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A composição e a importância do mercado de capitais para a economia do país:

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CAPÍTULO II – INTROITOS CONCEITUAIS, ESTRUTURAIS E

2.1 CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS ESTRUTURAIS DAS SOCIEDADES

2.1.5 A composição e a importância do mercado de capitais para a economia do país:

Insta, primeiramente, dispor que o mercado de capitais é na verdade um conjunto de métodos, formas, instrumentos, ou seja, toda a estrutura que gera e propicia as negociações entre os interessados em investir e as grandes empresas necessitadas de injeção de capital.

Esse conceito engloba o mercado de valores mobiliários como um todo, sendo parte desse todo as bolsas de valores, o mercado de balcão, a Bolsa de Mercadorias & Futuros ou qualquer outra instituição que oportunize essa transferência de recursos, de capital entre os poupadores que pretendem investir, e os tomadores, que são as empresas que buscam o capital para crescer.

Sobre o tema geral do mercado de capitais e dos instrumentos estruturais de sua composição, lições preciosas são as de Fazzio Júnior, ministradas abaixo:

Embora, imediatamente, o mercado de valores mobiliários tenha por meta proporcionar liquidez aos títulos emitidos por companhias abertas e viabilizar sua capitalização, mais importante é seu papel de implementador do crescimento econômico. Ao mesmo tempo em que assegura vantagens para o público (retorno e garantia), funciona como matriz geradora de recursos que permitem financiar a expansão e a otimização tecnológica das empresas. Explicando melhor, as empresas precisam de financiamentos de médio e longo prazos; os capitais pertinentes resultam de recursos de poupadores e investidores.

Cumpre examinar, pois, pelo menos, três institutos: a Bolsa de Valores, o mercado de balcão e a Bolsa de Mercadorias e Futuros.86

Observa-se quanto é importante a consideração feita pelo autor quando afirma que o papel primeiro do mercado de capitais é o de implementar o crescimento econômico. A estrutura do mercado de capitais, obviamente, gira em torno de interesses puramente capitalistas: pessoas (físicas ou jurídicas) ou mesmo grupos de associados que têm pequeno, médio ou grande poder de investir, de um lado; e de outro, companhias que têm necessidade de integralizar (formar) seu capital inicial, expandir seus negócios, se fundir a outras empresas ou mesmo somente captar recursos para sua manutenção ordinária.

O mercado de capitais é, portanto, um termômetro que demonstra o aquecimento econômico, sua estabilidade, seus altos e baixos, as dificuldades financeiras pelas quais o país vem passando, etc. O mercado de valores mobiliários é o cartão postal da economia de um país; as oscilações na moeda, as quedas nas bolsas de valores, a instabilidade econômica, a dívida externa e interna do país sem controle são demonstrações de que há uma crise econômico-financeira e que fazer investimentos nas empresas daquele país pode ser um grande risco.

Outra demonstração do grau de confiabilidade dos investimentos feitos no país a taxa do índice chamado Risco País87, que caiu muito nos últimos anos, elevando

86Op. cit. p. 242. 87

O risco-país é um conceito econômico-financeiro que diz respeito à possibilidade de que mudanças no ambiente de negócios de um determinado país impacte negativamente o valor dos ativos de indivíduos ou empresas estrangeiras naquele país, bem como os lucros, dividendos ou royalties que esperam obter dos

consideravelmente a confiança dos investidores estrangeiros nas empresas brasileiras ou mesmo nos títulos da dívida pública do país.

Mas, diante desses fatos inegáveis de crescimento da economia brasileira, importante se faz compreender conceitos como estes que Fazzio citou: bolsa de valores, mercado de balcão, Bolsa de Mercadorias e Futuros, etc. Assim, após entender e caracterizar pormenorizadamente o mercado de capitais e seus elementos, torna-se possível entender o funcionamento das companhias abertas e o papel (direitos e deveres) de seus acionistas.

O que, grosso modo, se deve saber é que as bolsas de valores são instituições privadas, que não possuem objetivo de lucro, são civis e funcionam por meio de sociedades corretoras. Como tudo no mercado de capitais, as bolsas de valores são fiscalizadas pela CVM, autarquia que faz com que os principais objetivos das bolsas sejam rigorosamente mantidos e praticados.

Muito importantes são as lições de Marcelo Bertoldi e Márcia Carla Pereira ao diferenciar, de forma mais didática, os conceitos de bolsa de valores88 e mercado de balcão, tratando dos mercados primário e secundário:

Na bolsa de valores desenvolve-se o chamado mercado secundário, caracterizado pela comercialização de ações já emitidas e demais valores mobiliários. Referido mercado não se presta ao lançamento de ações, o que deve ocorrer tão-somente no mercado primário, no âmbito do mercado de balcão ou de outras formas de negociação privada.

