• Nenhum resultado encontrado

5 MERCADO E CLASSIFICAÇÃO DO CAFÉ

5.3 Classificação do café beneficiado

5.3.4 A classificação em outros países produtores

O resgate histórico da evolução da regulamentação classificatória para o café no Brasil mostra que o sistema de classificação em vigor, em qualquer época, sempre esteve em consonância com o sistema adotado pela bolsa de Nova York. Inclusive hoje, o sistema brasileiro reflete boa parte dos procedimentos do sistema da bolsa norte-americana.

Diferentemente do Brasil, países produtores importantes, que também emprestam parte do padrão de Nova York em sua classificação, adotam métodos e terminologias próprias que, por assim dizer, reproduzem menos o original. Em suas particularidades, esses sistemas procuram colocar seu produto no mercado com um apelo comercial melhor.

A análise que segue abrange os sistemas de classificação do café beneficiado grão cru, na condição de commodity ou não, adotados por oito dos principais países produtores. O sistema da OIC também é abordado, em virtude da importância da instituição para o agronegócio mundial do café. Os países classificam seus cafés, obviamente, para o mercado. A OIC oferece seu método de classificação como forma de acompanhamento e auxílio à governança nos mercados de seus países membros.

No bojo, os sistemas dos países produtores têm muito em comum. A questão é que, enquanto determinadas características físicas do lote valem como categorias classificatórias em alguns sistemas, em outros essas mesmas características são postas como requisitos mínimos. Mas praticamente todos os sistemas revisados exigem, nos procedimentos de classificação, a contagem de defeitos e a análise granulométrica para avaliação física dos lotes, mais o teste da xícara para avaliação da qualidade da bebida.

Outro ponto em comum, percebido em praticamente todos eles, é a nomenclatura de saída do produto voltada para sua comercialização no mercado externo. O que não acontece com o café brasileiro, que carrega uma nomenclatura de saída para o mercado interno e outra para o externo.

As estruturas classificatórias dos sistemas revisados adequam o produto convenientemente em função das tendências comerciais dos mercados da Europa e Estados Unidos. O funcionamento completo de cada sistema não foi trazido à discussão porque as minúcias e excessos de considerações tornariam o texto desgastante. Além disso, é desnecessário à comparação que ser quer fazer. Dois pontos foram considerados chaves nesta análise, em função do tema e objeto

de estudo desta pesquisa: a base utilizada para a classificação e a descrição comercial do produto, gerada pela nomenclatura de saída do sistema.

Colômbia

A temperatura amena durante o ano todo e o clima propício para o desenvolvimento desestressante do cafeeiro são alguns dos privilégios do café cultivado nas encostas andinas colombianas. Essas condições, concordam os especialistas, favorecem a geração de frutos com atributos organolépticos destacados. Mas não respondem, por si somente, pela excepcionalidade da bebida de seu café.

Parte, é claro, deve-se ao bem sucedido trabalho de marketing que a Federación Nacional de Cafeteros de Colômbia (FNC) tem desenvolvido desde 1959, personificado na figura mítica do personagem Juan Valdez, sua mula Conchita e, ao fundo, as montanhas do país. O bordão do personagem (“¡Disfrute de un buen café!”) e o slogan da campanha (“100% café de Colômbia”) sempre foram bons apelos ao consumo (DÁVILA, 2009).

A melhor qualidade, de fato, do café colombiano deve-se muito ao seu processo produtivo, principalmente aos métodos de colheita e pós-colheita. A colheita manual e seletiva garante lotes com pouquíssimo defeito PVA. Em associação com o processamento via úmida, os colombianos conseguem equilibrar as características químicas de seus cafés de modo que produzam uma bebida de agradável paladar e aroma (SANDALJ, LINK & BECERRA, 2000).

O sistema de classificação do café na Colômbia é baseado nos defeitos, na granulometria e na região de origem. O café beneficiado no mercado interno é denominado café pergamino. Sua descrição comercial nas praças de negociação faz menção ao termo e completa-se apenas com a indicação de sua origem. Paga-se um incentivo de qualidade ao produtor pela oferta de cafés com alto índice de grãos sadios. A Resolución n. 05/2002 do Comité Nacional de Cafeteros estabelece as normas para garantir a qualidade requerida do produto destinado à exportação (COLÔMBIA, 2002; CORREA, 2008).

Quanto aos defeitos, há dois grupos: o grupo 1 compõe-se dos defeitos primários e o grupo 2 dos secundários. Os defeitos primários equivalem-se aos defeitos capitais do sistema brasileiro. Mas, como os colombianos fazem a colheita quase que exclusivamente dos frutos maduros, a incidência de grãos verdes é mínima. Assim, são considerados defeitos primários os grãos pretos, ardidos e mofados. O grupo 2 compõe-se de grãos manchados, quebrados, deformados,

imaturos, acinzentados, esponjosos e danificados por brocas e outros insetos (ARCILA et al., 2007).

Cafeicultores membros da FNC não podem comercializar cafés com mais de 42 defeitos por amostra de 500 gramas. Os cafés da FNC levam o selo oficial e a reputação do café colombiano. Para os demais exportadores colombianos o limite de defeitos é de 72 por amostra. A quantidade de defeitos, portanto, é mais um critério de condição mínima do que, propriamente, um quesito classificatório.

O principal elemento na descrição comercial do produto é dado pela nomenclatura de saída do teste das peneiras. Segundo a granulometria, o café pode ser basicamente Excelso (#12/17) ou Supremo (#17/18+). Há uma designação específica para o café Excelso retido na peneira de malha 12: Caracol. Ademais, incorporam-se as designações Maragogype, Extra, UGQ (usual good quality), EP (Europrep) e algumas outras variações internas.

A denominação Maragogype refere-se a uma variedade que produz grãos graúdos, de peneira 18 acima. A classificação UGQ é a padrão para exportações para os Estados Unidos, e a EP para a Europa. Concomitante à granulometria, recentemente adotou-se para os cafés de mínimos defeitos as descrições Premium, Especial, A e AA (CORREA, 2008; FARFÁN VALENCIA, 2007a).

Quanto a região, assim como no Brasil, há duas ou três décadas a descrição comercial passou a incorporar a origem como forma de diferenciação. As regiões com maior representatividade são Armenia, Popayan, Bucaramanga, Huila, Tolima, Medellin e Nariño.

Seguem alguns exemplos de descrições comerciais dos cafés colombianos: Colombia Supremo; Colombia Popayan Supremo 17/18; Colombia Excelso EP; Colombia Excelso Huila scr 15; Colombia Excelso Maragogype AA.

Indonésia

As ilhas que formam o arquipélago da Indonésia oferecem condições distintas à prática da cafeicultura. Os cafezais do país produzem frutos com atributos intrínsecos que se diferem em função do clima, composição do solo e altitude média de cada região, fortalecendo a necessidade da inclusão da origem na classificação do produto. As principais regiões cafeeiras situam-se em Papua Ocidental, Kalimantan (Bornéu), Celebes, Sumatra do Norte e Java (SANDALJ, LINK & BECERRA, 2000).

Entretanto, a descrição comercial de seus cafés não necessariamente contempla a origem. A classificação é baseada na contagem de defeitos, com