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4.4 A concepção de prática pedagógica escolar presente na educação de alunos com

4.4.4 A Concepção de Prática Pedagógica Integradora

Dando prosseguimento às análises, começo com breve comentário onde inscrevo alguns posicionamentos a partir de um local comum, para então apresentar os episódios selecionados, verdadeiras pérolas desta pesquisa.

Como já tratado em outros debates, no olhar social integrador as pessoas de um modo geral possuem pesos diferenciados. Aquelas “normais”, são, na sua maioria as que terão as portas abertas, onde nenhuma circunstância as assombra, onde tudo lhes é lícito e permitido.

Já aquelas que se desviam do padrão de normalidade, tem suas oportunidades reduzidas em função do preconceito que ronda as suas capacidades. A partir desse padrão, Júnior (2007, p. 76) ressalta que:

A projeção da identidade no corpo e em suas características externas representa uma fonte de discriminação de todos aqueles que não têm a possibilidade de ter corpo e saúde perfeitas. Nesta perspectiva, nem precisa ser “deficiente”, basta estar acima do peso para se sentir inadequado e infeliz.

Assim, todos aqueles que arremessados para fora dos protótipos de beleza e perfeição, têm na vivência do paradigma integrador uma realidade de vida social e escolar que ainda é determinada por fatores estéticos e biológicos em detrimento de valores humanos inalienáveis como o respeito e a ética.

Na educação, o mestre guiado por esse imaginário tem por esteio de suas práticas o preconceito, ao invés do interesse pelo crescimento humano e cognitivo do estudante que se encontra sob sua responsabilidade de formar.

Neste aspecto, a relação com a práxis pedagógica para esses educandos sofre uma positiva mudança a partir da concepção de educação inclusiva, uma vez que nesta as diferenças entre os seres já integram o trabalho do professor e da escola como um todo.

Conceituando as diferenças entre os dois paradigmas, Hinz e Boban (2005) construíram um quadro onde é possível entender o quanto um conceito se distancia do outro, e, como cada um orienta as práticas pedagógicas. Vejamos:

Fonte: Quadro extraído de artigo disponível na página da internet: http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2005/02/a4.htm. Acesso em: 30 de set. de 2009.

Deste modo, é possível ver que na integração a pessoa com deficiência pode até receber maiores atenções que na concepção da prática pedagógica segregadora, mas, tendo como parâmetro a inclusão total e irrestrita de todos os alunos, chego à conclusão que tais pressupostos integradores ainda não promovem o crescimento integral do sujeito.

Chego a tal conclusão, devido a maneira em que vi nesta escola a forma desigual como cada aluno tinha o seu papel definido. Os que não possuem suas deficiências de modo visível, sendo assim taxados normais, tinham acesso aos ambientes com facilidade como a biblioteca, sanitários e demais dependências, e, ainda contavam com maiores chances de aprendizado do que aqueles com deficiências, os tais alunos de inclusão, como eram conhecidos.

De fato, essas diferenças destacadas, e, tantas outras somente refletem a permanência de um imaginário que aparta tudo o que for julgado estranho, onde o diferente não tem vez ou voz.

Ao falar sobre imaginário e da forma como ele se apresenta, lembro Castoriadis (1982, p. 142) onde diz:

Tudo o que se nos apresenta no mundo social-histórico, está indissociavelmente entrelaçado com o simbólico. Não que se esgote nele. Os atos reais, individuais ou coletivos – o trabalho, o consumo, a guerra, o amor, a natalidade – os inumeráveis produtos materiais sem os quais nenhuma sociedade poderia viver um só momento não são (nem sempre são diretamente símbolos). Mas uns e outros são impossíveis fora de uma rede simbólica.

E, é neste sentido que se inscreve a relação dicotômica erguida a partir da concepção integradora, onde, superada as práticas de extermínio e total segregação, vêm conquistar um espaço que “acolhe o diferente”, mas, que ainda não o faz como deveria, ou seja, ofertando um limbo social e escolar para as pessoas com deficiência.

Assim, com base nesse intento, destaco o papel desempenhado pela gestão escolar a seguir.

4.4.5 A gestão escolar

O processo de integração escolar tem por hipótese que o sistema de ensino deva acontecer na maneira como já está estabelecido, aos alunos cabe adequar-se às diferentes necessidades ao que está estruturado e sendo oferecido.