O mercado de balcão, por outro lado, congrega as operações realizadas fora das bolsas de valores, podendo ser comercializados todos os valores mobiliários, nele desenrolando-se tanto o mercado primário quanto o secundário.89

O que os autores pretendem salientar é que nas bolsas de valores nunca poderá haver a negociação de ações que estão sendo lançadas no mercado pela primeira vez, como, por

investimentos que lá fizeram. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Risco-pa%C3%ADs>, acesso em: 16 de agosto de 2011, às 15h25min.

88

Bolsa de Valores: Instituição em que se negociam títulos e ações. As Bolsas de Valores são importantes nas economias de mercado por permitirem a canalização rápida das poupanças para sua transformação em investimentos. E constituem, para os investidores, um meio prático de jogar lucrativamente com a compra e venda de títulos e ações, escolhendo os momentos adequados de baixa ou alta nas cotações. É uma associação civil, sem fins lucrativos, e tem por objetivo social, entre outros manter local adequado ao encontro de seus membros e à realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e abertos, especialmente organizado e fiscalizado, pela autoridade monetária, e em especial pela CVM. A palavra Bolsa, no seu sentido comercial e financeiro, nasceu em Bruges, cidade lacustre da Bélgica, onde se realizavam assembléias de comerciantes. Geralmente as assembléias eram realizadas na casa do Sr. Van Der Burse, cuja família tinha como símbolo um brasão, contendo o desenho de três bolsas, que simbolizavam honrarias e méritos por atuarem na área mercantil. A Bourse de Paris foi implantada por Luís VII, em 1141, sendo regulamentada em 1304. Napoleão I fixou-a depois em um prédio suntuoso, onde permanece até hoje. Foi na Bourse de Paris que se organizou a corbeille, espaço circular onde os corretores apregoavam os negócios. Fonte: Dicionário do Mercado Financeiro e de Capitais.

exemplo, quando uma companhia está se organizando e sendo criada. As ações ali negociadas só podem ser aquelas que já foram emitidas, ou seja, já tiveram seu capital integralizado por alguém que resolveu vender suas ações e as colocou à disposição para quem quisesse adquiri- las na bolsa de valores.

Esse tipo de negociação para captar poupadores ou investidores que queiram comprar as primeiras ações de uma sociedade, sendo, portanto, os integralizadores do capital dessa empresa e seus sócios fundadores, sempre será feita no mercado primário, pois neste as ações podem ser negociadas pela primeira vez. E o mercado primário não é característico das bolsas de valores, que só movimentam títulos do mercado secundário.

Nesse sentido, Fazzio Júnior sedimenta de vez o conceito de bolsa de valores:

A Bolsa de Valores apresenta-se, legalmente, como uma associação civil constituída por sociedades corretoras, operando no mercado secundário de capitais. Embora algumas de suas atividades sejam exercidas como funções delegadas da Administração Pública, certamente assim não se consideram as operações de compra e venda de valores mobiliários em mercado livre e aberto.

Claro que a Bolsa de Valores não constitui um serviço público, não é um órgão administrativo, mas, um ente autônomo que, no exercício de seus poderes normativo e disciplinar, revela-se uma entidade de cooperação com o poder público, na medida em que é órgão auxiliar CVM. Exerce, por via de delegação legal e regular, atividade normativa-fiscalizatória de seus membros sob a supervisão desta.

Para melhor compreensão, é importante transcrever a lição de Fábio Konder Comparato (41:45), ao consignar que “as Bolsas de Valores fazem parte dessa classe especial de pessoas jurídicas de direito privado, incumbidas por lei – e não apenas por concessão da autoridade administrativa – do exercício de um serviço público”. Trata-se, pois, de “gestão de um serviço público” deferida a uma pessoa jurídica privada, dotada por lei de “um regime peculiar, comportando prerrogativas e sujeições”.

Naquilo que não diz com o interesse público, ou seja, sob os aspectos patrimonial, financeiro e administrativo, a Bolsa é autônoma, diz a lei, embora determine que seja supervisionada pela CVM. É bastante dúbia condição jurídica da Bolsa de Valores, na medida em que vivencia uma autonomia controlada, se é que se pode assim traduzi-la.90

O autor conceitua a bolsa de valores deixando clara sua sujeição à CVM e até um certo controle dessa instituição privada pelo poder público. Mas o que há de mais importante nessas considerações é que a bolsa de valores, qualquer que seja a sua ligação (maior ou menor) com o poder público, só opera no mercado secundário de capitais; não sendo possível assim falar sobre a organização ou criação de uma sociedade anônima aberta através de um pregão em bolsas de valores, por exemplo.

