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As principais funções da CVM e sua importância na defesa dos minoritários

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CAPÍTULO II – INTROITOS CONCEITUAIS, ESTRUTURAIS E

2.1 CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS ESTRUTURAIS DAS SOCIEDADES

2.1.4 As principais funções da CVM e sua importância na defesa dos minoritários

Entretanto, se internamente as companhias abertas e fechadas possuem características semelhantes, sua relação com o público investidor deve ser diferente. Vários são os exemplos contidos na lei que demonstram a importância e o cuidado que se deve ter com a administração dessas companhias que ofertam seus títulos ao apelo da poupança popular. Marcelo Bertoldi, em sua obra Direito societário, ministra importante lição nesse sentido, apontando os dispositivos legais que traçam essas características próprias das S/A abertas:

Internamente, tanto a companhia aberta quanto a fechada contam com os mesmos mecanismos de funcionamento, o que não acontece quanto ao relacionamento entre sociedade e público em geral, assumindo as companhias abertas diversas responsabilidades, todas elencadas em lei. São vários os exemplos: estabelece a Lei 6.404/76 que os administradores da companhia aberta são obrigados a comunicar imediatamente à bolsa de valores e a divulgar pela imprensa qualquer deliberação da assembleia geral ou dos órgãos de administração da companhia, ou fato relevante ocorrido nos seus negócios, que possa influir, de modo ponderável, na decisão dos investidores do mercado de vender ou comprar valores mobiliários emitidos pela companhia (art. 157, § 4°); as demonstrações financeiras das companhias abertas deverão observar as normas expedidas pela CVM, devendo ser obrigatoriamente auditadas por auditores independentes registrados na referida CVM (art. 177, § 3°); cumpre ao administrador de companhia aberta guardar sigilo sobre qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada para conhecimento do mercado, obtida em razão do cargo e capaz de influir de modo ponderável na cotação de valores mobiliários, sendo-lhe vedado valer-se da informação para obter, para si ou para outrem, vantagem mediante compra ou venda de valores mobiliários (art. 155, § 1°).84

Essa responsabilidade externa é totalmente justificável: são milhares de pessoas que podem estar investido tudo que ganharam ao longo de uma vida toda e que, de boa-fé, esperam obter lucros mais vantajosos que outros tipos de investimentos. Essas poupanças populares são as grandes responsáveis pela subscrição do capital social necessário para constituir uma sociedade anônima aberta, pois o fluxo de caixa, a quantia em investimentos é muito alta, sendo quase impossível um pequeno grupo de pessoas conseguir levantar tais cifras.

Daí dar a devida importância ao minoritário, pois se um pequeno grupo de grandes empresários não consegue levantar grandes somas de dinheiro a ponto de investir em no crescimento de suas companhias, eles terão, necessariamente que buscar os milhares de investidores em potencial existentes no mercado que individualmente investem quantidades insignificantes, mas que conjuntamente conseguem alavancar uma grande companhia.

Existe grande parcela de acionistas das companhias que não participam diretamente de suas decisões administrativas, por isso a importância da governança corporativa e o controle da CVM, o objetivo de fiscalizar e proteger os acionistas para que eles não sofram com os reveses de uma administração fraudulenta, má fé nos contratos, transparência na gestão, publicidade dos atos, todos estes conceitos e princípios resguardam a grande massa de acionista que investe em ações.

A CVM é uma autarquia federal, ligada ao Ministério da Fazenda, nos termos do art. 5° da Lei n. 6.385, de 1976. Esse órgão, que em 2012 está completando 36 anos de ativa atuação e existência, tem como principal função fiscalizar as diversas atividades do mercado de valores mobiliários, do qual a bolsa de valores e o mercado de balcão são as principais estruturas. A CVM tem suas atribuições em todo o território nacional, mas não é um órgão jurisdicional e sim administrativo.

Com propriedade e de forma bem sintética, Fazzio Júnior coleta dos dispositivos legais que disciplinam a organização da CVM suas finalidades básicas, bem como as principais contribuições que essa autarquia oferece ao mercado financeiro, dentro de suas diversas atribuições prescritas em lei. O autor assim ministra:

Suas finalidades são:

• estimular a poupança e sua aplicação em valores mobiliários;

• promover a expansão e o funcionamento regular do mercado de ações;

• estimular as aplicações em ações de capital social de companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais;

• garantir a eficiência e a regularidade do mercado de capitais; • preservar os interesses dos investidores;

• garantir o direito público à informação sobre negociação de valores mobiliários e sobre as companhias emissoras; e

• assegurar a equidade no mercado de valores mobiliários.

Para a consecução dessas macrometas, a CVM regulamenta, fiscaliza e inspeciona atividades e serviços do mercado e companhias abertas, bem como propõe ao Conselho Monetário Nacional a assunção de medidas normativas.

