. p. 173.

124 A atitude de Prestes que poderia ser posta em dúvida pelos dirigentes do PC do Brazil se deu por

intermédio de Oswaldo Aranha que, interessado em atrair Prestes para a Aliança Liberal, emprestou- lhe uma quantia em dinheiro para fundar a Liga da Ação Revolucionária, porém, Prestes,

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Nacionalmente a repressão acaba atingindo o Partido, além disso, o período “obreirista125” lhe valeu igualmente uma série de perdas em termos de atuação

política. No despontar da década de 1930 vários acontecimentos internacionais contribuíram para que o PC do Brazil inaugurasse uma nova fase. O primeiro deles foi o despontar do nazismo e do fascismo no cenário internacional que lançou os organismos de esquerda no centro de inúmeros ataques126. Na França, na Itália, na

Áustria e na Espanha a aliança entre comunistas e socialistas contribuiu para o movimento de resistência ao avanço do fascismo, ao passo que lentamente foi se dando a aproximação entre a IC e a Internacional Operária Socialista127.

No Brasil, a doutrina conservadora integralista, orientada pela liderança de Plínio Salgado parece se alinhar ao Governo Vargas no que diz respeito ao desbaratamento da classe operária organizada128; também em virtude disso, o

Partido Communista do Brazil reavalia suas posições pensando em expandir suas alianças. Não obstante, a nova orientação do PC do Brazil se baseava também nas diretrizes da IC, que apoiava a “fórmula da frente única129”.

Em 1934, voltando à legalidade o PCB organiza uma onda de comitês de luta contra a guerra, o fascismo e o integralismo; o objetivo principal era criar nas massas a necessidade de um levante contra o imperialismo crescente. A iniciativa se amparava nas previsões articuladas através das classificações “etapistas”, contrárias a toda e qualquer teoria marxista ou leninista, mas profundamente características do stalinismo. De acordo com Pinheiro:

encontrando-se já alinhado ao marxismo, não leva adiante a LAR, tampouco participa da Aliança Liberal que coloca Getúlio Vargas no poder. Para maiores informações ver: KONDER, Leandro. As

ideias socialistas no Brasil. São Paulo: Moderna,1995. pp. 37-40.

125 O “obreirismo” consistiu na política implantada pelo Partido Communista do Brazil de construir o

partido com quadros genuinamente oriundos das fileiras operárias e camponesas. A estratégia não grassou êxito e culminou num desvio “esquerdista” extremamente prejudicial ao Partido.

126 ROIO, Marcos Del. O impacto da Revolução Russa e da Internacional Comunista no Brasil. In:

MORAES, João Quartim de.; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil: O

impacto das revoluções. Op. cit. pp. 92-93. 127 Ibid. p. 93.

128 ROIO, Marcos Del. Os Comunistas, a Luta Social e o Marxismo (1920-1940). In: RIDENTI,

Marcelo; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo o Brasil: Partidos e Organizações dos

Anos 1920 aos 1960. Vol. V. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 2007. p. 56.

129 ROIO, Marcos Del. O impacto da Revolução Russa e da Internacional Comunista no Brasil. In:

MORAES, João Quartim de.; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil: O

O primeiro período, de 1919 a 1921, era aquele da ofensiva revolucionária e da crise do capital; o segundo, de 1921 a 1928, o da “frente única” na IC, da NEP na URSS e da reconstrução geral do capitalismo; o “terceiro período” se inicia em 1928 (um novo período, que não será classificado numericamente, se abrirá em 1935 com as “frentes populares”)130.

Tais avaliações sobre a situação política do Brasil e a necessidade imperiosa de se criarem ou não alianças, eram também consequência dos relatos levados ao conhecimento da IC através da participação das lideranças brasileiras e das interpretações que faziam acerca do cenário político brasileiro131. Acreditava-se

já em 1934 que o Brasil se encontrava na iminência de um levante revolucionário e mais ainda, que o Partido Communista do Brazil estaria apto para liderá-lo. A percepção um tanto quanto prematura das lideranças do Partido chega à Moscou e, mais particularmente, a Prestes também132.

À luz do cenário supostamente revolucionário, Prestes retorna ao Brasil133

no intuito de liderar o movimento; somado a isso, a “IC resolveu ajudar o movimento revolucionário brasileiro, com a mudança do Secretariado Sul Americano para o Rio, o envio de assessores da IC e de dinheiro para financiá-los134”. O ano de 1934 foi

muito conturbado no Brasil; uma onda de greves, protestos e conflitos entre integralistas e antifascistas sacudiram o país. As diferenciações latentes na política sindical ganham contornos mais claros em que a distinção entre sindicatos atrelados ao Ministério do Trabalho e os sindicatos controlados por lideranças de esquerda se tornam evidentes135. A integração entre forças populares na luta contra o fascismo e

o imperialismo foi o fator prevalecente para a formação da ANL136 (Aliança Nacional

130 PINHEIRO, Paulo Sérgio. Estratégias da ilusão: a revolução mundial e o Brasil 1922-1935.

Op. cit. p. 201.

