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Conselho de administração

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CAPÍTULO II – INTROITOS CONCEITUAIS, ESTRUTURAIS E

2.4 O FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS ESTRUTURAIS DAS COMPANHIAS E

2.4.2 Órgãos administrativos

2.4.2.1 Conselho de administração

O conselho de administração é um órgão de constituição facultativa. Seus conselheiros são eleitos pela assembleia geral. E ele, por sua vez, tem como competência eleger os diretores, representantes da diretoria. Por isso muitos autores afirmam que o conselho administrativo é um órgão intermediário entre a assembleia geral e a própria diretoria. Os conselheiros podem ser eleitos diretamente pela assembleia geral, na falta do conselho de administração. Entretanto, se este for criado, cabe ao conselho eleger e destituir, quando quiser, os dirigentes da companhia. Esses conselheiros fiscalizam e auxiliam os diretores na administração da sociedade. Reúnem-se periodicamente e podem ter variadas

funções, se houver previsibilidade no estatuto social da empresa, inclusive a de deliberar sobre a emissão de ações e bônus de subscrição.

O conselho de administração não é um órgão executivo. Nesse aspecto funcional, ele se parece mais com a assembleia geral, por se tratar de um conselho deliberativo, que toma as decisões relativas à administração, mas não as executa. José Edwaldo afirma que o conselho administrativo fica em meados da assembleia geral e da diretoria, ora assumindo algumas funções típicas da assembleia, ora se aproximando mais das funções diretivas. Nesse viés o autor preleciona:

Verifica-se, dessa forma, que o conselho assume atribuições que normalmente seriam da assembleia (orientação geral dos negócios, eleição de diretores, emissão de valores mobiliários), incumbindo-se, porém, por outro lado, de encargos típicos de diretoria (convocação de assembleia-geral, escolha e destituição de auditores independente e, se o estatuto o exigir, aprovação de atos e contratos). A escolha e a destituição do auditor independente estarão sujeitas a veto por parte dos conselheiros eleitos em votação em separado (art. 141, § 4°, resultante da Lei n° 10.303/01). Esse veto (art. 142, § 2°) deverá estar fundamentado (...).

Não havendo conselho, cumprirá ao estatuto disciplinar a matéria, mas na omissão, esses poderes, por serem de natureza extraordinária, e como tal destacados na lei, refluirão para a assembleia-geral, que é o órgão maior da sociedade.

O estatuto deverá regular o conselho, fixando o número de seus membros, o prazo do mandato, o processo de escolha e substituição do presidente do órgão e todas as demais normas aplicáveis.

(...)

O prazo do mandato não poderá ser superior a três anos, mas os conselheiros poderão ser reeleitos para mandatos consecutivos; a assembleia geral poderá destituir conselheiros, a qualquer tempo, independentemente do prazo do mandato e da existência de motivo justo.167

Como se observa pelas atribuições legais dadas ao conselho, ele pode ser considerado um órgão de extrema importância para os moldes da nova governança corporativa. Surgiu pela primeira vez na Lei n. 4.595/64, que previa em seu art. 34 a presença de um conselho de administração nas instituições financeiras. Só em 1976, com a LSA, é que esse órgão foi efetivamente regulamentado, já que anteriormente havia apenas previsão de sua criação, mas não seu disciplinamento, tampouco sua estrutura de funcionamento. Com a Lei 6.404/76 o conselho de administração passou a ser uma faculdade para as sociedades anônimas em geral e um órgão obrigatório para as sociedades de economia mista, as companhias de capital aberto e as companhias que adotam o regime de capital autorizado.

Com a criação do conselho de administração, a assembleia geral, antes órgão de total domínio na companhia, dividiu um pouco suas funções, e essa repartição de competências é cada vez mais aceita nesse novo modelo de governança corporativa, no qual as sociedades

anônimas brasileiras estão aos poucos se inserindo. Ecio Perin Junior argumenta sobre o surgimento e a regulamentação do conselho de administração o seguinte:

Seu surgimento veio romper com o antigo modelo da sociedade por ações de tomar quase todas as decisões nas assembleias gerais. As intensas transformações econômicas pelas quais passou o mundo moderno exigiram maior agilidade e mobilidade na tomada de certas decisões, as quais não podiam esperar que toda uma assembleia geral de acionistas se fizesse para sobre elas deliberar.

Sendo assim, determinadas funções passaram a ser exercidas por um conselho de administração, eleito pela assembleia geral e que agiria em benefício da companhia como um todo.

Passou, assim, a ser expressamente reconhecida a bipartição de funções da administração societária: as funções deliberativas, exercidas pelo conselho de administração, e as funções executivas, exercidas pelos diretores, nas quais os primeiros elegem e destituem os últimos. A inspiração desse modelo deriva basicamente das legislações alemã e francesa, as quais consagram a estrutura dual da administração.168

A criação e o devido disciplinamento do conselho de administração foram importantes para desburocratizar e descentralizar as relações, as divisões de tarefas e as atividades internas das sociedades anônimas. A criação do conselho administrativo, como órgão subordinado à assembleia geral, passou a tomar as decisões que surgiam no período entre uma e outra assembleia geral. Os conselheiros de administração deliberavam sempre pensando no que fosse melhor para a sociedade como um todo e instruíam a diretoria para que executasse aquilo que fora decido.

