• Nenhum resultado encontrado

As práticas de governança corporativa e suas funções

No documento Download/Open (páginas 153-156)

CAPÍTULO III – OS PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA

3.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA: HISTÓRICO E NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

3.1.2 As práticas de governança corporativa e suas funções

Interessante sopesar as opiniões doutrinárias acerca das diferentes funções que os mecanismos de governança corporativa prestam às companhias, aos investidores, aos mercados de capitais e às próprias economias de cada país. Dentre tantas funções, a de conferir estabilidade, poder de confiabilidade e a de medir o desempenho de cada empresa e até da própria economia do país, sem dúvida, é uma das funções mais importantes que desempenha o processo de governança corporativa, já que, sob esse aspecto, a implementação ou não dos mecanismos de governança corporativa podem ser o “fiel da balança” para medir, para mais ou para menos, o grau de confiabilidade que investidores e credores possuem em determinada companhia ou até na economia de determinado país. Sobre essa função, Aline Menezes considera:

Uma das questões teóricas envolvendo os sistemas de governança é o seu impacto sobre o desempenho das empresas e das economias nacionais. Como vimos, tornou- se lugar-comum associar-se o desempenho econômico de uma empresa às suas estruturas de governança.

Divulga-se como consenso estabelecido que a capacidade de um país atrair investimentos está associada às estruturas de governança que consagra. Vários estudos procuram ligar a qualidade do mercado de capitais de uma nação às suas regras de governança corporativa (especialmente no tocante à proteção dos investidores e acionistas minoritários).187

E essa realidade de se “pontuar” a economia de um país e o seu grau de confiabilidade para investimento utilizando como medida a estabilidade de suas grandes empresas e as práticas de governança corporativa nelas aplicadas torna-se mais frequente e fortalecida com o passar do tempo. No mundo globalizado atual, os países em desenvolvimento, com economias mais ou menos estáveis e confiáveis, crescem muito no conceito dos investidores quando boas práticas de governança corporativa são utilizadas diariamente pelas grandes companhias nacionais ou multinacionais que ali se estabelecem.

E foi observando a necessidade de se implantar mais mecanismos que garantam a segurança de investidores em economias emergentes como o Brasil, conjugando esses fatores com vários outros que vêm surgindo nas últimas décadas com a globalização da economia dos

países capitalistas e somando tudo isso às práticas administrativas e financeiras pouco vantajosas e à grande perda de investidores que o processo da governança corporativa se alastrou pelo mundo e se enraizou nas práticas administrativas de grandes empresas no Brasil. Milton Nassau sintetiza o tema da governança corporativa ao traçar um breve panorama da situação e da realidade econômica no Brasil e no mundo e de suas reais carências, como se transcreve:

Com o advento da globalização, juntamente com a política de altos juros praticada em um passado recente pelo Federal Reserve e as sucessivas crises nos mercados chamados “emergentes”, a captação e a alavancagem de recursos pelas empresas brasileiras no mercado de capitais nacional têm se tornado cada vez mais difíceis. Some-se a esses fatores a concorrência exercida pelas bolsas internacionais, que possuem menores custos, maior liquidez, tecnologia e facilidade para realização dos negócios.

O resultado não poderia ser outro senão a perda de liquidez da bolsa local e a fuga de negócios, inclusive por parte das empresas nacionais, que têm recorrido crescentemente à bolsa de Nova York, visando a financiarem-se através do lançamento de American Depositary Receipts (ADRs).188

Além dos motivos acima citados, outros fatores apontados pelos analistas como ensejadores da pouca atratividade e da estagnação do mercado brasileiro são a falta de transparência das empresas e o tratamento desigual dispensado ao acionista minoritário.