Essa diferença entre a bolsa de valores e o mercado de balcão torna-se ainda mais perceptível quando Fazzio Júnior complementa suas lições conceituando mercado de balcão e definindo outros elementos importantes do mercado de capitais, in verbis:

Por mercado de balcão entende-se o conjunto de operações praticadas fora de Bolsa, por meio de instituição financeira habilitada para atuar no mercado de capitais ou por seus agentes autônomos. É a venda de títulos fora da Bolsa, envolvendo os mercados primário e secundário de capitais. É a negociação direta de valores mobiliários, sem mediação da Bolsa.91

Como lecionou o autor, o mercado de balcão é toda uma estrutura bem mais ampla que a bolsa de valores. Todos os títulos negociados na bolsa podem ser também negociados no mercado de balcão, pois a bolsa só tem permissão para negociar títulos secundários.

Se a bolsa de valores e o mercado de balcão negociam toda sorte de valores mobiliários, ou seja, ações, debêntures, partes beneficiárias, bônus de subscrição, certificados de depósitos de ações, commercials papers e outros títulos que por ventura surjam, a chamada Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)92 tem funções um pouco distintas, como preleciona Fazzio Júnior:

Além da Bolsa de Valores, há a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que envolve dois tipos de negociação. As negociações a vista abrangem o ouro e mercadorias agropecuárias, como café, gado, açúcar, feijão e soja. Os negócios futuros baseiam-se em previsões sobre como determinados mercados se comportarão nos próximos dias, semanas ou meses. Essas previsões são transformadas em contratos, que são comprados e vendidos livremente na BM&F. Existem contratos futuros de dólar, de índice Bovespa, de boi gordo, soja e café, por exemplo. Quem recorre a esses mercados normalmente tem um objetivo: proteger-se de flutuações nos preços dos produtos ou mercadorias.93

91Idem. p. 244. 92

BM&F: Em maio de 1991, a Bolsa Mercantil & de Futuros uniu-se à Bolsa de Mercadorias de São Paulo, dando origem a Bolsa de Mercadorias & Futuros, que tem também BM&F como sigla. Atua como um mercado centralizado para as transações com mercadorias, sobretudo com produtos primários, os commodities, de maior importância no comércio internacional e no comércio interno como o café, o açúcar, o algodão, os cereais, etc. Abrange tanto produtos agropecuários quanto ativos financeiros. A BM&F realiza negócios tanto com estoques existentes quanto com mercados futuros. Embora o surgimento dos mercados futuros esteja ligado aos produtos agrícolas, atualmente as operações a futuro nas Bolsas de commodities de todo o mundo são realizadas com uma variada gama de bens, incluindo-se metais (ouro, prata), produtos agropecuários (café, milho, soja), ativos financeiros, moedas e índices. A idéia básica da negociação de produtos a futuro surgiu há muitos séculos, vinda de uma necessidade natural da comercialização das safras e da sazonalidade dos produtos. Os compradores que visitavam as províncias para a negociação de gêneros alimentícios mantinham contato com os produtores para a entrega dos produtos nas safras seguintes, com preços garantidos ou não, o que provou ser vantajoso para ambas às partes. Esse instrumento assegurava um comércio futuro. A fixação de locais para a comercialização de produtos para entrega pronta e para o fechamento de contratos para entrega futura remonta a períodos anteriores a Roma e Grécia antigas. A evolução natural desse processo de negociação levou as pessoas interessadas pelo mercado a fixarem locais e normas mais adequadas aos seus negócios. Foi, então, criada no Japão a primeira Bolsa de Mercadorias organizada, no início do século XVIII.

Nota-se como é interessante esse segundo tipo de negociação da BM&F; são feitos contratos baseados em probabilidades, visando à proteção de possíveis oscilações no mercado. São investimentos em previsões, em possibilidades: que o dólar suba ou desça, que o índice Bovespa caia ou aumente, que a arroba do boi gordo ou a saca de soja tenham variações, etc. Grandes contratos que tentam proteger aquilo que já foi investido e que em meses, semanas ou mesmo dias podem causar grandes perdas aos contratantes, caso algo inesperado no mercado aconteça.

No direito civil, mais especificamente na parte dos contratos e das obrigações, ou mesmo no direito administrativo, essas oscilações que fazem com que um dos contratantes sofra uma grande perda geralmente fazem com que os contratos sejam refeitos, pois geralmente contêm cláusulas que permitem uma repactuação para não haver tanto dano para uma das partes, ou para ambas. No caso específico dos negócios de futuro, o contrato é antecedente à negociação e é feito exatamente para que esta não se torne inviável se grandes oscilações ou flutuações nos preços ocorrerem. Mercadorias e produtos que serão negociados somente depois de um tempo já têm seu preço pré-definido, pré-contratado antecipadamente, e, se ocorrerem oscilações nos preços, quem recorreu a esse tipo de contrato e à Bolsa de Mercadorias e Futuros ficará protegido.

Desse modo, as primeiras conclusões tecidas sobre as características das sociedades anônimas são as de que o objeto maior de proteção da LSA atinge as companhias abertas, pois elas captam recursos e investimentos de poupanças populares, requerem muito mais fiscalização e proteção para seus sócios e investidores, possuem regramento muito mais complexo e obrigações mais rígidas e específicas no que tange aos aspectos de sua administração.

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