• Nenhum resultado encontrado

4.4 A concepção de prática pedagógica escolar presente na educação de alunos com

4.4.7 A concepção de prática pedagógica inclusiva

Próxima ao fim das considerações na primeira instituição, chego novamente a uma encruzilhada. Selecionando os materiais que poderiam compor as tiras dos episódios a serem exibidos, lembrei que chegada esta etapa enfrentaria um novo desafio: o que dizer? O que exibir?

O segundo questionamento não pôde ser contemplado. Quanto o primeiro, resolvi mais uma vez empreender à dissertação, palavra de origem latina, dissertatione, que significa

“breve tratado sobre qualquer tema especulativo ou de aplicação” (AURÉLIO, 2001, p. 260), o desenvolvimento e exposição dos meus pensamentos a partir da ausência de episódios para ornar minhas reflexões. Neste “vazio”, colhi um primeiro dado: a prática pedagógica inclusiva intitulada pela escola Campo das Acácias não é de fato uma realidade se conhecida a partir dela, na sua prática diária.

Esse triste achado, porém, de inestimável valor heurístico à pesquisa, me direcionou a considerar outros resultados em pesquisas anteriores, (ALBUQUERQUE, 2007, GUEDES, 2007), onde, por meio de outros instrumentos metodológicos, tais como questionários e entrevistas as pesquisadoras chegaram a conclusões semelhantes as minhas: que, seja através da verificação dos discursos ou do conhecimento a partir da imersão em tais realidades, como em minha situação, os fins entre as falas e o vivido ainda não se coadunam num único discurso e técnica.

Compreendo que inclusão é o termo encontrado para definir uma sociedade que considera todos os seus membros como seus cidadãos legítimos, por isso, entendo o porquê deste paradigma não ser ainda realidade unânime. Pois, muitos educadores ao lidar com as diferenças utilizam a política do avestruz conforme destacada por Amaral (1994). Assim, como poderia expectar que tão revolucionário modelo estivesse incorporado às concepções e práticas sociais e pedagógicas?

Entretanto, mesmo sabendo desta intrigante e gradual visão social idealizada a partir de um contexto inclusivo, para mim, enquanto pesquisadora, o dado de não possuir qualquer episódio para apresentar nesta concepção marcou profundamente.

Ao examinar o impacto causado pela ausência deste dado, vi que outro pôde ser gerado: a constatação quanto ao meu grande envolvimento com o objeto.

Esse novo dado, difícil em ser categorizado, posto que colhido a partir de minhas impressões de pesquisadora, gratamente “apareceu” no caminho para desvelar que a suposta neutralidade existente na opção metodológica na pesquisa qualitativa, não é capaz de romper com as ambivalentes expectativas do sujeito pesquisador, visto que se há o interesse em apresentar os dados analisados cientificamente, há, ainda um empenho maior: que esses possam trazer e abocar resultados que contribuam socialmente, e, se possível, com achados mais otimistas que as hipóteses levadas quando no ingresso ao campo.

Graças à lembrança às palavras de Souza (2007)9, onde “o pesquisador é sempre influenciado e influenciador do seu próprio objeto[...] e, que o “nosso ponto de vista é sempre

9 Essa citação foi extraída durante a aula da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica I em 13 de julho de 2007,

quando o saudoso professor João Francisco de Souza contribuiu com essas sábias palavras, me ajudando a desvelar a mundo da pesquisa científica em educação.

a vista de um ponto”, restaurei o equilíbrio, uma vez que já me avaliava “distante” do uso do rigor inerente ao processo das análises científicas.

Superando a compreensão que na pesquisa é “permitido” este movimento, ousei narrar essas impressões sobre o campo, evidenciando o lamentável fato que a inclusão escolar neste, mas também em tantos outros estabelecimentos de ensino, não fazem parte do rol de interesses das educadoras bem como daquelas que por ora ocupam as funções de gestoras e coordenadora pedagógica, conforme discutirei a seguir.

4.4.8 A gestão escolar

Entendendo que a tessitura do paradigma escolar inclusivo consta de um processo em construção, lembro a importância deste para o crescimento de todos os seres humanos discentes, docentes e demais profissionais que integram o lócus de personagens no espaço educativo.