(...) Como é possível, então, a existência de um mercado de capitais ativo e vigoroso, onde os empresários possam capitalizar suas empresas, sem recorrer sempre ao endividamento, sem que a outra ponta, o investidor minoritário, seja tratado verdadeiramente como sócio do negócio e não como mero coadjuvante, descartável a qualquer momento?189

As empresas brasileiras, dez anos depois dessas considerações do autor, cresceram, e tanto elas quanto o próprio país passaram a ter índices de risco e confiabilidade para investimentos bem mais aprazíveis aos olhos internacionais. Entretanto, a situação do acionista minoritário pouco mudou, o que, inevitavelmente, remonta às tristes e grotescas e por que não dizer dantescas palavras atribuídas ao banqueiro Fürstenberg, ao afirmar que “o acionista é um tolo e um arrogante; tolo, porque nos dá seu dinheiro; arrogante, porque deseja ainda receber dividendos”. Infelizmente, esse é o pensamento de grandes acionistas controladores em grandes sociedades anônimas espalhadas pelo mundo que veem no pequeno acionista um bom tolo que investirá seus parcos recursos no objeto social da companhia e que, tratando-se o mercado acionário de um negócio arriscado – e essa tem sido uma boa desculpa

188Perceba-se que esse artigo foi escrito por Milton Nassau em 2002; entretanto a situação atual, em 2011, não

está tão diferente da época. Obviamente houve um grande crescimento econômico nesses quase dez anos e o Brasil se destacou muito por ter passado quase que ileso por uma grande crise mundial que atacou e engessou a economia de muitos países em 2009, mas não significa que o país já é uma economia sólida com todas as suas empresas adotando as práticas de governança corporativa.

189

RIBEIRO, Milton Nassau. Fundamentos e efeitos jurídicos da governança corporativa no Brasil. Revista de direito mercantil, industrial, econômico e financeiro. Nova série. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano XLI, n. 127, julho-setembro de 2002, p. 165.

para encobrir fraudes e administrações prevaricantes –, vem a perder todos seus investimentos pelos reveses e fatalidades que esse tipo de negócio impõe. Por essas notas motivadas é que Milton Nassau continua suas lições:

Paralelamente, já há alguns anos vem sendo adotado em todo o mundo um sistema de gestão das sociedades anônimas que privilegia a probidade, a transparência e a ampliação de direitos dos minoritários, denominado corporate governance.

(...)

O vocábulo “corporativa”, por sua vez, embora de uso mais corrente no meio empresarial brasileiro, também não contribui para o esclarecimento do que vem a ser o referido sistema de gestão. O adjetivo está mais ligado à ideia daquilo que se refere à grande companhia ou à corporação do que propriamente à transparência na gestão e ao respeito ao direito dos minoritários.

Embora a falta de transparência e o desrespeito aos minoritários não sejam os únicos motivos para a diminuição dos valores negociados na bolsa nacional unificada, existe certamente uma relação entre esse fenômeno e o crescimento da discussão em torno da governança corporativa no Brasil.

(...)

Ao menos no Brasil, pode-se afirmar que a discussão sobre a governança corporativa é consequência de um fato social atual e relevante na sociedade brasileira, qual seja, a necessidade de uma administração mais transparente, visando a atrair os investidores, inclusive acionistas minoritários, como forma alternativa de captação de recursos no mercado financeiro. Trata-se, portanto, de uma realidade que afeta o cotidiano de diversas companhias nacionais e, como tal, já começa a produzir efeitos no mundo jurídico.190

Assim, pode-se afirmar que a governança corporativa, bem no seu início, visava mesmo à resolução dos problemas dos acionistas controladores, trazendo a estes mais facilidades para driblar o descontentamento das minorias. Mas, num segundo momento, a governança corporativa incorporou em todo o mundo uma segunda ideia, que se fundava na importância de se separar a figurar do executivo, gestor, administrador e seus interesses do proprietário, acionista, que por sua vez tinha interesses díspares e, portanto, encontrava-se insatisfeito com a gestão de suas ações. Por fim, hoje a governança corporativa representa muito mais que isso. Representa governar, administrar, solucionar problemas e gerir dificuldades da forma que mais beneficie a corporação, ou seja, a sociedade. E se o objetivo maior das práticas de governança corporativa são esses, obviamente nenhuma parcela da sociedade poderá ficar descontente, principalmente os acionistas minoritários, que, além de serem parte mais fraca na relação empresarial, representam atualmente o futuro dos investimentos conseguidos para alavancar grandes negócios e colocar em prática grandes objetos sociais de grandes companhias. Assim, o desenvolvimento conceitual de governança corporativa criou atualmente novos conceitos que a doutrina e o próprio IBCG ergueram,

reunindo de tudo um pouco, mas principalmente tratando de métodos pautados pela probidade, transparência, proteção, retidão, etc.

No documento Download/Open (páginas 153-156)