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Capítulo 4 A CVRD e a siderurgia em Minas Gerais

4.2 O minério de ferro e a CVRD

4.2.1 A constituição da Companhia Vale do Rio Doce

No âmbito dos mesmos Acordos de Washington que fundaram a primeira siderúrgica integrada de grande porte no Estado do Rio de Janeiro, surgiu a Companhia Vale do Rio Doce, depois de 30 anos de impasses políticos relativos ao equacionamento da mobilização do minério de ferro de Itabira. Sabia-se que submetidos tão somente à lógica de funcionamento do mercado estes recursos poderiam não trazer benefícios para o País. Mas, a extração mineral foi finalmente iniciada, desconectada, em Minas, da grande siderurgia integrada.

126 Minas exportava, nas primeiras décadas do século XX, manganês, bauxita e ouro, procedentes de municípios como Conselheiro Lafaiete, Nova Lima e Ouro Preto.

Tabela 4.1

Presidentes da CVRD, de 1942 a 1997

Nome Período Tempo Formação Faculdade/Local

Israel Pinheiro da Silva 01.1943 02.1946 3 a. Engº. minas

EMOP/Ouro Preto

Demerval José Pimenta 02.1946 03.1951 5 a. Engº. minas

EMOP/Ouro Preto

Juracy M. Magalhães 03.1951 12.1952 1a. 9m. Militar

Francisco de Sá Lessa 12.1952 03.1961 8 a. Engº. civil

Escola

Politécnica/ RJ Eliezer Batista da Silva 02.1961 04.1964 3 a. Engenheiro

Univ. do Paraná/Curitiba Paulo José de L. Vieira 03.1964 01.1965 9 m. Engenheiro UFMG/BH

Oscar de Oliveira 01.1965 03.1967 11 a. Engenheiro

Univ. do Brasil/RJ Antônio D. Leite Júnior 03.1967 08.1969 2a. 6m. Engenheiro

Univ. do Brasil/RJ Raymundo P.

Mascarenhas 08.1969 03.1974 4a. 7m. Engº. civil

Politécnica UFBA/Salvador

Fernando A. R. Reis 03.1974 03.1978 4 a. Economista UFMG/BH

Joel Mendes Rennó 04.1978 03.1979 1 a.

Engº. eletricista

mecânico EFEI/Itajubá

Eliezer Batista da Silva 03.1979 03.1986 5 a. Engenheiro

Univ. do Paraná/Curitiba Raymundo P.

Mascarenhas 03.1986 09.1987 6 m. Engº. civil

Politécnica UFBA/Salvador Agripino A. Viana 09.1987 04.1990 2a. 6m.

Engº.

agrônomo UFV/Viçosa

Wilson Nélio Bruner 04.1990 12.1992 2a. 9m. Administrador UFMG/BH Francisco José Schettino 12.1992 06.1997 4a. 6m.

Engº. minas

metalurgia UFMG/BH

Fonte: Silva, 2004, p. 429-436.

Antes disso, em 1934, o Código de Minas introduziu a defesa dos interesses nacionalistas frente à exploração mineral. Desde então, a propriedade do solo deixou de garantir direito automático à exploração das minas, a qual teria que ser formalmente concedida pela União, sob o pré-requisito de nacionalidade brasileira do interessado (em sociedade ou individual). Além disso, o Código de Minas determinava a nacionalização progressiva das minas e jazidas minerais consideradas essenciais à defesa econômica e militar do País. (PIMENTA, 1950, p. 126).

Mas, determinações políticas não removeram os problemas financeiros. A pretensa estatização da exploração do minério de ferro, então dissociada da siderurgia, esbarrava no

custo muito elevado de implantação dos equipamentos necessários, especialmente a ferrovia. Esta barreira somente foi derrubada durante a Segunda Guerra Mundial, em decorrência dos interesses dos países aliados no minério de ferro brasileiro, formalizados nos Acordos de Washington, assinados em março de 1942 pelos Governos britânico, norte-americano e brasileiro. Estes seis acordos viabilizaram a estatização da atividade de extração do minério de ferro de Itabira e a implantação pelo Estado da grande siderúrgica integrada. O acordo relativo ao minério de ferro estabeleceu melhoramentos na Estrada de Ferro Vitória a Minas e a desapropriação das minas de Itabira.

1º - Acordo para a melhoria da Estrada de Ferro Vitória a Minas e vendas de minério de ferro entre o Brasil, Estados Unidos e Grã-Bretanha, aprovado pelo Decreto Lei n.º4.322, em 21 de maio de 1942; 2º - Acordo para cessão gratuita, por parte da Grã Bretanha ao Brasil, das propriedades da companhia possuidora das minas de Itabira, aprovado pelo Decreto Lei n.º 4.324, de 21 de maio de 1942; [...]. (PIMENTA, 1981, p. 79).

