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ANEXO 1 – Estatutos do Partido Communista do Brazil, março de 1922

1. A IMPRENSA OPERÁRIA EM QUESTÃO

1.2 A Lanterna: Folha Anticlerical e de Combate

139 ROIO, Marcos Del. Os Comunistas, a Luta Social e o Marxismo (1920-1940). In: RIDENTI,

Marcelo; REIS, Daniel Aarão. (orgs.). História do Marxismo o Brasil: Partidos e Organizações dos

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A Lanterna (AL)140 foi um semanário141 que surge no ano de 1901, na cidade

de São Paulo pela iniciativa das ligas anticlericais do estado de São Paulo. Sob a direção de Benjamin Mota142, em sua primeira fase, o periódico demarcava sua

posição anticlerical e combativa. Com tiragem equivalente a 10 mil exemplares143, A

Lanterna inicia suas atividades com a distribuição gratuita de alguns números, como

era de praxe durante esse momento inicial de circulação do jornal, quando ele ainda não era conhecido entre os círculos que tencionava atingir, embora com o aumento de sua popularidade AL passasse a ser vendido através das listas de subscrição ou das assinaturas144.

Embora recente, o surgimento da folha anticlerical e de combate já demarca um espaço de circulação de ideias de livres-pensadores, socialistas, anarquistas e opositores ao regime republicano145. Tanto a diagramação quanto a impressão de

AL eram executadas junto ao Largo da Sé, número 05, provavelmente no interior de algum dos tantos sobrados típicos da região.

A publicação era diagramada num espaço de quatro páginas, sendo as três primeiras destinadas à publicação de artigos, crônicas, folhetins, poemas, ou seja,

140 Todos os números de A Lanterna analisados nesta pesquisa, correspondentes aos anos de 1911

até 1935 exceto por algumas lacunas na série, encontram-se no Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM), armazenados no fundo: Archivio Storico Operaio Brasiliano (ASMOB) em propriedade do Instituto Astrojildo Pereira (AIP). Os exemplares que completam essa seriação foram coletados no banco de arquivos da Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional.

141 A Lanterna foi criada com o objetivo de se tornar uma mídia impressa semanal, embora nos seus

primeiros anos de circulação a periodicidade não tenha correspondido exatamente ao desejado. Essas interrupções se devem, em muito, às dificuldades financeiras enfrentadas pela equipe no sentido de manter a publicação, bem como às investidas policiais que provocavam o fechamento das oficinas de impressão desses jornais e com isso a consequente suspensão de suas atividades.

142 Benjamin Mota, advogado e jornalista, esteve à frente de A Lanterna até o ano de 1904. Em 1909

Edgard Leuenroth associa-se a ele provocando mudanças significativas no conteúdo do jornal. Se antes o periódico se expressava enquanto “anticlerical” e “liberal”, após Leuenroth o apelo ao movimento operário ganha contornos matizados perceptíveis através das acentuadas mudanças editoriais promovidas novo conselho editorial. Cf. KHOURY, Iara Maria Aun. Edgard Leuenroth: uma

voz libertária; imprensa, memória e militância anarco-sindicalista. São Paulo: USP, 1988. (Tese

de doutorado em Sociologia). p. 39.

143 Cf. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris. (orgs.). A imprensa confiscada pelo Deops: 1924-1954. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 74.

144 As propostas de assinaturas eram disponibilizadas dentro de dois padrões: anual, correspondente

a 10$000 ou semestral no valor de 6$000; o número avulso era vendido por $100.

145 Cf. ANDRADE, Carlos Eduardo Frankiw de. Blásfemos e sonhadores: Ideologia, utopia e sociabilidades nas Campanhas anarquistas de A Lanterna (1909-1916). São Paulo: USP, 2009.

textos em geral, enquanto a última página reservava espaço para informes, convocações para assembleias, congressos ou manifestações, divulgação de obras e cartilhas colocadas à venda e, em alguns casos, também de souvenirs no intuito de angariar fundos para à organização, além da propaganda de alguns produtos ou estabelecimentos apoiadores da causa em questão.