Com essa subdivisão de poder, até a possibilidade de democratizar mais a administração da companhia a favor dos acionistas tornou-se possível, pois membros do conselho de administração eram eleitos na assembleia geral e a reivindicação das minorias poderia ser a de ter um minoritário como seu representante dentro do conselho de administração, já que, como se prevê no art. 146 da LSA, uma das principais características do conselho de administração é que seus membros necessariamente devem ser acionistas da companhia, o que não obrigatoriamente ocorre com os membros da diretoria, que podem ser administradores de empresa, por exemplo, contratados com salário, para exercer um cargo, assim como os advogados na área jurídica da empresa, assim como os contadores, etc. Esse artigo de lei é um instrumento disciplinador muito favorável ao modelo de governança corporativa, pois conjuga os interesses dos acionistas e dos conselheiros e democratiza mais a administração da companhia.

Sobre outro aspecto importante do conselho de administração, contido especificamente no art. 143 da LSA, Ecio Perin Junior leciona:

Outro ponto importante é o disposto no § 1° do art. 143 da Lei n. 6.404/76, que permite que apenas um terço dos membros do conselho de administração sejam eleitos diretores.

Reunir os cargos de conselheiro e de diretor de uma mesma companhia em uma mesma pessoa sem dúvida alguma pode gerar conflitos de interesses na própria companhia, sendo extremamente prejudicial à sua governança corporativa e possibilitando a desconfiança por parte dos acionistas

Isso ocorre com mais intensidade quando o presidente do conselho de administração é ao mesmo tempo o diretor-presidente da sociedade.169

Esse conflito de interesses de que trata o autor seria muito prejudicial à companhia, pois o acionista que detivesse cargo de conselheiro e ao mesmo tempo fosse um dos diretores da companhia poderia deliberar dentro do conselho aquilo que fosse benéfico apenas para ele e para o grupo que representa, e se essa deliberação passasse em votação, ele teria total condição de colocá-la em prática dentro da diretoria; daí a limitação que a lei criou para vetar possíveis abusos de poder, fraudes, acordos ilícitos, conflitos de interesses, etc. O objetivo da criação do conselho administrativo, repartindo as competências da assembleia geral e da diretoria, foi exatamente o de democratizar ainda mais a administração da companhia. Portanto, não faz mesmo sentido o acúmulo de funções dentro do conselho de administração (órgão deliberativo) e dentro da diretoria (órgão que executa as deliberações). Esse tipo de manobra seria mais um meio de prejudicar o minoritário já tão exposto dentro da companhia aos reveses de sua administração majoritária.

O conselho de administração tem o objetivo de descentralizar o poder e não de ser usado para manobras políticas dentro da sociedade. Na verdade esse conselho, quando é bem utilizado dentro da companhia, acaba funcionando como um órgão protetor dos investimentos dos acionistas em relação aos desmandos administrativos dos diretores da empresa. Mas se conselho e diretoria acabarem tendo os mesmos integrantes, um órgão respaldará ainda mais o outro na administração fraudulenta ou ineficiente. E esse não é o objetivo da criação do conselho de administração, que deve figurar como um órgão que faz oposição e fiscalização a qualquer má administração ou atividade irregular proveniente da diretoria.

A importância desse conselho para a administração democrática da empresa fica mais explícita após a análise que José Edwaldo faz sobre o sistema de eleição e o processo de voto múltiplo contido no art. 141 da LSA, ipso verbis:

Pelo processo ordinário, o controlador tem o poder de eleger todos os conselheiros. Como a eleição se faz por chapa, votando-se em bloco para todos os cargos, o grupo que tiver a preferência da maioria da assembleia torna-se vitorioso, daí decorrendo o

preenchimento de todos os cargos do conselho pelos integrantes de uma mesma facção.

Autoriza, entretanto, o art. 141 que acionistas representando, no mínimo, um décimo do capital votante exijam da sociedade, ainda que o estatuto não preveja, a adoção do processo do voto múltiplo.

(...)

O voto múltiplo é uma espécie de voto repartido, uma vez que cada ação, por esse processo, passa a dispor de tantos votos quantos sejam os cargos a preencher, correspondendo, porém, cada voto a um só cargo e não a uma chapa (todos os cargos), como no processo normal. Faculta-se, então, ao acionista a prerrogativa de concentrar todos os seus votos em um só candidato ou de dispersá-los entre vários.170

Esse sistema do voto múltiplo democratiza a administração, dando possibilidades de que os minoritários elejam alguns de seus representantes para participar do conselho e, por conseguinte, da própria administração dos interesses da companhia. Esse sistema de votação tem o condão de quebrar o sistema de monopólio, o sistema monolítico dos acionistas majoritários, permitindo, assim, que a minoria se integre ao conselho de administração.

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