131 Cf. ROIO, Marcos Del. O impacto da Revolução Russa e da Internacional Comunista no Brasil. In:

MORAES, João Quartim de.; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo no Brasil: O

impacto das revoluções. Op. cit. pp. 94-95.

132 VIANNA, Marly de Almeida Gomes. O PCB: 1929-43. In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão. A formação das tradições (1889–1945). Op. cit. pp. 341-342.

133 Vale ressaltar que Luís Carlos Prestes retorna ao Brasil somente em abril de 1935 com passaporte

falso e já acompanhado pela esposa Olga Benário. Cf. DULLES, John Foster. op. cit. p. 420.

134 Ibid. p.342.

135 Cf. GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. Op. cit. p. 191.

136 A ANL foi uma frente popular que conseguiu agregar várias setores sociais e por esta razão

cresceu muito rapidamente. Inicialmente, contou entre seus dirigentes com militares que lutavam pela preservação das instituições democráticas com um viés bastante nacionalista afirmando um caráter apartidário. Inicialmente o Partido Communista do Brazil, apesar de prestar apoio, não adere ao movimento, somente após a participação de Prestes que logo se torna presidente de honra da

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Libertadora); uma frente popular que conseguiu agregar vários setores sociais e por esta razão cresceu muito rapidamente.

Como era de se esperar o governo logo centrou esforços no sentido de reprimir as manifestações articuladas pela ANL. A Lei de Segurança Nacional promulgada no início de 1935, dando tratamento especial para crimes praticados contra a ordem política e social, acabou por lançar a ANL na ilegalidade. No interior da ANL, organização composta por variadas forças políticas, as cisões passam a distanciar os diferentes grupos; os comunistas, por sua vez, tomam a frente do movimento acreditando na associação de forças em direção de um movimento revolucionário a partir de movimentos grevistas ascendentes. De acordo com Ângela de Castro Gomes, o cenário que víamos no início do século nitidamente se transforma pois:

Se em 1920 a questão social foi definida como questão policial – e os anarquistas foram apontados como o “inimigo objetivo” – em 1935 ela iria ser definida como uma questão de segurança nacional, e o mesmo tipo de discurso acusatório iria se voltar contra uma nova categoria: os comunistas137.

A soma de forças que vinha sendo articulada dentro da ANL através da aproximação com elementos do exército concorreu para que as lideranças do Partido Communista do Brazil acreditassem no conjunto de forças que tinham construído ao longo da vida ativa da organização aliancista. O próprio Prestes convoca através de cartas seus antigos companheiros de Coluna, sem levar em conta que, muitos deles, já não lutavam nas mesmas trincheiras políticas138. Uma

série de equívocos de interpretação do cenário político que se lhes apresentava, juntamente ao apoio concedido por Moscou, fizeram com que o movimento eclodisse prematuramente:

Os acontecimentos se precipitaram, porém, em 23 de novembro, quando, em Natal, no Rio Grande do Norte, a iminência da desmobilização se somava ao arrogante retorno à cena das forças

organização é que o Partido adere à ANL. Cf. VIANNA, Marly de Almeida Gomes. O PCB: 1929-43. In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão. A formação das tradições (1889–1945). Op. cit. pp. 343- 344.

137 GOMES, Ângela de Castro. Op. cit. p. 191.

oligárquicas decaídas em 1930. Desencadeava a insurreição em nome da ANL e de Prestes, dois dias depois foi aclamado o Comitê Popular Revolucionário, quando estava já em andamento a insurreição no Recife, onde se localizava a coordenação do movimento para o inteiro Nordeste. Em ambos os casos, o apoio popular à insurreição desencadeada pelos militares aliancistas existiu, mas não foi suficiente para garantir uma resistência mais duradoura que permitisse a reorganização das forças. Quando a insurreição foi decidida, no Rio de Janeiro, para o dia 27, toda a base de sustentação sindical estava desmantelada, e os militares aliancistas ficaram isolados139.

A insurreição pecou, sobretudo, por não levar em conta o apoio popular, com o qual deveria contar fundamentalmente. A repressão que se seguiu após o fracasso do movimento culminou em várias prisões, entre elas a do próprio Prestes. A história do movimento operário construída a partir do início do século XX até a década de 1930 assinala um longo período de intensas transformações, em que o próprio fazer-se da classe operária brasileira é discutido, e pensado também através das construções narrativas impressas nas páginas de seus jornais, mas não somente através delas; a ressignificação de símbolos e a circulação de ideias também se fizeram notar através das inúmeras criações imagéticas que transitaram