Priorizando publicações de conteúdos fortemente anticlericais, AL não se eximiu de mergulhar na luta pela educação laica no Brasil. Com esse objetivo, concentrou esforços no sentido de investigar e denunciar possíveis abusos cometidos pelos clérigos envolvidos com a educação formal no país. O famoso caso Idalina146, cujo desaparecimento da menina de 7 anos do Orfanato Christovam

Colombo resultou numa longa investigação empreendida pelos advogados vinculados à Lanterna, e numa extensa campanha nas páginas do jornal em busca do paradeiro de Idalina, demonstrou o quão forte era a posição contrária dos diretores do jornal ao ensino religioso que vigorava no país.

O tom anticlerical da publicação esteve manifesto, inclusive, na concepção de seu título. O combate à Igreja Católica era recorrente não apenas nos textos que não poupavam críticas à instituição, como também nas sátiras ajustadas ao conteúdo imagético que compunha o jornal. Subsistia a ideia de que a Igreja era uma espécie mantenedora conservacionista da Idade das Trevas, embora adaptasse suas “estratégias” às condições políticas do momento. De acordo com Andrade:

Na constituição desta atmosfera, Mota fazia uso de um discurso pautado por um jogo de luzes e sombras que remetia diretamente ao nome do jornal, A Lanterna, e seu programa. No combate à influência clerical e no trabalho visando à emancipação das consciências dos dogmatismos que obstruíam o usufruto pleno da liberdade de expressão, pensamento e crítica em solo brasileiro, A

Lanterna encontrava sua especialidade. Próprio a este jogo de luzes

e sombras, a simbologia de seu nome se referia a uma dualidade que remetia aos propósitos e aos raios de atuação que seriam singulares ao periódico e ao coletivo editorial encarregado de dirigi-lo entre a variada gama de publicações proletárias e libertárias circulantes no período. Como diz seu subtítulo, “Folha Anticlerical e de Combate”, A Lanterna se empenhava diretamente no embate contra a Igreja, através da publicação de toda sorte de denúncia e

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escândalo envolvendo o clero, na sugestiva simbologia oriunda de seu nome147

No princípio de suas atividades, sob a direção de Benjamin Mota, A

Lanterna ainda carregava alguns traços liberais em seu conteúdo; somente a partir

de 1909, quando Edgard Leuenroth assume o conselho editorial do periódico é que o caráter anarcossindicalista se manifesta com mais intensidade. Isso se deve igualmente à participação ativa de outros colaboradores como Neno Vasco, que contribuiu para a fundação de outras publicações anarquistas e que se destacou como grande liderança ácrata em São Paulo148.

O fato é que ainda nessa primeira fase, AL conseguiu obter uma tiragem de 10 mil exemplares149, um número bastante significativo se considerarmos o perfil

dessas publicações e as dificuldades de circulação que enfrentavam. A partir de 1909, quando Edgard Leuenroth 150 associa-se ao conselho editorial de AL

aumentam as publicações acerca do movimento operário, suas manifestações e assembleias, também cresce a publicação de notas relacionados à situação do operariado internacionalmente. Uma coluna fixa assinada por Neno Vasco e intitulada “Da Porta de Europa” mantém os leitores informados acerca dos mais recentes fatos transcorridos no exterior.

Apesar de ser uma publicação paulista, Leuenroth preocupou-se em ampliar o alcance dos conteúdos do jornal, atentando para denúncias feitas desde o interior de Minas Gerais até às pequenas cidades da Paraíba. O anticlericalismo servia como base para a construção de campanhas em defesa da liberdade de consciência e de expressão e delação da exploração da boa fé da população perpetuada pela Igreja com o aval do Estado. Conforme Carneiro e Kossoy:

147 Ibid. p. 20.

148 Cf. TOLEDO, Edilene. Op. cit. p. 63.

149 Cf. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris. (orgs.). op. cit. p. 74.

150 Mesmo tendo ingressado na política operária filiando-se no Partido Socialista Brasileiro em 1894,

Edgard Leuenroth: tipógrafo, jornalista, arquivista e editor, logo se vincula ao ideário anarcossindicalista pelo qual lutou durante toda a sua vida, falecendo em 1968 depois de ter se tornado uma das principais lideranças do movimento ácrata no Brasil. Para maiores informações ver: KHOURY, Iara Maria Aun. Op. cit. e BATALHA, Cláudio H. M. Dicionário do movimento operário:

Rio de Janeiro do século XIX aos anos 1920. Militantes e organizações. São Paulo: Editora

Propondo a expulsão dos padres e a nacionalização dos bens da Igreja Católica no Brasil, os editores de A Lanterna sugeriam aos seus assinantes que levassem a frente a campanha em prol da difusão do jornal àqueles que estivessem submetidos “à influência nefasta dos padres”. Esta campanha poderia ser feita entregando jornais em residências, pessoalmente ou deixando exemplares em bancos de praças, bondes, trens, etc151.

