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Conceitos e finalidades das sociedades anônimas previstos em lei

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CAPÍTULO II – INTROITOS CONCEITUAIS, ESTRUTURAIS E

2.1 CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS ESTRUTURAIS DAS SOCIEDADES

2.1.2 Conceitos e finalidades das sociedades anônimas previstos em lei

Mas daí se questiona: como essa sociedade passa a ser anônima? Ou melhor: como se inicia, se constitui uma S/A? Fábio Ulhoa dá as primeiras respostas a tais questionamentos, explicando, grosso modo, o que vem a ser o capital social de uma sociedade anônima e como é feito o seu fracionamento em quotas ou ações:

O capital social da sociedade anônima é fracionado em ações; ele é representado, assim, pelo conjunto desses valores mobiliários emitidos pela companhia. O conceito de capital social é bastante complexo, mas, grosso modo, trata-se de uma

referência à contribuição que os sócios dão para a sociedade desenvolver a atividade econômica dela. Em termos didáticos, a sociedade precisa de recursos para organizar a empresa, e estes devem ser providos, primordialmente, pelos sócios. A noção de capital corresponde, em termos gerais, a essa provisão, inicial ou suplementar. Aqui, destaca-se o outro aspecto do valor mobiliário: se, para quem o titulariza, ele é uma alternativa de investimento, para a sociedade que o emite, representa um instrumento de captação de recursos.73

Desse modo, os sócios que fazem um certo investimento para criar uma determinada sociedade anônima tornam-se titulares de ações que são parcelas do capital necessário investido para sua criação. Se essa sociedade, no futuro, pretende ampliar seus negócios, mas aquele grupo de acionistas não quer que outras pessoas fora do grupo passem a integrá-lo, elas mesmas terão que criar novas ações e investir mais capital para o crescimento da companhia. Essa seria a definição de uma S/A fechada. Já quando na criação, na captação de maiores investimentos, na ampliação da estrutura da S/A ou de seu patrimônio, as ações são abertamente negociadas, ou seja, ofertadas ao público, a qualquer um que queira adquiri-las, elas são negociadas nas bolsas de valores ou nos mercados de balcão, podendo qualquer pessoa se tornar titular de uma única ação, de um pequeno lote de quotas ou mesmo de todas as ações disponíveis, essa companhia é denominada aberta.

Dessa forma, são características societárias comuns em toda S/A a personalidade jurídica de direito privado, o exercício de atividade empresarial lícita como objeto social da empresa e o lucro como objetivo social. Sobre a personalidade jurídica da S/A, pode-se caracterizar toda companhia, conforme dispõe o art. 80, I, da LSA, como sendo uma pessoa jurídica de direito privado que é constituída por duas pessoas, no mínimo, e que tenha existência distinta de seus membros. Para Waldo Fazzio Júnior, em sua obra Manual de direito comercial, essa ideia de pessoa jurídica se explicita mais claramente da seguinte forma:

É uma realidade jurídica autônoma em relação a eles; tem nome, patrimônio e domicílio próprios. Distingue-se das demais sociedades por uma denominação, ostenta patrimônio inicialmente oriundo de seu capital social constitutivo e está domiciliada no lugar de sua sede administrativa.

A exemplo dos demais tipos societários, a anônima resulta de um contrato plurilateral, ou seja, um contrato de convergência de vontades pelo qual cada sócio assume obrigações com os demais e com o ente embrionário (a sociedade), que é o escopo comum e finalístico para onde estão direcionados aqueles interesses.

(...)

A sociedade anônima, como as demais, vem à luz sempre como produto de uma convergência de vontades que se exterioriza em cada subscrição de ações e se positiva na assembleia constitutiva.74

73

Op. cit. p. 82.

A empresa é uma atividade econômica organizada. Seus fins são exclusivamente econômicos, capitalistas. Ou seja, não se pode falar em S/A se o objeto social não atingir a finalidade lucrativa. Não é o objeto que distingue uma S/A de outra empresa qualquer que também vise ao lucro, mas a sua particular forma de constituição, a complexidade de sua estrutura administrativa, a divisão de seu capital social em unidades negociáveis (valores mobiliários) podendo ser negociadas no mercado de capitais e a pontual limitação da responsabilidade de seus sócios.

Uma importante observação é a que está presente no art. 83 da LSA, que dispõe que o projeto do estatuto social da S/A deve conter as normas que regerão a companhia, ou seja, a lei pretende fazer com que o estatuto social de cada S/A singularize e discipline regras tais que caracterizem a administração da empresa que se pretende ativar. Nesse estatuto social constitutivo da empresa, o objeto social da mesma e seus poderes de administração devem estar francamente delimitados e explícitos. Sobre a importância da delimitação do objeto social da S/A, Fazzio Júnior discorre:

Quando a lei enuncia que o ato conceptivo da companhia deve definir o objeto social de modo preciso e completo, quer dizer que o estatuto precisa delimitar integral e cabalmente a espécie e a extensão da atividade empresarial que se vai exercitar, ou seja, a definição da empresa.

Trata-se de exigência indispensável porque, na intimidade social, é o parâmetro nuclear para aferição dos limites de atuação dos administradores da companhia. É o que vai circunscrever o espectro de responsabilidade de cada administrador, é o que vai determinar se há ou não subversão das metas sociais, se efetivamente ocorre inobservância estatutária por desvio do objeto social.

Já na dimensão externa, é o que serve como bússola aos terceiros que negociam com a sociedade. Mais que mero rótulo, é o que expressa a alocação da companhia no universo empresarial.75

O objeto social é, pois, a espécie de atividade explorada pela companhia, no ramo por ela escolhido; objeto social é a prática da empresa e não se confunde, portanto, com o objetivo social da empresa. Se o objeto é imediato, o objetivo, por sua vez é mediato, remoto. E no caso das sociedades anônimas, o objetivo social sempre será o da obtenção de lucro, pois se outro for essa empresa não pode carregar a denominação de sociedade anônima. Isso posto, Fazzio Júnior resume toda essa ideia em uma sintética frase: “A produção de riqueza sem busca de ganho patrimonial é incompatível com a sociedade anônima.”76

75Op. cit., p. 234. 76Idem. p. 237.

2.1.3 Sociedades anônimas fechadas e abertas e o papel fundamental da CVM no

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