Os compromissos assumidos pelos três países signatários do Acordo, segundo Pimenta (1977, p. 7-8), foram assim distribuídos: (1) o governo britânico comprometeu-se a adquirir e transferir, sem ônus para o Governo brasileiro, as jazidas de minério de Itabira, entre as quais se encontravam as grandes reservas do Cauê e de Conceição; (2) o Governo brasileiro deveria encampar a EFVM, transformá-la em um corredor de escoamento do minério das minas até o porto de Vitória, com capacidade mínima anual de 1.500.000 toneladas, e tornar o porto de Vitória capaz de exportar esse volume127; (3) ao governo norte-americano caberia financiar, por intermédio do Eximbank, a aquisição, nos Estados Unidos, de todos os equipamentos, materiais e máquinas necessários à instalação da capacidade de exportação anual pretendida, avaliada em 14 milhões de dólares.

Em cumprimento à sua parte no acordo, o Brasil formalizou por meio do DecretoLei n.º 4352, de 1º de junho de 1942, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, a constituição de uma companhia de exportação de minério de ferro, resultado da encampação da Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e da Companhia Itabira de Mineração. Surgiu, então, a Companhia Vale do Rio Doce, constituída como uma sociedade anônima de economia mista, com capital inicial de 200 mil contos de réis, organizada em dois departamentos: o da estrada

127 A produção anual seria comprada em partes iguais pelos dois países, durante um período de três anos, a um preço bastante inferior ao de mercado. O contrato trienal poderia ser renovado até o fim da Guerra. Findo o conflito e cumprido o último contrato trienal, Estados Unidos e Inglaterra manteriam o direito de aquisição de minério, então a preços de mercado.

de ferro e o das minas de Itabira. (CVRD, 1992, p. 54-56). A seguir, a parte do Decreto que a constituiu128:

Art. 6.º Para exploração das jazidas de ferro de Itabira e Estrada de Ferro Vitória- Minas fica o superintendente autorizado a praticar todos os atos necessários à constituição de uma sociedade anônima nos termos adiante fixados:

§ 1.º O capital será de 200.000 contos, assim discriminados:

110.000 contos em ações ordinárias nominativas do valor nominal de cada uma; 90.000 contos em ações preferenciais nominativas de o valor nominal de 1:000$0 cada uma;

§ 2.º Fica o Ministério da Fazenda autorizado a subscrever pelo Tesouro Nacional 110.000 ações, e conjuntamente com os Institutos e Caixas [...], Previdência e Caixas Econômicas as que, das restantes 90.000 não forem [...] em subscrição pública, nos termos do DecretoLei n. 3.173, de 3 [...] de 1941.

§ 3.º Para realizar a parte do capital que houver subscrito [...] conferirá os bens que, pelo presente decreto-lei foram incorporados ao patrimônio, e as minas de Itabira, pelo valor de 80.000 contos [...] das benfeitorias realizadas com as operações de crédito [...] o art. 5.º, § 2.º.

§ 4.º A diretoria será constituída de cinco membros, a saber: um presidente de nacionalidade brasileira;

dois diretores de nacionalidade brasileira; dois diretores de nacionalidade americana.

§ 5.º A Companhia será dividida em dois Departamentos: o da Estrada de Ferro Vitória-Minas e o das Minas de Itabira.

§ 6.º O Departamento da Estrada de Ferro será administrado por diretores brasileiros e o Departamento das Minas será administrado conjuntamente por diretores brasileiros e americanos.

§ 7.º O dividendo máximo a ser distribuído não ultrapassará de 15% e o que restar dos lucros líquidos constituirá um fundo de melhoramentos e desenvolvimento do Vale do Rio Doce, executados conforme projetos e elaborados por acordo entre os Governos dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, aprovados pelo Presidente da República.

Art. 7.º A Companhia a que se refere o artigo anterior fica autorizada a executar, nos termos da legislação em vigor, as desapropriações necessárias ao seu objetivo e às exigidas para seu ulterior desenvolvimento.

Art. 8.º Ficam transferidas à nova Companhia vantagens e obrigações decorrentes do contrato celebrado em 17 de junho de 1941 entre o Governo do Estado do Espírito Santo e a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S.A. para utilização do embarcadouro especial de minério no porto de Vitória.

Art. 9.º Fica assegurada a isenção de impostos de importação e demais taxas sobre os materiais e equipamentos importados com destino aos serviços previstos nesta lei. Parágrafo único. O Governo Federal entender-se-á com os Estados e Municípios no sentido de não serem aumentados os impostos e taxas que ora incidem sobre as minas, a sua exploração e a exportação de minério.

Art. 10.º Fica aprovado o projeto de Estatuto da nova Companhia, que se denominará Companhia Vale do Rio Doce S. A., anexo a este DecretoLei. (DIÁRIO OFICIAL, 1942, Secção I, 1-3).

A constituição da CVRD, em Assembléia de Acionistas, foi formalizada definitivamente em janeiro de 1943, quando foram aprovados os estatutos da empresa e determinado o seu patrimônio (minas de Itabira e EFVM, com sede administrativa em Itabira

128 O estado de precariedade do jornal, recuperado junto ao acervo da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, é responsável pelas reticências ao longo do texto.

e domicílio jurídico no Rio de Janeiro). Finalizada a Guerra, a CVRD passou ao controle definitivo do Estado brasileiro.