O rol de microatribuições da CVM é extenso e minucioso, destacando-se:

• examinar registros contábeis, livros e documentos de participantes, a qualquer título, do mercado de capitais;

• intimar pessoas à prestação de esclarecimentos;

• requisitar informações de qualquer órgão público da administração direta ou indireta;

• determinar a republicação corretiva de demonstrações financeiras e informações de companhias abertas;

• promover inquérito administrativo;

• aplicar sanções (advertir, multar, suspender, inabilitar e cassar autorizações); • suspender negociações de valores mobiliários;

• decretar o recesso da Bolsa de Valores;

• divulgar informações e orientar os participantes do mercado; • celebrar convênios.85

A importância da CVM é inegável diante desse rol de finalidades e atribuições. Salienta-se ainda que nenhuma emissão de qualquer valor mobiliário pode ser feita no mercado de capitais, ou seja, de forma pública, sem que a companhia que o queira fazer seja previamente autorizada por esse órgão. E nesse caso específico, “distribuir” é o mesmo que vender, comprar, negociar, prometer vender ou comprar ou negociar, ofertar, subscrever, aceitar pedido de venda, etc.

O trabalho de fiscalização garante tanto a proteção aos já investidores, quanto a proteção àqueles que podem ser potenciais investidores no futuro, pois a publicidade dos atos das companhias é de controle da CVM e deve ser levada a conhecimento de todos, inclusive daqueles que ainda não se configuram como investidores em potencial. O importante papel da CVM deve ser observado: o papel educativo, já que compete a essa autarquia estimular a população a poupar, a acumular economias e principalmente – e o mais difícil – a aplicar essas poupanças em valores mobiliários e não em outros tipos de investimentos.

Compete ainda à Comissão aplicar sanções administrativas aos investidores que descumprirem preceitos básicos que sustentam o mercado de capitais, esses investidores podem até ficar proibidos temporariamente de atuar no mercado. As sanções aplicadas pela CVM, tanto a investidores quanto a companhias, são, por mais severas que se mostrem, apenas administrativas. A CVM ao perceber qualquer indício do cometimento de um ilícito de natureza penal, fica obrigada a fazer um comunicado imediato ao Ministério Público para que ele ofereça denúncia em relação ao crime cometido. Do mesmo modo, deve a CVM, no caso de ilegalidades fiscais, fazer comunicado semelhante à Receita Federal.

A Lei 10.303/2001 acrescentou mais três crimes aos já existentes, impondo sanções mais severas aos agentes ativos de crimes contra o sistema financeiro, o desenvolvimento regular das atividades do mercado de valores mobiliários e outros delitos. Atualmente estão tipificadas a manipulação de mercado, o uso indevido de informação privilegiada e o exercício irregular de cargo, profissão, atividade ou função.

O objetivo da tipificação de tais crimes e dos demais já contidos na LSA é proteger o mercado de valores mobiliários, seus investidores, seus investimentos e sua composição regular, principalmente em relação às bolsas de valores, aos mercados de balcão, à Bolsa de Mercadorias e Futuros e ao mercado de balcão organizado, ou seja, é objetivo máximo da CVM a proteção ao mercado de capitais.

Nos esclarecimentos de Fazzio Júnior podem-se observar as primeiras nuances de conceitos tão importantes para compreender o processo de consolidação de uma S/A aberta. Esse é o maior dos objetos de estudo e pesquisa a ser realizado, haja vista que a proteção conferida por lei e pela regulamentação e fiscalização da CVM se aplica principalmente a essa modalidade de companhia, por ser ela a única modalidade responsável em captar as economias populares. Por isso, tem ela muito mais compromissos e deveres protetivos relativamente aos seus acionistas, que se valem de suas economias, fazem investimentos de alto risco e buscam as proteções e as benesses legais para não verem seu patrimônio poupado ao longo de anos sendo dissipado em más administrações, em jogadas fraudulentas, em acordos escusos de acionistas detentores de poder, em simulações fraudulentas e em tantas outras formas que gerem prejuízos e riscos ao seu patrimônio.

Compreender é o primeiro passo para enxergar saídas reais e efetivas para o enfrentamento dos problemas que surgem de forma muito drástica e cujas consequências afetam de forma muito mais grave pequenos investidores, o que não ocorre com os acionistas majoritários. Portanto, é necessário criar condições mais transparentes aos acionistas, para não deixar de se cumprir o princípio constitucional da isonomia, já que tal princípio não determina que a lei trate todos de igual forma, mas sim que trate os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, nos limites de suas dificuldades e desigualdades.

Daí em diante, imprescindível se faz apreender alguns conceitos que são fundamentais para entender o funcionamento de uma companhia aberta que sempre possuirá dispositivos que diferenciam as várias situações de cada modalidade de acionistas ou investidores.

2.1.5 A composição e a importância do mercado de capitais para a economia do país:

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