O trabalho desenvolvido em AL era participativo, a publicação funcionava, em larga medida, por meio da colaboração de seus leitores. A coluna “Vida Operária” era um retrato dessa prática, pois nela as notícias acerca da atividade sindical e das Ligas Operárias eram frequentemente renovadas, isso num período em que esses organismos constituíam as principais formas de arregimentação política dos trabalhadores no Brasil.

O esforço no sentido de projetar na sociedade brasileira a ideia de uma educação integral e racionalista representou uma das principais bandeiras de luta do grupo editor. A promoção da educação secular e científica sempre foi um dos pilares de sustentação do anarquismo; a luta pela separação de interesses entre Igreja e Estado era recorrente no Brasil por parte do movimento libertário.

A educação consistia na principal ferramenta de emancipação do indivíduo; nessa direção, as formas de apreensão do conhecimento deveriam estar em conformidade com as circunstâncias sociais em que o sujeito estivesse inserido. Exemplo disso, foram as Escolas Modernas criadas por lideranças do movimento anarquista em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A Escola Moderna era vista como extensão dos organismos sindicais que congregavam anarquistas e socialistas do país inteiro. A Lanterna lançou em suas páginas uma batalha em defesa da educação integral e das Escolas Modernas, notificando frequentemente seus leitores da abertura de vagas e incentivando-os a se matricularem.

A influência de Francisco Ferrer y Guardia foi notória sobre a própria constituição das Escolas Modernas, mas não apenas sobre elas. Desde que Leuenroth assume a direção do jornal, os textos e imagens publicados em AL em memória ao aniversário da morte de Ferrer, não nos deixam dúvidas de que a

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lembrança do líder anarquista catalão servia de exemplo à luta política engendrada no Brasil por essas lideranças filiadas à Liga Anticlerical de São Paulo.

A Lanterna procurou ao longo de toda sua existência demonstrar que sua

luta tinha raízes numa longa tradição política reconhecida mundialmente. Para tanto, o cruzamento de seu conteúdo nacional com o citações ao ideário ácrata e anticlerical internacional constituía uma constante nas páginas da publicação. As disputas entre tendências já se faziam notar nas assembleias promovidas pelas Ligas Anticlericais de São Paulo fornecendo indícios de que se tratava não apenas de uma mídia operária ou sindical, mas também de uma imprensa militante que reunia importantes lideranças no movimento operário brasileiro entre socialistas, anarquistas e sindicalistas. Segundo Andrade:

Além de Edgard Leuenroth e de Benjamin Mota, que a partir de 1911 se declarou socialista, participaram ativamente do jornal, nesta segunda fase: o advogado, jornalista e militante anarco-sindicalista português Neno Vasco, escrevendo inicialmente do Rio de Janeiro e, após sua expulsão do Brasil em 1911, serviu de correspondente do periódico em Lisboa; o romancista, ator, dramaturgo, jornalista, farmacêutico e militante anarco-comunista mineiro Avelino Fóscolo, publicando nas páginas do jornal alguns de seus folhetins de romance social enviados da vila de Tabuleiro Grande, em Minas Gerais, onde residia, um dos redatores de La Battaglia e ativo colaborador na campanha iniciada por A Lanterna e seu periódico acerca do caso Idalina; o pedagogo, professor e militante libertário João Penteado, diretor da Escola Moderna nº 1 e ativo participante dos círculos de estudos de Florentino de Carvalho, militante anarquista de tendência individualista inspirada nos escritos de Max Stirner; a ensaísta, professora, tecelã e militante libertária Maria Angelina Soares, reconhecida por sua ativa militância no campo do feminismo brasileiro, que neste período de circulação do periódico contribuiu com sua leitura crítica acerca da Grande Guerra de 1914- 1918, além de ter lecionado nas Escolas Modernas de São Paulo152.