Contudo, nesta instituição não verifiquei este salto qualitativo no que diz respeito ao desenvolvimento de uma prática pedagógica. Este fato me fez pensar o quanto a presença dos mitos em torno da pessoa com deficiência ainda embaraçam as práticas dessas educadoras, pois, “nosso cotidiano é o retrato de nossa vida” (PIRES, 2008, p. 106).

E com isso, a forma como essas gestoras e a coordenadora constroem suas representações em torno dos alunos considerados diferentes irá atingir na sua ponta o modo como serão direcionadas as ações diárias para esses discentes. A compreensão dessa relação me fez entender os dados, na ausência de uma concepção de prática pedagógica inclusiva nesta escola, a partir de suas administradoras.

Tomando o plano escolar (ALBUQUERQUE; AGUIAR, 2008) por referência para a identidade de uma instituição, percebo que não existindo ações que sinalizem uma prática pedagógica para todos os alunos, erguida numa política de afastamento e por um olhar enviesado, me faz concluir que com essas educadoras as suas concepções direcionam os rumos desta administração, marcada pela presença muitos estranhamentos.

A escola deve a partir de quem a organiza, possuir um pensamento em sua prática pedagógica de caráter humanizador, que leve em conta as necessidades sociais emergentes da comunidade onde esta inserida e guiar-se por elas. Para isso, os profissionais precisam ter a convicção da necessidade em superar nesta trama educativa as situações permeadas pelo forte componente axiológico segregador, que reveste muitas práticas pedagógicas “inclusivas”.

[...] cabe ao gestor escolar como líder, como educador da coletividade de maneira eficiente e prática envolver todos os segmentos; professores, alunos, pais, funcionários, comunidade, influenciando-os e ajudando-os positivamente para participarem, protagonizarem as mudanças e transformações que se fizeram necessárias para que a escola cresça e seja eficaz conquistando uma educação pública de qualidade para todos (p. 2).

E, nesta busca por um trabalho ético e coeso, claro, objetivo e com propósitos de que nesse espaço haja a construção de uma autonomia entre os discentes e profissionais que nela atuam, é que compreendo por onde se pauta uma concepção de prática pedagógica inclusiva, algo que concluo não ter sido observado na instituição Campo das Acácias.

Sendo assim, a partir dessas constatações chego a compreensão que nesta concepção de prática pedagógica uma gestão que não produz articulação entre seus profissionais e contexto, de maneira crítica e compromissada, e, que não tem na figura da coordenação uma ponte para auxiliar o professor repensar e representar um novo perfil a sua prática, não conseguirá por conseqüência, alçar vôos na perspectiva de um espaço físico inclusivo, uma vez que o estranhamento percebido não se aplica tão somente ao universo da sala de aula, mas, de todos os locais por onde esses discentes circulam, assim como demonstrarei com a próxima seção.

4.4.9 O espaço físico e sua utilização

Ao olhar esta subcategoria, e, tendo conhecimento de antemão quanto ao que já vem sendo discutido, incorro no risco de tornar repetitiva, entretanto, sei que a prática pedagógica se estende aos diversos contextos, e com isso, o espaço físico não poderia ser olvidado ao longo de minhas análises.

A garantia de acessibilidade para todos apesar de existir com a Lei nº 10.098/2000 não fornece as pessoas com deficiência a certeza que o amparo legal afirma em seu texto, pois, o gozo aos espaços públicos e privados se constitui em verdadeiro desafio diário para essas pessoas.

A escola como um desses tantos espaços, tem como agravante o fato que em tese deveria promover em seu ambiente um lócus humanizador, contemplando os que lá estivessem. Ao invés disso, mantém em seus domínios um cenário a serviço da

marginalização destes alunos que não adentram todos os espaços na própria escola que estudam.

Deste modo, a partir do que não vi, concluo que a concepção de prática pedagógica inclusiva nesta instituição sendo vista sob o ponto de vista do espaço físico não acontece se conhecida a partir do seu cotidiano, vez que não só a arquitetura, mas, o mobiliário e demais tecnologias assistivas servem como recursos para o melhor aproveitamento desses discentes dentro do ambiente de ensino.

Assim sendo, passarei a partir as análises das concepções de prática pedagógica da Escola Lírio do Campo.