Nessa compreensão, as gestoras e coordenadora pedagógica desta instituição desrespeitam claramente as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial onde esta define que a Educação Especial (2001) consta como uma modalidade da educação. Neste caso, essas educadoras prática pedagógica não promoviam uma convivência inclusiva

Vale salientar que à frente da gestão de uma escola que se promova mediante compreensão precisam existir profissionais que de fato pensem desta maneira, onde as práticas pedagógicas segregadoras ou integradoras não ocupem lugar no cenário educacional. Entretanto, descobrirmos profissionais que fazem um movimento quase que de resistência a fim de garantir uma educação de qualidade não é algo que aconteça com vasta freqüência. O assíduo sentimento de conformismo convivendo com tantos educadores acerca da incapacidade de mudar o que lhe for possível tem se mostrado bastante freqüente. Nessa compreensão, muitos “esquecem” de ocupar nas suas funções, ações relativas ao desenvolvimento pedagógico de alunos com deficiência, assim como destacados nos episódios a seguir.

Ao entrar no laboratório de informática (a pesquisadora) encontro a coordenadora pedagógica observando uma aula de outra professora com seus alunos. Essa professora também possui um aluno com deficiência, e este, estava participando

ativamente da aula que estava sendo construída. A coordenadora olha para mim (a pesquisadora) sorri, deseja bom dia e diz “olha aí, era pra você ter ficado na sala dessa professora e aponta para a docente que sorri. E a coordenadora continua “Olha só, o menino dela (apontando o aluno com deficiência) chega da gosto. Faz tudinho que a gente passa pra ele!”(ESCOLA CAMPO DAS ACÁCIAS)”.

Na sala dos professores as professoras estavam reunidas organizando os preparativos para a Feira de Conhecimentos. A professora Peônia explicava para a coordenadora o que a sua turma iria apresentar e explicava como seria as falas dos alunos. Depois dela, outra professora da turma do 3º ano do 1º começou a expor também para a coordenadora as suas idéias e os alunos que iria convidar para a apresentação da sua turma, nisto, outra docente questiona a docente quanto a escolha de uma das alunas selecionadas, pois, ela achava que a menina não ia dar conta de falar na hora da apresentação.

A docente, regente da turma, discorda da colega e diz que a menina tem muitas condições para fazer o trabalho e que ela era especial só no nome e no papel da escola, por isso ela iria sim chamar a aluna.

Deste episódio, fica compreensível que, segundo a coordenadora, com este aluno não haveria o que ver, quanto aos demais, da turma da professora Peônia, esses não dão tanto gosto assim, revelando o quanto de normalidade um aluno precisa possuir para ser aceito entre os demais.

Ocorre que para essa educadora, o entendimento que não há graduação entre aqueles mais ou menos deficientes não é algo claro, pois, a sua fala demonstra o quanto alunos que requeiram do professor uma atenção diferenciada ao oferecido para os demais estudantes, assim como os alunos Girassol e Copo de Leite que tem a síndrome do autismo, se tornam desinteressantes segundo a sua concepção para serem observados.

Enquanto profissional responsável pelo acompanhamento da prática das professoras, esta, tristemente consegue exercer uma política juntamente com as administradoras conhecida por Amaral (1994) pelo nome de política do avis-struthio. Nesta gestão, o avestruz, personagem principal, tem em seu artifício “não ver ou considerar o lado desagradável das coisas; significa enterrar a cabeça na areia” (p. 41).

Enfim, na cadência de uma prática pedagógica que pouco oportuniza, a concepção integradora nega disfarçadamente o que era rejeitado com veemência na segregação.

Finalizando as análises, entrevejo a partir deste episódio o quanto há de idéias integradoras nos supostos discursos inclusivos, e, por causa disso, quanto discentes com necessidades educacionais especiais vivem uma condição que resolvo chamar de sub- estudantes. Expressão forte, bem o sei, mas, reflete a realidade a qual crianças e jovens ainda estão submetidas em muitas escolas, mesmo aquelas “inclusivas”, onde as práticas pedagógicas bem como o espaço físico, não atendem as reais demandas desses educandos.