A variedade de colaboradores equivalia à multiplicidade de conteúdos publicados em AL; mesmo que às referências ao anarquismo fossem apresentadas com maior incidência é importante que tenhamos claro que esse fator não resulta em homogeneidade. Diferentes tendências divergiam, inclusive, acerca da política sindical. Enquanto alguns compactuavam do sindicalismo revolucionário, cujo norte era CGT francesa, afirmando que o sindicato deveria ser a manifestação da

neutralidade entre as diferentes matrizes ideológicas, outros viam o sindicato como o espaço ideal para a disseminação de suas ideias153.

Sob a direção de Leuenroth A Lanterna trilhou um caminho de destaque no movimento operário brasileiro. Com uma edição bastante criteriosa, o periódico se fez notar também pelo compêndio imagético que, via de regra, inaugurava o exemplar. Ocupando um lugar de destaque na página, ou pela sua dimensão ou pela posição em que eram inseridas em meio aos textos, as imagens integravam a experiência visual que o leitor estabelecia com o exemplar. Há que se considerar o esforço por parte do grupo editor em privilegiar o ensejo imagético através das edições comemorativas154 que se diferenciavam das demais por oferecerem ao leitor

uma página inteira de imagens. Exemplo disso foi o jornal do dia 1º de Maio de 1916, no qual podemos observar uma fotomontagem composta por um trabalho primoroso de gravação em pedra, cujo resultado foi bastante expressivo. A considerável expressividade de AL no meio operário lhe rendeu uma longa existência; o periódico circulou durante as três primeiras décadas do século XX enfrentando alguns períodos de interrupção.

Edgard Leuenroth, então à frente do conselho editorial de AL, lança em 1917, em paralelo à Lanterna, outra publicação, essa de caráter expressamente libertário, embora possamos perceber um esforço do editor no sentido de preservar o conteúdo anticlerical. Tratar-se-á de um dos mais emblemáticos semanários ácratas produzidos no Brasil nesse início de século, passemos a ele.

1.3 A Plebe

153 Para maiores informações ver: TOLEDO, Edilene. Op. cit. pp. 62-63.

154 Um bom exemplo disso é a edição comemorativa do 1º de Maio de 1916 cuja página final do

exemplar traz uma fotomontagem com a imagem de 14 lideranças emblemáticas do movimento anarquista compondo uma grande moldura que circunda uma litografia de uma alegoria feminina que ergue na mão esquerda uma tocha de fogo que parece iluminar a cena. Essa litografia se fará presente em outros números do jornal, acompanhada de textos e dissociada do restante da montagem; sobre estas imagens falaremos mais adiante. Cf. A Lanterna. São Paulo, 01.05.1916. p. 4.

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A Plebe (AP)155 foi um semanário156 que surgiu no ano de 1917 em meio ao

cenário de agitações que acompanhou a greve geral na cidade de São Paulo. A partir da iniciativa de Edgard Leuenroth, A Plebe se transforma numa verdadeira ferramenta de disseminação de ideias do anarcossindicalismo no Brasil circulando mormente entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Trabalhando no sentido de fomentar as greves e as manifestações operárias que transcorriam em São Paulo em 1917, o periódico acaba sendo empastelado pela polícia em setembro do mesmo ano, mas consegue manter, em parte, suas atividades através da impressão de exemplares nas oficinas de O Combate157. Em

1919 AP retoma suas atividades ainda que enfrentando muitas dificuldades158. A

publicação afirmava dar continuidade ao trabalho desenvolvido em A Lanterna, fomentando em suas páginas a propaganda anticlerical. Sua distribuição era feita por intermédio de representantes que vendiam o jornal em diversas localidades do país e as assinaturas eram propostas anualmente correspondendo à 10$000 e semestralmente por 6$000159.

A publicação de AP costumava se dar aos sábados; suspeitamos que o próprio Leuenroth é quem executava a seleção dos conteúdos que entrariam no jornal, pois identificamos, na maior parte dos exemplares, uma mensagem em destaque dizendo que toda a correspondência deveria ser enviada diretamente a ele, constando logo abaixo a caixa postal e a cidade do destinatário. A redação e a

155 A maior parte dos números de A Plebe analisados nesta pesquisa, correspondentes aos anos de

1911 até 1935 exceto por algumas lacunas na série, encontram-se no Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM), armazenados no fundo: Archivio Storico Operaio Brasiliano (ASMOB) em propriedade do Instituto Astrojildo Pereira (AIP). Algumas lacunas da série foram preenchidas com os exemplares disponibilizados pela Hemeroteca Digital Brasileira. Mesmo com um número considerável de exemplares analisados neste estudo, ainda assim restam lacunas na série.

