A Constituição de 1930 – O retorno à concessão estatal no regime de

Quando a legislação de mineração se modificou, na década de 30, atendendo às novas premissas do projeto governamental nacional, encabeçado por Getúlio Vargas, e descrito como nacionalista e centralizador, o minerador acabou por preservar, apesar das restrições impostas ao seu direito de propriedade trazidas com o Código de Minas, suas possibilidades de livre atuação, mantendo a propriedade da terra sob seu controle e, com elas, uma quantidade sem número de áreas de reservas de minas manifestadas. As novas determinações reconheciam o direito adquirido anteriormente à lei, dando o prazo de um ano para a transformação desse direito em mapeamento, solicitação de autorização para pesquisa e exploração das jazidas foi o que foi feito em Nova Lima com as propriedades da Saint John.

A constituição republicana, aprovada por Getúlio Vargas, viu-se, pela primeira vez, a separação entre solo e subsolo, com uma perspectiva diferente da adotada pela legislação mineral desde a Constituição de 1891. O solo pertencia ao seu proprietário, porém, as jazidas e minas, conseqüentemente, o subsolo e o solo onde havia possibilidade de exploração mineral, voltavam a ser, legalmente, de propriedade da união, pois só a União poderia autorizar a sua exploração. Segundo a Constituição de 1934, cabia ao Estado

§ 3º - A competência federal para legislar sobre as matérias [...] XIX, [...], in fine, e sobre registros públicos, desapropriações, [...] riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, águas, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca, e a sua exploração não exclui a legislação estadual supletiva ou complementar sobre as mesmas matérias. As leis estaduais, nestes casos, poderão, atendendo às peculiaridades locais, suprir as lacunas ou deficiências da legislação federal, sem dispensar as exigências desta (BRASIL, 1934).

O direito de propriedade foi garantido no capítulo “Direitos e Garantias Individuais”, no seu artigo 149,

17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar. A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização (BRASIL, 1930).

Obrigava-se a este proprietário a submeter seu projeto de mineração à autorização do Estado. Deveria ele solicitar do governo uma autorização para pesquisa e, autorizada esta pesquisa, dependia ele de uma licença para o início da lavra. Seu direito de mineração era, por sua vez, fiscalizado pela União por meio de órgãos competentes. Essa permissão tinha o prazo definido na lei, podendo ser renovada ou revogada, caso a empresa ou o permissionário deixasse prescrever seus prazos. O artigo 119 trata do assunto da concessão da seguinte forma:

O aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, bem como das águas e da energia hidráulica, ainda que de propriedade privada, depende de autorização ou concessão federal, na forma da lei (BRASIL, 1934).

Outra novidade na lei foi a exigência da nacionalidade da empresa ou do seu explorador, expressa no inciso 1 referente ao requerente da autorização de pesquisa ou extração. Essa obrigatoriedade forçou a Saint John Del Rey Mining Company a se

nacionalizar em 19/10/1934, com a criação da Companhia de Mineração Novalimense, já

que141

§ 1º - As autorizações ou concessões serão conferidas exclusivamente a brasileiros ou a empresas organizadas no Brasil, ressalvada ao proprietário preferência na exploração ou co-participação nos lucros (BRASIL, 1934).

Segundo o contrato, a Companhia de Mineração Novalimense institucionalizava sua intenção de lavrar terras de sua propriedade com atividades relativas à mineração de outros minerais que não o ouro e a prata. Além disso, formalizava, em seu ato constitutivo, uma outra atividade secundária da empresa, que era a geração de energia, onde as águas também de propriedade da União

companhia tem por objeto, (a) a exploração de productos minerais, dedicando-se a pesquisa e lavra de jazidas ou minas de ouro e outros metaes, preparando-os para o mercado e vendendo-os, desenvolvendo a indústria da mineração em geral, (b) a produção de energia hydro eletrica, installando usinas e promovendo o seu aproveitamento, assim como o de quedas De água e que tenha e venha a ter direito, vendendo ou usando a energia que produzir (BRASIL, 1934).

O item b do contrato cobre os objetivos expressos pela constituição sobre a exploração das fontes hidroelétricas, o que culmina com o disposto na lei que define que as águas e as fontes de obtenção de energia hidráulica de propriedade eram dependentes da

141 _{A Companhia de Mineração Novalimense era uma sociedade anônima, criada para durar 20 anos, fundada} em 1935, sendo sua sede em Nova Lima, com registro na JUCEMG 14.790.Possuía capital acionário controlado em 95% pela Saint John Del Rey Mining Company Del Rey e 5% por cinco de propriedade de seus empregados de confiança. No caso deste trabalho, convencionou-se chamar de Saint John Del Rey Mining Company a empresa que existiu em Nova Lima até a década de 50, quando foi comprada pela Hanna Corporation. A Hanna, por sua vez, se utilizou do nome Companhia de Mineração Novalimense para obter, até a década de 70, autorizações para pesquisa e exploração de lavras de minérios.

autorização da União, uma vez que seriam utilizadas, inclusive, para fornecimento a localidades próximas à propriedade da mineradora e a lei deixava claro que

§ 2º - O aproveitamento de energia hidráulica, de potência reduzida e para uso exclusivo do proprietário, independe de autorização ou concessão (BRASIL, 1934).

O inciso quarto coadunou com os objetivos nacionalistas da política interna de Vargas142, em que predomina a preferência pelo desenvolvimento de um capitalismo nacionalista de estado, sendo resguardado à nação, o direito às riquezas naturais constantes do seu patrimônio metal, permitindo-se que, com a sua regulação, se desse também a oportunidade aos mercados internos e a esses setores da indústria nacional se desenvolverem. No que tange à mineração, o artigo 144 resguardou para a nação o direito do desenvolvimento pleno da exploração dos recursos minerais.

§ 4º - A lei regulará a nacionalização progressiva das minas, jazidas minerais e quedas d'água ou outras fontes de energia hidráulica, julgadas básicas ou essenciais à defesa econômica ou militar do País (BRASIL, 1934).