156 Identificar a periodicidade dessas publicações é uma questão bastante problemática; em geral a

previsão de circulação oficial determinada pelo conselho editorial acaba não coincidindo com a real circulação desses jornais, o que se deve ao fato da repressão e da censura, mas não apenas só a isso. As dificuldades financeiras de manter esses periódicos circulando no país é uma constante. No caso de A Plebe identificamos períodos de intensa circulação do jornal, em que ele era distribuído diariamente, todavia essa periodicidade oscilava entre exemplares semanais, quinzenais e com algumas interrupções, a depender do contexto vigente e das condições de impressão.

157 Cf. KHOURY, Iara Maria Aun. Op. cit. pp. 40-41. 158 Ibid. p. 41.

159 1$000 equivalem hoje à R$2,75, portanto uma assinatura anual equivaleria aproximadamente à

administração do jornal ficavam localizadas na rua Cap. Salomão, também junto ao Largo da Sé no centro da cidade de São Paulo.

De acordo com Iara Maria Aun Khoury, A Plebe se constituía enquanto um veículo de uma “imprensa operária livre pensadora e independente160”; isto significa

que embora Leuenroth assumisse claramente sua filiação ao anarco-sindicalismo, tal iniciativa não impedia que militantes socialistas, comunistas e articulistas não- anarquistas colaborassem com a publicação. De acordo com Carneiro e Kossoy:

Graças a sua rede de colaboradores internacionais o jornal A Plebe trazia notícias de diversos países, principalmente da América Latina e da Espanha. Mantinha uma seção com notícias de sindicatos da capital e do interior de São Paulo. Eram constantes os anúncios de livros de autores libertários para a venda, além de uma coluna de livros recomendados pelo jornal; e da mesma forma publicava anúncios anticlericais. Durante os anos de 1930 A Plebe editou vários artigos de cunho antifascistas além de divulgar convites para conferências antifascistas promovidas pelo próprio jornal ou pelo Centro de Cultura Social. Intelectuais como Edgard Leuenroth, secretario do Comitê de Defesa Proletária, Hélio Negro (pseudônimo de Antonio Candeias) valeram-se das páginas de A Plebe para conceituar o comunismo, anarquismo e bolchevismo. Da mesma forma, o romancista Lima Barreto – autor da obra Triste Fim de

Policarpo Quaresma – fascinado pela Revolução de Outubro na

Rússia, protestou contra a apreensão de jornais anarquistas em São Paulo dentro os quais figurava A Plebe. Não obstante, em 15 de setembro de 1917, o jornal O Debate publicou um protesto do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos acusando o governo paulista, dentro outros abusos, de ter mandado assaltar as oficinas de A

Plebe e fazer prisões ilegais. [...] O jornal anarco-sindicalista A Plebe,

devido ao seu discurso inflamado contra as instituições como o Estado e a Igreja, estava proibido de circular. Driblando a censura, era vendido clandestinamente na sede da FOSP – Federação Operária de São Paulo e em outros sindicatos161.

A circulação do jornal enfrentou inúmeras adversidades; as diversas interrupções marcaram um esforço colaborativo maior por parte dos editores de outras publicações do gênero que cediam espaço para impressão de AP nas suas oficinas. O conselho editorial de A Plebe também sofre alterações. É presidido por Leuenroth durante os anos de 1917, 1922 a 1923 e 1947, sendo que a partir de

160 KHOURY, Iara Maria Aun. Op. cit. p. 138.

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1923 Rodolpho Felippe passa a fazer parte do conselho até 1923, retomando em 1927 até 1935. Também em 1923 Pedro A. Mota se junta ao conselho até 1924162.

Essas mudanças frequentes na direção do jornal se devem, ao que tudo indica, também à perseguição empreendida pela polícia contra as lideranças operárias, exceto após 1935 quando a Lei de Segurança Nacional faz com que as atividades do jornal sejam suspensas163. O próprio Edgard Leuenroth é preso: em

1912 durante o longo processo que se estendeu sobre o “caso Idalina”, em 1917